sexta-feira, 26 de junho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (26/06/2009)

Câmera pop

Diretor de clipes para gente pouco conhecida do grande público antes de migrar para o cinema e logo de cara ganhar a simpatia dos fãs de horror com o bom Madrugada dos Mortos, Zack Snyder é a prova mais recente de que o caminho para o sucesso na terra do cinema do novo século é mesmo o dos vigilantes mascarados. No que tange a ele, ao menos, o trampolim para a fama tem classe. Foi na missão hercúlea de adaptar para o cinema a maior saga heróica dos quadrinhos, o clássico Watchmen, que Snyder tomou de assalto a capital do cinema. Mesmo com uma bilheteria nem tão impressionante, o thriller de super-humanos comprou para o diretor a credibilidade de um homem com “um filme sério” no currículo e ainda abriu as portas de dois projetos que os fãs do estilo caótico de sua câmera esperam com ansiedade. Especialmente aqueles que se divertiram com a extrapolação histórica e o impacto visual de 300, engodo baseado em uma graphic novel de Frank Miller que explodiu mundo afora com sua adrenalina a flor da pele. Sim, a prioridade de Snyder no momento é a continuação do épico da Grécia antiga estrelado por um visceral Gerard Butler (Encurralados) em 2006. A continuação, que deve sair em 2011 e está em processo de pré-produção e roteirização, continuará acompanhando o avanço das tropas persas, comandadas pelo Xerxes que o brasileiro Rodrigo Santoro (Carandiru) representou no primeiro filme, através do território grego após passar por cima das três centenas de soldados reunidas por Leônidas. Conhecidos historicamente como Guerras Médicas, os confrontos entre gregos e persas duraram mais de dois séculos e passaram por pelo menos cinco grandes batalhas. Duas delas, segundo disse Snyder, vão se misturar as conseqüências da morte de Leônidas na trama do segundo filme. A primeira seria a de Salamina, ilha onde as marinhas dos dois lados da guerra se enfrentaram, que marcou a primeira vitória grega frente aos persas. Já a segunda seria a de Platea, cidade que assistiu a 10.000 espartanos se defenderem das numerosas forças persas. Ao mesmo tempo em que desenvolve o roteiro da continuação ainda sem título oficial, Snyder finaliza a fantasia Sucker Punch, seu primeiro trabalho como diretor que possui um roteiro original. A primeira frase de efeito divulgada define o filme como “Alice com metralhadoras”, o que casa bem com a trama sobre uma garota problemática que é internada em um hospício por seu padrinho perverso e imagina um violento universo alternativo enquanto espera para se submeter a uma lobotomia. No processo de definição do elenco, Snyder surpreendeu ao anunciar que a boa moça Vanessa Hudgens (High School Musical) seria a intérprete de Blondie, a protagonista. Para atuar ao lado da garota, Snyder escalou outros talentos jovens de Hollywood, a exemplo de Emily Browning (Desventuras em Série), Jena Malone (Donnie Darko), Jamie Cheung (Dragonball: Evolution) e Abbie Cornish (Candy). As filmagens devem terminar no próximo mês, e Sucker Punch deve ser lançado por volta de Março de 2010.

A rede no cinema

200 milhões é um número expressivo em muitas situações, mas talvez seja na capital do cinema que essa determinada quantia adquira um significado cabalístico. No mundo de cifras da Hollywood capitalista, a marca no começo desse texto representa a meta inicial de qualquer estúdio que pretenda ter um sucesso no currículo. É ao passar das duas centenas de milhões em solo americano que blockbusters ganham definitivamente esse nome atrelado a seus títulos. Talvez por causa desse significado obscuro mas bem conhecido dos que acompanham as bilheterias internacionais, a história surpreendente do site de relacionamentos Facebook tenha atraído os grandes estúdios antes do que qualquer outra. Criado em 2004, quando a mania de se relacionar socialmente na rede já era quase unanimidade, o Facebook rapidamente se tornou mania em terras americanas, ultrapassando os concorrentes em número de usuários em pouco tempo. Hoje, o site é um dos maiores do mundo, o maior em território ianque, e possui nada mais nada menos que 200 milhões de associados, amealhados durante os cinco anos que está no ar. Atenta para a crescente fatia do público que quer ver modernidade e tecnologia aliadas a boas tramas no cinema, Hollywood tratou de buscar a história da criação do site e já tem um projeto pronto para decolar nos próximos anos contando essa trama real. The Social Network ganhou força com o envolvimento do renomado roteirista Aaron Sorkin, gênio por trás de filmes como Jogos do Poder e Questão de Honra, pelos quais foi indicado ao Globo de Ouro de melhor roteiro. A versão final de Sorkin para a trama foi aprovada pela Columbia no último dia 24, e a notícia de que o roteiro estava pronto para chegar as vias de fato atiçou os rumores de que David Fincher, recém-nominado ao Oscar pelo trabalho em Benjamin Button, estaria negociando para assumir as câmeras do projeto, que ganhou a atenção da mídia especializada. A história, ao que parece, é focada na figura de Mark Zuckerberg, que era um estudante de 19 anos em Harvard quando teve a idéia de criar um novo site de relacionamentos, despreocupado com sua repercussão, e viu sua criação crescer em pouquíssimo tempo. O fenômeno da Internet parece de fato ter provocado alguma agitação nos corredores dos estúdios, tanto que menos de um dia depois do anúncio que o projeto estaria pronto para ser filmado já surgiram os primeiros candidatos ao papel principal. Segundo as últimas notícias, a longa lista montada pelo estúdio tem no topo os nomes de Michael Cera (Juno), mais acostumado ao tipo nerd que Zuckerberg fazia, e Shia LaBeouf (Transformers), que possui uma credibilidade grande com o público americano. Mal o projeto começou a ser filmado, porém, e as primeiras críticas, vindas do site CNET, já vieram, afirmando que o roteiro de Sorkin é equivocado e trata o protagonista como um “nerd desagradável”.

Risos em português

Protagonizada por dois atores bastante ativos no cinema nacional, a série cômica Os Normais pode até ter tido uma vida bem curta na telinha, com três temporadas exibidas, mas as loucuras do casal Rui e Vani continuaram vivas no cinema um ano depois do fim da série, quando o filme protagonizado pelos dois foi lançado nos cinemas e se tornou um dos poucos filmes nacionais a alcançar um milhão de espectadores no ano. Ganhou o espectador, que riu a beça com a história do casamento do casal neurótico encarnado com gosto por Fernanda Torres (Saneamento Básico) e Luís Fernando Guimarães (O Que é Isso, Companheiro?). Passaram-se quase meia década desde então, e numa época em que as comédias dominam o panorama do cinema brasileiro e aos poucos vamos nos tocando que o medo de ser popular tem matado nossa sétima arte, nada mais natural que o maior símbolo dessa transição de cinema marginal para cinema popular entre em cena mais uma vez. Em filmagens desde o começo do ano, o novo longa protagonizado pelo “casal mais normal do mundo” tem uma trama polêmica, coadjuvantes estelares e um trailer não menos que hilário lançado na rede, que pode ser conferido aí em cima. As primeira informações liberadas da continuação vieram em janeiro, quando o roteiro foi entregue pelos mesmos autores do script do primeiro filme. O casal Alexandre Machado e Fernanda Young, responsáveis pelo recente Muito Gelo e Dois Dedos D’Água, tramou a nova história, que envolve Rui e Vani na busca por um terceiro elemento, que viria para apimentar a relação. Em uma única noite, os dois percorrem Copacabana em busca da terceira pessoa ideal para completar o ménage a trois, passam por um hospital onde a prima de Vani vai internada após um “acidente” na relação e até vão parar em um centro espírita onde acontecem jogos sinistros. O subtítulo do filme, A Noite Mais Maluca de Todas, promete tantas boas piadas quanto o trailer, embalado por uma versão trash de “Livin’ La Vida Loca” e que revela diversas participações globais no decorrer do filme. Sob a direção do mesmo José Alvarenga Jr do primeiro filme, que vem recém-saído do sucesso de Divã para a direção de um time de estrelas que promete risadas antológicas. Isso porque entre as candidatas a complementar a relação a três estão Cláudia Raia, em seu primeiro papel no cinema desde Boca de Ouro, Danielle Winits (Sexo com Amor?), Alline Moraes (Fica Comigo Esta Noite), Drica Moraes (Amores Possíveis) e a novata Danielle Suzuki. Além do time feminino, o experiente Daniel Dantas (Caixa Dois) atua na pele de um amigo esquecido de Rui. A comédia está marcada para estrear em 28 de Agosto próximo.

