domingo, 31 de maio de 2009

Posters na Parede – Os Novos Cartazes

Tudo Pode Dar Certo (2009)

whatever works

Que Woody Allen merece um capítulo a parte na história do cinema não deve ser novidade para ninguém, mas é fato que o cineasta e roteirista nova-iorquino gosta de remar contra a maré. Em tempos de importação hollywoodiana de diretores europeus, Allen precisou respirar os ares do Velho Mundo para encontrar renascimento criativo depois de uma série de filmes mal-recebidos pela crítica e pelos fãs. Dessa safra recente do diretor saíram o suspense Match Point, a comédia Scoop, e o excêntrico Vicky Cristina Barcelona. Agora, estabelecido e adorado por lá, Allen nos aparece com uma volta para casa. A amada Manhattan que serviu de cenário para impressionantes três dezenas de filmes do diretor entre 1977 e 2004 voltou com brilho para a câmera sempre observadora de Allen em Tudo Pode Dar Certo, tradução otimista de Whatever Works. A nova obra passou primeiro pela aprovação do exigente público do Festival de Tribeca, que acontece desde 2002 em uma das vizinhanças mais devastadas pelos ataques do 11 de Setembro em Nova York, o que motivou a Sony Classics a adiantar a estréia comercial do filme para Junho. A história soa como uma versão mais otimista e cômica do dramático Vênus estrelado por Peter O’Toole (Lawrence da Arábia) em 2006. No filme de Allen, Larry David (Seinfeld) encarna Boris Yellnikoff, um excêntrico nova-iorquino que decide deixar a vida elitista para experimentar mais da boemia. Na noite da cidade ele conhece uma garota do interior e sua família adorável, um encontro que gera confusões e complicações para ambos os lados. O papel da garota por quem, na verdade, Boris se apaixona, ficou para Evan Rachel Wood (O Rei da Califórnia), uma das jovens atrizes mais alogiadas e talentosas da nova geração, que conquistou até uma indicação ao Globo de Ouro pelo desempenho em Aos Treze, de Catherine Hardwicke (Crepúsculo). O elenco sempre estrelado de Allen aparece mais comportado em Whatever Works, talvez pela vontade de injetar realismo a uma típica história de Manhattan. Além da dupla de protagonistas, o filme conta apenas com o rosto conhecido de Patricia Clarkson, que já havia trabalhado com o diretor em Vicky Cristina Barcelona.

American Teen (2008) e Religulous (2008)

american teen

Essa história preconceituosa de “documentário é uma coisa chata” ficou completamente ultrapassada no cinema-verdade do século XXI. Só nos três últimos ganhadores do Oscar da categoria, tivemos um relato poético e emocionante de uma jornada natural (A Marcha dos Pingüins), um registro instigante e importante de uma palestra sobre o maior problema que teremos em nossas mãos nos próximos anos (Uma Verdade Inconveniente) e até uma obra tensa e carregada de perigo palpável (O Equilibrista). Dois dos mais bem cotados para entrarem nessa lista na próxima edição do prêmio da Academia também prometem passar longe do tédio que é comumente ligado ao gênero documental. O primeiro, American Teen, passou arrasando pelos festivais do circuito americano, faturando o prêmio de melhor documentário no prestigiado Sundance. O trabalho da nova-iorquina Nannette Burstein, conhecida pela biografia O Show Não Pode Parar, compilou em sua nova obra a vida de cinco jovens tipicamente americanos, daquele tipo de estereótipo que vive fazendo a graça das comédias ianques. Com uma diferença: eles são de verdade. Hannah Bailey é a rebelde, Colin Clemens é o atleta, Geoff Haase é o nerd, Megan Krizmanich é a rainha do baile e Mitch Rainholt é o garanhão. Todos os cinco na mesma escola, com vidas separadas, dramas diferentes que tomam proporções inimagináveis mesmo partindo de pequenos erros. A figura central é justamente a rebelde que desafia os rótulos e tenta ser ela mesma em meio a pessoas que usam máscaras e disfarces para serem “populares”. No Brasil, o filme deve chegar em salas de cinema seletas por volta de 22 de Maio. Bem mais explosivo e menos pessoal deve ser Religulous, desde já candidato sério ao prêmio de melhor documentário do ano. A começar pelo diretor, Larry Charles, que chocou o mundo com a hipocrisia americana na comédia Borat estrelada por Sasha Baron Cohen (Sweeney Todd). Ele, dessa vez, foi um mero observador para as estripulias de Bill Maher, um apresentador de TV britânico que fala sem papas na língua sobre a função da religião e de Deus na nossa sociedade. Ao discutir o assunto com centenas de pessoas ao redor do mundo, Maher e Charles formaram um explosivo, instigante e irônico retrato da religiosidade no mundo. E não, não deve ser chato.

 religulous

Pandorum (2009)

pandorum

Não raro, a ficção científica é um gênero potencialmente perturbador. E talvez não exatamente por seguir uma cartilha clássica do suspense de verdade, mas por freqüentemente explorar o medo mais enraizado de qualquer ser humano. O medo do desconhecido. Porque, tão sem motivo, tememos o que não entendemos completamente? Talvez porque queremos ter controle sobre tudo e ter a certeza de que estamos sozinhos, reinando soberanos ante ao universo, que apenas nos espera para explorá-lo. E se, de repente, acordássemos sem saber onde estamos, sem saber quem somos, sem saber para onde vamos, e descobríssemos que o mundo que conhecíamos como nosso ficou para trás? Assim é a premissa de Pandorum, que se junta a Moon no posto de ficção científica mais promissora dos próximos meses. O slogan estampado nos posters de divulgação da produção e no trailer recém-lançado diz tudo em uma frase: “Não tema o fim do mundo. Tema o que acontece depois”. Dois tripulantes acordam em suas câmaras criogênicas sem saber quem são e o que fazem naquela nave espacial. Seguindo o instinto natural humano, tentam lembrar dos fatos que os levaram até lá e, no caminho, encontram mistérios ligados a sobrevivência da humanidade e descobrem que não estão sozinhos. Os rumores em torno do destino de uma premissa tão instigante e potencialmente apoteótica começaram a esquentar em meados do ano passando, quando a dupla de protagonistas foi escalada pelo produtor Paul W.S. Anderson (Resident Evil). O primeiro a embarcar no projeto foi Dennis Quaid (O Dia Depois de Amanhã), que anda em um momento de reformulação da própria carreira. Ao lado dele, o jovem e talentoso Ben Foster (30 Dias de Noite) completa a dupla de protagonistas que deve monopolizar todo o tempo de tela sob a vigilância da câmera confinada do alemão Christian Alvart (Anticorpos) e seguindo o roteiro de Travil Milloy (O Sorriso de Mona Lisa). O apocalipse deve chegar as telas em 04 de Setembro.

A Era do Gelo 3 (2009)

ince age 3 

Há algo de diferente em A Era do Gelo. Em 2001, quando a corrida dos estúdios pelo monopólio da animação digital dava sua emocionante largada, a Blue Sky Studio chegou correndo por fora e trazendo a aventura diferenciada desses animais pré-históricos tentando salvar uma criança humana. Era uma trama divertida, cheia de boas tiradas cômicas, com um visual impressionante e excepcionalmente bem trabalhado, mas acima de tudo era a história do nascimento de uma família. Pode parecer piegas, mas como é possível negar os laços fraternais que unem os protagonistas depois de um deles ganhar uma companheira fiel na bem-sucedida continuação? Tudo bem, ainda estamos falando de um produto de estúdio, de um filme feito para estourar nas bilheterias, mas ao menos de um com alma e emoção. De repente, aqueles não são mais animais, mas estranhos seres humanos metidos em uma jornada de riscos e perigos, em um mundo que está mudando, mas permanecem juntos. Três anos depois de passarem pela provação do início do derretimento das geleiras, eles retornam com A Era do Gelo 3. A opção de manter o mesmo time era quase óbvia, uma vez que o segundo exemplar da franquia beirou os 200 milhões de dólares apenas em solo americano, e por isso aqui estamos com mais uma obra de Carlos Saldanha, o orgulho nacional. Ou ao menos deveria ser. Fazendo o jogo dos estúdios ao mesmo tempo em que constrói uma carreira sólida e talentosa, o brasileiro volta ao comando da saga dos amigos para acrescentar mais alguns elementos “familiares”. Para começar, o casal de mamutes  Manny e Ellie se prepara para a chegada de um bebê e passa por todas as neuroses desse período. Enquanto isso, o tigre Diego passa por uma crise de identidade, cansado de ser tratado como um animal de estimação e vendo o caçador dentro de si ressurgir aos poucos. Sid, a prequiça, por sua vez, tenta formar uma família para si mesmo mas mexe no lugar errado ao roubar o ovo de um dinossauro. É partindo dessas premissas que os heróis, mais o hilário Scrat, se vêem enfrentando dinossauros em um bizarro mundo subterrâneo. A novidade do ano? O filme, que deve ser o mais grandioso da série, será exibido em 3D. Boa sorte em 1º de Julho.

 ice age 3

 A Mulher Invisível (2009)

mulher invisível

O que o cinema brasileiro precisa é a ambição de ser menos arte e mais entretenimento. Afinal, a gigantesca indústria americana já bem nos ensinou que são os grandes eventos, os filmes feitos para dar lucro, que sustentam as obras de arte. E além do mais, não há nada de errado com a ambição de divertir. Veja a Conspiração Filmes, por exemplo. Acusada diversas vezes de ser uma produtora de “filhinhos de papai” querendo fazer cinema, a produtora vem crescendo muito no panorama cinematográfico nacional, combinando obras com pretensão mais alternativa ou artística com filmes direcionados a um público mais popular, mais ao acaso. Enfim, ao freqüentador médio de cinema no Brasil. Nessa linha, se destacou em 2004 o inclassificável Redentor, a estréia promissora do cineasta Cláudio Torres em longas-metragens. Elogiado pela crítica, o filme teve um papel importante na história do cinema brasileiro por introduzir efeitos especiais mais ousados no arsenal de armas dos cineastas tupiniquins, e ainda saiu da brincadeira com uma boa bilheteria para os padrões brasileiros. Em A Mulher Invisível, Torres retorna a direção repetindo os elementos de fantasia e abusando da visibilidade de um dos atores cinematográficos com mais credibilidade na atual produção brasileira. O nome, é claro, é Selton Mello, recém-saído das internacionais filmagens de Jean Charles e do posto de herói da crítica pelo independente O Cheiro do Ralo, um cara inteligente e talentoso que retorna ao seu ambiente primário ao estrelar a nova comédia romântica de Torres. Ele é Pedro, um romântico incurável que nunca perde a esperança de encontrar a mulher perfeita, ainda que todas suas prévias tentativas tenham terminado de forma bastante trágica. Apenas quando é mais uma vez desiludido e deixaod sozinho que ele encontra o que procurou a vida toda na pessoa de Amanda, sua vizinha linda, simpática e atenciosa. As coisas ficam um pouco mais complicadas quando ele descobre que ela não pode existir fora de sua imaginação. Uma pena quando estamos falando de Luana Piovani, é claro, mas há quem diga que a atriz nunca esteve tão graciosa e contundente quanto no papel de Amanda. O elenco de apoio é de peso: Fernanda Torres (Os Normais), Maria Luísa Mendonça (Jogo Subterrâneo), Paulo Betti (A Casa da Mãe Joana) e Vladimir Brichta (A Máquina). Todos eles estreiam em 05 de Junho.

