terça-feira, 31 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (31/03/2009)

O rei do romance

Pode ser que você não reconheça de cara o nome do escritor Nicholas Sparks, mas uma quase certeza para os apreciadores de romances cinematográficos é que um de seus filmes preferidos podem ser creditados a ele. Americano, nascido no último dia do ano de 1965, autor publicado desde 1996, quando foi descoberto pela agente Theresa Park e viu seu romance “Diário de Uma Paixão” chegar ao topo da lista do New York Times na primeira semana de lançamento. Seguiram-se “Uma Carta de Amor”, “Um Amor Para Recordar” e, mais tarde, “Noites de Tormenta”. Reconheceu algum dos nomes? Tanto os três aí citados quanto a obra de estréia do americano ganharam bem produzidas adaptações no cinema e repetiram nas bilheterias o êxito comercial (e nem sempre artístico) que agitou as livrarias. Com “Dear John”, um de seus últimos romances, prestes a ser adaptado pelas mãos do sueco Lasse Hallström (“Chocolate”), Sparks passa por um surpreendente momento de visibilidade e não pretende perder a oportunidade para se infiltrar de uma vez por todas no mundo do cinema. O escritor acaba de sair com mais duas adaptações garantidas no bolso. Ainda nem lançado, “The Last Song” já foi adquirido pela Disney, que colocou sua mais nova menina-dos-olhos e pretendente a “atriz séria” Miley Cirus, estrela da série “Hannah Montana”, como protagonista da adaptação sobre uma garota rebelde que é forçada a viver com o excêntrico pai. A direção ficou por conta de Julie Anne Robinson, veterana da televisão americana em séries como “Grey’s Anatomy” e “Weeds”, que fará sua estréia no cinema. Enquanto uma estrela adolescente se faz presente em “The Last Song”, o um pouco mais promissor “The Lucky One” continua sem elenco. Trata-se da versão cinematográfica do último romance lançado de Sparks, sobre um soldado no Iraque que sobrevive a guerra apenas para conhecer a mulher cuja foto ele carrega no bolso.

Metades perfeitas

 

Pode ser que seja uma notícia indigesta para os apreciadores do chamado cinema-espetáculo, mas o fato é que o gênero mais lucrativo e garantido da indústria do cinema é a comédia romântica. De tempos em tempos, o gênero tem o cuidado de se fingir de moda do passado, mas é inegável que os sorrisos adocicados são a muleta mais forte de Hollywood quando a crise de bilheteria bate forte. Como a crise do momento não é só no cinema, mas na economia do mundo inteiro, nada mais natural que filmes sem muita ambição acabem abocanhando o topo das bilheterias. Só nos últimos meses tivemos dois furacões que, de uma forma ou outra, se encaixam no estilo. “Marley & Eu” só saiu do primeiro lugar nos EUA quando Nicolas Cage veio com sua ficção científica apocalíptica e ainda assim fechou a conta com mais de 150 milhões em caixa. O estrelado “Ele Não Está Tão Afim de Você” não foi tão feliz em solo americano, mas se espalhou pelo mundo como uma praga que come dólares pelas beiradas e acabou se tornando o assunto do momento para os cinéfilos. Parceiros de cena no filme e enamorados na vida real, Justin Long (“Duro de Matar 4.0”) e Drew Barrymore (“As Panteras”) já embarcaram como par romântico em “Going the Distance”, comédia romântica a ser comandada por Nanette Burnstein (“O Show Não Pode Parar”). Já a estrela-maior e destaque incontestável de “Marley & Eu” está ao lado dos badalados Patrick Wilson (“Watchmen”) e Jason Bateman (“Hancock”) em “The Baster”, sob a direção da dupla Josh Gordon & Will Speck, responsáveis por “Escorregando Para a Glória”. Jennifer Aniston será uma mulher em busca da gravidez através da inseminação artificial que escolhe Wilson como o doador perfeito mas tem uma surpresa quando Bateman, seu amigo, troca o sêmen da doação pelo seu próprio.

Zumbi incansável

drag me

Não há expressão melhor para falar de Sam Raimi do que a estampada no título da nota. Considerado morto e enterrado por Hollywood incontáveis vezes e sempre ressurgido em toda a sua glória e estilo pra tomar a terra do cinema de assalto com suas rasantes de câmera e giros em 360° ao redor dos personagens, o diretor de alguns pequenos clássicos do cinema de terror como “Uma Noite Alucinante” e “Darkman”, deve agora voltar ao gênero que o consagrou em um filme que promete sustos memoráveis. O projeto já é falado há algum tempo, mas agora “Drag me to Hell” ganhou a fiel e acertada tradução de “Arraste-me Pro Inferno” e ainda ganhou o primeiro teaser-poster para animar os fãs do gênero e do diretor. A trama é no mínimo interessante na concepção: Christine Brown (Alison Lohman) é uma ambiciosa agente de crédito que nega o pedido da misteriosa Sra. Ganush (Lorna Raver) para que o financiamento de sua casa seja estendido. Acreditem ou não, a velhota lança sobre a garota uma maldição que a coloca na mira de espíritos maléficos que só podem ser espantados com a ajuda do vidente Rham Jas (Dileep Raio). O elenco também conta com o nome de Justin Long (“Duro de Matar 4.0”) como o namorado da protagonista, e deve ser lançado no Brasil em 14 de Agosto desse ano, enquanto nos Estados Unidos aporta três meses antes, em 29 de Maio. Aproveitando o burburinho em torno de sua nova obra, Raimi não se furtou a animar os fãs de quadrinhos e falar animadamente sobre “Homem-Aranha 4” para a SciFi Wire. Nas palavras dele: “David Lindsay-Abaire (o roteirista) está trabalhando pesado e espero que tenhamos algo em três meses”. O novo nome do script da série é também o homem responsável pela recém-lançada adaptação literária “Coração de Tinta”, e as filmagens do quarto filme do Cabeça-de-Teia devem começar no ano que vem para que a data de estréia definida pelo estúdio (06/05/2011) seja cumprida a risca. Ao que parece, o único nome confirmado até agora é o de Tobey Maguire (“Seabiscuit”) de volta como o herói.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… três notícias bem interessantes, eu achei… mas enfim, quero mesmo é agradecer aos comentários e visitas e desejar só os melhores filmes para todos vocês sempre! Até amanhã, quem sabe, com uma crítica saída direto do forno!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (30/03/2009)

Novos limites

Não seria uma mentira dizer que os filmes de esporte passam por uma fase bem favorável. Com gente como Mark Wahlberg (“Invencível”) e Matthew McCounaughey (“Nós Somos Marshall”) lucrando com a vertente cinematográfica que desafia os limites humanos dentro de uma quadra e um filme com absolutamente nenhum potencial comercial (“Tudo Pela Vitória”) se tornando uma das grandes surpresas de bilheteria dos últimos anos, não dá para dizer que o momento seja ruim para investir em filmes do gênero. Tanto não é que parece que o esporte planeja tomar de assalto os outros gêneros e se integrar a tramas com outras veias como um elemento a mais para deslumbrar ou distrair o público. Em suma, para jogar um pouco de ar fresco a gêneros que não andam tão populares. O drama familiar, por exemplo, vai ganhar um astro do futebol em “The Blind Side”, próximo projeto do diretor e roteirista texano John Lee Hancock, responsável por obras tão díspares como o histórico “O Alámo” e o eletrizante “O Novato”. Ex-protegido do diretor Clint Eastwood, que filmou sua ascensão a fama em “Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal”, o diretor deve assinar a adaptação do livro de Michael Lewis sobre uma família rica do subúrbio que acolhe um jovem sem-teto e descobre o talento do garoto para o futebol americano. Eventualmente, ele se torna um astro. O elenco por enquanto conta com Sandra Bullock (“Premonições”) como a matriarca da tal família e a incansável Kathy Bates (“O Dia em Que a Terra Parou”) como uma educadora agressiva contratada pela mãe. Enquanto as duas se vêem as voltas com jardas e touchdowns, Tobey Maguire descansa do traje do “Homem-Aranha” dentro do cockpit como o maior ícone do automobilismo na terra do Tio Sam. Phil Hill foi o único ianque a vencer um campeonato de Fórmula 1, mas viu sua vitória selada pela morte de seu colega de equipe, Wolfgang Von Trips, com quem viera brigando pela liderança desde o início do campeonato. “The Limit”, o filme, tem no roteiro Anthony Peckham, vindo direto do novo “Sherlock Holmes” de Guy Ritchie.

Improváveis seqüências

Hollywood está mesmo perdendo a linha na busca por mais continuações lucrativas para suprir a crise série de idéias que a terra do cinema anda passando. Para quem acha que os grandes mestres estavam imunes a essa e qualquer outra mania, já se prepare para ficar profundamente decepcionado com o já sexagenário canadense David Cronenberg. Sem filmar ou dar quaisquer notícias desde 2007, o diretor de pequenas pérolas da subversão cinematográfica como “A Mosca” e “Crash – Estranhos Prazeres” pode ter finalmente cedido as pressões e se disse interessado em uma possível seqüência de seu último filme, o relativamente bem-sucedido “Senhores do Crime”. A obra, que rendeu uma indicação ao Oscar para o protagonista Viggo Mortensen (“O Senhor dos Anéis”) e exaltadas críticas dos especialistas por sua brutalidade sem concessão e pela elegância da condução de Cronenberg, marcou também as passageiras pazes dele com Hollywood, que garantiu um elenco estrelado que ainda incluía Naomi Watts (“King Kong”) e Vincent Cassel (“Doze Homens e Outro Segredo”). Agora, depois de alguns rumores, o diretor apareceu empolgado na MTV dizendo que “nós estamos avançando neste assunto e estamos animados com a idéia de fazer a seqüência”. O diretor ainda mencionou a volta de Mortensen e do roteirista Steven Knight (“The Detectives”) para a continuação, ainda sem trama ou data de lançamento definida. Em situação ligeiramente mais adiantada está o ainda mais surpreendente “Jovens, Loucos & Rebeldes 2”, seqüência do fracasso cult dirigido por Richard Linklater (“Antes do Amanhecer”) em 1993 que, ironicamente ou não, abriu as portas do estúdio para seu estilo alternativo de dirigir. Estrelado pelos então desconhecidos Jason London (“Casa de Vidro 2”), Rory Cochrane (“Homem Duplo”) e Wiley Wiggins (“Waking Life”), o filme contava a simplista história de um grupo de jovens tentando se divertir no último dia de aula de suas vidas, tudo isso nos anos 70 psicodélicos. A seqüência já tem até trama: dessa vez a bagunça acontecerá no primeiro fim-de-semana de faculdade.

De volta aos tribunais

Treze anos atrás, um então pouco conhecido Matthew McConaughey (“Um Amor de Tesouro”) encarou de frente as complicações dos intrincados casos do escritor John Grisham, responsável pelas melhores novelas criminais da atualidade, em “Tempo de Matar”, quarta adaptação da obra de um escritor que tinha o mesmo número de obras publicadas. O filme de Joel Schumacher (“Número 23”) veio com toda a pompa e circunstância de uma grande produção e um elenco quase ofuscante de tão estrelando, contando nesse balaio gente como Sandra Bullock (“Premonições”), Samuel L. Jackson (“The Spirit”), Kevin Spacey (“Beleza Americana”), Donald Sutherland (“Maldição”) e Ashley Judd (“Beijos que Matam”). Se a bilheteria não foi tão astronômica quanto se esperava, tampouco passou longe de decepcionar com seus quase 150 milhões. Agora, mais de uma década e um sem-fim de sucessos maiores na carreira, o astro vem no embalo da participação em “Trovão Tropical” para mirar em outro dos maiores escritores do gênero nos Estados Unidos e voltar aos tribunais em grande estilo com a trama quase incompreensível de “The Lincoln Lawyer”. A novela, lançada em 2005, traz o advogado Mickey Waller encarando um caso de homicídio que o desafia logo de cara por se tratar da defesa de alguém inocente. Louis Roulet, para ajudar, ainda tem uma história cheia de furos para sustentar sua inocência, que aos poucos acaba apontando para um preso em uma penitenciária de segurança máxima, ex-cliente do próprio Waller, que pode ou não ser a própria vítima do assassinato. Ficou confuso? Essa é exatamente a intenção, e quem conferiu o trabalho de Michael Connelly em desenrolar a própria trama ficou admirado com a habilidade. É claro, não é só por méritos que “The Lincoln Lawyer” será a primeira novela de Connelly a ganhar adaptação desde o desastre que Clint Eastwood construiu em “Dívida de Sangue”. O personagem já foi protagonista de uma segunda aventura, recém-lançada e intitulada “The Brass Veredict”. Afinal, Hollywood não faz ponto sem nó.