Nota de Luto: Farrah Fawcett (1947-2009)

A vida é uma coisa engraçada. Permanecemos nela por um tempo tão arrastado e tão fugaz, passamos por ela tendo que tomar decisões, seguir caminhos, fazer escolhas, ser quem somos, mesmo que não saibamos o porquê de sermos assim. No final, tu do fica entre os que lutaram e os que desistiram. Não há dinheiro, não há fama, não há nenhuma conquista de vida que seja capaz de parar a jornada impiedosa que fazemos a cada dia em direção ao fim desse bem tão precioso que chamamos de vida. A pergunta final, para qualquer um: valeu a pena? A impressão que fica é que, para Farrah Fawcett, valeu. Derrubada pelo câncer que a acometia a uma trinca de anos, a atriz texana havia acabado de lançar o documentário para televisão Farrah’s Story, que registrava sua luta contra a doença e os dilemas de uma mulher que não sabia se valia a pena voltar para uma vida antiga, que havia ficado para trás, quando já estava a beira da morte. Uma semana antes de sucumbir as amarguras da vida, Farrah decidiu aceitar o pedido de casamento do ator Ryan O’Neil, protagonista do clássico Love Story, com quem havia se unido extra-oficialmente por dezessete anos antes do fim do relacionamento, treze anos atrás. Em vida, Farrah teve uma carreira brilhante que deve seu ponto de decisão ao ator Lee Majors, protagonista da popular série O Homem de Seis Milhões de Dólares e responsável pela escalação da então namorada para o papel principal da comédia Myra Breckinridge, baseada em uma novela do sempre polêmico Gore Vidal (Calígula). Não dá para dizer que a obra foi um sucesso de bilheteria, mas serviu de trampolim para a texana engatar uma série de papéis ascendentes até chegar, seis anos depois, ao clássico Fuga do Século 23, onde chamou a atenção do bem-sucedido produtor Aaron Spelling, que a convidou para protagonizar sua nova série de TV, sobre um trio de espiãs de uma organização misteriosa que eram comandadas por um estranho chamado Charlie. Sim, estamos falando de As Panteras, a série clássica, que lançou Farrah ao estrelato e teve quatro explosivas temporadas exibidas entre 1976 e 1981. Dedicada como era ao papel, Farrah fez pouco enquanto atuava na televisão, mas tratou de por em dia a carreira cinematográfica logo após do fim da série, quando atuou no clássico Quem Não Corre Voa e ganhou suas primeiras indicações ao Globo de Ouro, no campo televisivo pelo polêmico e violento Cama Ardente, e no cinematográfico pelo suspense cult Seduzida ao Extremo. Ainda na década de 1980, voltaria ao prêmio da imprensa americana pelos desempenhos nos telefilmes Caça aos Nazistas, Pobre Menina Rica e Sacrifício Final. A virada da década trouxe-lhe um amargo esquecimento até 1997, quando o drama O Apóstolo a trouxe de volta a voga mais pela polêmica do tema do que pela relevância do seu papel. Desde então, se destacou na comédia Dr. T e as Mulheres, do falecido Robert Altman (A Última Noite) e com participações em séries como Spin City e The Guardian. Lutando com o câncer desde 2006, Farrah Fawcett sucumbiu a doença após diversas internações. Tinha 62 anos, quarenta deles dedicados a atuação, deixou um filho e um amor que não viu o casamento acontecer.

Nota de Luto: Michael Jackson (1958-2009)

Não é fácil falar de alguém que recebeu o título de “rei do pop” por méritos próprios indiscutíveis e jogou esse título fora com besteiras, polêmicas e processos judiciários. Afinal, em mais de três décadas de carreira, o americano do estado da Indiana nunca deixou que seu nome ficasse fora de voga, de uma forma ou de outra. Tudo começou no final da década de 60, quando o grupo musical Jackson Five surgiu para o mundo vendendo discos feito água e emplacando um número impressionante de músicas nos topos das paradas. Para um país recém-saído da luta de direitos raciais, era quase um milagre em se tratando de um quinteto de jovens negros, irmãos, cuja figura central era o caçula, Michael. Revelados pela cantora e atriz Gladys Knight (Em Busca do Dólar), o grupo explodiu na lendária gravadora de artistas negros Motown, que ganhou um fenômeno pop para chamar de seu com o quinteto. A adaptação de grupo vocal infantil para super-popstars da era disco foi o golpe final para Michael começasse a brilhar mais do que os irmãos. Em 1983, o grupo se dissolveu e o irmão mais famoso seguiu carreira solo, estreante logo com o álbum mais vendido de todos os tempos, o lendário Thriller. 50 milhões de cópias vendidas, 37 semanas no topo da Billboard e uma dupla de clipes revolucionários para a arte de promover músicas através de imagens. Antes de falar sobre o videoclipe mais cinematográfico de todos os tempos, porém, é bom lembrar que Michael já havia demonstrado sua paixão pela sétima arte ao encarnar o Espantalho na versão setentista da história O Mágico de Oz, dirigida pelo mestre Sidney Lumet (Um Dia de Cão), que não se tornou o sucesso tamanho que se esperava. Persistente em suas obsessões, porém, Michael chamou o célebre cineasta John Landis (Trocando as Bolas), mestre da comédia que fez do videoclipe de “Thriller” um dos maiores hits da história e um marco para geração MTV de fãs de música. Sinônimo de sucesso após o álbum, o cantor ainda firmou uma das maiores parcerias da história dos videoclipes com o grande Martin Scorsese (Gangues de Nova York), diretor de “Bad”. A década de 1990, porém, trouxe as primeira polêmicas para a carreira do cantor, que começou a ser visto com a pele mais clara e modificações no rosto, supostamente provocadas por vitiligo, uma doença que deforma o rosto, e por cirurgias plásticas. O cinema continuou em sua vida com lançamentos como a coletânea de curtas Moonwalker, lançada diretamente em vídeo, e curtas-metragens de ficção como Captain EO, dirigido por Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão), e Ghosts, desabafo em forma de filme de horror feito pelo mestre dos bonecos Stan Winston (Muppets). Casos de pedofilia, álbuns que vendiam cada vez menos, polêmicas em relação a seus filhos, dos quais Michael nunca mostrou o rosto, e a dois casamentos fracassados acabaram levando o cantor a uma reclusão que só foi revertida recentemente, quando anunciou que faria uma turnê ao redor do mundo. O primeiro show seria ainda na primeira semana de Julho, mas os fãs foram deixados na expectativa e na tristeza com a notícia da morte do ídolo, de causas ainda não esclarecidas, a 25 de Junho último. Michael deixou três filhos e milhões de fã. Mas o trono de rei continua ocupadíssimo.