Harry Potter e o Enigma do Princípe (2009)

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A magia negra tomou conta da Warner Bros em meados de 2008. Ou ao menos foi o que, eu asseguro, todos os fãs do maior fenômeno literário e cinematográfico do século pensaram ao receberem a nóticia de que o novo exemplar de sua série preferida havia sido adiado… em quase um ano. Admito que eu mesmo não me conformei com a notícia por algum tempo, mas hoje até compreendo. Não resta dúvidas de que se tratou de um ato desrespeitoso com os fãs, mas é claro que, em uma análise mais puramente técnica, a decisão do estúdio foi acertada. Acompanhe comigo: você já tem o maior sucesso do ano na bagagem, com hype de Oscar aparecendo por todos os lados e elogios rasgados até dos críticos mais exigentes. Sobre o ano seguinte, o comentário geral é que será profundamente afetado por uma crise econômica e ainda terá seca de grandes blockbusters graças a uma greve de anos atrás. Você não tem nenhum grande filme para esta época. Sinceramente, qual seria sua decisão? A Warner seguiu o caminho mais curto e mais lógico, por mais que isso tenha enfurecido fãs indignados. E ponto. Agora vamos falar do que realmente importa, no final das contas: o filme. A começar pelo retorno do britânico David Yates, que já havia comandado o filme anterior da série, A Ordem da Fênix, e recebeu elogios pelo clima político que imprimiu a uma obra que tinha essa ambientação também em papel. Agora, a história é outra. O Enigma do Princípe, todo bom fã sabe, é o livro que contém todas as informações importantes para o desfecho magistral que J.K. Rowling orquestrou no sétimo exemplar de sua série. É também o tomo que define as relações entre os personagens de forma mais marcante, inclusive deixando para trás boa parte da ação da série, que neste capítulo se concentra bastante no final apoteótico. Ainda assim, e talvez mais importante, O Enigma do Príncipe é palco da morte mais melancólica e definidora da série. Não vou estragar a surpresa de quem não leu, mas basta dizer aos fãs que o retorno do roteirista Steve Kloves deve garantir ao menos uma tratamento digno para essas e outras passagens tão marcantes. Das sempre abundantes novidades do elenco, o destaque do momento é Jim Broadbent (Moulin Rouge!), que vem para encarnar o Slughorn que todos os fãs sonharam, e Hero Fiennes-Tiffin, o filho estreante de Voldemort em pessoa, Ralph Fiennes (Na Mira do Chefe), que encarna o vilão furante a infância, em uma das lembranças mais adoradas pelos fãs da série. Também entram no barco Helen McCrory (A Rainha) como Narcissa Malfoy, e Dave Legeno (Alex Rider) na pele do lobisomem Fenrir Greyback. A aventura já aconteceu. Resta a nós, pobres trouxas, esperar até 15 de Julho para conferi-la.

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Bom, pessoal, primeiro devo algumas explicações a vocês. Os Boletins andam bem atrasados, mas é tudo pela boa causa daquele especial que eu falei para vocês há algum tempo. Garanto que ele está em fase final. Também tenho algfumas críticas para serem escritas, mas tenho deixado-as para depois. Finalizei esse post para tentar remediar um pouco essa ausência, e provavelmente até terça-feira nosso especial estará por aqui. Tudo bem? Obrigado como sempre pela compreensão. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Troca – O gosto amargo de um final incompleto

A Troca (Changeling, EUA, 2008).

De: Clint Eastwood.

Com: Angelina Jolie, Jeffrey Donovan, John Malkovich, Jason Butler Harner, Gattlin Griffith.

141 minutos.

O que te faria não desistir? Por que causa sua luta seria obstinada o bastante para atravessar a barreira do tempo e da própria organização da sociedade? A primeira vista, se trata de uma pergunta fácil de se responder, mas em tempos nos quais o supérfluo se tornou indispensável e vice-versa, nunca é demais relembrar o que temos de mais precioso de verdade. A verdadeira Christine Collins viveu em outros tempos, quando uma mulher comandando um departamento em seu ramo de trabalho era quase uma heresia e quando a polícia era bem mais soberana do que é hoje. Violência era a moeda de troca e corrupção era a renda diária. Havia quem lutasse contra a situação, sim, mas faltava coragem das vítimas desse regime inaceitável para reverter o jogo. Afinal, competição nenhuma é ganha com um pouco de falatório. Christine foi a jogadora que colocou as palavras de gente como o Reverendo Briegleb em ação e lutou obstinada para recuperar a base e o ponto de equilíbrio de sua vida movimentada. Christine perdeu o filho. O que você precisaria perder para fazer tudo o que ela fez e ainda sair vitorioso? A questão acaba de se tornar mais complexa, eu acho. Tão complexa que soa impossível de se resolver em meras duas horas e, ainda mais além, impossível de se transportar de forma fidedigna a uma encenação que, no final das contas, é essencialmente falsa. A Troca paga o preço pela ingratidão de sua missão, mas ao menos se sai tecnicamente impecável no caminho. É um drama respeitoso, feito por um diretor equilibrado que sabe dosar o ritmo hipnotizante de algumas cenas com um pouco mais de dinamismo quando a questão é mais prática do que emocional. O resultado é um bom filme, um bom produto cinematográfico e certamente uma peça de cinema autoral pronta para ser apreciada. Mas, previsivelmente, encontra fraqueza nas questões complexas da qual trata. A Troca não é um filme de respostas claras e muito menos de realismo exagerado. É uma fábula cruel e cheia de ambigüidade sobre uma mulher lutando contra o resto do mundo. Um filme que faz pensar e, apesar de toda a carga emocional, deixa um gosto amargo na boca no final de seus 141 minutos. Uma sensação de experiência incompleta que deixa exposta a constatação triste de que nem o melhor dos artistas é capaz de reproduzir a vida real. Ao menos não por inteiro.

Cinema é uma questão sensorial demais pra ser descrita perfeitamente, que dirá as emoções e sensações que uma obra é capaz de transmitir. De fato, pode ser que nada do que está escrito no parágrafo acima se aplique a uma análise fria e metódica dos fatores da equação bem arranjada de A Troca. Mas é inegável que, de algum ponto em diante, aquela história vai parar de fazer sentido. É um beco sem saída no qual o desafortunado J. Michael Straczynski se meteu em seu primeiro trabalho dramático para o cinema. Conhecido como criador da série de TV Babylon 5 e como renomado roteirista de quadrinhos, Straczynski faz um trabalho indiscutivelmente louvável ao transportar detalhes e nuances fundamentais da realidade para a ficção, mas se vê preso a condição de um simples escrivão, criando alguns diálogos memoráveis para personagens que não são seus e descrevendo com requinte cenas que aconteceram na realidade e tem carga emocional por si mesmas, sem a necessidade de um criador para lhes dar rumo. Para um escritor cuja maior qualidade é a criatividade, trata-se de uma missão ingrata e, vendo por esse ângulo, ele até se sai bem no que propõe, ainda que a falta de liberdade transpareça em cada palavra de seus diálogos e em cada expressão de seus personagens. A trama aqui é daquele tipo que começa comum para, de uma hora para outra, seguir por um caminho labiríntico e impossível de se prever. A história começa com Christine (Angelina Jolie) saindo para trabalhar em uma bela manhã de sábado. Ela é uma mulher moderna para sua época, dona da própria vida e mãe solteira para seu filho Walter (Gattlin Griffith). Tal característica de modernidade poderia ser melhor aproveitada pelo roteiro, mas acaba sendo tratado como um elemento a mais em uma história que, afinal, tem coisa demais a contar para explorar-se completamente no espaço limitado que é o cinematográfico. O que importa é que ela se torna o olho do furacão quando volta para casa e não encontra Walter. Meses e muita comoção pública depois, a polícia de Los Angeles diz ter encontrado o garoto e arranja um grande evento de imprensa para limpar a imagem do departamento com a opinião pública. O menino, no entanto, não é o filho de Christine, e embora ela reconheça o fato logo de cara, a polícia vai usar de todos os meios para não precisar se retratar. Começa assim uma luta que passa pelos corredores de um manicômio, pelas cadeiras de uma sala de julgamentos e encontra seu trágico e incerto final em uma pequena fazenda em algum lugar distante do território americano.

No comando de toda essa história cheia de impacto substancial, o nome de Clint Eastwood (Menina de Ouro) sai ileso de erros durante toda a projeção. Veja bem, não sou um daqueles críticos que aprecia qualquer coisa que o diretor produz, mas sei reconhecer quando um trabalho de direção combina classe e genialidade em uma só tomada. E em cada uma delas. Eastwood é dono de uma câmera estagnada, sim, mas uma câmera que sabe como observar e como explorar cada visual. Aliás, ao lado do diretor de fotografia Tom Stern (Coisas que Perdemos Pelo Caminho), ele cria toda uma identidade visual para A Troca que funciona o tempo todo, seja observado uma casa bem arrumada no subúrbio ou se deparando com os tons de cinza e negro de uma prisão cheia de sombras e assustadora em certa medida. O trabalho de Eastwood, porém, vai além de agradar aos olhos e chega a uma edição elegante e cheia de estilo que consegue ser classicista sem ser atrasada e ainda explora com genialidade os focos de luz que permeiam todo o tom contrastante do filme. Seja confinada em certa posição ou mudando de foco a cada momento, Eastwood faz as escolhas certas e muito do impacto de alguns momentos de A Troca se devem a sua precisão. O único momento de erro se dá durante o julgamento final da obra, que passa a sensação de editado as pressas e sem muita consideração com a própria compreensão do espectador. Mas as coisas terminam por se ajeitar, especialmente quando se tem uma estrela tão surpreendente quanto Angelina Jolie. Mais bela do que nunca, ela encarna o ponto de convergência de toda a trama com uma precisão quase comovente. Visivelmente envolvida com o papel, Jolie segura praticamente sozinha a maioria das cenas e se torna uma espécie de elemento humano, emocional e individual fortíssimo para uma história que muito diz sobre problemas da sociedade, seja no final dos anos 1920 ou nos dias de hoje. Uma atuação completa e acertadíssima que sem dúvida mereceu o reconhecimento da indicação ao Oscar, uma das três concedidas ao filme. É claro, A Troca não é só Jolie. Jeffrey Donovan (Burn Notice) consegue crescer a cada cena e criar uma persona tão realista e hipócrita que chega a se tornar uma das criaturas mais odiosas que o cinema já produziu. John Malkovich (Queime Depois de Ler) tem pouco a fazer em um papel estático e quase sem profundidade emocional, mas se sai com uma atuação digna de um ator de seu porte. Quem surpreende mesmo é Jason Butler Harner (O Vidente), que encarna o psicopata Gordon Northcott e deixa o espectador na dúvida até o último momento sobre sua inocência. Uma interpretação difícil que Harner domina de forma impressionante e que chega a percepção do espectador como algo quase tão real quanto grotesco e revoltante. Essa dúvida e essa ambigüidade, aliás, dominam A Troca durante boa parte de seus 141 minutos. Um filme fácil de se envolver e, talvez por isso mesmo, um tanto decepcionante em seu final. Mas vale a pena conferir, nem que seja apenas para descobrir o que já sabemos... todos precisamos de esperança.