Polêmicas viagens

 

Em 2006, o mundo conheceu de uma vez por todas o humor sem concessões do inglês Sasha Baron Cohen por meio do surpreendente sucesso da aventura cinematográfica de seu personagem mais famoso, o repórter cazaque que dá o título a “Borat – O Filme”. Depois de participar como notável coadjuvante em filmes dos mais diversos como “Sweeney Todd” e “Madagascar 2”, o ator e roteirista indicado ao Oscar de melhor roteiro original pelo trabalho com o anárquico repórter, investe mais uma vez em uma de suas famosas criações para dar vida a mais uma lição de sarcasmo e crítica em “Bruno”. Como ele não se contenta apenas em massacrar o american way of life e seguir com suas viagens para expor todo o preconceito que mora naquele país, as bobagens impróprias para menores são presença garantida em suas investidas solo, o que causa um sorriso nos apreciadores do estilo mais escachado de comédia e uma expressão de espanto nos censores do mundo inteiro. Para agradar um pouco os primeiros, o gigantesco título completo da obra sobre o entrevistador alemão gay que não se furta a colocar os convidados em situações constrangedoras: “Bruno – Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterossexual Males Visibly Unconfortable in the Presence of a Gay Foreigner in a Mesh T-Shirt”, cujo subtítulo pode ser traduzido como “deliciosas viagens através da América com o propósito de fazer homens heterossexuais visivelmente inconfortáveis na presença de um gay estrangeiro usando uma camiseta de couro”. Agora, parece que a ousadia de Cohen foi demais para os impiedosos censores americanos, que deram a versão integral do filme a classificação NC-17, a mais alta do país, que não permite que menores de 18 anos entrem no cinema sob nenhuma circunstância. A Universal, que agora se vê com um enorme abacaxi nas mãos, deve aceitar os cortes propostos pela MPAA para trazer “Bruno” para uma classificação R, ou seja, que permite menores de 17 anos acompanhados dos pais.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… um pouco de polêmica no final, alguns filmes para esperar no recheio… um dia bom para o cinema. Enfim, quero como sempre agradecer a todos os comentários e a todas as visitas que fazem desse trabalho algo com sentido e significado. Obrigado a todos, os melhores filmes para vocês e até amanhã!

domingo, 29 de março de 2009

Vicky Cristina Barcelona – O romance equivocado de Woody Allen

Vicky Cristina Barcelona (Espanha/EUA, 2008)

De: Woody Allen.

Com: Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Javier Bardem, Penélope Cruz.

96 minutos

 

 

 

Há uma espécie de senso comum entre os críticos de cinema rezando que cada elemento de uma obra cinematográfica precisa funcionar independentemente, como um trabalho isolado e completamente separado do restante dos elementos que conspiram para formar o resultado final de um filme. “Vicky Cristina Barcelona” é a prova viva de que não é bem assim. E, de fato, faz pouco sentido. Se fazer cinema fosse pura e simplesmente colocar peças diferentes em seu lugar certo para formar um quebra-cabeça sem elo, não haveria filmes bons e ruins. Supor que tudo deva funcionar sozinho é subestimar a natureza complexa da arte de fazer cinema, a combinação indecifrável de elementos que é capaz de nos trazer uma sensação impossível de simular ou replicar. Por exemplo, não há ator que sobreviva sem um roteiro no mínimo razoável e não há roteiro que envolva sem interpretações a altura. Essa relação de interdependência pode ser traçada através de cada fase de produção de um filme e a liga que as une é não menos que indispensável para a impressão que a obra deixa no espectador. Talvez ninguém tenha avisado para Woody Allen, mas não é simples fazer cinema. Não que ele tenha pensado assim por toda a sua já extensa carreira, recheada de neoclássicos do cinema, mas a impressão mais forte que “Vicky Cristina Barcelona” passa é de descaso com os próprios caminhos que tomou para ser feito. O resultado só poderia ser um. A viagem de Allen pela cidade espanhola é um arremedo de romance barato com pseudo-modernização que só funciona de verdade quando se apóia na explosiva interpretação de certa atriz espanhola que prova de uma vez por todas que um bom intérprete é capaz de elevar o nível de uma obra, mesmo que por breves minutos. Quando Penélope Cruz está em cena na pele da desvairada María Elena, “Vicky Cristina Barcelona” brilha com um interesse surgido de lugar nenhum a não ser da própria. Sua caracterização é pitoresca, irresistível, calorosa e magnética como uma espécie de estrela que brilha de seu modesto lugar mais forte do que todas as suas companheiras. É também quando ela entre em cena que Allen parece recuperar a inspiração e entregar os diálogos e situações simbólicas que marcaram sua genialidade roteirísticas. Sem Penélope, “Vicky Cristina Barcelona” seria uma viagem tediosa e retrógrada. Com ela, a obra é uma realização ainda cheia de defeitos, mas que vale a pena conferir.

Não seria justo dizer que a espanhola é desperdiçada pelo roteiro, mas é fato que a personagem e a interpretação mereciam muito mais tempo de tela e significância do que possui na forma como Allen leva a história. Tentando recriar o clima de uma viagem européia bucólica e inserir algumas brincadeiras contextuais em meio a uma trama essencialmente romântica e em última estância polêmica, o diretor atropela as próprias ambições e termina com um tomo um tanto quanto medíocre para quem olhar bem de perto. É impossível negar que, quando quer, o nova-iorquino é capaz de tecer os diálogos mais simplistas e geniais que o mundo já teve o prazer de escutar, mas há uma espécie de irregularidade e insegurança aqui que de certa forma acaba passando a impressão de que Allen acabou se desinteressando pela própria trama. Os detalhes acabam sendo mais interessantes em “Vicky Cristina Barcelona” do que a trama em si e esse caráter deixa o espectador irrevogavelmente frio a qualquer emoção mais forte que o diretor quisesse passar. É bem verdade que essa espécie de frieza sempre foi uma característica do cinema do diretor e nunca foi exatamente um grande defeito em sua filmografia, mas algo na trama de seu novo filme dá a sensação de vazio quando nos deparamos com a sistemática forma de carregar as histórias que ele conta. Como personagens tão cheios de paixão e impetuosidade são capazes de passar pela tela sem deixar sequer uma marca na memória? Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) são duas amigas americanas que se lançam a uma viagem para Barcelona com objetivos e temperamentos diametralmente opostos. Vicky é a sistemática, uma espécie de representação feminina da psique do diretor, uma mulher que prefere a segurança do casamento com o noivo Doug (Chris Messina) do que as aventuras amorosas as quais a amiga se lança. Sim, porque Cristina é uma mulher impetuosa e ansiosa por encontrar seu lugar no mundo e sua forma de expressar cada idéia que passa por sua cabeça. Não por acaso, quando ambas conhecem o pintor espanhol Juan Antonio Gonzalo (Javier Bardem), o triângulo amoroso quase se desenvolve em uma relação de independência completa, como histórias separadas que por acaso dividem o mesmo tempo, o mesmo espaço e um denominador comum. A coisa acaba se complicando com o retorno de Maria Elena (Penélope Cruz), a obcecada ex-mulher do pintor, uma liberal adoravelmente perturbada e uma personagem que merecia mais estudo e espaço do que recebe no decorrer da trama.

O curioso é que, se não fosse pelo roteiro confuso entre a vontade de ser inovador e a de puramente contar histórias, o elenco de “Vicky Cristina Barcelona” renderia uma boa dose de envolvimento. A inglesa Rebecca Hall (“O Grande Truque”) força um pouco o sotaque ianque, mas aos poucos entrega uma caracterização da personagem que se mostra bem planejada e executada. Embora sua personagem seja a âncora da obra com a realidade e o bom-senso (na visão de quem é a grande pergunta), Rebecca dá um certo ar etéreo a Vicky sem deixá-la fora de como foi concebida. Para um protagonista, porém, suas ações são bem secundárias por boa parte da história. Scarlett Johansson, a musa do diretor desde “Match Point”, é o deslumbre visual de sempre e a competência moderada a que fomos acostumados a esperar. Sua Cristina é fiel ao retrato do roteiro, mas não seria má uma dose a mais de calor em sua atuação. Do jeito como a atriz representou, a personagem ficou como o elemento frio da história, um adereço não mais que decorativo que ilumina algumas cenas mais ousadas mas não chega a impressionar no resultado final. É uma pena que justamente a mais promissora personagem tenha acabado dessa forma. Para completar o triângulo amoroso, Javier Bardem (“Onde os Fracos Não Têm Vez”) encarna sem muita inspiração, mas com incontestável competência, o conquistador típico e um homem capaz de possuir tantas facetas quanto se pode imaginar. Mas não poderia ser mais claro que a alma do filme descansa sobre Penélope, que enche de emoção cada cena em que aparece e faz os diálogos e imagens valerem mais a cada segundo. Sua Maria Elena é louca, é incompreensível em certos momentos, mas em última estância é a personagem que faz “Vicky Cristina Barcelona” valer realmente a pena. O Oscar não foi em vão. É lamentável que ela tenha sido empregada apenas como estopim de uma trama que não empolga e chega ao fim sem entregar nada do que prometia. Com a direção pouco inspirada de Allen enchendo cada minuto, “Vicky Cristina Barcelona” é uma decepção que prova que cinema cartão-postal nem sempre funciona como deveria. Talvez seja hora de voltar a Manhattan.

Nota: 6,0

 

sexta-feira, 27 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (27/03/2009)

Quando astros colidem

 

No ano passado, o mundo viu a maior colisão de astros da história do cinema mundial produzir uma obra fraca demais para o talento de ambos. Robert DeNiro, Al Pacino e seu morno “As Duas Faces da Lei” podem ter decepcionado aos críticos e ao fiel público que compareceu para ver como os dois se sairiam juntos, mas esse pequeno percalço não foi o bastante para Hollywood começar a temer a concentração de grandes nomes em um só filme. Em momentos diametralmente opostos, atriz e diretor podem se encontrar pela primeira vez em um elenco estreladíssimo. Ainda sem título, o novo projeto britânico de Woody Allen, que vem fresquinho do superestimado “Vicky Cristina Barcelona” deve contar com um elenco gigantesco em tamanho e fama. O destaque, até agora? Nicole Kidman. Depois de naufragar com a retomada da parceria com Baz Luhrmann (“Moulin Rouge!”) no ambicioso “Austrália” e ainda sem a possível repercussão do musical “Nine”, ela embarcou no projeto de Allen sem hesitar e se juntou a um elenco já bem estrelado. Ao lado dela estarão Josh Brolin (“Milk”), Anthony Hopkins (“Beowulf”), Antonio Banderas (“A Lenda do Zorro”) e Naomi Watts (“King Kong”), além da indiana Freida Pinto, musa do papa-prêmios “Quem Quer Ser um Milionário”. Outro projeto que também continua sem título oficial e pode reunir uma boa quantidade de astros é a comédia romântica em que Tom Cruise (“Operação Valquíria”) e Cameron Diaz (“As Panteras”) retomarão a parceria selada no fracassado “Vanilla Sky”. Além dos dois atores, o filme vai reunir o roteirista Scott Frank (“Marley & Eu”), um dos nomes mais fortes da área na Hollywood de hoje, e o diretor James Mangold (“Johnny & June”), um dos líderes da nova e versátil geração de cineastas.