Em memória de Farrah Fawcett *02/02/1947 +25/06/2009

Em memória de Michael Jackson *29/08/1958 +25/06/2009

Bom, pessoal, e por hoje é isso mesmo… infelizmente em luto pela morte de duas pessoas tão importantes para o cinema e, no caso de Michael, para a música… meus pêsames aos fãs de ambos… mas a vida continua, senhoras e senhores! O jeito é seguir em frente. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Tal do Twitter + Sunshine de Inverno

Manias de Internet, como esse novo séculos já nos ensinou tantas vezes, são coisas passageiras e quase nunca deixam alguma marca em quem escolha se integrar a ela por alguma ventura. Talvez justamente por pensar assim, sou meio desconfiado quanto aos sites de relacionamento que andam pipocando por aí, e inicialmente o hoje mundialmente conhecido Twitter não me despertou muita atenção. Parecia, sinceramente, algo indefinidamente inútil, coisa de gente que não tinha o que fazer e ficava contando a própria vida em detalhes sórdisos para quem quisesse ler.

Bom, talvez fosse assim no começo, mas como tudo na vida o Twitter separou o joio do trigo, refinou-se nas funções que aos pocuos foi ganhando e, de uma hora para a outra, se tornou função indispensável para quem quisesse se dizer “concectado” a tudo o que acontece ao redor do mundo. Até eu, essencialmente blogueiro e aos poucos vendo as utilidades de divulgação, expressão e contato que o site do pássaro pode trazer para esse tipo de gente, me juntei ao bando. Sim, lá estou eu, gorjeando todos os dias de tudo que você pode imaginar. Caso queira conferir o que tem pra dizer esse humilde bogueiro, siga o link aí embaixo:

Minha página no Twitter, a última palavra da Internet

sunshine

Outra coisa que eu estava louco para divulgar por aqui, é que meu grande amigo Rubens Medeyros (só clicar aí do lado pra entrar no blog dele) me concedeu a honra de estar presente na sua revista virtual, intitulada Sunshine, que chegou a sua segunda edição poucos dias atrás. Eu assino duas páginas modestamente falando sobre… cinema, obviamente.

Primeiro, antes de tudo, preciso agradecer muito ao Rubens por essa oportunidade, é um orgulho estar entre gente tão talentosa nessa revista maravilhosa… Além disso, cá estou também para lhes passar o link para download da revista, que pode ser encontrado no blog do Rubens ou logo aqui embaixo. Tenha uma boa leitura… e se apaixone você também por esse raio de sol brilhante.

Download da Sunshine de Inverno, divirta-se

Bom, pessoal, e por enquanto é só isso mesmo… ando meio ausente por aqui porque preciso mesmo estudar para algumas provas, mas logo depois entro de férias, o que significa mais posts por aqui! Então, com essa deixa, vou ficando por aqui, provavelmente até segunda ou terça-feira, quando pretendo reunir mais algumas notícias para deixá-los informados… então, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (22/06/2009)

Indefinição no reino bárbaro

Faz menos de um mês desde a última vez que este mesmo humilde cinéfilo os deixou informados sobre a saga do bárbaro Conan para voltar aos cinemas quase duas décadas depois de sua última aventura cinematográfica. Para quem não se lembra, o projeto vem sendo desenvolvido de forma inconstante desde 2001, quando o próprio John Millius, o diretor do original de 1982 estrelado pelo hoje governador Arnold Schwarzenegger, chegou a escrever um roteiro, intitulado King Conan: Crown of Iron, mas terminou por deixar o leme do barco, que a Columbia entregou a Robert Rodriguez (Sin City), que por sua vez o passou a Boaz Yakin (Duelo de Titãs). Porém, foi nas mãos do sempre eficiente Brett Ratner (A Hora do Rush) que o projeto ganhou rumo definitivo, sob um novo roteiro, de autoria da dupla responsável pelo surpreendente Outlander. Howard McCain e Dirk Blackman viram seu script mudar de mãos mais uma vez e dessa vez parecia que de fato o diretor definitivo para o projeto seria James McTiegue, o culpado pela câmera estilosa de V de Vingança e protegido dos Irmãos Wachowski (Matrix), que estiveram envolvidos no filme desde o primeiro projeto. A ilusão de que as coisas finalmente estariam indo por um caminho foi destroçada logo no dia seguinte a notícia dando conta de McTiegue. Ao que parece, a disputa da vez é entre os dois estúdios que produzem Conan. Enquanto a Millenium teria indicado McTiegue para o comando, a Lionsgate apareceu com uma extensa lista de candidatos que incluía o diretor francês Christophe Gans (Silent Hill) e o britânico Neil Marshall (Abismo do Medo). No final das contas, um mês depois do começo da disputa, os dois lados saíram em um acordo baseado na presença conciliadora do badalado Marcus Nispel, responsável pelos mais recentes remakes de O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-Feira 13. A imprensa, ansiosa pelo filme desde o começo do século, não gostou muito da decisão, mas é inegável que a câmera estilosa de Nispel merece uma chance para ser guiada por um bom roteiro. Discussões de mérito a parte, parece que agora, já há algumas semanas como o nome oficial da direção de Conan, o alemão vai mesmo levar a coisa até o fim. Sete dias depois de assumir, ele já tomou uma decisão importante que poucas vezes havia passado perto do projeto e ainda, de brinde, agradou os fãs com ela. Antes da esperta escolha de Roland Kickinger por Nispel, os únicos a seres sequer cogitados para o papel do rei bárbaro foram o próprio Schwarzenegger antes de se eleger governador e o astro da luta livre Triple H, que foi citado por Millius por volta de 2003. O nome do agraciado com o papel pode ainda não ser familiar, mas Kickinger já estrelou Son of the Beach, uma polêmica e curta série de TV, e fez nerds no mundo inteiro delirar ao se tornar a nova face do T-800, modelo clássico da série Exterminador do Futuro, na quarta encarnação da série, lançada a pouco tempo. Papel que foi de... Schwarzenegger, Conan em pessoa, nos três primeiros filmes. Esperto esse Nispel, não?

Astros atrás das grades

Astros de Hollywood são capazes de qualquer coisa para voltar ao topo uma vez que seus nomes ficaram fora de voga por algum tempo, até mesmo ir parar atrás das grades de uma prisão por um bom salário. Em 2001, o cinema alemão passava por uma fase de redescoberta nas mãos de gente moderna e esperta como Tom Twyker, responsável por um dos maiores sucessos da geração Internet de cinéfilos, o verborrágico e genial Corra Lola Corra. Em meio a tamanha visibilidade, com os olhos dos festivais europeus voltados aos germânicos, um até então desconhecido diretor de televisão estreou no cinema com uma pequena produção intitulada A Experiência. A combinação de atores desconhecidos, um roteiro a seis mãos que venceu prêmios ao redor do mundo e uma câmera cheia de equilíbrio e ponderação, esse pequeno filme se mostrou um dos mais fascinantes estudos sociais do instinto humano lançados no cinema em muito, muito tempo mesmo. Numa trama ainda mais inacreditável por ser baseada em um caso real, uma equipe de cientistas resolve realizar um experimento psicológico com vinte homens escolhidos ao acaso e contratados mediante pagamento para passar duas semanas em um ambiente simulando, da melhor maneira possível, uma prisão. Coisa simples, que vai longe demais e provoca reações capazes de despertar a mais profunda concepção animal do homem. Se você foi esperto o bastante para ligar uma coisa a outra depois de ler o começo desta nota e a trama descrita logo abaixo, considere-se um privilegiado. Ou não. Afinal, não é exatamente uma surpresa que Hollywood pegue um filme de enorme êxito crítico e comercial europeu, um tanto esquecido devido ao tempo, e anuncie o projeto de uma “reimaginação”, o termo da moda para a prática. A bola da vez na terra do cinema é mesmo o primeiro longa-metragem de Oliver Hirschbiegel, que após a estréia gloriosa se tornaria o diretor a dar um retrato definitivo a maior vergonha da história alemã no magnífico A Queda e ainda sujaria seu nome com o adiado, trucidado e esmagado pela crítica Invasores, mas ao menos Hollywood chamou alguém com história semelhante a do alemão para escrever e dirigir o remake. Além de ser um estreante em cinema, Paul Shceuring tem experiência em lidar com homens encarcerados na celebrada série Prision Break e ainda tratou de se cercar de talentos interpretativos para dar vidas as mentes perturbadas que vão se mostrando no decorrer da narrativa. A começar por dois vencedores do Oscar que andam seletivos demais em relação a seus trabalhos. Adrien Brody não tem um filme lançado em terras brasileiras desde O Expresso Darjeeling, e Forest Whitaker não dá o ar da graça em salas de projeção tupiniquins desde a atuação em alta voltagem que entregou em Os Reis da Rua. Junto deles no projeto está outro talentoso sumido, Elijah Woods, que não aparece desde que pôs um nome a mais no já lotado cartaz de Bobby, e o elenco se completa com Cam Gigandet, o James da franquia Crepúsculo.