Nota: 8,0

 

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (20/05/2009)

Lost ao quadrado

Imagine um episódio de Lost. Monstros surreais, ameaças desconhecidas, manipulação política das boas em pequena escala e ainda um bônus de personagens humanos e reais para alimentar a parte emocional da trama. Fácil? Então agora imagine um episódio de Lost assinado por Tim Burton. Cenografia sombria, teatralidade exacerbada, elementos surreais em uma narrativa que, ainda assim, não tira um dos pés da cruel realidade nossa de cada dia. Ficou um pouco mais difícil de juntar os dois elementos? Não se preocupe, tudo poderá ser visto em breve, com um elenco estrelado, no conforto de uma poltrona de cinema. The Other Side é o título do roteiro elaborado por David Michaels, criador da pouco conhecida série Macabre Theater, em parceria com o irreverente Phil Reeves (Happy, Texas). O texto circula pelos corredores dos grandes estúdios desde meados de 2006, quando virou alvo de cobiça dos atores mais conceituados da capital do cinema e terminou reunindo um elenco estelar. Na lista original estavam Ryan Gosling (Diário de Uma Paixão), Tim Roth (Água Negra), Giovanni Ribisi (A Estranha Perfeita), Jason Lee (My Name is Earl), Anjelica Huston (Os Imorais) e a animada Brittany Murphy (Sin City), que estava cotada para assumir o papel de protagonista e chegou a dizer que existia “algo de muito especial em The Other Side” e que nunca havia lido algo do tipo antes. O tempo passou e as filmagens que estavam marcadas para novembro de 2007 foram sendo atrasadas mês após mês até que a fonte de notícias em relação ao projeto secou de uma vez por todas. O ressurgimento de The Other Side, ironicamente, acabou acontecendo com o interesse de uma estrela decadente em busca de um projeto para recuperar o status dentro do negócio cinematográfico. O nome é Lindsay Lohan (Eu Sei Quem me Matou), que passou 2008 em branco nos cinemas americanos graças ao envolvimento com drogas e pretende reparar o erro justamente com a comédia de fantasia, uma vez que Labor Pains, seu mais recente filme completado, vai mesmo ser lançado direto para o DVD. Com ela liderando, o projeto ganhou uma nova (e um pouco mais modesta) lista de elenco. Giovanni Ribisi permanece firme em seu posto, mas todos os outros envolvidos se debandaram por outras estradas, abrindo espaço para a entrada de Woody Harrelson (O Homem Duplo), Katie Holmes (Batman Begins), Eddie Izzard (Operação Valquíria) e Kieran Culkin (Meninos de Deus). A sinopse continua a mesma, ao menos: uma estudante de ciência passa o verão em uma ilha atrasada no tempo em relação ao mundo real. Seguindo uma trilha de pistas, ela tenta resolver o mistério que faz os habitantes do lugar ficarem parados no tempo e descobre algo que ela nunca poderia prever. A direção é do próprio David Michaels.

Sete mulheres para um diretor

nine

Em 1963, o mundo parou e se curvou ante ao talento do mestre italiano Federico Fellini. O diretor, então conhecido pelo trabalho no famosíssimo A Doce Vida, surpreendeu até os americanos, que cederam a 8 ½ não apenas o prêmio de melhor filme estrangeiro, mas também indicações a outras três categorias, incluindo melhor diretor e melhor roteiro original. Em charmoso preto-e-branco e estrelado por Marcello Mastroianni, o filme narrava o drama do diretor de cinema Guido Anselmi, que anda sem inspiração para desenvolver seu novo projeto e tenta se livrar da pressão mergulhando em um mundo de lembranças e fantasias que o remetem a todas as mulheres que ele já amou e deixou para trás. Foi quase uma obra biográfica para Fellini, que se via atribulado com as dificuldades da arte de fazer cinema. Menos de duas décadas depois, com o respaldo do diretor, estreou na Broadway o musical Nine, que usava a premissa básica do filme e adicionava elementos mais “atualizados” (incluindo uma crise de meia-idade como o motivo para as reflexões do protagonista). Estrelado pelo saudoso Raul Julia (Street Fighter), a montagem chegou perto de 1000 apresentações e ganhou cinco Tony, o Oscar do teatro. Mas a história ainda não tinha morrido definitivamente, e em 2003 uma nova montagem do musical, estrelado dessa vez por Antonio Banderas (A Lenda do Zorro), conquistou o público por 300 apresentações e a crítica, abocanhando dois Tony. Nem é preciso tanta rapidez de raciocínio para deduzir que o próximo caminho lógico da história é retornar a grande tela. O responsável por Nine, o filme, é Rob Marshall (Chicago), que trabalha no projeto com o roteirista Michael Tolkin (Impacto Profundo) desde 2007. Prejudicado pela greve dos roteiristas, porém, o musical teve de recomeçar os trabalhos no início do ano passado e acabou reunindo um elenco feminino de respeito para dar vida as mulheres da vida do protagonista. A começar por Nicole Kidman (Austrália), que retorna aos musicais interpretando a musa e ex-amante de Guido. A lista segue com Judi Dench (Cassino Royale) na pele da produtora linha dura que pressiona o protagonista por uma nova idéia, Kate Hudson (Um Amor de Tesouro) encarnando uma jornalista de moda, Sophia Loren (Um Dia Muito Especial) como a mãe de Guido, Marion Cotillard (Piaf) como sua esposa e por fim Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), intérprete da prostituta Carla, que entra em contato com ele em sua viagem a Veneza. O sortudo em meio as beldades? Daniel Day-Lewis (Sangue Negro), o último a ser escalado para o filme, que deve estrear em 08 de Janeiro de 2010 em terras brasileiras. A primeiro foto das moças no set acabou de sair (aí em cima).

Estrada longa

Na ativa há mais de quatro décadas e com uma dezena de livros publicados, Cormac McCarthy parecer ter sido descoberto apenas recentemente pela capital do cinema. Ou talvez tenha sido apenas o sucesso dos Irmãos Coen (Fargo) ao se arriscarem pela primeira vez na escrita cheia de metáforas do escritor e saírem com a obra-prima que é Onde os Fracos Não Têm Vez. O ouro dos Oscar conquistados pelo filme logo fez Hollywood abrir os olhos para as outras obras de autoria desse americano versátil que já passou pelo estilo gótico e pelo faroeste até aterrissar no pós-apocalíptico em sua obra mais recente, o desolador The Road. Não por acaso, a história da jornada de um pai e seu filho pequeno pela última estrada de um mundo destruído por um cataclismo desconhecido foi a primeira a entrar na mira dos estúdios e logo de cara chamou a atenção de gente que vale a pena acompanhar. O primeiro a colocar seu nome no páreo para estrelar o projeto foi Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis), que na época se preparava para uma virada em sua carreira e viu seu nome se tornar um dos mais cotados de Hollywood depois da indicação ao prêmio da Academia de melhor ator pelo desempenho em Senhores do Crime. Entre o final de 2007 e começo de 2008, o projeto ganhou vida nas mãos do roteirista Joe Penhal (Amor Obsessivo) e ainda encontrou seu comandante na pessoa do australiano John Hillcoat (A Proposta). O elenco de The Road também foi crescendo em número e brilho, ainda que a maioria dos papéis para além dos dois protagonistas sejam meras aparições especiais. O garoto, aliás, achou seu intérprete na pele do jovem Kodi Smit-McPhee, que recentemente apareceu em Wolverine como o personagem-título durante a infância. Além dele, o filme conta com Charlize Theron (Hancock) interpretando a esposa do protagonista, Guy Pearce (Atos que Desafiam a Morte) na pele de um veterano de guerra e Robert Duvall (Os Donos da Noite), cuja participação ainda é um mistério. As filmagens começaram em meados do ano passado nas geladas locações no estado americano da Pensilvânia, e até imagens promissoras para promover a obra foram liberadas na Internet. Isso até Outubro, um mês antes da estréia marcada em solo americano, quando a Weinstein Company decidiu atrasar em quase um ano a estréia da obra, decisão justificada por problemas nos efeitos especiais. O filme, cujo primeiro trailer acaba de ser lançado, deve chegar aos cinemas em 04 de Outubro, no início da temporada de filmes com potencial para premiações.

O retorno da maldição

Os cinéfilos mais radicais devem estar familiarizados com a história contada nas linhas abaixo, mas não custa nada relembrar (ou descobrir) porque The Man Who Killed Don Quixote é considerado o projeto mais maldito que Hollywood jamais tentou viabilizar. De fato, foi quase como se o próprio Miguel de Cervantes, autor do clássico sobre um nobre que enlouquece e sonha ser um cavaleiro andante em grandes batalhas contra moinhos de vento, viesse do além para assombrar o diretor Terry Gilliam (Os Doze Macacos), responsável pela direção do projeto na primeira e última tentativa de levá-lo as telas, em 2000. Na época, o projeto era dado como o próximo grande filme do diretor, que havia acabado de sair elogiado do negócio arriscado que era a adaptação do livro Medo e Delírio no filme estrelado por Johnny Depp (Piratas do Caribe) em 1998. O próprio astro estava escalado para participar do filme na pele de um publicitário que viaja no tempo e encontra com Dom Quixote em pessoa, que o confunde com ninguém menos que seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Para o papel do lunático cavaleiro criado pelo escritor espanhol, Gilliam havia escalado o francês Jean Rochefort (Eu Sou o Senhor do Castelo), que nunca havia escondido a paixão pelo personagem e pela obra, mas acabou sendo o olho do furacão de todos os eventos que rodearam a produção do filme. Cinco dias depois do início das filmagens, Rochefort descobriu que as dores que sentia eram na verdade uma grave infecção de próstata que o afastou das filmagens e gerou os primeiros rumores de que o projeto não iria se realizar da forma que fora concebido. E para chegar até a filmagem não havia sido nenhum caminho de rosas, entre brigas com o estúdio pelo tamanho do orçamento e da ambição na agenda de filmagens, Gilliam passou quase dois anos batalhando para transformar o projeto em realidade. No dia seguinte, quando Depp se preparava para começar a filmar sua parte antes do planejado, os céus espanhóis derramaram uma tempestade que inundou o local onde a equipe se abrigava e, acreditem levou embora todo o equipamento de filmagens. Nas palavras do próprio diretor: “Foi como uma punição por tudo de ruim que fiz na minha vida”. Como se não bastasse, no dia seguinte a equipe percebeu que, devido a chuva, a paisagem que serviria de fundo para as cenas havia mudado radicalmente, e no dia seguinte, quando Rochefort resolveu voltar a ativa, foram necessários três homens, um vôo de emergência e uma cirurgia feita as pressas para recuperá-lo de uma hérnia de disco dupla. É claro, o projeto foi desligado pelos investidores e não seguiu em frente, deixando lesões, prejuízos e uma mancha na carreira de Gilliam que inclusive resultou no documentário Lost in La Mancha. Porque dizer tudo isso agora, nove anos depois? O roteiro foi reescrito por Gilliam e Tony Grisoni (Atos que Desafiam a Morte) e as novas filmagens devem começar ano que vem. Que nenhuma maldição venha assombrar o diretor dessa vez.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… consegui reunir apenas quatro notícias mesmo estando um pouco atrasado porque meu tempo tem sido consumido pela responsabilidade de preparar uma surpresa em breve para vocês… quem está ligado no que está acontecendo no mundo do cinema já deve ter matado a charada. Trata-se de um especial, mas o assunto eu deixo para vocês advinharem. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (18/05/2009)

Psicopata escondido

 