Baseado em vidas reais

 

Americanos. Escritores. Quase uma centena de adaptações para cinema e TV cada um. Ainda assim, ler a escrita de um e de outro não poderiam ser duas experiências mais díspares. Ernest Hemingway é muito provavelmente o autor americano mais apreciado e estudado pelos intelectuais do mundo inteiro. Nascido em Illinois no derradeiro ano do século XIX, ele se tornou a lenda que é hoje graças a ao romance mais apreciado da literatura americana, “O Velho e O Mar”. Cheio das características viagens filosóficas da idílica escrita do autor, o livro foi publicado em 1952 e a primeira versão tinha em suas modestas 114 páginas um conteúdo que ninguém jamais lera até então. O que inspirou um detalhismo tão despreocupado e uma trama tão complexamente simplista ninguém sabe até hoje. Ou quase isso. Como estava instalado em Cuba na época em que escreveu o romance e não escondia de ninguém sua amizade com um certo pescador local, não foram poucos os que tomaram Gregorio Fuentes como a representação em carne e osso do personagem principal da obra. Sem dirigir desde “A Cidade Perdida”, Andy Garcia pode voltar para trás das câmeras com a missão de desmitificar a história em “Hemingway & Fuentes”, cujo roteiro ele também redige ao lado da sobrinha do escritor, Hillary. Obcecado pelo escritor, o astro Anthony Hopkins agarrou a oportunidade com unhas e dentes e deve interpretar seu ídolo enquanto a seletiva Annette Bening (“Querida Júlia”) deve encarnar a quarta e última mulher do escritor, a jornalista Mary Welsh. Em tom um pouco mais fantasioso (como não poderia deixar de ser), “The Strange Adventures of H.P. Lovecraft” pretende fazer todos os piores pesadelos do escritor de terror mais perturbado da história virarem realidade. Literalmente. Conhecido pela inconstância de humor e pela vida misteriosa, Howard Phillips Lovecraft se tornou uma espécie de figura mística para os fãs de literatura fantástica e motivo de culto para qualquer um que queria saber porque os contos de terror são como são hoje. Ron Howard (“Frost/Nixon”) deve dirigir o pesadelo em forma de filme.

Ilusão perigosa

Responda rápido: quantos filmes você já viu sobre o mágico Harry Houdini? Talvez você não tenha ligado o nome ao personagem ou mesmo achasse estar vendo apenas mais um filme de ilusionismo. Mas Houdini existiu de verdade e foi provavelmente a primeira grande celebridade ianque de que se têm notícia. Figura icônica com seu estilo único, feitos incríveis e aura quase mitológica, o mágico até cinema fez. Entre 1919 e 1923 foram cinco filmes entre aventura e mistério que apenas aumentaram o status social (e a conta bancária, é claro) desse húngaro naturalizado norte-americano que viveu uma curta vida de 52 anos. Do original “Houdini” até o recente “Atos Que Desafiam a Morte”, foram-se cinqüenta anos, treze atores diferentes em treze projetos entre filmes, produções para televisão e participações em séries de TV. Até na fantasia “O Encanto das Fadas” ele deu as caras, com a face de Harvey Keitel (“A Lenda do Tesouro Perdido”). Quando vistos em conjunto, os filmes se completam em um quebra-cabeças imperfeito das múltiplas personalidades de um homem fascinante que fez muito na vida que vale a pena ser contado. Embora o assunto parecesse esgotado, os escritores William Kalush e Larry Sloman foram fundo na pesquisa sobre a personalidade do mágico e tiraram de lá o livro “The Secret Life of Houdini: The Making of America’s First Super Hero”. Como o título expõe logo de cara, a trama se concentra em uma faceta diferente do famoso mágico. Segundo os autores, Houdini seria um espião inglês infiltrado na América, teria sido convidado para ser conselheiro do último czar russo e atuava nos bastidores como um desenganador, ou seja, alguém que desmascarava pessoas tentando simular o sobrenatural. Além de tudo isso, a obra levanta polêmica por narrar a morte do mágico como uma cilada armada por um grupo espiritual extremista. Toda essa revolução deve vir para as telas do cinema em breve pelas mãos da produtora Summit Entertainment, responsável pela saga “Crepúsculo”.

Ao infinito e além

Sim, a nova continuação de “Toy Story” está marcada para estrear em 18 de Junho de 2010, mas não é sobre isso que essa nota vai falar. A famosa frase do brinquedo-astronauta Buzz Lightyear dublado por Tim Allen (“Soltando os Cachorros”) nos filmes da série animada bem que poderia ser aplicada para os planos a longo prazo que a Marvel Studios já começa a organizar para os personagens que continuam sob seus cuidados. Depois de organizar as estréias de “Homem de Ferro 2” (30/04/2010), “O Poderoso Thor” (20/02/2011), “Capitão América” (22/07/2011) e “Os Vingadores” (04/05/2012) para os próximos três anos, o recém-criado estúdio continuou no embalo e anunciou os heróis que podem ganhar aventuras cinematográficas depois do grande evento reunindo os super-humanos mais poderosos da Terra. O presidente de produção Kevin Fiege disse que os principais pensamentos nessa direção são para personagens menos conhecidos, para torná-los mais familiares ao público e figurinhas garantidas para uma segunda grande aventura reunindo os personagens. Na mira primária estão seis heróis. O Pantera Negra, monarca de uma região africana que vive independente do resto do mundo mas ao mesmo tempo um Vingador eventual. Cable, o filho dos X-Men Jean Grey e Scott Sommers (o Ciclope), que foi mandado ao futuro para curar uma doença e voltou mais velho que os pais e com poderes tele cinéticos. Doutor Estranho, o mago supremo do mundo da editora, um personagem misterioso e esotérico que hora é tratado como herói, hora como um quase-vilão indiferente a tudo e a todos. Punho de Ferro, um personagem extremamente coadjuvante dentro das histórias da editora, um daqueles poderes que passam através das eras de pessoa para pessoa. Visão, o andróide dotado de sentimentos que chega a ter um caso com a Feiticeira Escarlate, um dos principais membros dos Vingadores. E por fim o Falcão Noturno, um milionário que decidiu se tornar um super-vilão e mais tarde trocou de lado para se juntar aos Defensores, grupo formado na editora apenas depois dos eventos da “Guerra Civil”.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… nenhuma notícia bombástica, é verdade, mas alguns filmes que podem e vão despertar o interesse dos cinéfilos de plantão… queria agradecer como sempre a todos os comentários, que fazem desse trabalho aqui no blog algo que vale a pena ser feito. Obrigado demais! E, é claro, os melhores filmes para todos vocês. Até amanhã!

quinta-feira, 26 de março de 2009

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada – Sensibilidades de um filme surpreendente

dan in real life Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (Dan in Real Life, EUA, 2007)

De: Peter Hedges.

Com: Steve Carell, Juliette Binoche, Dane Cook.

98 minutos.

 

 

 

 

A vida real não é simples. Passa longe de ser fácil. E certamente não é uma utopia de felicidade eterna. Mas se existe um fato que ninguém discute sobre ela é que é não menos que maravilhosa. A cada minuto um gesto e a cada palavra um sentimento, uma riqueza de detalhes e uma plenitude de emoções que nenhum artista nesse mundo conseguiu ou conseguirá simular. É simplesmente complexo demais para apenas um ser humano representar. Como traduzir em palavras a sucessão de obstáculos que somos obrigados a ultrapassar dia após dia, que podem parecer privações naquele momento mas acabam por se tornar o mais puro orgulho mais tarde. Passamos por tudo isso para relembrar, tornar esses momentos eternos? A ambição do homem de terminar com fugacidade de cada minuto dessa experiência até hoje só conseguiu nos prender em mais e mais limitações, até que nos vemos com medo de viver algo porque podemos esquecer. Simplesmente não faz sentido. Afinal, a grande verdade é que a surpresa e a honestidade de emoções é o que há de mais recompensador desse mundo. Quando planos dão certo, o mundo sai melhor do entrou. Quando somos surpreendidos, somos nós mesmos que crescemos e aprendemos com cada sensação que desfrutamos, num fugaz momento, como se aquilo fosse eterno. Eventualmente, será. “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” é um filme que guarda tantas surpresas para quem se arriscar que é impossível não se apaixonar por cada palavra proferida por personagens tão reais, espetacularmente ordinários e uma trama que diz tudo que é preciso dizer sem precisar de grandes temas, redenção ou, a bem da verdade, qualquer um dos clichês ainda eficientes que enchem a terra do cinema. Para começar, é quase impossível rotular um filme como esse. A estrutura é de uma comédia romântica, mas há lances de drama tão competentes que é impossível deixar esse aspecto de lado  ao mesmo tempo que provoca risadas de qualidade simplesmente superior a boa parte da produção americana atual. “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” é inteligente, emocionante, intrigante e encantador, mas a despeito de todas essas qualidades, verdadeiramente triunfa simplesmente por ser o filme de ficção mais verdadeiro desde muito tempo.

Roteirista notável desde sua estréia em “Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador”, o americano Peter Hedges é muito provavelmente o homem com maior sensibilidade para escrever diálogos que soem como pessoas reais e criar situações e pequenas brincadeiras contextuais que fujam do “complexo do extraordinário” da maioria dos escritores de cinema e caiam no lugar comum sem precisarem ser vulgares por isso. Para simplificar um pouco, o que Hedges faz é escrever tramas críveis para pessoas de verdade sem perder a localização e o senso de entretenimento. Dirigindo pela segunda vez aqui, ele demonstra habilidade para manipular a câmera de forma leve e pouco intrusiva, o que favorece a trama que passa por drama, comédia e romance sem perder o pique. O resultado são filmes que emocionam e ressoam com honestidade, que provocam uma experiência cinematográfica completa e ainda são capazes de divertir com situações que poderiam acontecer a qualquer momento de nossas vidas. “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” é assim, honesto, envolvente, comovente e divertido. Uma mistura que não apenas resulta em uma receita de cinema deliciosa como também representa melhor que muitos dramas os sabores e dissabores que experimentamos a cada dia. O roteiro não se prende a um sentimento, passando por cada um com ritmo simples e cadenciado que é capaz de levar o espectador em uma jornada que, se passa por alguns obstáculos, vale a pena no final. Dan Burns (Steve Carell) é um escritor e colunista de jornal que tenta voltar as boas com as três filhas depois da morte da esposa. Como ocorre todos os anos, os quatro partem em uma viagem para uma pacata fazenda no interior do país onda a numerosa família irá se encontrar. É em uma livraria que Dan conhece a encantadora Marie (Juliette Binoche) numa excepcional seqüência onde ele a ajuda a escolher um livro, pretendendo ser o atendente do lugar. Depois de uma longa conversa, Dan volta para casa apenas para descobrir, no jantar da família, que Marie é a nova namorada do irmão Mitch (Dane Cook), da qual todos estavam falando. Um conflito a primeira vista simplista mas que abre espaço para algumas cenas no mínimo geniais, pequenos detalhes fascinantes um debate de emoções impossível de se descrever em palavras.

Talvez seja essa a maior qualidade e o ponto de definição para “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”. Trata-se, assim como a vida real, de uma experiência impossível de ser colocada em palavras ou expressada de qualquer forma. É preciso ver, viver, sentir. É cinema puro, que provoca e envolve, uma pequena obra-prima que sem dúvida nenhuma merecia mais atenção do que recebeu. Especialmente se levarmos em conta as atuações dos dois protagonistas. A começar por Steve Carell, indiscutivelmente o homem mais competente em representar seres humanos de verdade do cinema atual. Se ele conseguiu fazer do atrapalhado Maxwell Smart alguém por quem se torcer em “Agente 86”, Dan Burns não é menos que um prato cheio servido a um grande ator. Assistir ao resultado disso é um prazer enorme. Carell tem a capacidade rara de transformar cada nuance de seu personagem em um detalhe indissociável de sua própria personalidade. Ele, o astro, some por trás da pele do personagem ao mesmo tempo em que cria uma conexão inestimável entre o protagonista e o público. Quando precisa demonstrar emoção mais intensa, ele o faz se valendo de cada detalhe e quando é jogado em uma situação cômica, assisti-lo atuar é como ver um predador em seu ambiente. A única diferença é que Carell provoca sorrisos, e dos mais sinceros que se podem esperar na hipocrisia de Hollywood. Se ele se dá bem, Juliette Binoche (“Invasão de Domicílio”) não deixa por menos e compõe uma Marie radiante, elegante, carismática e irresistível. Sua presença na tela é como um ímã que puxa o espectador para cada vez mais dentro da trama, funcionando quase como um regulador de emoções e o ponto de equilíbrio em uma história cheia de pequenas loucuras. Não que Marie seja alguém exatamente normal é claro, e isso sem dúvida faz parte de seu encanto, traduzido tão bem pela atriz. O elo fraco da corrente fica por conta de Dane Cook (“Maldita Sorte”) e seu retrato caricato de um personagem que poderia ter ganhado uma caracterização mais forte. Ainda bem, um erro menor frente as surpresas e pequenas delícias que se escondem por trás da sensibilidade e da realidade maravilhosa que “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” retrata com competência ímpar. Afinal, é sempre bom lembrar o quanto o mundo de verdade pode ser bom. Quem sabe assim a vida valha a pena? Veja e viva cada emoção.