Na correria com Reese

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Por mais que os críticos e os mais entendidos de cinema possam chiar, a verdade é que Reese Witherspoon enganou a nós todos. Na luta desde 1991, quando protagonizou uma curiosa história de amor no cult No Mundo da Lua, essa americana do estado do blues surgiu para o grande público no final da mesma década, interpretando papéis típicos do cinema adolescente que era tendência na época, e seguiu carreira intercalando bobagens divertidas como Legalmente Loira com o que de fato pareciam surtos de juízo ao se envolver com gente do naipe de Alexander Payne (em Eleição) e Oliver Parker (Armadilhas do Coração). O ano da virada foi 2005, quando Reese provou arrepios nos fãs do country mais puro do coração da América ao assinar para encarnar June Carter, esposa do lendário Johnny Cash, na cinebiografia Johnny & June. Surpreendeu muita gente, botou um sorriso no rosto de outros tantos e ainda levou um Oscar para casa por sua interpretação. A partir daí, o que ela fez? Basicamente, sem contar um par de filmes independentes e uma comédia romântica que passou em branco pelas bilheterias e pela crítica... nada. Isso até sua popularidade ressuscitar com o sucesso-surpresa de feriado Surpresas do Amor e o maior blockbuster animado da história, Monstros vs. Alienígenas estrear causando furor nas bilheterias. Recuperada, de volta aos holofotes, parece que Reese finalmente entendeu que já foi compreendida por seu público e partiu para duas parcerias que abriram um sorriso em seus fãs. A primeira, que deve sair até o final do próximo ano de 2010, é How Do You Know, título provisório da próxima dramédia romântica do consagrado James L. Brooks. O cineasta, que por sua vez também tem um Oscar na prateleira, de melhor direção por Laços de Ternura, juntou Reese a uma trupe de peso que inclui seu parceiro habitual, Jack Nicholson, que deve ao diretor seu prêmio de melhor coadjuvante por Melhor é Impossível, além de gente nova na trupe como Owen Wilson (Uma Noite no Museu) e Paul Rudd (Ressaca de Amor). Já com as fotos das filmagens liberadas na rede, o filme contará a história de uma mulher em crise amorosa que se vê sendo disputada por dois homens, um homem de negócios e um jogador de beisebol descuidado. Saindo do set deste projeto, Reese vai direto para as mãos de outro diretor cheio de moral entre os críticos, o californiano Cameron Crowe, vencedor do prêmio da Academia de melhor roteiro original pelo trabalho em Quase Famosos, que também dirigiu. Por enquanto, a maior discussão entre os sites de cinema a respeito do novo filme do diretor com a presença de Reese no elenco é o título. Há quem garanta que o nome escolhido para o romance, mais dramático que cômico, é Deep Tiki, mas o IMDB e uma braçada de outros sites firmam a opinião em Volcano Romance, algo mais descritivo do que foi revelado na trama até agora. No roteiro do próprio Crowe, Reese será a paixão da vida de Ben Stiller (Trovão Tropical), um militar que não se dá bem com muita gente, que acaba de trocar a garota certa para sua vida por uma que, ele sabia de alguma forma, não valia a pena. Sua redenção vem quando é chamado para o Havaí, onde é perseguido pelos deuses nos quais os nativos acreditam e reencontra a mulher de sua vida, ao lado do novo marido e dos filhos.

A Facada Final de Williamson

Quando o primeiro Pânico estreou no final da década de 90, é impossível não dizer que foi o filme certo na hora certa. Cansados de um “cinema para adultos”, os adolescentes entraram pela primeira vez durante muito tempo em uma sala de projeção e assistiram a uma obra feita especial e visivelmente para seus olhos. Wes Craven, um diretor cheio de moral entre os críticos por contribuições ao gênero do terror com filmes do naipe de A Hora do Pesadelo, havia diminuído a faixa etária dos protagonistas de sua fórmula e construíra por cima do roteiro de Kevin Williamson, o homem-hype do momento, o símbolo de toda uma geração de freqüentadores assíduos de cinema. Pânico virou padrão porque era uma obra levada com competência, sim, mas ainda mais porque foi um filme extremamente oportunista. E Craven ainda teve a audácia de desafiar o passar dos anos duas vezes, produzindo um par de seqüências que não só se integraram no panorama da série perfeitamente como ainda deixaram os fãs que ela ganhou durante quatro anos e um trio de filmes, com um gosto de quero-mais. Faz nove anos que o terceiro capítulo estreou nos cinemas, e desde então o gênero do terror criou uma tendência a se despir das ousadias cool de gente como Craven e Williamson para se tornar cada vez mais psicológico, visualmente forte e, que me perdoem os críticos, não raro entediante. Com boatos de acontecer desde 2001, apenas um ano depois do lançamento do capítulo derradeiro da primeira trilogia, o filme atravessou os anos do novo século como uma espécie de mito dentro de Hollywood, que passou por épocas muito próximas a realidade e outras absolutamente esquecido. O projeto ganhou mais uma sobrevida em meados do ano passado, quando os boatos intermitentes ganharam uma boa força quando Wes Craven, o próprio, falou que “voltar ao universo de Pânico seria uma diversão e tanto para mim” e disse estar “negociando a possibilidade com os produtores”. Do rumor a confirmação, Craven veio para a quarta aventura da série e trouxe junto os boatos de que o trio de protagonistas dos três primeiros filmes também retornariam para a terceira seqüência da trama. Fazia até sentido, tão esquecidos das grandes produções estavam David Arquette, que não faz nada digno de nota desde uma ponta em Sharkboy e Lavagirl, Courtney Cox, que não engata nada em TV ou cinema desde o fim de Friends, e até Neve Campbell, sumida desde o fim da série O Quinteto. Os boatos ainda foram além, dando conta de uma nova trilogia para a série e finalmente confirmando a presença de David e Courtney no elenco, possivelmente tomando o lugar de protagonistas da trama, o que surpreendentemente jogou Campbell para escanteio. Só na última semana, porém, é que foi confirmado que a personagem da atriz não estaria presente na nova trama, focada na produção do filme ficcional A Última Facada, baseado nas experiências que os protagonistas tiveram nos filmes anteriores. A fórmula do “filme-dentro-do-filme”, já usada por Williamson no terceiro empreendimento da série, parece não estar funcionando as mil maravilhas, porém. Recentemente, em seu Twitter, ele disse estar tendo dificuldades em escrever o novo roteiro, o que instalou mais incerteza nos fãs da série.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… dia corrido, fazer o quê? Mas enfim, amanhã ou depois eu tenho uma surpresinha para vocês, e quem quiser seguir a pista basta entrar no meu Twitter e até tirar uma idéia do que pode ser essa nova forma de dar notícias cinéfilas para vocês. O link é: https://twitter.com/caiocoletti. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

domingo, 21 de junho de 2009

Filadélfia – Amor, contradição e emoção verdadeira em uma obra-prima importante e eterna.

phila 

Filadélfia (Philadelphia, EUA, 1993).