Hollywood pode ser cruel. Apesar de isso não ser novidade para ninguém, em alguns momentos chega a impressionar a quantidade de rótulos, estigmas e interferências que a capital do cinema impõe aos bravos marinheiros que tentam desbravar seus mares. Veja o caso de Casey Aflleck, por exemplo. O sobrenome não esconde o parentesco estelar. Irmão mais novo do astro Ben Affleck, ele só teve sua chance para brilhar da forma que seu talento merecia quando o irmão encontrou o desastre Contato de Risco pelo caminho e passou alguns anos escondido atrás de pequenas produções e alguns vôos mais ambiciosos que invariavelmente davam errado. Enquanto isso, Casey cresceu como coadjuvante de filmes como Onze Homens e Um Segredo até alcançar o estrelato completo (e uma indicação ao Oscar) com a performance brilhante em O Assassinato de Jesse James e se estabilizar como ator sério ao ser dirigido por, veja só, o próprio irmão, em Medo da Verdade. Agora, três anos depois, enquanto Ben caminha devagar os degraus de volta a seu lugar de destaque no mundo do cinema, Casey prepara sua volta as telas protagonizando o que promete ser um dos faroestes modernos mais badalados dos próximos anos. The Killer Inside Me promete muita pressão psicológica para desenrolar a tensa história de um xerife do oeste do Texas que aos poucos é revelado como um assassino psicótico. O romance de onde a história veio, de autoria de Jim Thompson (Os Imorais), é descrito como o pioneiro no estilo “noir western” na literatura. Se no cinema o gênero teve seu ponto de partida com Onde os Fracos Não Têm Vez, de dois anos atrás, é sinal que o trabalho do diretor Michael Winterbottom (O Preço da Coragem) será dobrado para fazer o público esquecer o trabalho genial dos irmãos Coen (Queime Depois de Ler) e se envolver em uma trama que promete tanto ação de primeira linha do gênero quanto um estudo profundo de um personagem mais ambíguo impossível. O que, por si só, já é um desafio para Casey, acostumado a interpretar personagens de conduta bem definida e movidos por uma força de obsessão muito forte. Não que ele esteja mal-acompanhado, é claro. Para lhe fazer frente, Simon Baker (The Mentalist) será o advogado responsável pela acusação do protagonista, e Jessica Alba (Quarteto Fantástico) toma mais um papel arriscado ao viver a prostituta que é testemunha-chave para o caso. O elenco ainda conta com a presença sempre iluminada de Kate Hudson (Um Amor de Tesouro), fora de seu ambiente cômico para interpretar a namorada do xerife, uma professora insatisfeita com seu trabalho. O filme tem roteiro de John Curran (O Despertar de Uma Paixão) e Robert D. Weinbach, que saiu da aposentadoria trinta anos depois de Estranhas Mutações.

De volta a terra

Fernando Meirelles? Walter Salles? José Padilha? Tudo bem, talvez eles tenham ido bem mais longe que a esmagadora maioria dos cineastas brasileiros jamais sonhou, mas é fato que o posto de diretor tupiniquim mais bem-quisto na capital do cinema não pertence a nenhum deles. Este cargo atualmente é ocupado por um animador de nome pouco conhecido, rosto menos ainda, mas cujas criações com certeza estão entre as mais adoradas do mundo. O nome é Carlos Saldanha, um carioca de quarenta e um anos que começou a carreira ao lado do parceiro nova-iorquino Chris Wedge no curta-metragem Bunny, de 1998, e de lá aproveitou a carona do amigo para se tornar co-diretor de uma das animações mais famosas do novo século. Estamos falando, é claro, de A Era do Gelo, a produção que colocou o Blue Sky Studios no mapa das produtoras de animação americanas. Depois de permanecer como coadjuvante no menos bem-sucedido (e nem por isso ruim) Robôs, Saldanha tomou o holofote principal ao ver o parceiro partir para novos vôos e deixar a direção de A Era do Gelo 2 integralmente em suas mãos. O resultado? A continuação não só igualou o original em termos de bilheteria como também ganhou elogios rasgados da crítica ao redor do mundo, algo que havia acontecido com algumas ressalvas em relação a primeira produção. Três anos depois, prestes a lançar a segunda continuação da série, onde os amados personagens se deparam com um caçador de dinossauros e problemas típicos de uma família, Saldanha já tem um novo projeto pronto para decolar. E dessa vez não vai haver quem reclama da suposta “falta de patriotismo” do diretor. Afinal, como o próprio nome diz, Rio é quase todo passado na cidade onde Saldanha nasceu e cresceu. A trama é um tanto suspeita para uma animação, mas em todo o caso é melhor ler e tirar suas próprias conclusões. Rio acompanha uma arara nerd e impopular que sai do conforto de sua gaiola em uma pequena cidade do Minnesota, em terra americana, e parar no Rio de Janeiro. O filme carrega a importância de ser a primeira produção oficialmente feita na recente parceria integral entre a Blue Sky e a 20th Fox, cujo setor de animação andava mal das pernas desde o fracasso de Titan, quase uma década atrás. A estréia de Rio está inicialmente marcada para 08 de Abril de 2011.

Clássico tardio

“O céu sobre o porto era da cor de uma televisão sintonizada em um canal morto”. A frase aí atrás pode não ser exatamente poética, mas não deve ser surpresa para os fãs de ficção científica saber que ela marcou o início de uma era. Quando William Gibson lançou Neuromancer em 1984, o cenário literário passava por revoluções em todos os gêneros, deixando as noções românticas para trás e tentando cada vez mais se aproximar de uma visão realista, e ainda assim escapista, do mundo cheio de falhas que víamos ao nosso redor. Na ficção científica, o movimento que provocou essa mudança ficou, por acaso, conhecido como cyberpunk, e o romance de Gibson foi o marco zero desse movimento. Neuromancer não foi o primeiro a mostrar uma visão distópica e, porque não, pessimista em relação ao futuro da humanidade, mas sem dúvida foi o primeiro a radicalizar esse conceito e usá-lo para uma história de proporções crescentes. Tudo começa quando Henry Case, um trambiqueiro de baixo nível em uma futurística cidade japonesa. Especialista em crimes virtuais e um talentoso hacker para quem pague seu preço, Henry vê sua vida virar de cabeça para baixo quando é pego roubando seu mais recente empregador. Em punição, ele tem seu sistema nervoso central danificado por um poderoso veneno, deixando-o desabilitado para realizar os trabalhos no cyberespaço. Sem emprego, drogado e com pensamentos suicidas, Henry é salvo por Molly Millions, uma autodenominada “samurai das ruas” e uma mercenária a serviço do obscuro ex-oficial do exército Armitage. Ele é quem oferece a Henry a possibilidade da cura em troca de um serviço mais complicado que o regular. É claro, o preço a pagar por tal acordo é bem mais alto do que qualquer um deles poderia prever. Comentada já há algum tempo, a adaptação cinematográfica do romance ganhou mais espaço quando o produtor Peter Hoffman (Sem Risco Aparente) precisou procurar um projeto para ocupar o atraso de The Winter Queen, projeto de Paul Verhoeven (Instinto Selvagem) que foi adiado graças a gravidez da protagonista Milla Jovovich (Resident Evil). Neuromancer foi o escolhido pelo produtor, que colocou o projeto nos trilhos e chamou Joseph Kahn (Fúria em Duas Rodas), mais conhecido pelo trabalho em videoclipes, para dirigir a adaptação. Isso dois anos atrás. Agora, a novidade é a escalação de Hayden Christensen (Jumper) como o protagonista e Liv Tyler (O Senhor dos Anéis) para o papel de Molly. O filme, porém, ainda não tem data de estréia.

Drama importado

brothers

Não é de hoje que Hollywood anda em crise de novas idéias. Seja adaptando livros ou games, refazendo clássicos de outros tempos, revivendo séries já postas como mortas e enterradas ou produzindo continuações em ritmo alucinante, o fato é que a grande maioria das produções da capital do cinema é baseada em uma premissa que, de alguma forma, já foi vista antes. É claro, como tudo nesse mundo e especialmente no cinema, há um lado bom e um lado ruim. O último não é preciso nem citar, afinal, se cinema é feito de idéias, é melhor se preparar para uma grave crise nos anos que virão. O primeiro é um pouco mais difícil de compreender, mas é inegável que observar uma visão diferente da mesma idéia pode se tornar uma experiência fascinante. Além do mais, a culpa não é de Hollywood se a esmagadora maioria dos apreciadores ocasionais de cinema dão preferência aos filmes ianques. Veja Brothers, por exemplo. Legítimo representante do festejado novo cinema dinarmaquês, a obra de Susanne Bier (Coisas Que Perdemos Pelo Caminho) passou arrasando por Cannes e Sundance e ainda assim acabou encontrando o destino das prateleiras de locadoras espalhadas pelo Brasil. Isso porque há uma certa noção nos cinemas brasileiros de que um drama pesado não atrai público a não ser que tenha astros estampando o topo dos cartazes ou um par de indicações para o Oscar. Brothers, a refilmagem, tem um dos fatores garantidos e uma boa possibilidade de figurar na lista da Academia no ano vindouro. Alguém é capaz de culpar um produtor de continuar produzindo refilmagens? De qualquer forma, sem entrar no mérito da questão aí atrás, o fato é que Brothers tem tudo para ser um grande filme. Comentada desde 2006, a refilmagem mantém ao menos a premissa do original, que contava a história de, é claro, dois irmãos. Um é o típico homem de classe média cujo estigma é incapaz de mudar no mundo inteiro. Quando este é convocado para Guerra do Afeganistão, é o irmão trambiqueiro que é deixado com a responsabilidade de cuidar de si mesmo e da família. Dado como morto, o primeiro retorna anos depois, traumatizado com a experiência de cativeiro que passou na guerra, e descobre que nada mais é o mesmo em casa. A direção do remake tem a marca de Jim Sheridan (Em Nome do Pai), que andou tentando se tornar mais popular para os cinéfilos do novo século e escalou Tobey Maguire (Homem-Aranha) e Jake Gyllenhaal (O Dia Depois de Amanhã) para atuar no roteiro de David Benioff (O Caçador de Pipas). Ao lado deles, Natalie Portman retorna aos dramas familiares após a pequena aparição em O Expresso de Darjeeling. O filme deve chagar aos cinemas em 4 de Dezembro.

Num piscar de olhos

Para toda regra há uma exceção. Pode parecer sem propósito essa frase aí atrás no começo de uma nota, assim como pode soar como reflexão inútil as passagens que vem a seguir, mas a verdade é que tudo vai fazer sentido no final. Assim como a escrita, a mente humana funciona bem melhor quando é forçada a tomar decisões repentinas e talvez essas terminem sendo até mais acertadas do que aquelas analisadas e pesada excessivamente. Porque, quando piscamos, não precisamos pensar? Malcolm Gladwell queria a resposta e passou anos pesquisando para publicar o arrasador e instigante Blink: The Power of Thinking Without Thinking, um livro que combina psicologia com auto-ajuda e puro jornalismo instintivo para destilar fatos e casos de pessoas que ganham a vida para pensar... sem pensar. O livro, lançado em 2005, recebeu elogios rasgados da crítica especializada, que trataram Gladwell como o escritor mais esperto, ligeiro e talentoso da nova geração. Houve quem descrevesse Blink como uma experiência frustrante mais recompensadora, mas o inegável é que o livro é capaz de provar até para o ponderador mais experiente o quanto pode ser proveitoso deixar as decisões fluírem do mais puro instinto. Um conteúdo cheio da esperteza que os críticos de cinema aprenderam a tento valorizar nos filmes americanos, e um ponto para provar que Hollywood não poderia deixar para trás. É claro, não se trata de uma adaptação fácil. Desde que o livro se tornou best-seller, em 2005, Stephen Gaghan (Syriana) vem trabalhando no roteiro, tentando extrair o melhor das dezenas de pequenos casos que Gladwell conta em sua obra, deixando a briga financeira para ser resolvida entre a produtora Appian Way do amigo Leonardo DiCaprio (O Aviador), a Warner Bros e Universal. Na época protagonista do filme, o astro tentava vender os direitos do livro para um dos estúdios, mas pedia uma quantia absurda de 5 milhões. As negociações se estenderam por meses até a Universal aceitar a proposta e revelar mais detalhes do roteiro escrito por Gaghan. O que se sabe é que o filme será baseado em um capítulo do livro, onde Gladwell narra a história de um sujeito que tem o dom de ler a expressão facial das pessoas e é instigado pelo pai a usar a habilidade na loucura de Wall Street. O que não se sabe até agora é se DiCaprio continua envolvido no projeto, mas Blink ganhou força com o nome de Al Pacino (As Duas Faces da Lei) jogado ao vento para uma participação.