Nota: 8,5

quarta-feira, 25 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (25/03/2009)

Histeria adolescente

Na década de 1980, Matthew Broderick provocava gritos histéricos nas garotas e admiração sincera dos meninos em filmes inesquecíveis como o neo-clássico “Curtindo a Vida Adoidado”. Nos anos 90, o posto coube para uma variedade de nomes que incluiu Patrick Swayze (“Ghost”) e o não muito longevo Patrick Dempsey (“Namorada de Aluguel”). Ainda que dois deles tenham ressurgido das cinzas nos últimos anos e o outro domine os tablóides por uma razão que infelizmente não provoca o tipo agradável de curiosidade, é de se perguntar quem será o representante legítimo do trono de carisma e histeria adolescente legado por nomes tão ímpares. Dois dos candidatos mais fortes ao trono preparam projetos ambiciosos para estender sua alçada a todo um novo público e, quem sabe, um sucesso que vá além do público teen. O primeiro, intérprete do jovem vampiro Edward Cullen na série “Crepúsculo” e dono de um papel pequeno, porém marcante na mãe de toda a mania fantástica que anda por aí, a série “Harry Potter”, atende pelo nome de Robert Pattison. Ele embarcou recentemente no novo projeto da roteirista Jenny Lumet, prestigiada no ano passado graças ao trabalho em “O Casamento de Rachel”. O romance é intitulado “Memoirs”, tem Allen Coulter (“Hollywoodland”) na direção e não promete inovar muito na trama: Pattison será parte integrante de um casal separado uma por uma série de circunstâncias a primeira vista insuperáveis. Já Zac Efron, astro da trilogia (até agora) “High School Musical” e estrela ascendente desde então, promete entregar aos fãs algo um pouco mais inusitado. Ao lado do diretor Burr Steers (“A Estranha Família de Igby”), que comandou seu último filme, o ainda inédito “17 Outra Vez”, ele deve interpretar um coveiro em “The Death and Life of Charlie St. Cloud”. Embora pouco tenha sido revelado, a trama básica soa como uma comédia dramática promissora: Charlie é o zelador do cemitério onde seu irmão Sam está enterrado que começa a ter alucinações fantasmagóricas ao mesmo tempo em que tenta conquistar uma garota.

Efeito Benjamin

“Benjamin Button” fez tanto barulho ao contar a história encantadora do homem que vive oitenta anos ao contrário sem perder a crença no amor verdadeiro que de repente falar da vida e de suas peculiaridades voltou a ser moda em Hollywood como não era desde a época de “Forrest Gump” (que, se não viveu ao contrário, tampouco seguiu a ordem natural das coisas). Resta saber se os dois projetos recém-anunciados, opostos na trama mas idênticos no conceito, terão um David Fincher (“Zodíaco”) para fazer da vida de alguém uma história interessante. Que me desculpem os otimistas, mas pelo pouco que foi revelado sobre “You’re Not You”, a expectativa não é das melhores. Para começar, há a presença da inexperiente roteirista e diretora Shana Feste para os dois cargos principais do projeto. Ela, cuja primeira obra, “The Greatest” (ainda inédito no Brasil), discursava sobre a perda de um filho nas atuações de Pierce Brosnan e Susan Sarandon, não é exatamente a pessoa com a câmera mais classuda para lidar com um tema tão delicado quanto uma doença terminal. A única coisa se sabe sobre a trama do filme vem da obra de origem, uma novela da desconhecida Michelle Wildgen: “You’re Not You” é sobre uma estudante de colegial que se vê perdida na vida e decide responder a um anúncio de jornal. O que ela encontra é uma mulher no meio de seus trinta anos, sofrendo de uma grave doença que afeta mais a mente que o corpo. Ela e seu marido lidam com a situação através de um humor mordaz e as lições que a confusa estudante aprenderá serão inestimáveis. Bem mais condizente com o clima de fantasia da obra de Fincher, “Methuselah” empresta o nome do personagem mais longevo da Bíblia, que viveu por 969 anos, para contar a história de alguma forma chega a mesma idade e durante a vida acumula aventuras e estratégias de sobrevivência impressionantes. A ser produzido pela Warner Bros, “Methuselah” está sendo anunciado como uma aventura de ação com toques de drama e comédia permeando cada detalhe da história.

Ilustres robôs

“Transformers” foi a maior bilheteria da carreira do diretor Michael Bay. E não pense que isso é pouco. A bilheteria conjunta das outras seis obras do californiano estoura com facilidade a marca do 1 bilhão de dólares e só o filme-catástrofe “Armageddon” é responsável por 400 milhões desse montante. Mas os robôs gigantes atacando a Terra ultrapassaram até mesmo essa marca e fecharam uma gloriosa carreira mundial que superou pesos pesados como “Shrek Terceiro”, arrecadando mais 700 milhões de verdinhas para o cofre da DreamWorks. Alguém aí duvidaria de uma continuação? Não que alguém vá realmente ficar infeliz por isso, é claro. Diversão pura e simples como a do filme de 2007 nunca é demais. De qualquer maneira, a realização de “Transformers: Revenge of The Fallen”, que pode significar (ou não) o retorno dos Decepticons ao nosso planeta, é notícia velha. De novo mesmo só os rumores de nomes estrelados abrilhantando o elenco de vozes dos novos “personagens” (robóticos, é claro) do prosseguimento da saga de Sam e Mikaela (Shia LaBeouf e Megan Fox retornam) pelo mundo de destruição e deliciosa fantasia criado por Bay. A primeira notícia oficial nem foi tão animadora e tampouco surpreendente. Ao que parece, além de retornar em carne e osso como o Agente Simmons apressado do filme anterior, John Turturro (“Zohan”) deve dublar um dos novos robôs do filme. Ele será Jetfire, um espião SR-71 Blackbird que troca os Decepticons pelos Autobots, mas se vê com pouco o que fazer devido a sua avançada idade (!) que o obriga a usar uma bengala (!!). Bizarrices a parte, a esperança voltou aos fãs da recém-criada série com o anúncio de que o lendário Leonard Nimoy, o Spock da série original de “Jornada nas Estrelas”, poderia emprestar o vozeirão para o vilão do novo filme, que batiza seu subtítulo. O papel de Fallen acabou caindo no colo do ator graças ao casamento com Susan Bay, a prima do diretor e o trabalho em comum com Roberto Orci, roteirista responsável tanto por “Tranformers” quanto pelo novo “Jornada nas Estrelas”.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… Queria agradecer a todos que comentaram como sempre… O Boletim de hoje teve para gregos e troianos. Astros adolescentes, adaptações literárias inspiradas por filmes oscarizados e pura diversão no melhor estilo Bay. Espero que vocês tenham gostado. Que até as notícias ruins sejam notícias para todos vocês e que o futuro os reserve só os melhores filmes. Até amanhã!

Amor Além da Vida – O paraíso cinematográfico de Robin Williams

Amor Além da Vida (What Dreams May Come, EUA/NZ, 1998).

De: Vincent Ward.

Com: Robin Williams, Cuba Gooding Jr, Annabella Sciorra.

113 minutos

 

 

 

 

O que há depois da vida? Céu e inferno são conceitos considerados lúdicos e até pouco saudáveis por boa parte dos estudiosos e entendidos do assunto, mas a prova de que não são descartáveis é que eles sobrevivem até hoje como dogmas e crenças que gostamos de preservar. Não é muito incomum topar, principalmente na literatura, com a idéia de que todo fim é na verdade um novo começo. A idéia de infinito e de eternidade é tão antiga que é possível relacioná-la com o próprio surgimento da humanidade. Uma vida não é bastante para o que queremos fazer e nossas limitações da condição humana são por demais apertadas para que sequer possamos confundir sonho com realidade. No final das contas, o conceito de um lugar bom e um ruim onde colhemos o que plantamos em vida faz sentido. Vivemos sonhando com o que não podemos. Morremos para poder tudo o que sonharmos. Veio-lhe um sorriso no rosto? Talvez por causa dessa pequena utopia, extremamente agradável se pensarmos bem, que Amor Além da Vida funcione as mil maravilhas apesar de possuir tantos pequenos erros que poderiam fazer toda a diferença. A verdade é que é impossível não se apaixonar pela jornada de um homem que seria capaz de renunciar ao paraíso que mereceu em vida para passar a eternidade ao lado da mulher que amou. Ela está no inferno. É uma suicida, uma eterna culpada e uma condenada ao pior dos destinos, mas ele não suportaria passar um tempo tão excruciante longe dela. São almas gêmeas, um conceito tão antigo que simplesmente não soa mais como um clichê. É uma coisa natural, quase realista, quase crível no contexto. Amor Além da Vida é capaz de fazer brotar as lágrimas até no espectador mais frio, mas só alcança esse feito porque joga com definições que ao mesmo tempo em que extasiam os olhos e ouvidos, soam como uma temática tão enraizada que é impossível não se envolver. Numa análise fria, Amor Além da Vida não é de forma nenhuma um filme perfeito. Tropeça na ambição em alguns momentos e aos poucos vai se tornando um tanto quanto corriqueiro para quem busca uma experiência renovadora. Aproveita mal alguns personagens e usa-se demais de situações que podem cair fácil na definição de pieguice que os críticos tanto gostam de usar. Ainda assim, é um filme que vale a pena depois de seus 113 minutos de projeção. Às vezes, é só isso que importa.

Na época badalado por tramas românticas como O Casamento de Meu Melhor Amigo e A Nova Paixão de Stella, o californiano Ronald Bass de certa forma encontrou o gosto das críticas ao dar corpo a trama de Amor Além da Vida. Não que todo esse alarde tenha sido realmente justo, é claro. O que ele faz aqui é tecer uma jornada linear que, por si só, pouco diz sobre as perguntas levantadas no início deste texto. Ainda que careça de temas maiores e a significância que o tema prometia, sobra carga emocional e competência humana para Bass. Provando que existem personagens fascinantes sem precisarem ser complexos, ele constrói seres humanos simples que se encaixam excepcionalmente bem ao contexto e quase se tornam parte indispensável do cenário. Também é preciso dar-lhe crédito imaginativo por ter subvertido cada pequeno detalhe da nossa percepção sobre paraíso e inferno e ainda criar uma visão que agrada e cria expectativa a cada minuto. O que virá depois? Que outras cores, emoções e cenários? É sempre bom quando um filme deixa-nos com essas perguntas e as responde a altura. A jornada de Chris Nielsen (Robin Williams) começa com um choque de realidade e um estudo profundo da perda, sentimento que predomina durante toda a projeção de Amor Além da Vida. Ele e a mulher Annie Collins (Annabella Sciorra) perdem os filhos, entram em crise e lutam para se recuperar. Uma maratona de emoções depois, Nielsen sucumbe a um inesperado acidente de trânsito. Pronto. Começa uma quase voyeurística viagem por cores, texturas e visuais simplesmente fantásticos que como que por um milagre parecem se ajustar a cada detalhe da trama. Seja no paraíso pessoal de Nielsen, todo colorido como um quadro expressionista retratando uma paisagem de tirar o fôlego ou na teatral montagem da escadaria idealizada por outrem, cada minuto é de puro deslumbre visual. É quando Annie se suicida que começa a real busca pelo real objetivo da jornada. Chris não se importa com o que estaria perdendo do mundo que criara para si próprio, apenas quer estar perto de Annie novamente. Ultrapassa fronteira, viaja destemido e é assaltado por revelações bombásticas.