De: Jonathan Demme.

Com: Tom Hanks, Denzel Washington, Antonio Banderas, Jason Robards, Joanne Woodward.

125 minutos.

Não é fácil nem mesmo falar sobre amor, que dirá criar um do nada. O sentimento mais nobre do ser humano é de uma complexidade e inconstância tremendas, impossíveis de se mapear, prever ou simular. Há um certo caráter único sobre cada tipo e cada espécie de amor que torna ainda mais árdua a tarefa dos que ousam tentar defini-lo, domá-lo ou, tão freqüentemente, usá-lo para enriquecer uma obra de ficção. Talvez por causa de tamanha complicação, histórias de amor dependem de momento, de intenção, de uma concordância quase cósmica entre quem estava atrás da câmera e quem está sentado na platéia, para funcionar em uma sala de projeção. É claro, nesse processo está envolvida muita ponderação, precisão mais do que cirúrgica, e as probabilidades de todas essas barreiras ficarem para trás quando gente talentosa está envolvida são infinitamente maiores. Filadélfia é uma história de amor, mas não uma convencional. É uma história de amor fraterno, de um afeto e um envolvimento construídos aos poucos por lados aparentemente antagônicos que se juntam por uma causa e, como num passe de mágica, desfazem as próprias contradições. É uma narrativa habilidosa, cheia de camadas e de emoção verdadeira impossível de descrever, que chega ao final e faz aflorar as lágrimas sinceras que qualquer outra história romântica sempre sonhou. É um triunfo, de cinema e de realidade, que tem algo a dizer para o mundo fora de sua encenação realista, mas não perde o foco nos personagens e nos seres humanos que eles precisam se tornar para envolver a platéia da forma necessária para que a mensagem seja passada e aquela trama deixe as marcas profundas que foi feita para deixar. Sim, Filadélfia é um filme com uma causa a defender, é parte do engajado cinema-denúncia que tantas vezes os críticos desprezam como “panfletagem inútil” ou qualquer outra expressão cínica que prefiram usar. Mas é também uma jornada de emoção verdadeira e andamento tão lento quanto a deterioração da doença que todos temiam no início da década de 1990, quando o filme foi lançado e a AIDS ainda era uma praga desconhecida que provocava medo e reações irracionais. Afinal, a vida de cada um estava em jogo, e não parecia antiético, ao menos naquele momento, discriminar alguém que, você pensava, poderia te condenar a uma lenta e dolorosa morte se chegasse perto demais. Quem sofria com isso, é claro, eram os atingidos pela síndrome, que tinha que lidar com uma população pouco informada sobre o mal que temiam e acabavam jogados de lado, descartados, isolados. Discriminados. Na época, não parecia preconceito, mas hoje talvez fosse um caso fácil de se resolver na justiça. Os tempos mudaram, mas como toda verdadeira obra-prima, Filadélfia continua grandiosa e tocante, resistindo bravamente ao tempo que mudou todas as circunstâncias de sua trama, que poderia até soar banal, distante dos dias de hoje, se não tivesse seres humanos de verdade envolvidos. É por eles, e não por uma causa, que derramamos todos nós nossas lágrimas.

Concentrar narrativas em personagens capazes de envolver o público sempre foi uma estratégia infalível para criar grandes obras, e é seguindo justamente esse caminho que Filadélfia encontra seu diferencial e seu ponto de decisão entre a emoção barata e a verdadeira. É notável, porém, imaginar o quão menos envolvente a mesma narrativa poderia soar nas mãos de um roteirista menos sutil e sensível que o inconstante Ron Nyswaner (O Despertar de Uma Paixão), encontrando o pico de sua carreira na história improvável de um homem que desafia o sistema e luta pela própria liberdade em um mundo que tem medo dele próprio. Sim, porque Andrew Beckett é um pioneiro, um obstinado explorador de novos caminhos que encontra uma causa própria para dedicar sua limitada, quem sabe até curta, vida. Andrew é o jovem e talentoso advogado que se torna a estrela em ascensão de uma conservadora firma, é presenteado com os casos mais importantes e apresenta sem medo suas opiniões ousadas ao chefe, encantando com seu talento. Isso até todos descobrirem que Andrew é homossexual e, ainda mais, é portador do vírus da AIDS. A desventura motivada pelo medo e pelo preconceito leva Beckett a buscar paz em um processo contra seus ex-empregados, criando um caso na justiça que nenhum outro advogado, em sã consciência, aceitaria. É na busca por um defensor da lei que o caminho de Beckett cruza com o de Joe Miller, advogado negro conhecido do povo americano graças a suas propagandas televisivas sobre direito do consumidor, um aventureiro capaz de correr riscos que, dizem, nenhum outro em sua área aceitaria. Justamente o que Beckett precisa, ou pelo menos é isso que parece até descobrirmos que Miller, além de não ter nenhuma informação concreta sobre a AIDS, é homofóbico. É de fato um grande passo a frente para um filme com esse tipo de trama que os dois simplesmente não se unam de uma vez, contrariando os próprios princípios no que seria chamado pelos críticos mais inocentes de “ímpeto de ousadia” ou “espírito de inovação”. Aqui, as coisas acontecem em seu ritmo natural, e a habilidade de Nyswaner ao conduzir a integração dos dois protagonistas, contradições íntimas em pessoa, é notável. As cenas de tribunal, então, são demonstrações do talento de um roteirista capaz de criar diálogos memoráveis e situações marcantes sem precisar tornar os personagens dentro delas bidimensionais. Ironicamente para um roteiro que trata e se utiliza tão bem de oposição de idéias e sentimentos, não há nenhum momento em que as ações de um personagem soem falsas, precipitadas ou atípicas. Tudo corre conforme deveria. De algum modo, soa como se tivesse acontecido de verdade, e esse nível de realismo muito influi no envolvimento que Filadélfia provoca no espectador. Enfim, é por causa da liga forte do roteiro de Nyswaner que cada um dos outros talentosíssimos elementos envolvidos em Filadélfia conseguem brilhar com tamanha intensidade, sem nunca ofuscar a importante, relevante e emocionante história que se passa na tela.