Estreante de sorte

Talvez o nome Madeleine Stowe não seja familiar aos cinéfilos da nova geração, mas sem dúvida desperta algumas boas lembranças naqueles que acompanhavam a produção cinematográfica mais de perto nos anos 1990. Nova-iorquina, a atriz foi revelada sob o comando de Michael Mann (Colateral) no épico O Último dos Moicanos, em que atuava no papel da grande paixão platônica do protagonista, vivido por Daniel Day-Lewis (Sangue Negro). Daí em diante, o que se viu na época foi uma ascensão quase tão alucinante quanto a queda. Depois de fazer seu nome e construir uma filmografia sólida e respeitada sob o comando de gente do calibre de Tony Scott (em Vingança), Robert Altman (Short Cuts) e Terry Gilliam (Os Doze Macacos), ela viu-se presa a pequenas produções televisivas e eventuais papéis coadjuvantes em filmes de baixo orçamento que precisavam de algum nome vagamente conhecido para estampar o topo do cartaz. Quase uma década depois de protagonizar sua última grande produção, Stowe pode voltar ao centro dos holofotes, ainda que por outro ângulo. Desde 1993, quando ela ainda era uma atriz recém-revelada, corre por Hollywood o roteiro de Unbound Captive, um drama familiar e aventuresco sobre uma mulher que tem o marido assassinado e os filhos seqüestrados por uma tribo indígena norte-americana durante um ataque no fim do século XIX e é resgatada por um guarda noturno. A história, de autoria da própria Madeleine, seria primeiramente produzida pela Fox, que ofereceu a quantia de 3 milhões pelos direitos sobre o texto, oferta que meses de negociação depois subiu para os 5 milhões. Boa parte dos cinéfilos foram deixados com água na boca quando Stowe recusou a proposta do estúdio, que pretendia entregar o filme para Ridley Scott (Falcão Negro em Perigo) dirigir e seu parceiro Russell Crowe (Gladiador) estrelar. O motivo? Segundo ela, a Fox não garantiu sua participação em nenhuma outra área do projeto a não ser o roteiro, e Stowe planejava participar do elenco da produção. Agora, quinze anos e muita água rolada depois, Stowe ressuscitou o projeto com toda a pompa que merece, seguindo o conselho de seu amigo, o produtor Gil Netter (Marley & Eu), e assumindo a direção pela primeira vez. Segundo ela: “Gil me fez perceber que não existirá ninguém que poderá fazer o longa da forma que eu quero”. Ela está bem acompanhada para uma primeira viagem, aliás. A começar pelo fotógrafo John Troll, marinheiro experiente de outros épicos como O Último Samurai e Coração Valente. Mas o que mais impressiona é o trio de protagonistas. Hugh Jackman (Wolverine) entra para o papel que seria de Russell Crowe quinze anos atrás. Ao lado dele, Rachel Weisz (Fonte da Vida) tem a missão de desempenhar o papel que a própria diretora almejava, enquanto Robert Pattinson (Crepúsculo) dá vida a um dos filhos seqüestrados. Unbound Captive ainda não tem data de estréia.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… publiquei até mais cedo porque preparei rápido para suprir os outros dias sem Boletim… sei que me desculpar não vai ser o bastante, mas não tenho mais nada a fazer senão isso. Obrigado pela paciência e pela compreensão. Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Guerra ao Terror – O vício da guerra no filme mais perturbador dos últimos tempos

Guerra ao Terror (The Hurt Locker, EUA, 2008).

De: Kathryn Bigelow.

Com: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lily.

131 minutos.

Certas coisas são impossíveis de replicar. Assim como no universo criado por Ridley Scott no lendário Blade Runner, a diferença entre o verdadeiro e o artificial é sutil, quase imperceptível a olhos destreinados. Nas mãos da pessoa certa, é até plausível dizer que o sentimento é o mesmo. Mas, como no final tudo é um espetáculo, a cortina fecha e lá estamos nós. Abalados, impressionados, quem sabe até devastados pelo que acabou de passar por nossos olhos. O mesmíssimo desespero transparecendo no olhar. Mas estamos seguros, confortáveis, teremos tempo para pensar, para se recuperar, e simplesmente seguiremos em frente. É cruel, é quase aflitivo em alguns momentos, mas é a verdade e esconder-se dela é inútil. Se há algo que Guerra ao Terror passa com eficiência ímpar é essa sensação desoladora de saber... mas não poder agir. Afinal, se estamos aqui, deste lado da tela, por mais que quisermos salvar vidas do outro lado do oceano e descobrir o que realmente está acontecendo, não está ao nosso alcance. Não podemos estender a mão, suportar o peso de uma arma ou desarmar uma bomba colocando a própria vida em perigo em nome de pessoas que não conhecemos, e pior, nas quais não confiamos. Guerra ao Terror deixa claro desde o início o que quer provar. Em uma citação que surge na tela sem explicações, uma frase permanece por mais tempo: a guerra é uma droga. E nós, seres humanos, somos potenciais viciados. Todos nós. É difícil explicar a sensação, mas assistir a Guerra ao Terror é como ter uma dose baixa, inofensiva quase, dessa droga. Quando você menos esperar, vai estar hipnotizado, querendo mais. Sobem os créditos, e é quase como se uma viagem tivesse acabado antes do momento certo. Não há um final de verdade em Guerra ao Terror, porque a guerra ainda não acabou, e, provavelmente, nunca irá acabar. Ficar ao lado de soldados tão dedicados e tão diferentes por breves duas horas é como ver crescer um sentimento ambíguo que, por breves momentos, é verdadeiro. Poderoso, até, a ponto de fazer subir aquele arrepio pela espinha e a ponto de fazer a câmera se tornar nossos próprios olhos, observando algo que odiamos, que causa repulsão. Mas, ainda assim, algo que parece natural. Horrivelmente prazeroso. A pergunta que fica: por quê? Não importa. Não para as vidas que se perdem na batalha, pelo menos.

William James (Jeremy Renner) é um sobrevivente e ao mesmo tempo alguém que receberia a morte com um sorriso. Um soldado que viveu mais na guerra do que fora dela e alguém que não esconde o quanto sua vida faz mais sentido com a adrenalina correndo por suas veias. Um homem que não teme a morte porque sabe que a vida depois de sobreviver a ela pode não valer a pena. Um personagem complexo que aos poucos desenvolve uma identificação imprevisível, explosiva e intrincada com o espectador conforme os dias em campo vão passando e a ligação entre ele e seus comandados vai se estreitando. Ele se torna o novo sargento de uma divisão responsável por desarmar bombas no calor da batalha quando Matt Thompson (Guy Pearce) sucumbe a uma das armadilhas terroristas espalhadas pela cidade. É claro, a guerra não pode parar e James assume a liderança do time formado pelo cauteloso JT Sanborn (Anthony Mackie) e pelo jovem Owen Eldridge (Brian Geraghty). O primeiro, uma pilha de nervos a flor da pele e um soldado que não gosta de sair dos planos porque preza demais por sua vida. De certa forma, o antagonista perfeito para o jogo de gato e rato que James impõe no combate urbano tenso em pleno Iraque. O segundo, um jovem perturbado pelo horror da guerra que vê na serenidade nervosa de James um exemplo para se mirar e tenta ser como ele porque quer esquecer quantas vidas pesam no julgamento de sua arma. A balança imprevisível de emoções e temperamentos é gerenciada com precisão cirúrgica e magistral habilidade pelo roteiro de Mark Boal (No Vale das Sombras), uma revelação de puro realismo e um deleite de envolvimento para os apreciadores do bom cinema. De forma mais objetiva, porém, a verdadeira força do roteiro vem do assustador clima de pressão emocional e psicológica ao qual o espectador é submetido a cada nova missão e, no clímax, mesmo nos diálogos mais banais. As situações extremas criadas pelo roteirista conduzem com habilidade ímpar os personagens por um labirinto de maus julgamentos e ventos amargos que levam a um destino ruim. Ou pelo menos assim parece durante todos os 131 minutos de Guerra ao Terror, um filme que destrói de uma vez por todas qualquer esperança de que um dia a paz possa reinar. Porque a guerra é milhares de vezes mais poderosa do que qualquer outra droga.

Apesar do trabalho primordial fantástico de Boal no roteiro, Guerra ao Terror jamais causaria o impacto que pretende se não fosse o trio de protagonistas. Jeremy Renner, mais conhecido por papéis coadjuvantes em filmes como Extermínio 2 e Terra Fria, encara seu primeiro protagonista e faz um trabalho não menos que perfeito ao dar vida ao furacão de violência e contradição que é William James. Na pele do sargento, Renner entrega a interpretação intensa que o personagem exige e ainda vai além, compondo um cru, cruel e desoladoramente realista mensageiro da morte, que chega como uma força sobrenatural e humana a um tempo para balançar o mundo já abalado de soldados que não sabem até que ponto vale a pena lutar pela sobrevivência. Detalhista, visceral ou simplesmente eficiente para o que se propõe, Renner passeia pelo roteiro com a desenvoltura de um gigante em cena. Ao lado dele, Anthony Mackie (Menina de Ouro) é o soldado honrado e a ligação emocional mais forte do espectador com a platéia, compondo uma atuação menos intensa que a de Renner, e ainda assim tão eficiente quanto. É a prova definitiva de que interpretar é mais instinto e menos fórmula, uma explosão de criatividade em tela e uma incorporação perfeita de um personagem que parece mais simples do que verdadeiramente é. Complexidade essa que é entrelaçada de forma quase instintiva com a atuação de Brian Geraghty (Soldado Anônimo), um furacão de incerteza que passa pela tela arrasando tudo a seu caminho e termina a projeção como o elo fraco de uma corrente que se partiu. O resultado: seu Owen Eldridge é o mais real, impressionante e inesquecível elemento de Guerra ao Terror. Se o elenco faz o trabalho pesado ao trazer intensidade e técnica a uma história de puro instinto, Kathryn Bigelow (Caçadores de Emoção) cuida de nos mostrar, com sua câmera trêmula e invasiva, o quanto o cotidiano de uma guerra pode ser perturbador. Intrusiva, carregada de instinto e talento incontestável, a direção da cineasta se adéqua tão puramente com a trama que fica difícil imaginar outras imagens traduzindo os mesmos sentimentos. Ela não foge do impacto visual e, jogando nesse campo, constrói algumas das cenas mais impressionantes dos últimos tempos, mostra-se eficiente em provocar tensão e não escorrega nos momentos de adrenalina, chegando ilesa ao final dos 131 minutos de projeção de Guerra ao Terror e criando uma identidade visual única para um filme em que tudo parece convergir para um resultado de brilhantismo e perturbação irrevogáveis. O mais impressionante? Pode estar acontecendo, de verdade, a um oceano de distância.