O espectador passa por cada uma dessas emoções ao lado do elenco, como se uma experiência assustadoramente real de repente tivesse sido transportada para a fantasia. Se essa sensação funciona a cada minuto, porém, a responsabilidade é em grande parte do neozelandês Vincent Ward (Navigator), hipnotizante a cada corte em seu primeiro e último grande filme americano. Em certos momentos, é a câmera dele e seu detalhismo que produzem, quase sozinhas, momentos verdadeiramente mágicos. Seu trabalho com as cores é louvável, imprimindo-as a cada frame de película e tornando a jornada da trama muito menos cansativa do que poderia ser. Como que contaminados pela sinceridade habitual do grande Robin Williams (O Som do Coração), o elenco todo desempenha seus papéis com propriedade e honestidade. O protagonista é defendido com gosto por ele, entregando a identificação irrevogável que se aprendeu a esperar do ator em uma interpretação que rompe barreiras de qualidade para marcar na memória em cada uma de suas nuances. Cuba Gooding (Jerry Maguire), quem diria, prova que pode soar místico na pele do guia do protagonista nas dependências além da vida. Annabella Sciorra (Família Soprano) é emoção em estado bruto e bem representado, enquanto Max Von Sidow (Pelle, o Conquistador) representa a mais pura categoria do mundo do cinema, a experiência valiosa para interpretar um papel que envolve, acima de tudo, classe. Com tanta gente talentosa envolvida e uma trama tão pessoal para cada um de nós, é impossível não se apaixonar por Amor Além da Vida... Afinal, até os erros ficam para trás no paraíso.

Nota: 8,0

terça-feira, 24 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (24/03/2009)

De volta às origens

Hoje elas são atrizes versáteis e quase sinônimos de bilheteria lucrativa. Mas quem tem boa memória e se lembra bem do cinema dos anos 90 deve recordar que ambas devem tamanho sucesso ao profícuo gênero das comédias românticas americanas. Liv Tyler apareceu para o mundo como a beleza de olhos azuis da vez do cineasta italiano Bernardo Bertolucci (“Os Sonhadores”) em “Beleza Roubada”, de 1996. Em seguida, engatou uma série de filmes adocicados para se garantir antes de lançar-se a vôos mais altos. Cameron Diaz nunca exatamente deixou de lado o gênero que lhe rendeu a fama definitiva em “O Casamento do Meu Melhor Amigo” e “Quem Quer Ficar com Mary?”, mas digamos que tenha privilegiado escolhas um pouco mais pessoais nos últimos anos, acomodada no rótulo de estrela e tranqüila quanto ao próprio talento, revelado mesmo com “Em Seu Lugar”. Agora, ambas planejam voltar ao estilo que as consagrou para duas produções que já são extremamente esperadas pelos fãs. A morena, filha do vocalista do Aerosmith Steve Tyler, embarcou em “The Romantics”, que promete risos e suspiros na mesma proporção. O filme é um projeto pessoal da estreante Galt Niederhoffer, que dirige e escreve o roteiro, baseado em sua própria obra literária. A trama acompanha um grupo de sete amigos unidos por anos a fio que assiste dois deles se prepararem para casar. Ao que parece, Liv interpretará Laura, que é escolhida como dama de honra do casório, mas já teve um caso passageiro com o noivo. A escolha de Diaz promete ser mais ácida, em contrapartida. “Swingles”, para começar, representaria uma mudança interessante no tipo geral de papel que a atriz costuma interpretar. Ao invés de encarnar a mocinha da história, ela seria uma mulher grosseira e irritante que se junta com um homem solitário, interessado apenas em conhecer garotas descompromissadas através da “amizade”. Outro estreante, Duncan Birmingham, cuja experiência prévia se resume a alguns episódios de “Queer as Folk”, assina o roteiro.

Mundos fantásticos nos esperam

Parece que a gigantesca onda de filmes de fantasia baseados em alguma fonte literária desencadeada por “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis” não planeja perder terreno tão cedo. Com os rumores borbulhando para os próximos filmes do vampiresco “Crepúsculo”, nenhum estúdio quer perder tempo para embarcar no sucesso e garantir a própria franquia para encher os cofres. Depois de abandonar a infrutífera “As Crônicas de Nárnia” ao relento (a série já encontrou novo abrigo, na Universal), a Disney tenta se redimir e recuperar a supremacia no campo dos mundos fantásticos com “Coração de Pedra”, adaptação da primeira parte da ainda inacabada trilogia escrita por Charlie Fletcher. O livro, lançado em 2006, se tornou best-seller, mas encontrou divisão entre os críticos. Alguns o consideraram uma história emocionante e “escrita com elegância e inteligência”, outros se limitaram a dizer que era “tedioso e mais longo do que o necessário”. De qualquer forma, não deve demorar muito para tirarmos a prova nos cinemas, acompanhando a história do introvertido garoto londrino George Chapman, que entra em um mundo onde as estátuas tem vida depois de quebrar um pedaço de um gárgula. Como não poderia deixar de ser, a presença do garoto por lá provoca um desequilíbrio catastrófico entre o bem e o mal, provocante uma apoteótica guerra entre estátuas de seres humanos e as de bestas mitológicas. Enquanto a Disney dá vida a estátuas, seu pupilo Andy Fickman (“A Montanha Enfeitiçada”) procura alguém para bancar “Gimme a Call”, adaptação do romance juvenil escrito por Sarah Mlynowski sobre uma garota insatisfeita com a vida que deixa o celular cair em uma fonte e, quando o pega de volta, descobre que a única ligação que pode fazer é para si mesma... quando tinha 14 anos.

Elenco explosivo

Não bastou para o londrino Peter Morgan destrinchar o “reinado” do ditador Idi Amin (“O Último Rei da Escócia”), a frieza da rainha Elizabeth II frente a morte da Princesa Diana (“A Rainha”), a traição do rei Henry Tudor (“A Outra”) ou a entrevista auto-acusatória de Richard Nixon (“Frost/Nixon”). Roteirista de mão cheia e precisão cirúrgica para lidar com política e intrigas de poder, Morgan quer mesmo é mais polêmica. E para sua estréia na direção escolheu como alvo uma ferida ainda mais recente na mente do povo americano. Se Watergate foi o fim da diplomacia política e da confiança inter-partidária que havia na pacífica América, o escândalo Lewinski foi além e destruiu qualquer vestígio de moralidade ou seriedade que pudesse haver dentro da Casa Branca. Em 1996, era o democrata Bill Clinton quem ocupava o cargo-maior da política americana, tendo ao seu lado o vice-presidente Al Gore e a primeira-dama Hillary Clinton, reconhecidamente uma das mais ativas politicamente da história dos EUA. Tudo ia bem, Clinton fechava negócios e fazia diplomacia, quando escutas telefônicas empreendidas pela secretária Linda Tripp revelaram o relacionamento adúltero entre o presidente e sua estagiária, Monica Lewinski. As notícias encheram os jornais e abalaram as estruturas do moralismo conservador americano. Clinton chegou a mentir em cadeia nacional para manter o mandato. O ponto mais notável do caso? O apoio da primeira-dama ao marido, que disse acreditar em suas palavras mesmo com Lewinski cedendo às pressões e admitido o caso com o comandante-em-chefe algum tempo depois. De bobo para lidar com um caso tão delicado, Morgan não tem nada. Para interpretar uma mulher tão notável quanto Hillary, ele escalou a lindíssima e talentosa ao cubo Julianne Moore (“Boogie Nights”). Além dela, o roteirista planeja repetir em “The Special Relationship” a vitoriosa parceria com Michael Sheen (“Frost/Nixon”), que voltará a encarnar o premiê britânico Tony Blair, papel que desempenhou em “A Rainha”. Dennis Quaid (“O Vôo da Fênix”) deve envelhecer um par de anos para viver Clinton.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo. Sei que ainda não teve críticas, mas vou tentar preparar uma para vocês amanhã, certo? Enfim, agora quero agradecer a todos os comentários nas postagens de ontem, é sempre bons receber respostas tão positivas! Bom, então os melhores filmes para todos vocês e até amanhã!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (23/03/2009)

Irmãos bandoleiros

Quando uma fórmula dá certo, não custa repeti-la para testar o resultado mais uma vez. Aparentemente imunes a esse e qualquer outro estigma hollywoodiano, os Irmãos Coen podem ter se rendido a vontade dos estúdios ou ter encontrado um projeto realmente pessoal. Joel e Ethan, reconhecidos como a dupla de diretores mais talentosa da atualidade e figurinhas fáceis nos círculos de prováveis indicados ao Oscar, devem retornar ao faroeste que lhe concedeu o reconhecimento definitivo em “Onde os Fracos Não Têm Vez”, dois anos atrás. Foi com a história de violência sem origem apoiada por um inigualável Javier Bardem (“Vicky Cristina Barcelona”) que os dois finalmente puseram as mãos na merecida estatueta de melhor direção da maior festa do cinema mundial. Agora, além da repetição de gêneros, o projeto provoca alarmante atenção por ser a refilmagem de um clássico do gênero. Filmado em 1963 e estrelado pelo maior astro do faroeste de que o cinema tem notícia, John Wayne (“O Grande Jake”), “True Grit” recebeu no Brasil o duvidoso título de “Bravura Indômita” e relatava a história de uma mulher que relembra a ocasião em que escapou da fazenda da família para vingar o assassinato de seu pai. Segundo os irmãos, sua versão de “True Grit”, que eles mesmos estão redigindo, será muito menos uma refilmagem e mais uma adaptação fiel do romance que deu origem ao filme, escritor por Charles Portis. Enquanto a versão de Henry Hathaway (“O Mundo do Circo”) contava toda a história pelo ponto de vista do xerife interpretado por Wayne, o novo filme dos Coen será mais fiel ao livro e transportará a narração diretamente para a protagonista. Além de “True Grit”, os dois irmãos também estão envolvidos no roteiro e direção da adaptação da novela policial “The Yiddish Policemen’s Reunion”, que narra a curiosa história de um policial sádico investigando a misteriosa morte de um prodígio do xadrez que, especula-se, poderia ser a reencarnação do Messias.

O seqüestro de Singer e o riso de Whedon

 

Quem vem acompanhando bem as notícias cinematográficas nas últimas semanas deve ter sacado pelo menos metade do título da nota. Mas, como diria Jack o Estripador: vamos por partes. Primeiro, o Singer é de Bryan Singer (“X-Men”) e o Whedon é de Joss Whedon (“Buffy”). O que eles tem em comum? A linguagem pop e o senso de dinheiro bem investido que agrada aos estúdios, críticos e espectadores. Isso sem contar o largo investimento em séries de TV, Singer com “Dr. House” e Whedon com... bom, nem precisa dizer. Agora, os projetos. Singer, em alta graças ao surpreendente sucesso de “Operação Valquíria”, deve tentar ressuscitar outro astro que anda fazendo más escolhas com o thriller de seqüestro “Prisoners”, que basicamente aposta na mesmo história de sempre. Mark Wahlberg (“Max Payne”) será um empresário de Boston que tem a filha e o melhor amigo seqüestrados e se vê na mão dos raptores, sem saída para a situação em que se encontra. Embora o nome do diretor não esteja confirmado, este foi o único projeto com seu nome anunciado desde o lançamento de sua visão da 2ª Guerra, o que leva a crer que ele pode ser mesmo o comandante do roteiro do estreante Aaron Guziowski. Já o projeto de Whedon é previsivelmente mais interessante. Cineasta de ousar e criar novas tendências, ele escreveu o thriller cômico “Cabin in The Woods” ao lado de Drew Goddard (“Cloverfield”) e entregou em suas mãos a direção do projeto. Depois de entusiásticas declarações da produtora Mary Parent, diretora da MGM, que classificou a obra como o “script mais inteligente e original que já li em minha vida”, o elenco de nomes modestos começou a ser anunciado e, surpreendentemente, a empolgação pelo projeto só aumentou. Explica-se. Uma das características mais marcantes de Whedon é descobrir novos talentos e colocá-los em seus filmes para que a experiência pareça mais real. Recém-saídos do anonimato, gente como Chris Hemsworth (“Jornada nas Estrelas 11”), Kristen Connolly (“O Grande Dave”) e Fran Kanz (“Dollhouse”) foi escalada e o mistério absoluto em relação a trama foi mantido.