A começar por Jonathan Demme, um dos mais subestimados grandes mestres do cinema americano. Em um de seus momentos de maior glória na carreira, ele seguiu o suspense O Silêncio dos Inocentes, filme que lhe rendeu a estatueta da Academia de melhor direção, com esse épico dramático e polêmico que estreou prometendo trazer uma mensagem importante em um envoltório dramático que provocava medo entre os pouco chegados a um bom drama. No final, o Filadélfia construído por ele se mostrou uma obra capaz de transpassar gêneros e gostos para soar forte na razão e na emoção de qualquer um que fosse capaz de olhar a sua volta e ver alguma coisa. Com controle narrativo irretocável e uma câmera que se despiu de modismos para simplesmente vigiar uma trama que falava por si mesma, Demme faz um trabalho memorável observando desempenhos interpretativos espetaculares e construindo uma ambientação que muito merece de mérito pelo envolvimento que Filadélfia provoca no espectador. Em especial na cena do último depoimento de Beckett em corte, uma das mais aflitivas e opressoras da história do cinema, sua câmera é elemento fundamental para a compreensão absoluta do que ocorre em tela. É vigilante, é detalhista, é inteligente, mas acima de tudo é parte indissociável do cenário que compõe. Em suma, Demme é quase como os brilhantes olhos privilegiados do espectador, e realiza um trabalho que merecia mais destaque do que teve a época do lançamento do filme. A bem da verdade, porém, uma direção tão competente foi jogada de escanteio pela causa nobre da forte impressão que os atores em cena, mais especialmente a dupla de protagonistas, provocou no público. E eles são os culpados por traduzir um roteiro complexo em emoções simples e fascinantes que transparecem não em rostos de atores, mas em rostos de personagens. A começar pelo protagonista absoluto de Tom Hanks, aqui no papel que lhe rendeu o primeiro de dois Oscar seguidos, quebrando seu próprio paradigma de ator cômico para brilhar em uma performance completa, plena em cada segundo de tela e absolutamente dominante dos momentos em que a câmera de Demme se concentra em vigiá-la. Seu Andrew Beckett é carismático, luminoso, perseverante e adorável, mas tem um toque de amargura na voz e um brilho triste nos olhos que não se traduzem em palavras porque são complexos demais, mas reluzem na interpretação de Hanks. Muito se disse sobre a cena em que seu personagem recita uma passagem da ária “Andrea Chenier”, e de fato se trata de um desempenho apaixonado, entregue, não menos do que perfeito, cheio de emoção que atinge o espectador de uma forma que poucas outras produções, cinematográficas ou não, jamais conseguiram. Ao lado dele, é claro, Denzel Washington não deixa por menos em uma das numerosas e memoráveis performances que entregou ao seu público durante o começo da década de 1990. Na pele de Joe Miller, o ator faz jus ao roteiro e cria emoções autênticas, contidas, mas especialmente retumbantes, para representar um personagem que, nas mãos de outro qualquer, poderia ficar sob a sombra da grande e carismática figura de Beckett. Não é o caso na interpretação acertadíssima do grande ator que Washington sempre foi, aqui entregando fechamento e humor a um único tempo, fazendo de Miller tão protagonista quanto Beckett, da forma como foi idealizado no roteiro. Entre os coadjuvantes, vale destacar a presença cheia de classe de Jason Robards (O Dia Seguinte) no vilanesco papel do ex-chefe de Beckett e a galhardia competente de um jovem Antonio Banderas (A Lenda do Zorro) como o namorado latino do mesmo. Virtudes menores que tem pouco tempo para brilhar em um filme que concentra sua narrativa e encontra a mais pura das emoções, do triunfo ao remorso, do começo ao fim. Afinal, não é o amor a própria contradição?

Nota: 9,0

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (15/06/2009)

A volta de Hunt. Ethan Hunt.

O primeiro filme da série Missão Impossível estreou em 1996 como o projeto arriscado e ambicioso de um diretor consagrado que não andava em seus melhores momentos. O resultado surpreendeu a todos, rendendo mais que cinco vezes o moderado orçamento de 80 milhões de dólares. A história se repetiu com um escopo maior quatro anos depois, quando John Woo assumiu o comando da franquia e concedeu o pedigree da sua direção de ação para a jornada de Ethan Hunt. Na brincadeira, a Paramount levou mais meio bilhão de dólares para o cofre. Talvez por causa de tamanho histórico, os 380 milhões do terceiro capítulo da série, lançado em 2006 e comandado por J.J. Abrams, tenham sido bem decepcionantes. É de se notar, porém, que na época Cruise andava em um momento de escândalos em sua vida pessoal, atitudes equivocadas com a imprensa e momentos de puro constrangimento, especialmente em se tratando da polêmica religião do astro, a cientologia. Agora, três anos depois do relativo fiasco, Cruise ressurgiu das próprias cinzas com o sucesso de Operação Valquíria, foi indicado ao Globo de Ouro pela ousada performance em Trovão Tropical, e anda arranjando novos projetos para manter esse status a cada semana. É claro, um astro de verdade nunca se esquece de sua franquia preferida, e era questão de tempo para Cruise decidir ressuscitar Ethan Hunt dos mortos e tocar para frente o projeto sempre vivo de continuar a franquia em um quarto episódio para os cinemas. Mas o caminho não é tão fácil quanto parece. De relações cortadas com a Paramount e com o produtor Summer Redstone desde o infame episódio da entrevista para Oprah Winfrey em 2006, o primeiro passo para trazer de volta a série foi, me perdoe o trocadilho, uma missão verdadeiramente impossível. A negociação se estendeu por nada menos que uma dezena de meses, começando em maio do ano passado para encontrar um acordo somente em março último, quando o estúdio aceitou as exigências de Cruise e resolveu dar uma segunda chance a franquia do espião high-tech. Depois de tudo acertado, o próprio Cruise começou a trabalhar no argumento da nova aventura, lançando rumores sobre uma ambientação “mais alternativa” para a nova missão de Hunt. Três meses depois dos primeiros boatos serem silenciados pelo astro, o primeiro convite oficial para integrar a equipe da seqüência foi para o diretor J.J. Abrams, recém-saído de outra ressurreição, a de Star Trek. O convite para retornar a direção da série pode ter adiado as férias que o diretor pretendia tirar para assistir ao fim de Lost, a série que ajudou a tornar um fenômeno. Segundo ele: “Estou muito lisonjeado que Tom tenha me convidado para retornar”. O diretor, porém, não confirmou se planeja aceitar o convite.

O riso dos mortos

zombieland

Zumbis são a última tendência em termos de cinema. Ou talvez não, afinal os mortos-vivos andam aparecendo por todos os lados desde que o britânico Danny Boyle os apresentou para toda uma nova e refinada geração com seu brutal Extermínio, sucesso surpreendente que já ganhou uma continuação e tem o fechamento da trilogia já a caminho. Desde então, e estamos falando de mais de sete anos, os zumbis já passaram pelas mãos brilhantes de um comediante inglês em Todo Mundo Quase Morto, pela câmera trepidante de uma dupla de cineastas italianos desconhecidos em [REC] e até levaram a fama o hoje aclamado Zack Snyder, com seu Madrugada dos Mortos. Ao que parece, a onda tende a crescer ainda mais nos próximos anos, mesmo que os projetos anunciados com o tema não sejam exatamente promessas de obras-primas. Antes de tudo, é bom falar que as próximas linhas contém uma heresia capaz de fazer os fãs de literatura clássica enfartar. Ainda aqui? Pois bem, aí vem a bomba: está sendo produzida a adaptação de Pride & Prejudice & Zombies, obra de um apresentador de talk-show americano que teve a brilhante idéia de misturar a clássica trama de Jane Austen com uma invasão inesperada de zumbis na Inglaterra vitoriana. Quer mais? O projeto ainda pegou de jeito a sumida Natalie Portman, que pode sair de uma folga de três anos desde V de Vingança para estrelar a tragédia. Enquanto, ironicamente, a heresia é disputada a tapa pelos grandes estúdios da capital do cinema, a bola da vez é da Columbia, que tem Zombieland pronto para estrear no final do ano. Marcado para dia 4 de Dezembro, o projeto vem sendo comentado desde meados do ano passado, quando Woody Harrelson, que anda reconstruindo sua carreira em papéis menores, embarcou para interpretar o caçador de zumbis da vez. No roteiro a quatro mãos da dupla Paul Wernick e Rhett Reese, responsáveis por shows de comédia como o The Joe Schomo Show e estreantes na tela de cinema, o personagem do ator se junta a um adolescente que encontrou no medo a maior ferramenta para a sobrevivência e a outros dois misteriosos andarilhos de um mundo dominados por zumbis e precisa decidir se a confiança vale a pena frente a sobrevivência. Dois meses depois de Harrelson aceitar o papel do caçador destemido, seu contra-ponto medroso foi materializado em Jesse Eisenberg (A Lula e a Baleia), que anda bastante ocupado nos últimos tempos. Dupla principal definida, os coadjuvantes foram aparecendo espontaneamente e acabaram atiçando ainda mais a curiosidade do público. Emma Stone, uma das garotas do super-sucesso Superbad, assinou para viver uma das andarilhas misteriosas, tendo a seu lado a pequena Abigail Breslin, que também ficou com a agenda cheia desde Pequena Miss Sunshine. O elenco ainda foi completado pela presença surpreendente de Bill Murray (A Cidade das Sombras), e pela participação da ucraniana Mila Kunis, vista recentemente em Max Payne. A primeira foto da trupe toda já foi liberada e figura aí em cima.