Nota: 8,5

hurt

terça-feira, 12 de maio de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (12/05/2009)

Dupla personalidade

  

Da última vez que Dr. Jekyll deu as caras em uma grande produção de Hollywood, foi sob a forma de um amontoado grotesco de efeitos especiais abatido pelo personagem-título do famigerado Van Helsing na cena inicial do filme de Stephen Sommers (A Múmia) estrelado por Hugh Jackman (Wolverine). Desde então, o personagem de personalidade dividida foi tema de uma série de filmes independentes que tentavam atualizar a trama publicada originalmente em 1886 pelo célebre escritor escocês Robert Louis Stevenson, mais conhecido como o autor de A Ilha do Tesouro. Batizado em terras brasileiras como O Médico e O Monstro, a obra tinha como protagonista o Dr. Henry Jekyll, um frágil e inofensivo médico inglês que passou a vida acobertando toda uma sorte de feitos malignos motivados por um estranho e violento lado de sua personalidade. O conceito de dualidade é radicalizado quando Jekyll inventa uma poção capaz de liberar seu alter-ego maligno, um psicopata selvagem e sem remorso chamado Edward Hyde, e vê o monstro ganhar força dentro de si a ponto de não depender mais da poção para se libertar. The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde deve ganhar agora, mais de seis décadas depois de sua encarnação mais famosa na pele de Spencer Tracy (Julgamento em Nuremberg), uma nova versão que, a primeira vista, não pretende atualizar, modernizar, “reimaginar” ou fazer qualquer coisa do tipo com a trama. A bem da verdade, são dois projetos correndo paralelos dentro de um mesmo estúdio, mas o intervalo entre a chegada dos dois aos cinemas deve ser de pelo menos dois anos. Algo fácil de entender sabendo que Guillermo Del Toro (Hellboy), nome implicado em um deles, anda bastante ocupado dirigindo O Hobbit e já anunciou pelo menos meia dúzia de projetos antes de assumir as câmeras de sua versão para a história. Enquanto isso, o dinamarquês Nicolas Winding Refn, conhecido por trabalhos de intensa pressão psicológica como a trilogia Pusher e o terror Medo X, é o nome mais cotado para assumir a direção de Dr. Jekyll and Mr. Hyde, roteiro de Justin Hayde (Foi Apenas um Sonho). O filme já atraiu a atenção de Keanu Reeves (Matrix), que deve encarar seu maior desafio desempenhando papel duplo.

Segredos do universo

Ao contrário do que muita gente pensa, Hollywood não é apenas terra de filmes sem graça de cheios de clichês, daqueles que o espectador mais esperto pode adivinhar o final depois de assistir só os primeiros quinze minutos. Não raro, a capital do cinema da a luz a filmes que, de tão estranhos, chegam a ser originais dentro de suas limitações. Quer exemplo melhor que a bizarra trama de Benjamin Button, a promessa que não deu certo no Oscar 2009? Ou quem sabe você precise urgentemente dar uma olhada em Os Doze Macacos, de Terry Gilliam (Os Irmãos Grimm), para atestar o quanto criativa a terra do cinema pode ser quando deixa seus gênios a solta. Se The Big Bang vai ser um desses filmes que acontecem de quando em quando em Hollywood, só mesmo esperando para ver, mas a trama promete um pouco mais do que o previsível, seja para thrillers de suspense ou filmes apocalípticos. Para começar, o filme tem gente com atestado de qualidade no mercado de vídeo envolvida. A dupla Tony Krantz e Erik Jendresen (aí em cima) é responsável, entre outras pequenas pérolas escondidas, pelo terror Sublime, lançado direto em DVD, que ganhou elogios dos críticos e espectadores que se arriscaram a conferir o trabalho. Mais uma vez com Tony na direção e Erik no roteiro, The Big Bang promete tons de fantástico e uma trama bem engendrada. Afinal, não é fácil desenrolar a colcha de retalhos intrigante que vem a partir daqui. Detetive de Los Angeles é contratado para encontrar uma stripper desaparecida e, em meio a busca, vai parar em um deserto do Novo México, onde se encontra uma trilha de cadáveres, um agressivo boxeador russo, três policias de LA e um bilionário que reuniu aquele conjunto singular de pessoas para tentar descobrir os segredos do Big Bang. O desenvolvimento da trama promete ser tão interessante quanto o resumo da premissa, uma vez que o roteiro foi aprovado por Antonio Banderas (A Lenda do Zorro), que deve sair direto das gravações da biografia Dali para estrelar o thriller. Nos últimos meses Banderas esteve ocupado, gravando sua participação em Shrek 4, já a ponto de bala para ser lançado em Maio de 2010, e supervisionando o desenvolvimento do roteiro de Gato de Botas, filme-solo de seu personagem na série animada que chega aos cinemas ainda no próximo ano.

Bárbaro ao vento

 

Tudo começou oito anos atrás, em 2001, quando surgiram na Internet os primeiro rumores dando conta de um novo filme para o guerreiro bárbaro Conan, dono de duas investidas cinematográficas oitentistas estreladas pelo digníssimo governador Arnold Schwarzenegger. Na época, uma boataria intensa evoluiu desde o envolvimento do diretor do filme original, John Millius (Amanhecer Violento) até a produção executiva dos Irmãos Wachowski, na época revelações graças ao sucesso inesperado de Matrix. Enquanto isso, ainda na ativa diante das telas, Schwarzenegger ora dava declarações descartando o projeto, ora se mostrava animado com a possibilidade de retomar a parceria com o diretor e roteirista. Os astros The Rock (O Escorpião Rei) e Vin Diesel (Velozes e Furiosos) chegaram a figurar no elenco ao lado do astro como candidatos ao papel de filho do protagonista, personagem novo do roteiro então intitulado King Conan: Crown of Iron. Até mesmo a empresa de efeitos especiais Industrial Light & Magic envolveu-se em polêmica graças a um rumor de que os técnicos teriam sido contratados para “aumentar” os músculos de Schwarzenegger no novo filme. Os fãs chegaram a ficar enfurecidos quando a Warner anunciou que engavetaria King Conan em favor de uma “produção mais barata” nos moldes de Escorpião Rei, mas o projeto voltou a sua glória inicial com os mesmos nomes envolvidos... até uma fatídica eleição. Com seu astro bem confortável no cargo máximo da Califórnia, Millius seguiu com o projeto e chegou a escalar o astro de luta livre Triple H como o protagonista e partir para a Turquia em busca das locações ideais. Foi só em meados de 2005 que a Warner desistiu de vez do projeto do diretor e seguiu em outra direção, escalando Robert Rodriguez (Sin City) para desenvolver uma continuação nova para a saga. O texano ficou no cargo por pouco tempo, sendo substituído por Boaz Yakin (Duelo de Titãs) e, em seguida, por John McTiernan (Duro de Matar). Este chegou a indicar Gerard Butler (300) como seu favorito para assumir o papel, mas foi Brett Ratner (A Hora do Rush) quem deu o rumo em que o filme está hoje, com o roteiro de Dirk Blackman e Howard McCain, dupla responsável por Outlander. Atolado de projetos, o diretor deixou Conan, agora um novo começo para a série, nas mãos de James McTiegue (V de Vingança), homem de confiança de ninguém menos que... os Irmãos Wachowski. Até em Hollywood o mundo é pequeno.

Pavilhão de estrelas

 marshall

Em tempos em que o público feminino vem se mostrando cada vez mais lucrativo para a indústria de Hollywood, não pode ser coincidência que de uma hora para a outra as comédias românticas tenham se tornado o gênero mais em voga na terra do cinema. Nada contra, é claro, uma boa sessão adocicada. Especialmente quando um grande elenco está envolvido na brincadeira. Agora, imagine a convergência de estrelas do cinema que Ele Não Está Tão a Fim de Você multiplicado ao quadrado. O resultado, com nomes, rostos e foco diferentes, será Valentine’s Day, próxima comédia romântica a ser dirigida pelo especialista Garry Marshall (aí em cima). O nova-iorquino, na ativa desde a década de 1970, ganhou fama ao comandar a ascensão de Julia Roberts (Sorriso de Monalisa) no neoclássico romântico Uma Linda Mulher e seguiu carreira com outras obras cada vez menos notáveis até encontrar seu limite com Ela é a Poderosa, comédia decadente estrelada por Jane Fonda (A Sogra) no ano retrasado. Ele planeja se recuperar com toda a pompa e circunstância que seu nome merece com a história de dez pessoas que se cruzam pelas ruas movimentadas de Los Angeles em pleno dia dos namorados e, sem perceber, acabam revelando muito mais de si mesmas a outra e ao espectador do que pretendiam. Por enquanto, como o próprio Marshall ressaltou, o filme é mais uma negociação do que um projeto, mas é fato que o roteiro da dupla Marc Silverstein e Abby Kohn, não por acaso os mesmos responsáveis por Ele Não Está Tão a Fim de Você, agradou a New Line, que pretende lançar Valentine’s Day justamente na data que nomeia o roteiro, o dia dos namorados. Se assim acontecer, o filme deve enfrentar a forte concorrência de The Lightning Thief, fantasia da Fox que deve estrear na mesma data, 14 de Fevereiro de 2010. Mas afinal, vamos ao que importa. Por enquanto, das dez personagens citadas na sinopse, seis tem donas garantidas. A lista é chefiada pela própria Julia Roberts, mas ainda tem Anne Hathaway (Noivas em Guerra), Jennifer Garner (Elektra), Jessica Alba (Quarteto Fantástico), Jessica Biel (O Vidente) e Shirley MacLaine (Em Seu Lugar). Na ala masculina do filme, os únicos nomes cogitados são os de Bradley Cooper (Sim Senhor) e Ashton Kutcher (Jogo de Amor em Las Vegas).