Versatilidade a toda prova

Tem de ter sido o Oscar. Durante a performance de abertura do prêmio da Academia de 2009, a indicada Anne Hathaway subiu ao palco ao lado do anfitrião Hugh Jackman para parodiar os filmes indicados nas categorias principais e surpreendeu a todos com a habilidade vocal e a presença de palco. Agora, ela quer ir para a Broadway. Um passo grande demais? Calma, as escalas no meio do caminho garantirão o sucesso da operação final. Indicada ao prêmio máximo do cinema pelo intimista desempenho no igualmente modesto “O Casamento de Rachel” e no auge da popularidade comercial com o sucesso nem-tão-surpresa de “Agente 86”, a atriz nova-iorquina pode dar um passo além de muitas outras com o dobro de sua experiência e obter o prestígio definitivo ao reencarnar nas telas e, futuramente, nos palcos, uma das maiores estrelas de Hollywood entre as décadas de 1930 e 1950. Ela, Judy Garland, a eterna Dorothy do clássico “O Mágico de Oz”, uma das mais profícuas atrizes de sua época e um dos fins mais intrigantes do mundo do cinema. Pressionada pelo estúdio a continuar nos cândidos papéis com os quais foi revelada, ela acabou ficando traumatizada e desistindo da carreira em 1954, voltando a atuar apenas três vezes antes de sua precoce morte em 1969. Casou cinco vezes, em uma delas dando a luz a uma das maiores cantoras que o mundo já viu, Liza Minelli. Do prêmio da Academia ela só viu a cor de duas indicações, por “Nasce uma Estrela” e “Julgamento em Nuremberg”, mas alguém duvida que sua futura intérprete, fresquinha de uma nominação, tem bem mais chances de faturar de vez o prêmio? O produtor Harvey Weinstein, que deve cuidar de ambas as versões de “Get Happy: The Life of Judy Garland”, já se declarou encantado com a perícia da atriz e disse-se com a certeza de que Hathaway será “verdadeiramente ímpar nesse papel desafiador”.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… queria muito agradecer a todos que comentaram no último post, me incentivou a fazer mais desses posts sobre atores, diretores e atrizes. Aguardem pelos próximos! Por enquanto, fico por aqui, os melhores filmes para todos vocês e até amanhã!

Filmografia: Joaquin Phoenix

 

Em 1993, morreu um jovem ator que já há quase uma década provocava boas impressões nos críticos e era apontado como um dos maiores guardiões do futuro de Hollywood, poucos meses depois da estréia de seu último trabalho, a comédia dramática “Um Sonho, Dois Amores”. Morreu de overdose em frente a uma boate de propriedade de seu amigo Johnny Depp. Se tornara conhecido em 1986, quando deu vida a um dos garotos inesquecíveis de “Conta Comigo”, e seguira com papéis cada vez maiores em filmes progressivamente mais ousados até chegar ao estrelato absoluto com o drama “Garotos de Programa”, de Gus Van Sant (“Gênio Indomável”). Seu nome era River Phoenix, tinha vinte e três anos. Naquela época, seu irmão mais novo (quatro anos os separavam) ainda atuava sob o nome de Leaf Phoenix como coadjuvante juvenil em filmes como “O Tiro que Não Saiu Pela Culatra”. Foi a morte do irmão e o trauma da desconexão com os pais que fez Leaf romper com o passado hippie da família e se lençar de uma vez por todas na carreira que seguira até então sob o pseudônimo de Joaquin Phoenix. Se hoje estamos aqui, é porque deu certo. Mas ninguém poderia imaginar o quanto. Para um jovem com uma cicatriz de nascença bem visível e tendências nada convencionais, Joaquin foi longe. Desde que “Um Sonho Sem Limites” abriu as portas de Hollywood para este grande ator, foram treze anos e vinte produções que quase sempre conseguiam casar prestígio crítico com aprovação comercial. Aos poucos, o nome de Joaquin Phoenix se tornou sinônimo quase indissociável de um empreendimento bem-sucedido. Ele não se rendeu a indústria do cinema, não abriu mão de fazer as próprias escolhas e pouquíssimas vezes errou o alvo. Treze anos de prestígio acumulado, e agora tudo isso estará a serviço… do rap.

Ele já anunciou: “Two Lovers” o romance dramático em que faz par romântico com Gwyneth Paltrow (“Shakespeare Apaixonado”) sob o comando do amigo James Gray (“Os Donos da Noite”), é seu últimos trabalho como ator. O filme nem mesmo estreou no Brasil, o que deve acontecer em Abril, mas é difícil falar das novidades do cinema ou abrir um site especializado sem ver seu nome nas manchetes principais. Isso porque ele deixou a barba crescer, não abre mão de esconder os olhos verdes por trás dos óculos escuros e vive aparecendo com ternos surrados e gravatas mal-ajustadas por aí. Os rumores só foram endossados por uma bizarra entrevista do ator/rapper no programa do americano David Letterman, em que se mostrou distraído, desinteressado e de alguma forma etéreo, quase como se estivesse em outro planeta. Só esboçou um sorriso, e não foi à toa. Letterman, ao fim do programa, soltou a frase “gostaria de agradecer a ausência de Joaquin Phoenix no nosso programa”. Se é uma jogada de marketing, loucura repentina ou mudança séria de comportamento, só o tempo nos dirá. O fato é que nunca houve ocasião mais oportuna para dar uma olhada de perto na carreira grandiosa de um ator que sempre vale a pena ver em frente as câmeras, mesmo que pela última vez.

Filmografia parcial e comentada:

- Um Sonho sem Limites (To Die For, Inglaterra/EUA, 1995)

 

A ironia hollywoodiana em sua representação maior. O mesmo diretor que revelou River para o mundo guia o irmão mais novo ao estrelato nesse filme inclassificável que passeia por comédia, policial, drama e suspense em arrasadores 106 minutos. Mas uma vez fazendo jus a seu apelido de “diretor americano mais europeu da atualidade”, Gus Van Sant (“Gênio Indomável”) guia com ritmo e graça a história de uma ambiciosa e linda mulher do tempo de uma pequena emissora de televisão no coração da América. No auge da beleza, Nicole Kidman (“Moulin Rouge”) exala sensualidade e passa pela tela como um furacão, fazendo em pedaços a vida de qualquer um que se coloque em seu caminho em busca pelo status de celebridade. O jovem Joaquin é um adolescente desequilibrado, vândalo e sem rumo na vida com quem ela se envolve mirando sua falta de princípios morais e o obrigando mais tarde a realizar o que ela mesma chama de “crime perfeito”. O filme é todo Nicole, inclusive lhe rendendo um já tardio Globo de Ouro de Melhor Atriz, mas Joaquin impressionou com seu retrato perturbador de um personagem que acabava tão fascinante quanto a protagonista. O Chlotrudis Awards, um pequeno festival de filmes independentes realizado em Massachussetts, foi pioneiro em reconhecer o trabalho do ator com uma indicação. O prêmio foi faturado por Kevin Spacey e seu trabalho em “Os Suspeitos”, mas ali estava nascendo um astro.

- 8MM (8MM, EUA/Alemanha, 1999)

 

Nenhum ator escapa de escolhas ruins. Em 1999, faziam quatro anos desde que Joaquin Phoenix havia surgido como o próximo grande talento de Hollywood. Nesses quatro anos, seu nome foi visto em um romance bobinho e mal-sucedido (“Círculo de Paixões”), um thriller intenso e massacrado pela crítica (“Reviravolta”), como coadjuvante em um drama que passou despercebido (“Pela Vida de Um Amigo”) e, finalmente, em uma comédia de humor negro absolutamente incompreensível que nem chegou ao Brasil (“Clay Pigeons”). O que ele precisava naquele momento era de um sucesso comercial e de um personagem que o marcasse não apenas na lista dos críticos, como na memória od público. Perigoso, subversivo e ainda assim incrivelmente comercial, “8 MM” pareceu-lhe a escolha perfeita. Seu personagem não era nada além de uma âncora para as investigações do detetive interpretado por Nicolas Cage (“A Lenda do Tesouro Perdido”), mas tinha uma caracterização que marcaria na memória fácil e, afinal, ele poderia passar alguns meses de divertindo em um set de filmagens, para variar. O problema, como sempre, foi Joel Schumacher (“Batman & Robin”), que carregou demais no tom sério e escondeu a interpretação sempre sarcástica de Joaquin sob toneladas de climatização mal-elaborada e uma exploração pífia do mundo sujo dos snuff movies (filmes ilegais em que os atores são de fato mortos em cena). Ficou o legado de uma bilheteria razoável e a súbita desconfiança em relação as escolhas seguintes do ator.

- Gladiador (Gladiator, Inglaterra/EUA, 2000)

Não raro, Ridley Scott (“Blade Runner”) é um divisor de águas na carreira dos atores que se arriscam a embarcar em suas produções. A bem da verdade, não era apenas impossível mas também improvável imaginar que “Gladiador” seria a obra-prima definitiva de um mestre incontestável em sua incansável busca pela perfeição. Mais do que isso, que seria o épico romano que renasceria no público o interesse por esse tipo de filme e que renderia seus impressionantes 400 milhões ao redor do mundo. Muito menos que seria agraciado com dez indicações para o Oscar e anos depois figurasse em todas as listas de obras maiores do nosso século. Eventualmente, aconteceu. Não é subestimar o talento de quem estava envolvido, que fique claro, mas tantos filmes com a mesma qualidade Scott já produziu que é um pouco difícil enxergar uma razão especial para “Gladiador” ter sido o mais notado deles. Polêmicas a parte, a história de um homem com a vida arrasada em busca de vingança na oligárquica Roma antiga foi o ponto definitivo para dois atores em ascenção. O primeiro, Russell Crowe, que se tornou um astro e um homem oscarizado com a obra de Scott. E então, aqui estamos contemplando o Commodus de Joaquin Phoenix. Para começar, não é uma interpretação padrão para o tipo de personagem histórico, muito menos para um imperador. É, sim, uma combinação compleza de frieza, ímpeto, inveja e detalhismo, ingredientes perfeitos para construir um vilão tão marcante quanto o proverbial herói dessa ambígua jornada. Commodus é respulsivo, sim, mas é acima de tudo humano. E assim Joaquin Phoenix conquista de assalto Hollywood.

- Guerreiros Buffalo (Buffalo Soldiers, Inglaterra/EUA, 2001)

É sempre bom lembrar que, acima de tudo, astros de Hollywood são teimosos. Assim como é sempre bom avisar que teimosia nem sempre é algo ruim. Em 2001, Joaquin Phoenix era um astro já razoavelmente estabelecido, do alto de seus vinte e sete anos, livre da sombra de seu irmão e admirado pelo próprio trabalho sem que todos ficassem sempre se lembrando de seu passado. E ele já havia se arriscado na comédia de humor negro antes, saindo-se com o horroroso “Clay Pigeon”, uma rede de intrigas que não conseguia nem mesmo se fazer entender, que dirá estampar o sorriso no rosto do espectador. Nada poderia dar a entender que “Buffalo Soldiers” seria diferente. O diretor Gregor Jordan ainda era conhecido apenas em seu país, a Austrália, pelo intrigante thriller “Two Hands”. O livro em que o roterio se baseara era desconhecido, contando a estranha história de uma base militar americana secreta instalada na Alemanha Oriental, comandada por um fora-da-lei boa-praça que transformou o lugar em um antro de comércio ilegal e tráfico de drogas. A rede de intrigas torna-se maior e mais confusa quando um novo sargento chega ao lugar com a missão de limpar a sujeira e o protagonista se apaixona pelo filha deste enquanto precisa lidar com sua ex-mulher, uma desvairada traficante de cocaína. A confusão dos diabos poderia resultar em um caos, mas a anaquia das piadas e a relevância da trama chamou a atenção dos críticos enquanto Joaquin angariou mais indicações para prêmios cinematográficos independentes. É um filme que ainda merece ser descoberto pelo público.

