Tudo Pode Dar Certo (2009)
Que Woody Allen merece um capítulo a parte na história do cinema não deve ser novidade para ninguém, mas é fato que o cineasta e roteirista nova-iorquino gosta de remar contra a maré. Em tempos de importação hollywoodiana de diretores europeus, Allen precisou respirar os ares do Velho Mundo para encontrar renascimento criativo depois de uma série de filmes mal-recebidos pela crítica e pelos fãs. Dessa safra recente do diretor saíram o suspense Match Point, a comédia Scoop, e o excêntrico Vicky Cristina Barcelona. Agora, estabelecido e adorado por lá, Allen nos aparece com uma volta para casa. A amada Manhattan que serviu de cenário para impressionantes três dezenas de filmes do diretor entre 1977 e 2004 voltou com brilho para a câmera sempre observadora de Allen em Tudo Pode Dar Certo, tradução otimista de Whatever Works. A nova obra passou primeiro pela aprovação do exigente público do Festival de Tribeca, que acontece desde 2002 em uma das vizinhanças mais devastadas pelos ataques do 11 de Setembro em Nova York, o que motivou a Sony Classics a adiantar a estréia comercial do filme para Junho. A história soa como uma versão mais otimista e cômica do dramático Vênus estrelado por Peter O’Toole (Lawrence da Arábia) em 2006. No filme de Allen, Larry David (Seinfeld) encarna Boris Yellnikoff, um excêntrico nova-iorquino que decide deixar a vida elitista para experimentar mais da boemia. Na noite da cidade ele conhece uma garota do interior e sua família adorável, um encontro que gera confusões e complicações para ambos os lados. O papel da garota por quem, na verdade, Boris se apaixona, ficou para Evan Rachel Wood (O Rei da Califórnia), uma das jovens atrizes mais alogiadas e talentosas da nova geração, que conquistou até uma indicação ao Globo de Ouro pelo desempenho em Aos Treze, de Catherine Hardwicke (Crepúsculo). O elenco sempre estrelado de Allen aparece mais comportado em Whatever Works, talvez pela vontade de injetar realismo a uma típica história de Manhattan. Além da dupla de protagonistas, o filme conta apenas com o rosto conhecido de Patricia Clarkson, que já havia trabalhado com o diretor em Vicky Cristina Barcelona.
American Teen (2008) e Religulous (2008)
Essa história preconceituosa de “documentário é uma coisa chata” ficou completamente ultrapassada no cinema-verdade do século XXI. Só nos três últimos ganhadores do Oscar da categoria, tivemos um relato poético e emocionante de uma jornada natural (A Marcha dos Pingüins), um registro instigante e importante de uma palestra sobre o maior problema que teremos em nossas mãos nos próximos anos (Uma Verdade Inconveniente) e até uma obra tensa e carregada de perigo palpável (O Equilibrista). Dois dos mais bem cotados para entrarem nessa lista na próxima edição do prêmio da Academia também prometem passar longe do tédio que é comumente ligado ao gênero documental. O primeiro, American Teen, passou arrasando pelos festivais do circuito americano, faturando o prêmio de melhor documentário no prestigiado Sundance. O trabalho da nova-iorquina Nannette Burstein, conhecida pela biografia O Show Não Pode Parar, compilou em sua nova obra a vida de cinco jovens tipicamente americanos, daquele tipo de estereótipo que vive fazendo a graça das comédias ianques. Com uma diferença: eles são de verdade. Hannah Bailey é a rebelde, Colin Clemens é o atleta, Geoff Haase é o nerd, Megan Krizmanich é a rainha do baile e Mitch Rainholt é o garanhão. Todos os cinco na mesma escola, com vidas separadas, dramas diferentes que tomam proporções inimagináveis mesmo partindo de pequenos erros. A figura central é justamente a rebelde que desafia os rótulos e tenta ser ela mesma em meio a pessoas que usam máscaras e disfarces para serem “populares”. No Brasil, o filme deve chegar em salas de cinema seletas por volta de 22 de Maio. Bem mais explosivo e menos pessoal deve ser Religulous, desde já candidato sério ao prêmio de melhor documentário do ano. A começar pelo diretor, Larry Charles, que chocou o mundo com a hipocrisia americana na comédia Borat estrelada por Sasha Baron Cohen (Sweeney Todd). Ele, dessa vez, foi um mero observador para as estripulias de Bill Maher, um apresentador de TV britânico que fala sem papas na língua sobre a função da religião e de Deus na nossa sociedade. Ao discutir o assunto com centenas de pessoas ao redor do mundo, Maher e Charles formaram um explosivo, instigante e irônico retrato da religiosidade no mundo. E não, não deve ser chato.