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… reuni as notícias ontem mas não tive tempo de aprontar tudo para a publicação. Enfim, o importante é a informação e não o momento em que ela vem, mas prometo tentar seguir o prometido daqui para frente. E, também atrasado, nos próximos dias deve vir o novo posters na parede, cheio de surpresas, e já tenho uma crítica para publicar, que deve ser postada amanhã a tarde. Enfim, por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais! Ah, e não se esqueçam de entrar na comunidade do Filme-Pipoca no Orkut! O link é esse aqui: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=87626813. Quero ver todos por lá!

domingo, 10 de maio de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (10/05/2009)

Pancadaria repetida

O saudoso ator californiano Pat Morita foi um daqueles casos excepcionais de atores que passaram anos de trabalho infrutífero comercialmente para conhecer o gosto de uma fama efêmera e baseada no estigma de um único personagem. O filme em questão, o clássico oitentista da Sessão da Tarde “Karate Kid”, o filme que trouxe as artes marciais de volta para o cinema em 1984 e eternizou o mentor mais conhecido e amado do cinema, o Mestre Kesuke Miyagi. Morita nunca deixou seu personagem mais famoso para trás e talvez isso tenha influído na forma como o restante de sua carreira evoluiu, encontrando pouco sucesso fora da série, que teve três continuações e parecia estar morta e enterrada após “Karate Kid IV” decepcionar nas bilheterias. Como estamos falando de Hollywood, é claro que nem tudo é o que parece, especialmente nesses tempos em que “Kung Fu Panda” explode nas bilheterias e a capital do cinema não deixa escapar uma oportunidade de lucrar em cima do modismo mais recente. Os fãs do filme original podem chiar um pouco, mas é fato que a refilmagem anda em boas mãos. Os primeiros rumores até assustavam, dando conta de Will Smith (“Eu Sou a Lenda”) e seu rebento Jaden Smith (“O Dia em Que a Terra Parou”) envolvidos na nova produção, mas logo o furor dos fãs mais radicais foi aplacado pela notícia de que o pai apenas seria o produtor do filme, estrelado pelo filho. Menos mal, apesar de Jaden ainda ser mais novo que Ralph Macchio (“Meu Primo Vinny”) na época do lançamento do original. As mudanças, porém, não pararam por aí. O ilustre produtor da refilmagem revelou que a trama se passará na China, enquanto o original se localizava em solo americano, e que Mestre Miyagi seria chinês, e não japonês. A justificativa dele: “apesar de ter se desenvolvido no Japão, o caratê é baseado em um estilo de luta chinês”. Meses depois, o astro oriental Jackie Chan (“A Hora do Rush”) embarcou na produção e a polêmica com os fãs estava ficando grande demais para a Columbia, que decidiu entregar a direção para Harald Zwart (“O Agente Teen”) e mudar o encaminhamento do projeto para uma história original com elementos “emprestados” do longa de 1984. O título foi mudado para “The Kung Fu Kid”, o mestre de Chan passou a se chamar Mr. Han e Jaden interpretará Dre, um garoto americano viciado em games de skateboard que se muda com a mãe solteira para a China. O novo roteiro do estreante Chris Murphy deve chegar aos cinemas em Junho de 2010.

Mitologia juvenil

Com a refilmagem do mitológico e potencialmente apoteótico “Fúria de Titãs” ganhando estrelas no elenco e credibilidade nos círculos de cinéfilos, a capital do cinema deve ter aberto os olhos para as possibilidades pirotécnicas de uma boa briga entre deuses. A mais nova vítima dessa onda que nem mesmo atingiu as pedras da praia vem direto da literatura infanto-juvenil. “The Lightning Thief”, primeiro tomo de uma série de cinco livros publicados entre 2005 e 2009 pelo autor texano Rick Riordan, tem aquele tipo de trama difícil de colocar em palavras. Percy Jackson, o protagonista, é um garoto de doze anos que se vê jogado em meio a uma confusão de proporções apocalípticas quando é acusado por Zeus, o deus mais poderoso da mitologia grega, de ter surrupiado um de seus trovões. Um pouco abstrato demais para você? Pois imagine no meio de tudo isso uma caneta que se transforma sem nenhuma explicação em uma espada poderosa e uma força sobrenatural responsável pela morte da mãe do menino, que acabou salvo por um ser que só pode ser descrito como uma força da natureza e se alia a filha da própria Atena, deusa da sabedoria, para impedir uma guerra entre deuses que pode terminar com a vida no planeta. E isso é só um esboço da trama que dá início a uma batalha muito maior nas continuações. Comentada desde 2007, a adaptação cinematográfica dessa confusão deliciosa está nas mãos sempre pacientes e moderadas de Chris Columbus, responsável por um começo perfeito para “Harry Potter” no cinema. Ele, ao lado de Craig Titley (“Doze é Demais 2”), é também responsável pelo roteiro e anda montando um elenco estrelado para dar vida aos personagens. Nada comparado ao time que está sendo montado por Louis Letterier (“O Incrível Hulk”) para “Fúria de Titãs”, mas ainda assim uma lista para se respeitar. Para o papel do protagonista, o escalado é Logan Lerman (“Número 23”), mas o filme ainda contará com Pierce Brosnan (“Mamma Mia!”) como o lendário centauro Chiron, Uma Thurman (“Kill Bill”) na pele da aterrorizante Medusa, Sean Bean (“A Ilha”) encarnando Zeus e Steve Coogan (“Trovão Tropical”) exercitando a maldade como o senhor do inferno grego, Hades. No campo humano da trama, Catherine Keener (“Um Crime Americano”) será a mãe do protagonista e Rosario Dawson (“Sete Vidas”), a esposa humana aprisionada do vilão. A constelação aí em cima deve subir ao Olimpo cinematográfico em 12 de Fevereiro de 2010.

Novos mares

O americano Wes Anderson (“Os Excêntricos Tenenbaums”) faz parte daquele grupo seleto de cineastas que não tem medo de inovar e, talvez por isso, normalmente fique a beira da máquina hollywoodiana. Ainda assim, é admirável a habilidade do diretor de atrair astros para seus projetos, por mais experimentais e arriscados que sejam. Depois de culminar em seu estudo do comportamento humano com “Viagem a Darjeeling” e ganhar aplausos da crítica, ele prepara seu novo projeto e pela primeira vez trabalha em cima de um roteiro adaptado de uma obra já publicada. O livro em questão, “The Fantastic Mr. Fox”, conhecido no Brasil como “Raposas & Fazendeiros”, é uma obra menor do escritor infanto-juvenil Road Dahl (“A Fantástica Fábrica de Chocolates”), que acompanha a história de uma família de raposas ameaçadas por três fazendeiros que querem exterminar os animais, julgando-os responsáveis pelo sumiço de galinhas, patos e perus na fazenda. A primeira notícia sobre a adaptação data de 2004, quando Anderson começou a escrever o roteiro e anunciou que o filme seria todo feito na técnica de animação conhecida como stop-motion, em que bonecos são fotografados em várias posições para dar a ilusão de movimento. O diretor já havia trabalhado com a técnica nas seqüências submarinas de “A Vida Marinha com Steve Zissou”, mas hesitou em assumir as câmeras de um longa-metragem no estilo, conhecido por ser muito trabalhoso. A direção chegou a estar atrelada ao especialista Henry Selick (“James e o Pêssego Gigante”), mas uma pausa de mais de um ano na produção tirou-o do projeto para dirigir “Coraline”. Só nos últimos meses de 2007 é que o projeto deu sinal de vida, com Anderson assumindo as câmeras e Scott Rudin (“Desventuras em Série”) tocando a escalação de um elenco estelar para a animação. Primeiro, George Clooney (“Boa Noite e Boa Sorte”) topou fazer seu primeiro trabalho de dublagem ao encarnar o personagem título, e ainda ganhou a companhia ilustre de Meryl Streep (“O Diabo Veste Prada”) dando voz a sua esposa, Mrs. Fox, papel que passou perto de Cate Blanchett (“Babel”). Além deles, o filme conta com habituais colaboradores do diretor como Bill Murray (“Encontros e Desencontros”), Owen Wilson (“Marley & Eu”), Willem Dafoe (“Homem-Aranha”) e Anjelica Huston (“A Creche do Papai”). O filme acabou de entrar em pós-produção e deve chegar em terras brasileiras em 04 de Dezembro.

Astros na Amazônia

A obsessão pode ser uma força tão grande sobre meras mentes humanas que fica difícil distinguir o que é real do que é fantasia. Quando procuramos muito ferozmente por algo ou simplesmente nos deixamos levar por uma imagem que encanta e intriga, nossa frágil resistência psicológica freqüentemente permanece enterrada palmos e palmos abaixo da terra pela qual procuramos. O coronel britânico Percy Fawcett provou o amargo gosto da falta de controle ao se embrenhar em meio a Amazônia para buscar o que ele chamava de Lost City of Z e desaparecer sem deixar rastros por volta de 1925. Ele teria partido em sua busca mais cedo se não fosse a Primeira Guerra Mundial em seu caminho, mas o fato é que o explorador cruzou com a lenda da cidade perdida em meio a selva do Mato Grosso por volta do começo do século passado, e partiu para Lisboa a fim de descobrir os encantos da localidade misteriosa, documentada nos Arquivos Reais lusitanos. Os detalhes da descrição e a falta de uma localização precisa foram o bastante para seduzi-lo e fazê-lo partir com o filho para o Mato Grosso. A partir daí, a jornada se torna enevoada até seu desaparecimentos em 1925. Tudo documentado no livro “Lost City of Z: A Tale of Deadly Obsession in the Amazon”, livro lançado em 2009 pelo jornalista americano David Grann que despertou o interesse de gente com dinheiro e poder dentro do Hollywood. Para dar nome aos bois, o envolvido no projeto de adaptar o livro e levar a história às telas é Brad Pitt (“Benjamin Button”) e sua produtora, a Plan B. Em desenvolvimento desde o começo do ano passado, o filme caiu nas mãos talentosas do roteirista e diretor James Gray (“Os Donos da Noite”), que pretende assumir os dois cargos da produção, batizada com o simplificado “Lost City of Z”. Com tudo pronto na pré-produção e a filmagem prestes a começar, Pitt veio para o Brasil procurar locações e se adaptar ao clima diferente do que anda enfrentando nessa época em Los Angeles. Ele está em Bonito, no Mato Grosso do Sul, e ao que parece as filmagens devem começar na cidade em no máximo três meses. Uma das locações já confirmadas é a linha ferroviária Trem do Pantanal, que deve ser inaugurada nesta semana ainda.

Bom, pessoal, primeiro eu sei que tinha prometido isso para ontem, mas simplesmente não tive o tempo que achei que teria… mas aí está, espero que vocês me perdoem pelo atraso.  Enfim, gente, assisti alguns filmes esse fim-de-semana, portanto, em breve teremos algumas críticas por aqui, inclusive um filme indicado para alguns Oscar esse ano, hein? Por enquanto, quero saber o que acharam do novo visual! Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

sábado, 9 de maio de 2009

Mais dois selos para o Filme-Pipoca!

Bom, pessoal, primeiramente vocês devem ter notado que ontem eu não pude publicar o Boletim Cinéfilo, falha que eu pretendo remediar hoje. Acontece que ontem foi um dia muito cansativo para mim, mas fiquem tranqüilos que mais tarde as notícias do dia devem aparecer por aqui. Por enquanto, vou repassar dois selos que ganhei nesses últimos dias. Vamos lá:

olha q blog 

 

 

 

 

 

É sempre bom receber esse tipo de corrente que passa pelos blogs Brasil (e mundo) afora, porque mostra o quanto meu trabalho aqui está sendo lido e notado. Afinal, blog nenhum existe de verdade sem quem lê, comenta e participa. Por isso, quero agradecer meu amigo blogueiro Renan Barreto, dono do blog de humor mais inteligente por aí, o Melhor Opinião (http://melhoropiniao.blogspot.com/), por esse primeiro selo. Sem regras nesse aqui, só repassar para quantos blogs você quiser.

lista

Esse aqui me foi repassado pela Gabi, do blog Mochila Cheia (http://bloggerdagabi-gabi.blogspot.com/), outro que vale a pena conferir se você curte crônicas da vida comum pelas ruas e opinião sem concessões. Tudo isso escrito da melhor forma possível, nunca forçado com assuntos em voga na mídia, sempre um respiro de originalidade dentro do deserto previsível que é a blogosfera, especialmente nessa área.