- A Vila (The Village, EUA, 2004)

A Vila” é um exemplo clássico de filme que nasceu fora de seu tempo. O suspense criticado do indiano M. Night Shyamalan (“O Sexto Sentido”) é uma crítica impiedosa a hipocrisia da sociedade e um filme de ambientação impecável capaz de provocar arrepios e pura adrenalina em alguns momentos. É o reflexo mais perfeito do talento imenso de um diretor que hoje se vê preso na burocracia hollywoodiana e produzindo obras que ele próprio despreza por não terem sido feitas para si mesmo. “A Vila” foi seu último suspiro de originalidade e beleza, mas ninguém entendeu. Isso porque é um suspense a moda antiga, que não apela para sustos fáceis e surpresas irreais e ainda assim consegue provocar tensão como poucas outras obras nos últimos anos. E é também um estudo profundo de personagens. A garota cega de Bryce Dallas Howard (“Homem-Aranha 3”) funciona como a encarnação do público na tela, mas é quando nos deparamos com a honra do aldeão apaixonado Lucius Hunt que fica clara a habilidade do diretor em construir serem humano reais para viverem jornada extraordinárias e transformadoras. E esse ser humano é representado com gosto e honestidade por Joaquin Phoenix, que exala fantática normalidade e torna “A Vila” não apenas em uma experiência cinematográfica mais interessante, como também em um tomo tranformador sobre a própria natureza humana. Um roteiro sem atores não funciona, e por mais que Shyamalan tenha seus méritos nesse filme ainda subestimado, é seu protagonista que representa melhor tudo o que a trama quer passar ao espectador.

- Johnny & June (Walk the Line, EUA/Alemanha, 2005)

Foi como se dois se unissem em um. De repente, Joaquin Phoenix era Johnny Cash e Johnny Cash era Joaquin Phoenix. Era um filme, mas de repente uma imagem ficou para sempre indissociável da outra. Para alguém que se interessou pelo trabalho country de uma das maiores lendas da música americana depois de ver o filme dirigido por James Mangold (“Garota, Interrompida”), é quase um ultraje imaginar o homem de preto tendo sua vida interpretada por outra pessoa. Ainda mais do que Jamie Foxx e sua premiada performance como Ray Charles, foi o gigantesco Joaquin Phoenix quem deu a confusão de personalidades uma representação definitiva. Ele incorporou cada trejeito, cada tom de voz e cada pequeno gesto no palco, quis saber de cada expressão e de cada palavra que já fora publicada ou falada por ele e o resultado foi uma indicação ao Oscar e uma derrota que muita gente achou injusta. Mas sua interpretação vai além de prêmios, chega a categoria de lendária e inesquecível porque foi o suspiro mais alto e marcante de um ator excepcional e, acima de tudo, foi algo sobrenatural. É a interpretação detalhista e não menos que perfeita de Joaquin que dá a “Johnny & June”, o filme em questão, aquele tom de documentário poético que predomina em todos seus 136 minutos. Se esse ingrediente é o fundamental para o filme possuir uma mágica tão diferenciada, então foi Joaquin Phoenix o mestre que preparou toda a receita. Ele não é um ator interpretando Johnny Cash. Ele é Johnny Cash. Só quem viu sabe.

- Os Donos da Noite (We Own the Night, EUA, 2007)

O cineasta e roteirista James Gray merece um capítulo a parte na história do cinema no nosso recém-começado século. Não que ele seja um grande diretor, mas há algo de diferente e espetacular em sua forma de filmar que é capaz de hipnotizar o espectador e fazer dos personagens alvo da mais sincera e profunda afeição. A paixão do diretor por histórias trágicas e policiais apenas acrescenta mais um ingrediente vitorioso na receita de sua forma de filmar a moda antiga. Primeiro veio “Caminho sem Volta”, em 2000, uma paquena pérola que por pouco não passou despercebida pelo público. E então, sete anos depois, ele chama de volta os dois protagonistas de seu filme anterior para estrelar esse “Os Donos da Noite”. É impossível negar a esperteza do diretor. O roteiro do filme, de sua própria autoria, é uma história familiar intensa e envolvente, um estudo profundo de personagens radicalmente diferentes que, cada um com suas nuances, partem fácil para o rol de mais bem desenvolvidos dos últimos anos. Mark Wahlberg (“Atirador”) surpreende como o policial certinho e irritadiço que acaba se mostrando o completo oposto de seu irmão, dono de uma casa noturna cheia de atividades ilegais. É aí que entra o conflitante Joaquin Phoenix, espantosamente habilidoso ao compor um personagem que esconde a si próprio de quem está a sua volta e acaba tornado-se em um ser humano amargurado que não sabe bem o que fazer da vida e perde tudo em um piscar de olhos. É impossível imaginar “Os Donos da Noite” sem aqueles dois atores, naquele momento. O filme certo, na hora certa, eficiente e marcante como poucos.

Bom, pessoal, e é por aqui mesmo que se encerra nosso primeiro especial focado em um ator! E aí, gostaram? Estou ansioso para ver as reações, esse tipo de postagem podem se tornar no mínimo periódicas por aqui, caso o formato seja aprovado. Escolhi Phoenix não apenas pela visibilidade atual, mas também porque realmente o considero um dos melhores atores por aí. Bom, além disso, é claro, preciso me desculpar pela falta de críticas aqui no blog, mas o caso é que precisei formatar meu computador e agora estou esperando para o Office (e o Word, onde escrevo minhas críticas) seja instalado… Espero a compreensão de vocês mais uma vez. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (20/03/2009)

Heróis em pauta

 

Os últimos dias foram agitados para dois dos mais aguardados filmes de super-heróis dos próximos anos. Ainda com a quinta marcha engatada apesar do adiamento da estréia, o filme do semideus “Thor” a ser dirigido por Kenneth Branagh (“Frankenstein de Mary Shelley”) ganhou rumores e coadjuvantes em um espaço de poucos dias. Já há algum tempo o boato de que Alexander Skarsgard, um dos astros da série True Blood, pode subir definitivamente ao estrelato no papel principal, mas surgiram para ele concorrentes fortes. Os poucos conhecidos Charlie Humnan (“O Herói da Família”), Tom Hiddleton (“Suburban Shootout”) e Liam Hemsworth (“Presságio”, ficção científica com Nicolas Cage inédita no Brasil) entraram no páreo e geraram ainda mais rumores em torno do filme, que agora deve estrear em 17 de Junho de 2011. Além dos nomes cogitados para o papel principal, surgiu o boato de que a sumida Natalie Portman (“V de Vingança”) poderia assumir um dos papéis femininos mais fortes da trama. As apostas giram em torno de Amora, a feiticeira apaixonada pelo protagonista, ou Jane Foster, a enfermeira que se enamora pelo Doutor Blake sem saber de seu divino segredo. É sempre bom lembrar que outros nomes ventilados são os de Josh Hartnett (“30 Dias de Noite”) como o vilão Loki e Stellan Skarsgard (“Piratas do Caribe – No Fim do Mundo”) como o todo-poderoso Odin. Mudando de editora e de projeto, a boataria em torno da adaptação do personagem da DC “Lanterna Verde” também anda forte. Em menos de uma semana, dois atores em evidência graças ao ressurgimento da franquia “Jornada nas Estrelas” foram cogitados para o papel. Primeiro foi o russo Anton Yelchin (“Charlie Bartlett”), que se dispôs a negar os rumores e se declarar “com a agenda cheia”. Logo em seguira, os rumores se voltaram para Chris Pine (“Sorte no Amor”), o Capitão Kirk do filme de J.J. Abrams. Embora alguns tablóides apontem tal rumor como falso, é meio difícil de acreditar que um filme pronto para ser filmado continue indefinido em relação ao protagonista. “Lanterna Verde” tem o australiano Martin Campbell (“A Lenda do Zorro”) na direção e deve começar a ser filmado antes do meio do ano.

Mais adaptações

 

Um dia não é normal em Hollywood até que uma nova adaptação literária seja ventilada pelos estúdios. As prateleiras das livrarias de repente viraram alvos preferenciais para os produtores em busca (ou não) de boas histórias. Nos últimos dois dias, por exemplo, três novos projetos do gênero foram anunciados e ganharam a adesão de bem-sucedidos diretores que desfrutam de certo prestígio (ainda que momentâneo) na terra do cinema. O primeiro alvo foi “The Courage Consort”, terceira novela em inglês publicada pelo holandês Michel Faber, que recebeu críticas extremamente positivas quando foi lançado por ser “singelo, emocionante e realista”. A história dá mesmo essa impressão: o Courage Consort do título é um dos mais renomados corais do mundo, que se isola em um castelo belga para ensaiar uma composição especialmente complicada. Lá, surgem conflitos entre os cinco cantores principais, o que causa desarmonia na relação entre os outros membros do coral e acaba por atrasar o trabalho de ensaio. Tudo é revirado de cabeça para baixo quando uma tragédia os obriga a repensar seus conceitos. Aplaudido por seu intimista “O Casamento de Rachel”, Jonathan Demme (“O Silêncio dos Inocentes”) vai exercitar um pouco mais seu controle de ambição para adaptar a obra, que ele descreveu como “extremamente verdadeiro, intimista e original”. Bem mais modesto nas fileiras de Hollywood mas com prestígio crescente, o roteirista Mark Bomback (“Duro de Matar 4.0”, “A Lista”) deve estrear na direção adaptando uma obra do jornalista Ben Macintyre sobre um personagem da vida real, Eddie Chapman. Ex-criminoso, o inglês acabou se tornando, por uma série de circunstâncias extraordinárias, um dos mais conhecidos agentes duplos da época da Segunda Guerra. “Agent Zigzag” (código pelo qual os britânicos o conheciam) ainda está em processo de gestação, mas deve render um épico de espionagem no mínimo intrigante. Já o terceiro é também o que mais deixa a impressão de um futuro campeão de bilheteria. “Demonkeeper” é uma aventura em que um adolescente é responsabilizado por uma casa cheia de demônios e precisa perseguir um deles quando este foge. Sam Fell (“Por Água Abaixo”) pode ter sua primeira experiência live-action no filme.

Confirmação decepcionante

Um pouco de todo o charme que “Os Mercenários” exalava antes mesmo de ser lançado acaba de ser perdido com o anúncio oficial do elenco completo do próximo filme escrito, dirigido e estrelado pelo astro ressurgido Sylvester Stallone (“Rocky Balboa”). O filme, que almejava escalar “o elenco de ação perfeito” conseguiu o feito, mas perdeu algumas excelentes oportunidades pelo caminho. Para cuidar da sessão “nostalgia dos anos 80” da trama sobre um grupo mandados em uma missão suicida no Rio de Janeiro a lista anunciada pelo diretor conta com o próprio ao lado de Mickey Rourke (“O Lutador”), Eric Roberts (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”) como um agente da CIA e uma ponta do governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger (“Exterminador do Futuro”). Garantindo a nova geração de cinéfilos como público cativo do filme, Stallone chamou um trio incomparável no cinema de ação atual, liderado por Jason Statham (“Corrida Mortal”) e seguido pelo chinês Jet Li (“O Reino Proibido”) e pelo lutador de luta livre Randy Couture (“O Escorpião Rei 2”). É o complemento final, a cereja do bolo dessa mistura que acabou por decepcionar todos que esperavam mais uma grande atuação da parte de Forest Whitaker (“O Último Rei da Escócia”). Alegando os famosos “conflitos de agenda”, o ator se viu obrigado a deixar o projeto e o diretor tomou a discutível decisão de substituí-lo pelo rapper 50 Cent (“As Duas Faces da Lei”), que parece o mesmo personagem filme após filme. Até os fãs do astro de ação reclamaram, ao que ele responder com o seguinte e-mail: “a revolta com a escalação é compreensível, mas não é justa. Um jogador é tão bom quanto seu técnico. Se um homem consegue se comunicar em um tipo de mídia, ele pode se comunicar em qualquer outro meio se tiver apoio”. A boa notícia para os brasileiros? Gisele Itié (“Mandrake”) foi oficialmente anunciada como a atriz brasileira escalada por Stallone, que deve desembarcar logo nas favelas brasileiras para iniciar o processo de filmagem.