Um par de damas

Personagens de vidas duplas sempre foram um prato cheio para o cinema. Se pelo menos metade dos espiões cinematográficos devem seu charme a esse tipo peculiar de se estudar um personagem, ao menos outras dezenas de donas de casa já se revelaram muito mais interessantes ao atravessarem o batente de seus lares. Um pouco perdido na conversa? Projetos postos em questão: Lunch Lady e Secretariat. Cada um com suas peculiaridades, com suas histórias e com suas estrelas, mas unidos pelo expediente bem comum de conceder uma segunda vivência a personagens que, por uma visão simples, não seriam exatamente fascinantes. Comecemos do começo, então. Lunch Lady, como a maioria das grandes atrações futuras da grande Hollywood, é a adaptação de uma série em quadrinhos que, até agora, teve apenas seus dois primeiros exemplares lançados. A trama criada pelo autor de histórias infantis Jarrett Krosoczka foca na doce garçonete de uma cafeteria que age secretamente como uma agente do governo treinada para ajudar a polícia em suas investigações mais obscuras e misteriosas. Em suma, um filme de detetive para crianças com altas conspirações governamentais e uma estrela da comédia para os adultos. A estrela em questão, Amy Poehler, pode ter dado um grande passo rumo a consolidação de sua até então inconstante carreira cinematográfica ao aceitar o papel principal de uma produção bem mais vendável do que os quadros de humor ácido que costumava fazer no Saturday Night Live com a amiga Tina Fey, hoje estabelecida com sua 30 Rock. O roteiro também vem direto da televisão, onde a autora Emily Halpern trabalhou em episódios de The Unit e Private Practice, mas por enquanto não se sabe se o script cobrirá a trama dos quatro episódios previstos para a série no papel ou apenas a do primeiro tomo, Lunch Lady and the League of the Librarians. Em tom um pouco mais sério e com origens em uma história real, o segundo projeto que investe em uma vida paralela para sua protagonista é Secretariat, título provisório para a cinebiografia da Penny Chennery, célebre por ter se tornado a “primeira dama” da corrida de cavalos. Antes de tudo isso, Penny era uma dona de casa com uma vida aparentemente perfeita no contexto do american way of life, que viu sua vida mudar após herdar uma fazenda de seu falecido pai e se apaixonar pela bucólica paisagem do lugar, aprendendo progressivamente mais sobre as competições de cavalos. Saiu premiada e agora a Disney quer colocar essa história em película com seu clima familiar de sempre. Ponto para eles, que escalaram a talentosa Diane Lane (Noites de Tormenta) para estrelar a obra e têm Mike Rich (Encontrando Forrester) assinando o roteiro, enquanto Randall Wallace (Fomos Heróis) se encarrega da direção. Ambos os filmes devem chegar aos cinemas no início de 2011.

Direto de Marte

Dessa vez vai. Em desenvolvimento há quase meia década e experiente de pelo menos uma dupla de tentativas fracassadas, o projeto de filmar a clássica novela John Carter of Mars parece ter encontrado seu lar definitivo na Disney/Pixar. E é impossível negar a ousadia do brilhante Andrew Stanton, recém-saído da obra-prima Wall*e, em escolher um projeto tão complicado como seu primeiro filme em live-action. Afinal, o filme já passou por confusões nas mãos de Robert Rodriguez (Sin City) e Jon Favreau (Homem de Ferro), que viram os sonhos caírem pelo ralo por diversos problemas envolvendo o sindicato de cineastas americano e as exigências absurdas da Warner. Apesar da falta de segurança que o projeto ainda transpira para todos os lados, ao menos dessa vez parece que o estúdio do Mickey acertou nos cautelosos passos para levar uma obra tão cultuada para as telas do cinema. Primeiro, Stanton garantiu, enquanto desenvolvia por si próprio o roteiro, que o clima de realismo da prosa de Edgar Rice Burroughs, mais conhecido como o criador de Tarzan, seria mantida. Segundo ele, o filme “será como se a equipe do National Georaphic chegasse a uma civilização desconhecida enquanto explorava uma caverna”. Portanto, nada de exageros e pirotecnias dos arrasa-quarteirões, mesmo que as batalhas do livro prometam soar ainda mais fortes na grande tela. Em seguida, foi anunciado que o roteiro completo de Stanton passaria por uma revisão pelas mãos competentes de Michael Chabon, célebre por scripts do nível de Garotos Incríveis e Homem-Aranha 2. Dois meses depois da sábia decisão, os primeiros sinais de elenco foram surgindo como rumores pela Internet, quase despercebidos para quem não é de fato muito ligado em tudo que se passa na rede. A primeira notícia veio do lado feminino da trama, com a atriz Lynn Collins, vista recentemente como o par romântico do protagonista em Wolverine, publicando em seu Twitter a chamada “celebrando John Carter”, que levantou rumores sobre a atriz interpretando a princesa marciana Dejah Thoris. No mesmo dia, coincidentemente, primeiro anúncio oficial de escalação para o projeto veio da Disney, dando conta certa de Taylor Kitsch, outro dos coadjuvantes do filme do mutante de garras, na pele do papel-título, o de um veterano da Guerra Civil americana que é seqüestrado e levado a Marte, se tornando prisioneiro de um poderoso e maligno guerreiro. O terceiro integrante da lista veio em uma entrevista ao talk show de Jeffrey Lyons, onde o ator Thomas Haden Church (Homem-Aranha 3) confirmou estar trabalhando no projeto com a Disney e o diretor Stanton. Resta saber quantos mais astros o orçamento da toca do rato pode suportar.