Aqui temos uma regra, a de listar oito desejos. Os meus são esses aí:

- Assistir a um show do U2

- Conhecer a Europa (especialmente Paris)

- Ir a algum festival de cinema internacional

- Conhecer meus ídolos (musicais e cinemtográficos)

- Ser feliz apesar de tudo o que a vida nos impõe

- Ter sempre a liberdade de expressão da minha opinião

- Conseguir algum emprego relacionado ao que gosto de fazer

- Ler todos os livros que eu for capaz

Meus escolhidos (para os dois selos):

- Bones-cinema-tv (http://bones-cinema-tv.blogspot.com/)

- Clube do Camaleão (http://clubedocamaleao.blogspot.com/)

- Poesia Inconstante (http://poesiainconstante.blogspot.com/)

- Brasilstation (http://brasilstation.blogspot.com/)

Certo, pessoal? Então por enquanto é só isso mesmo… mais tarde eu prometo as notícias do dia fresquinhas por aqui, certo? Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês sempre e até mais!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Boletim Cinéfilos – As Notícias do Dia (06/05/2009)

O retorno do chefão

Ao contrário da maioria dos cineastas rotulados como grandes mestres a partir da década de 1970, Francis Ford Coppola não está preocupado em se adaptar ao século XXI. Pelo contrário, aliás. Quando seus filmes se tornaram “analógicos” demais para a Hollywood em constante movimento e crescente cinismo a que estamos assistindo, o ítalo-americano juntou suas malas e buscou refúgio em uma produtora própria, bancando seus dois últimos filmes com dinheiro do próprio bolso e fazendo o que bem entender sem a interferência dos estúdios. “Youth Without Youth”, romance experimental e pesado, foi lançado em cinemas seletos em 2007 e ainda nem chegou no Brasil, mesmo com o astro Tim Roth em evidência graças ao vilão Abominável de “O Incrível Hulk”. O novo produto dessa safra “só quero fazer meu trabalho em paz” de Coppola pode ter um destino um pouco melhor, uma vez que um imprevisto aumento de orçamento pode fazer os distribuidores se avolumarem sobre a obra e tentarem a todo o custo lucrar algo com ela. Outro fator que pode tornar “Tetro” mais atraente para os espectadores é o retorno do cineasta ao tema familiar, abandonado por ele desde que a terceira parte de “O Poderoso Chefão” recebeu críticas sérias. A coisa agora, porém, é bem mais pessoal. Com uma pequena mudança de cenário (de Nova York para a Argentina), o filme conta em detalhes a história de sofrimento e obstáculos dos primeiros integrantes da família do diretor a deixar a Itália em busca de liberdade artística. O elenco é cheio de nomes pouco conhecidos do grande público como Vincent Gallo (“Arizona Dream”) e Maribel Verdú (“O Labirinto do Fauno”), que brilham na cena independente tanto americana quanto européia e latina. A produção do filme, bancada mais uma vez pela produtora do cineasta, a American Zoetrope, responsável também pela série de TV “The 4400”. Dois trailers de “Tetro”, que empresta o título do nome do protagonista interpretado por Gallo, já foram liberados na Internet, e por enquanto a estréia americana e européia está marcada para 11 de Junho. É esperar para saber se a nova obra fraternal de Coppola vai aportar nos cinemas (ou nas prateleiras das locadoras, ao menos) no Brasil.

Monstros repaginados

Eles já se enfrentaram em dois horrorosos filmes que deixaram os fãs de ambas as séries com os dentes trincando de raiva. Não deve ter sido muito difícil adivinhar que estamos falando sobre “Alien Vs. Predador” e sua famigerada continuação, lançada em forma de caça-níqueis barato disfarçado de superprodução três anos depois do desastre total que foi a primeira investida da dupla de monstros espaciais. Parecia que a esperança de um novo fôlego para os personagens no século XXI estava destroçada de uma vez por todas. Mas como para Hollywood nada tem prazo de validade, Alien e Predador podem chegar aos cinemas repaginados para a nova geração e o feito não parece que vai demorar muito tempo. Sem nenhum rumor desde 2004, quando o diretor Paul W.S. Anderson (“Mortal Kombat”) deixou os fãs respirarem aliviados ao se declarar desligado do projeto, “Alien 5” ganhou novo fôlego com a demonstração de interesse de Sigourney Weaver (“Ponto de Vista”), estrela da quadrilogia original, em reprisar o papel da Tenente Ripley. Toda a boataria começou no final do ano passado, quando a atriz disse que “realmente faria outro filme se tivesse um diretor como Ridley Scott e uma boa idéia para o roteiro”. Poucos meses depois, ela voltou a tocar no assunto em entrevista na MTV e foi ainda mais longe: “Mesmo daqui a vinte anos, se alguém chegar para mim e disser que tem uma história interessante para contar, faria o filme. Não fico pensando toda hora em fazer um novo Alien, mas eu sinto que a história está um pouco inacabada”. Depois de tais declarações de uma atriz que se tornou tão icônica em seu papel e ainda tem cacife o bastante dentro da série para aprovar ou vetar novos roteiros, a Fox resolveu se mexer e o presidente Tom Rothman disse que “Alien 5” pode ser uma pré-continuação do primeiro da série. Ainda segundo ele, Ridley Scott, que anda com problemas em “Robin Hood”, pode voltar para dirigir o quinto filme. A coisa com “Predators”, que pode trazer o caçador espacial de volta as telas, é um pouco mais simples. Em desenvolvimento desde o começo do ano, o filme seria uma refilmagem, ou “reimaginação” (o termo da moda) do primeiro filme, que acabou de contratar o roteirista Alex Litvak (do vindouro “Medieval”). A incógnita ainda é se Robert Rodriguez (“Sin City”) parte para o comando das câmeras ou se contenta com a cadeira da produtor do reboot. De qualquer forma, ambos os filmes podem chegar aos cinemas antes de 2012.

Notícias do front

É interessante a estratégia que Marvel Studios adotou para deixar todo um mundo de fãs e blogueiros a par do que anda acontecendo com suas produções mais esperadas dos próximos anos. Ao invés de deixar rumores vazarem a cada dia e só deixar tudo esclarecido meses depois, quando as filmagens já começaram e as notícias não são mais tão empolgantes, a editora/estúdio libera todas as novidades de uma vez, em um intervalo regular de em torno de um mês. Claro que isso não impede que surjam boatos, mas sem dúvida aumenta a credibilidade da produtora com o público e ainda deixa os filmes mais bem cotados entre os futuros espectadores. Nessa terça-feira, por exemplo, o estúdio liberou novas datas e informações para três produções diferentes que devem invadir os cinemas entre meados de 2011 e o fim de 2012. Tudo isso enquanto as fotos e notícias direto do set de “Homem de Ferro 2” continuam o assunto cinematográfico mais quente da internet. A começar, portanto, por “Thor”. O filme do deus nórdico do trovão ganhou força com o embarque do diretor Kenneth Branagh (“Frankenstein de Mary Shelley”) sob elogios dos produtores do estúdio, e ainda tem Mark Protosevich (“Eu Sou a Lenda”) terminando de redigir a trama, que deve ser focada tanto na vida “divina” do herói quanto em suas fraquezas humanas na pele do Dr. Donald Blake, sua identidade terrena. Enquanto o papel principal é disputado por uma legião de desconhecidos e coadjuvantes de TV, o papel do vilão Loki tem como nome mais cotado o astro Josh Hartnett (“30 Dias de Noite”), enquanto Natalie Portman (“Closer”) deve ser escalada como a protagonista feminina do filme. De novo mesmo, o filme anunciou um adiantamento de dois meses na data de estréia, que agora está marcada para 20 de Maio de 2011. Enquanto isso, “The First Avenger: Captain America”, que deve chegar aos cinemas um mês depois, em 22 de Julho de 2011, ganhou oficializações no cargo de diretor e filmagens prestes a começar. Para a cadeira principal da produção o nome é de Joe Johnston (“Jurassic Park III”) comandando a história do garoto pobre que nasceu na época da Segunda Guerra e foi transformado em um super-soldado para combater as forças nazistas. Como indica o título, o Capitão é considerado “o primeiro Vingador” e fundador do super-grupo, que será tema de “The Avengers”, marcado para Maio de 2012. Roteirizado por Zak Penn (“O Incrível Hulk”), o filme ganhou nessa semana Don Cheadle (“Hotel Ruanda”) e Robert Downey Jr. (“Trovão Tropical”) confirmados no elenco.

A todo o pano, capitão!

É impressionante observar o quanto um único sucesso é capaz de alavancar a carreira de seu astro na Hollywood imediatista e desesperada que estamos vendo por aí nos últimos anos. A exemplo de muitos outros, o australiano Hugh Jackman teve sua popularidade com o público colocada em cheque depois de duas escolhas comercialmente infelizes. O suspense “A Lista” naufragou na própria pretensão, e “Austrália” namorou com a mesma sem escorregar, mas não agradou o público. Esperto como é, ele tratou de se colocar em evidência como o apresentador mais carismático e memorável que o Oscar teve em anos e na pele de seu personagem mais marcante, o mutante “Wolverine” do filme homônimo lançado há pouco tempo e desde já um sucesso de bilheteria. Bastou o filme-solo do personagem fazer impressionantes 85 milhões no fim-de-semana de estréia e como num passe de mágica parecem estar chovendo projetos para Jackman. A começar, é claro, pela própria continuação das aventuras do mutante, nas quais o ator está cada vez mais envolvido. Assim que o filme chegou aos cinemas, ele comentou que tinha idéias e sonhos em relação as possibilidades de tramas para o personagem. Nas palavras dele: “Não vou negar, andei conversando com os roteiristas. Sou um grande fã da fase que mostra a missão dele no Japão. Mas ainda vamos ver se há público para assistir às aventuras do personagem. Afinal, não faz sentido contar uma história se ninguém quiser ouvir”. A postura cautelosa deve ter agradado o estúdio, que oficializou a produção da continuação e deixou bem evidenciada a possibilidade de levar o personagem para terras orientais. Os fãs de quadrinhos devem estar familiarizados com as aventuras de Wolverine contra o Tentáculo, organização criminosa que domina o submundo japonês, uma das fases mais festejadas do personagem. Enquanto a seqüência não chega as vias de fato, porém, Jackman assinou para voltar ao musical em “Carrossel” (tema da segunda nota do Boletim de segunda-feira) e já disse que quer Anne Hathaway (“O Casamento de Rachel”) ao seu lado para estrelar a trama refeita de um clássico dos anos 1950. A atriz passa por um momento bem musical depois de soltar a voz no palco do Oscar ao lado de, não por coincidência, Jackman. De idéias originais mesmo só “Personal Security”, filme de ação em que o australiano interpretará um detetive que é obrigado a se passar por guarda-costas de uma herdeira sob o script de Matt Lieberman (“Dr. Dolittle 3”), e também “Drive”, retorno de Neil Marshall (“Abismo do Medo”) ao suspense brutal com a história de um motorista que descobre estar marcado para morrer por uma perigosa gangue de criminosos.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo, certo? Quatro notícias quentinhas e bem interessantes para qualquer fã de cinema que se preze… amanhã de tarde provavelmente (notem bem o provavelmente) teremos mais uma crítica por aqui, e o Boletim retorna na Sexa-Feira para a terceira e última edição da semana. Ah, e estou preparando os posters para serem postados sábados, é um trabalho bem grande que é sempre bom adiantar… Enfim, gente, para quem ainda não sabia, não custa avisar de novo que o Filme-Pipoca agora tem comunidade no Orkut! Algun leitores já entreram, outros não. Quero todos por lá, a gente se vê nesse link aqui: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=87626813. Bom, fora isso, os melhores filmes para todos vocês sempre e até mais!