Nota de luto: Natasha Richardson

 

Esta é a primeira nota de luto do Filme-Pipoca. Não é fácil explicar o porquê dessa necessidade humana de homenagear quem parte de nosso mundo para um que com certeza é melhor, mas de qualquer forma nem só do futuro vive o mundo do cinema. E futuro era o que não faltava para Natasha Richardson. Nascida a 11 de Maio de 1963 em Londres, ela veio de uma família que muito fez para o cinema. Filha do diretor Tony Richardson (“Ned Kelly”) com a grande atriz Vanessa Redgrave (“Garota, Interrompida”), ela debutou nas telas aos vinte e três anos com a responsabilidade de interpretar a escritora Mary Shelley, autora de “Frankenstein”, na fantasia “Gothic”, obra oitentista menor de Ken Russell (“Tommy”). Daí para frente, encontrou um estrelato moderado e alguns papéis marcantes, como a protagonista do suspense “O Seqüestro de Patty Hearst” e a mulher apaixonada da comédia romântica “Operação Cupido”. Mas foi mesmo no teatro que ela se tornou uma lenda, recebendo um prêmio Tony (o Oscar do teatro) pela remontagem de “Cabaret” na Broadway, onde assumiu com propriedade o manto de Liza Minelli (“New York, New York”) no filme de 1975. Nos palcos, ainda participou de bem-sucedidas versões de clássicos como “Sonho de uma Noite de Verão” e “Hamlet”. Não foi leviana a homenagem das casas de show a sua morte, baixando as luzes dos ambientes em respeito ao luto de quem a viu brilhar. Casada há quase quinze anos com o ator Liam Neeson (“Busca Implacável”), Natasha faleceu em um acidente de ski em Nova York no dia 18 de Março de 2009, algumas semanas depois de seu mais recente filme, a comédia “Garota Mimada”, chegar em DVD ao Brasil. Quem quiser conferir seu trabalho na melhor representação pode começar pelo recente “Ao Entardecer”, provavelmente o filme com o melhor elenco feminino desde muito tempo.

Em memória de Natasha Richardson, *11/05/1963 +18/03/2009.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… é meio estranho ver aqueles que ficaram eternizados pelo cinema partirem assim, tão fácil, não? Mas ficamos todos aqui em um minuto de silêncio por Natasha… Os melhores filmes para todos vocês e até amanhã!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (19/03/2009)

Pensadores em cena

 

Ambos fascinaram gerações, cada um ao seu modo e em sua alçada, ambos se tornaram lendas imortais em seus países e ao redor do globo. Música e filosofia nunca estiveram tão ligadas uma a outra quanto na obra de John Lennon. Especialmente depois que deixou os Beatles e se juntou a vilanesca (na visão dos fãs da banda, que fique bem claro) Yoko Ono para praticamente criar a estética e a filosofia hippie, Lennon era um músico, mas era um poeta. Alguém que queria dizer algo e que conseguiu até a psicopatia ilimitada de um fã obcecado lhe trouxe o gosto da morte. Mas não é disso que “Nowhere Boy”, já completado, fala. Remando contra a maré, o roteirista Matt Greenhalgh (“Controle”) decidiu localizar sua história na infância do ícone inglês, acompanhando-o especialmente na complexa relação com a mãe, a ser interpretada por Anne-Marie Duff (“Notas Sobre um Escândalo”). Outra estrela do cinema inglês, Kristin Scott Thomas (“O Paciente Inglês”) será a tia do cantor, guitarrista e compositor, que será encarnado pelo jovem Aaron Johnson, futuro protagonista de “Kick-Ass”. O filme, pronto para ser filmado pelo desconhecido diretor Sam Taylor Wood, foi recentemente bancado pela Weinstein Company e deve começar a captura de imagens ainda essa semana. Em estado bem diferente está a biografia de outro pensador, este mais tradicional. Confúcio passou longe de ser contemporâneo de Lennon, mas não ficou muito longe de sua filosofia naturista que criou toda uma vertente de pensamento e o fez uma das figuras mais famosas da China. O filme ainda não tem roteirista ou diretor, mas o astro asiático Chow Yun-Fat (“Piratas do Caribe: No Fim do Mundo”) já embarcou como o protagonista do filme, que almeja ser lançado ainda no final desse ano, para coincidir com os (pasmem) 2560 anos do nascimento do filósofo.

Aberrações e assassinatos

É impressionante como, de uma hora para a outra, qualquer obra de literatura bem vendida se torna alvo preferencial dos roteiristas e produtores Hollywood afora. Veja o caso de “Maximum Ride”, por exemplo. Uma obra relativamente modesta para um premiado escritor como James Patterson (“Beijos que Matam”), uma série talvez um pouco exagerada na dose de fantasia que rendeu cinco histórias razoavelmente bem-sucedidas. Agora, com o último volume lançado a poucos meses e a história concluída, Hollywood lançou o olho grande para cima da trama e já pescou dois talentos surgidos nos últimos anos para os cargos de roteirista e diretor. E é bom lembrar que redigir a história de quatro garotas que passam por experimentos não-testados e acabam se transformando em híbridos de aves e humanos. Para piorar um pouco de situação, uma espécie de grupo obscuro de lobisomens vive se colocando no caminho da adaptação das garotas em um lugar especial para esse tipo de anomalia conhecido como A Escola (não a convencional, é claro). Pois Don Payne, autor de “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”, aceitou a missão e já está desenvolvendo o primeiro filme da série que almeja, é claro, competir com os adolescentes vampiros de “Crepúsculo”. E sabe o que é mais curioso nessa rede de coincidências de Hollywood? Catherine Hardwicke, diretora do filme vampiresco lançado no fim do ano passado, é o nome oficial para o comando das câmeras de “Maximum Ride”. Num tom quase diametralmente oposto, três grandes escritores serão transportados de uma vez para o cinema em uma história real que é capaz de provocar água na boca dos fãs mais radicais de literatura. “Kill Your Darlings”, o filme sobre a reunião, não tem data de lançamento definida. Jack Kerouac, conhecido por ter escrito “A Estrada”, uma espécie de Bíblia dos hippies. Allan Ginsberg, poeta considerado obsceno e até pornográfico para sua época. Lucien Carr, um dos diretores mais longínquos da associação internacional de imprensa. A reunião foi no mínimo auspiciosa: os três se tornaram suspeitos (e depois foram liberados) de um assassinato. Para interpretar o trio, respectivamente, foram escalados Chris Evans (“Quarteto Fantástico”), Jesse Eisenberg (“A Caçada”) e Ben Wishaw (“Perfume”). Nenhum dos dois filmes tem data de estréia definida.

Brilho sem fim

J.J. Abrams não se cansa. Em meio ao trabalho como produtor e eventual roteirista em diversas séries de TV como “Lost” e “Fringe” e a finalização de seu aguardadíssimo “Star Trek”, o produtor mais esperto da terra do cinema na atualidade se envolve com cada vez mais projetos e vive anunciando histórias interessantes que pretende filmar. Uma de suas últimas foi o projeto por enquanto sem título que deve contar a história de um garoto que pesquisa o naufrágio de um navio da Segunda Guerra e acaba causando uma releitura do caso na justiça. O roteiro do talentoso Robert Nelson Jacobs (“Meu Monstro de Estimação”) deve chegar aos cinemas ainda no final desse ano, embora nenhum nome do elenco tenha sido anunciado pelo produtor e diretor Abrams. Mas “The Untold Story of the World’s Biggest Diamond Heist”, promete ainda mais do que uma história sensível. Se não foi exagero, é bem capaz do filme se converter na apoteose final das obras de assalto de Hollywood. Spike Lee bem que tentou criar o feito no certeiro “O Plano Perfeito” e ficou com o posto até o momento, mas como alguns míseros diamantes surrupiados por Clive Owen (“Rei Arthur”) seriam capazes de bater um filme com um título como esse? Para quem não sabe inglês, a frase enorme nas linhas acima pode ser traduzida em algo do gênero “A inédita história do maior roubo de diamantes do mundo”. Impressionado? Pois saiba que a história é real. Foi em Antuérpia, na Bélgica, em 2003, e não foi preciso muita gente. Uma pequena gangue de ladrões italianos foi o bastante para passar pelo teoricamente impenetrável cofre do Antwerp Diamond Center e sair carregando impressionantes 100 milhões de dólares em diamantes, ouro e jóias. Baseado em um artigo do único jornalista que chegou a conversar com os ladrões antes destes serem pegos (ele jura que não delatou o larápio), o filme ainda não anunciou nenhum nome e Abrams nem mesmo esclareceu se deve produzir ou dirigir a obra. É esperar para ver... ansiosamente, é claro.

Desculpe, mas seu tempo acabou...

Pensou que algum astro de maior grandeza havia participado de um naufrágio horrendo e caído no esquecimento? Você é um alarmista, meu amigo, um pessimista e alguém que sempre espera o pior. Mas, pensou que quem sabe algum empolgante filme com bombas e explosões sensacionais estava prestes a ser lançado? Veja só, temos aqui um otimista, uma mente aberta a novas idéias e alguém que olha para o futuro sem medo. Mas quem não se decidiu acabou acertando. Afinal, as linhas acima era simplesmente uma forma simpática e provocativa (autocrítica do autor aqui, percebam) a um filme que dissertará de forma igualmente carismática (ou assim se espera)... sobre a relação entre psicólogos e pacientes. “Shoot the Messenger”, título dúbio que também pode provocar múltiplas interpretações e análises profundas, será o primeiro filme dirigido pelo roteirista Ted Griffin, conhecido por trabalhos bem interessantes como “Onze Homens e Um Segredo” e “Dizem por Aí”. O estilo casual e eficiente de fazer comédia do autor nunca foi exatamente um ímã de astros, mas ao que parece a nova realização do homem tomará parte de grandes diálogos interpretados por ninguém menos do que Sir Anthony Hopkins (“O Silêncio dos Inocentes”), que parece ter mesmo desistido da aposentadoria. Ele interpretará o lado mais sério da história, o experiente Seymour, psicólogo acusado de manter uma conduta sexual inadequada com uma paciente de 32 anos, a ser vivida por Emily Blunt (“Jogos do Poder”). Os dois oscarizados são os únicos nomes escalados até agora, mas vale a pena conhecer os outros protagonistas só para sentir o gosto que a obra nos trará. Marshall é uma contradição, um psiquiatra obsessivo-compulsivo e com problemas em lidar com o dinheiro na relação com os pacientes. Por último e ainda mais interessante, o radical Ernest Lash, um espírito indômito que decide utilizar-se de sinceridade absoluta na relação com os pacientes e acaba provocando reações devastadoras.

A ascensão do renegado

Kevin Costner está de volta. Com poucos filmes de grande destaque e bilheteria desde o fracasso homérico de “O Mensageiro”, há mais de uma década, o californiano aproveitou-se da popularidade da comédia romântica para ressurgir aos poucos em pequenos filmes de bilheteria crescente (“Dizem por Aí”, “A Outra Face da Raiva”, “Promessas de um Cara-de-Pau”) e até algum prestígio crítico. Ele planeja voltar ao topo nos próximos anos com dois projetos de porte ambicioso e tramas que lembrar o auge do ator, lá pelos idos de “Robin Hood” e “JFK”. O primeiro é um drama de tema intimista que pretende causar grande impacto em tempos de crise econômica e desemprego constante. A bem da verdade, o protagonista de “The Company Men” é outro astro ressuscitado, Ben Affleck (“Medo da Verdade”). Ele será o homem que, simples assim, perde o emprego. O roteiro de John Wells, um dos escritores da fase inicial da série “E.R. – Plantão Médico”, promete estudar a fundo as conseqüências emocionais, práticas e familiares de um acontecimento como esse, que cada vez mais se torna cotidiano do mundo em crise ao nosso redor. Mas o astro ganhou recentemente não apenas a companhia de Costner, que deve interpretar seu cunhado boa-gente que arranja um outro emprego para ele, mas também de Tommy Lee Jones (“No Vale das Sombras”), que será um dos sócios da antiga empresa em que Affleck trabalhava, um homem honesto em meio a biltres arrogantes e gananciosos. Mas o retorno em grande estilo de Costner promete vir mesmo com “The One”, uma trama sobre a qual pouco se sabe que o ator trabalhou ao lado do antigo parceiro Michael Blake (“Dança com Lobos”). O pouco que se disse dá conta que o filme narraria a epopéia de um homem que ganha na loteria e decide viajar o mundo todo. A grande novidade? Costner deve voltar a direção para o filme, função que não desempenha desde 2003, quando lançou o pouco notado faroeste moderno “Pacto de Justiça”.

Bom, gente, e por hoje é só isso mesmo! Cinco notícias para compensar alguns dias afastado… vocês não imaginam quantas coisas diferentes estão tomando o meu tempo ao mesmo tempo! Mas enfim, coisas que acontecem… Agora me dão licença que já tenho mais coisas para fazer! Bons filmes para todos vocês e até amanhã!