Pandorum (2009)
Não raro, a ficção científica é um gênero potencialmente perturbador. E talvez não exatamente por seguir uma cartilha clássica do suspense de verdade, mas por freqüentemente explorar o medo mais enraizado de qualquer ser humano. O medo do desconhecido. Porque, tão sem motivo, tememos o que não entendemos completamente? Talvez porque queremos ter controle sobre tudo e ter a certeza de que estamos sozinhos, reinando soberanos ante ao universo, que apenas nos espera para explorá-lo. E se, de repente, acordássemos sem saber onde estamos, sem saber quem somos, sem saber para onde vamos, e descobríssemos que o mundo que conhecíamos como nosso ficou para trás? Assim é a premissa de Pandorum, que se junta a Moon no posto de ficção científica mais promissora dos próximos meses. O slogan estampado nos posters de divulgação da produção e no trailer recém-lançado diz tudo em uma frase: “Não tema o fim do mundo. Tema o que acontece depois”. Dois tripulantes acordam em suas câmaras criogênicas sem saber quem são e o que fazem naquela nave espacial. Seguindo o instinto natural humano, tentam lembrar dos fatos que os levaram até lá e, no caminho, encontram mistérios ligados a sobrevivência da humanidade e descobrem que não estão sozinhos. Os rumores em torno do destino de uma premissa tão instigante e potencialmente apoteótica começaram a esquentar em meados do ano passando, quando a dupla de protagonistas foi escalada pelo produtor Paul W.S. Anderson (Resident Evil). O primeiro a embarcar no projeto foi Dennis Quaid (O Dia Depois de Amanhã), que anda em um momento de reformulação da própria carreira. Ao lado dele, o jovem e talentoso Ben Foster (30 Dias de Noite) completa a dupla de protagonistas que deve monopolizar todo o tempo de tela sob a vigilância da câmera confinada do alemão Christian Alvart (Anticorpos) e seguindo o roteiro de Travil Milloy (O Sorriso de Mona Lisa). O apocalipse deve chegar as telas em 04 de Setembro.
A Era do Gelo 3 (2009)
Há algo de diferente em A Era do Gelo. Em 2001, quando a corrida dos estúdios pelo monopólio da animação digital dava sua emocionante largada, a Blue Sky Studio chegou correndo por fora e trazendo a aventura diferenciada desses animais pré-históricos tentando salvar uma criança humana. Era uma trama divertida, cheia de boas tiradas cômicas, com um visual impressionante e excepcionalmente bem trabalhado, mas acima de tudo era a história do nascimento de uma família. Pode parecer piegas, mas como é possível negar os laços fraternais que unem os protagonistas depois de um deles ganhar uma companheira fiel na bem-sucedida continuação? Tudo bem, ainda estamos falando de um produto de estúdio, de um filme feito para estourar nas bilheterias, mas ao menos de um com alma e emoção. De repente, aqueles não são mais animais, mas estranhos seres humanos metidos em uma jornada de riscos e perigos, em um mundo que está mudando, mas permanecem juntos. Três anos depois de passarem pela provação do início do derretimento das geleiras, eles retornam com A Era do Gelo 3. A opção de manter o mesmo time era quase óbvia, uma vez que o segundo exemplar da franquia beirou os 200 milhões de dólares apenas em solo americano, e por isso aqui estamos com mais uma obra de Carlos Saldanha, o orgulho nacional. Ou ao menos deveria ser. Fazendo o jogo dos estúdios ao mesmo tempo em que constrói uma carreira sólida e talentosa, o brasileiro volta ao comando da saga dos amigos para acrescentar mais alguns elementos “familiares”. Para começar, o casal de mamutes Manny e Ellie se prepara para a chegada de um bebê e passa por todas as neuroses desse período. Enquanto isso, o tigre Diego passa por uma crise de identidade, cansado de ser tratado como um animal de estimação e vendo o caçador dentro de si ressurgir aos poucos. Sid, a prequiça, por sua vez, tenta formar uma família para si mesmo mas mexe no lugar errado ao roubar o ovo de um dinossauro. É partindo dessas premissas que os heróis, mais o hilário Scrat, se vêem enfrentando dinossauros em um bizarro mundo subterrâneo. A novidade do ano? O filme, que deve ser o mais grandioso da série, será exibido em 3D. Boa sorte em 1º de Julho.
A Mulher Invisível (2009)
O que o cinema brasileiro precisa é a ambição de ser menos arte e mais entretenimento. Afinal, a gigantesca indústria americana já bem nos ensinou que são os grandes eventos, os filmes feitos para dar lucro, que sustentam as obras de arte. E além do mais, não há nada de errado com a ambição de divertir. Veja a Conspiração Filmes, por exemplo. Acusada diversas vezes de ser uma produtora de “filhinhos de papai” querendo fazer cinema, a produtora vem crescendo muito no panorama cinematográfico nacional, combinando obras com pretensão mais alternativa ou artística com filmes direcionados a um público mais popular, mais ao acaso. Enfim, ao freqüentador médio de cinema no Brasil. Nessa linha, se destacou em 2004 o inclassificável Redentor, a estréia promissora do cineasta Cláudio Torres em longas-metragens. Elogiado pela crítica, o filme teve um papel importante na história do cinema brasileiro por introduzir efeitos especiais mais ousados no arsenal de armas dos cineastas tupiniquins, e ainda saiu da brincadeira com uma boa bilheteria para os padrões brasileiros. Em A Mulher Invisível, Torres retorna a direção repetindo os elementos de fantasia e abusando da visibilidade de um dos atores cinematográficos com mais credibilidade na atual produção brasileira. O nome, é claro, é Selton Mello, recém-saído das internacionais filmagens de Jean Charles e do posto de herói da crítica pelo independente O Cheiro do Ralo, um cara inteligente e talentoso que retorna ao seu ambiente primário ao estrelar a nova comédia romântica de Torres. Ele é Pedro, um romântico incurável que nunca perde a esperança de encontrar a mulher perfeita, ainda que todas suas prévias tentativas tenham terminado de forma bastante trágica. Apenas quando é mais uma vez desiludido e deixaod sozinho que ele encontra o que procurou a vida toda na pessoa de Amanda, sua vizinha linda, simpática e atenciosa. As coisas ficam um pouco mais complicadas quando ele descobre que ela não pode existir fora de sua imaginação. Uma pena quando estamos falando de Luana Piovani, é claro, mas há quem diga que a atriz nunca esteve tão graciosa e contundente quanto no papel de Amanda. O elenco de apoio é de peso: Fernanda Torres (Os Normais), Maria Luísa Mendonça (Jogo Subterrâneo), Paulo Betti (A Casa da Mãe Joana) e Vladimir Brichta (A Máquina). Todos eles estreiam em 05 de Junho.
Harry Potter e o Enigma do Princípe (2009)
A magia negra tomou conta da Warner Bros em meados de 2008. Ou ao menos foi o que, eu asseguro, todos os fãs do maior fenômeno literário e cinematográfico do século pensaram ao receberem a nóticia de que o novo exemplar de sua série preferida havia sido adiado… em quase um ano. Admito que eu mesmo não me conformei com a notícia por algum tempo, mas hoje até compreendo. Não resta dúvidas de que se tratou de um ato desrespeitoso com os fãs, mas é claro que, em uma análise mais puramente técnica, a decisão do estúdio foi acertada. Acompanhe comigo: você já tem o maior sucesso do ano na bagagem, com hype de Oscar aparecendo por todos os lados e elogios rasgados até dos críticos mais exigentes. Sobre o ano seguinte, o comentário geral é que será profundamente afetado por uma crise econômica e ainda terá seca de grandes blockbusters graças a uma greve de anos atrás. Você não tem nenhum grande filme para esta época. Sinceramente, qual seria sua decisão? A Warner seguiu o caminho mais curto e mais lógico, por mais que isso tenha enfurecido fãs indignados. E ponto. Agora vamos falar do que realmente importa, no final das contas: o filme. A começar pelo retorno do britânico David Yates, que já havia comandado o filme anterior da série, A Ordem da Fênix, e recebeu elogios pelo clima político que imprimiu a uma obra que tinha essa ambientação também em papel. Agora, a história é outra. O Enigma do Princípe, todo bom fã sabe, é o livro que contém todas as informações importantes para o desfecho magistral que J.K. Rowling orquestrou no sétimo exemplar de sua série. É também o tomo que define as relações entre os personagens de forma mais marcante, inclusive deixando para trás boa parte da ação da série, que neste capítulo se concentra bastante no final apoteótico. Ainda assim, e talvez mais importante, O Enigma do Príncipe é palco da morte mais melancólica e definidora da série. Não vou estragar a surpresa de quem não leu, mas basta dizer aos fãs que o retorno do roteirista Steve Kloves deve garantir ao menos uma tratamento digno para essas e outras passagens tão marcantes. Das sempre abundantes novidades do elenco, o destaque do momento é Jim Broadbent (Moulin Rouge!), que vem para encarnar o Slughorn que todos os fãs sonharam, e Hero Fiennes-Tiffin, o filho estreante de Voldemort em pessoa, Ralph Fiennes (Na Mira do Chefe), que encarna o vilão furante a infância, em uma das lembranças mais adoradas pelos fãs da série. Também entram no barco Helen McCrory (A Rainha) como Narcissa Malfoy, e Dave Legeno (Alex Rider) na pele do lobisomem Fenrir Greyback. A aventura já aconteceu. Resta a nós, pobres trouxas, esperar até 15 de Julho para conferi-la.
Bom, pessoal, primeiro devo algumas explicações a vocês. Os Boletins andam bem atrasados, mas é tudo pela boa causa daquele especial que eu falei para vocês há algum tempo. Garanto que ele está em fase final. Também tenho algfumas críticas para serem escritas, mas tenho deixado-as para depois. Finalizei esse post para tentar remediar um pouco essa ausência, e provavelmente até terça-feira nosso especial estará por aqui. Tudo bem? Obrigado como sempre pela compreensão. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!