Bom, gente, e por hoje é só isso mesmo… por enquanto, posso dizer que tenho uma crítica vindo por aí e estou até um pouco atrasado nas notícias, mas as provas da escola vem aí, então vai ficar meio difícil postar com tanta freqüência… mas assim que puder o farei, certo? Os melhores filmes para todos vocês e até a próxima!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (10/06/2009)

Classe A

Nada como um filme que faça jus a seu título. Ainda que não tenha a melhor das expectativas em seu encalço, o fato é que Esquadrão Classe A, vindoura adaptação da célebre série televisiva oitentista, tem escalado um time de primeira para trabalhar atrás e a frente das câmeras. Para quem não está familiarizado com o mundo das séries antigas, The A-Team estreou na NBC em 1983 como uma modesta produção sobre quatro veteranos de guerra que são acusados de um crime que não cometeram e saem pelos Estados Unidos ajudando inocentes enquanto escapam da cerrada perseguição militar. A trama prosseguiu por cinco temporadas até 1987, quando a série completou 97 episódios e saiu do ar como o maior sucesso da época e um dos maiores até hoje. O fato é que Esquadrão Classe A se tornou aquela espécie de série que acende a nostalgia nos mais velhos e ainda atiça a curiosidade das novas gerações, um verdadeiro cult duas décadas depois da transmissão de seu episódio derradeiro. Dito isso, a preocupação dos fãs é até compreensível, principalmente quando o primeiro esboço de projeto previa um diretor inexperiente, uma penca de sub-astros e um equivocado tom sério, mais próximo da ação saudosista de Missão: Impossível do que do pastiche que tornou a série o clássico que é até hoje. Foi só no começo desse ano, quase cinco depois da malfadada primeira tentativa da Fox em reviver o esquadrão, que o projeto tomou seu caminho. E talvez o grande responsável por esse novo rumo seja Joe Carnahan, que anda precisando de um sucesso de verdade depois de não cair nas graças da crítica com o estiloso A Última Cartada. Se tudo começou com o envolvimento do cineasta inglês, é inegável que a badalada dupla de roteiristas Michael Brandt e Derek Haas, versáteis responsáveis por filmes do nível de Os Indomáveis e Procurado, têm muito a ver com a intensa disputa de grandes nomes para integrar o elenco da adaptação. Os primeiros rumores após a finalização do roteiro, por exemplo, davam conta de Chris Pine, o capitão Kirk da encarnação mais recente de Star Trek, na pele de um dos coadjuvantes da série, o Capt. Murdock feito por Dwight Schultz (O Início do Fim) na encarnação original. Hoje, o nome envolvido com o personagem é o de Woody Harrelson, que aos poucos renasce na capital do cinema como coadjuvante valioso em filmes do naipe de Sete Vidas e Onde os Fracos Não Têm Vez. Ao lado dele, na pele do famoso Mr. T da série original, o rapper Common, dono de um personagem marcante em O Procurado, volta a desafiar seu próprio carisma. Enquanto isso, Bradley Cooper (Sim Senhor) assume-se como novo queridinho dos estúdios na pele do protagonista e Liam Neeson (Batman Begins) aposta no típico policial durão ao encarnar o Coronel Smith. Time de classe, temos que admitir, que deve chegar aos cinemas em 11 de Julho de 2010.

Recorde inesperado

O cinema não vive só de blockbusters, apesar de Hollywood freqüentemente tentar nos convencer do contrário. Uma enganação que não funciona mais em tempos que cinema independente se tornou um negócio lucrativo e, acima de tudo, um criador massivo de símbolos pop. Juno não custou nem 10 milhões de dólares e era o projeto pessoal de uma estreante promissora antes de se tornar o maior fenômeno cinematográfico dos últimos tempos. Pequena Miss Sunshine custou quase o mesmo, rendeu o dobro e ainda chegou ao Oscar com grande torcida por uma premiação. Cá entre nós, aliás, só não se pode prever o mesmo para The Hangover porque comédias descompromissadas e cheias de conteúdos duvidosos não são a especialidade da Academia. Mas que o filme de Todd Phillips (Starsky & Hutch) é o novo fenômeno da divulgação boca-a-boca, disso não há dúvidas. Sem nenhum grande astro no elenco, um moderado orçamento de 35 milhões e distribuição discreta da Warner Bros, o filme alcançou apenas em seu fim-de-semana de estréia a marca histórica de 44 milhões na bilheteria. Um recorde entre os filmes com classificação etária R, o que em terras americanas restringe o filme a maiores de 17 anos ou acompanhados pelos responsáveis. E a crítica também tem rasgado elogios ao filme, mais especificamente ao roteiro da dupla Jon Lucas e Scott Moore, responsáveis por outro dos hits dos últimos tempos, o romântico Surpresas do Amor. Dessa vez o foco deles foi para Las Vegas, onde quatro amigos comemoram a despedida de solteiro de um deles. Até aí nenhuma novidade, mas a confusão de verdade começa quando o quase-noivo desaparece na virada da noite e cabe ao trio remanescente reconstruir seus passos para reencontrar o amigo a tempo do casamento. O protagonista perdido é interpretado por Justin Bartha, conhecido pelos papéis coadjuvantes em filmes como A Lenda do Tesouro Perdido mas a estrela da vez é mesmo Bradley Cooper (Sim Senhor), que se junta aos amigos Ed Helms (The Office) e Jeff Galifianakis (Jogos de Amor em Las Vegas) para cumprir a missão e salvar o dia. Pelo caminho estarão animais ferozes, um bebê desconhecido, a polícia, dentes quebrados e um apartamento dos sonhos botado abaixo por uma noite que eles nem mesmo se lembram. Ah, e ainda tem Mike Tyson em uma ponta, interpretando a si mesmo, é claro. Você vai ser capaz de perder isso? The Hangover, batizado por aqui como Se Beber Não Case, deve estrear em 8 de Agosto.

Enfim, o vilão!

A Marvel anda de vento em popa, liberando novidades de seus vindouros e esperados filmes a todo o momento e atiçando a curiosidade dos fãs com revelações bem medidas para não provocar mais do que o necessário a legião de blogueiros fanáticos que já estragaram algumas das produções mais aguardadas da história. A verdade é que a expectativa talvez seja a parte mais empolgante. Por essas e por outras, não custa nada dar uma olhada nas maiores novidades direto do set de Homem de Ferro 2, continuação que deve chegar aos cinemas brasileiros quase uma semana antes de aportar nas salas americanas, em 30 de Abril do próximo ano. Desde que a primeira foto oficial de Tony Stark em seu laboratório foi liberada na rede, no começo de Maio, comentários, fotos e declarações foram o que não faltou para promover a aventura super-heróica que segue com a jornada do milionário portador de um problema do coração que veste uma armadura e relutantemente combate o crime. O roteiro de Justin Theroux (Trovão Tropical) pode provocar arrepios nos fãs de quadrinhos com a expectativa de múltiplos vilões e a forma de lidar com o reconhecimento mundial da identidade do herói. Tudo isso e mais Nick Fury, é claro. SHIELD e projetos futuros a parte, uma das mais esperadas aparições do novo filme é a de Justin Hammer, o rival de negócios de Stark e velho conhecido dos fãs de quadrinhos. Como bem assinalou Sam Rockwell (O Guia do Mochileiro das Galáxias) em entrevista a MTV, não se trata de um vilão convencional. Em suas acertadas palavras: “Justin não lutará contra Stark com um uniforme. Ele é o cérebro, não os músculos”. Seriam estes então os de Wiplash, vilão conhecido por aqui no Brasil como Chicote Negro? Se o forem, aí em cima está o primeiro aperitivo da forma de Mickey Rourke (O Lutador) em um dos papéis com maior visibilidade de sua carreira. Enquanto mistérios permanecem no ar, ao menos uma das expectativas do filme foi parcialmente descoberta pelo diretor Jon Favreau (Zathura), que retorna para comandar a segunda aventura do herói. Em entrevista a Empire, o cineasta falou sobre o conflito interno do protagonista, as conseqüências da pressão de ser um herói e um possível segundo uniformizado surgindo durante a projeção de seu filme: “É esperado que Tony seja um modelo, mas não acredito que ele esteja pronto. Ele está sob muita pressão e quando você está sob pressão você tem que achar uma válvula de escape. Esse é um dos dilemas do filme: uma coisa é falar que você é o Homem de Ferro, outra é você se transformar no Homem de Ferro. E digamos que Tony não será a única pessoa a lidar com tecnologia no filme”. Holofotes todos sobre Don Cheadle (Hotel Ruanda), o homem que assumiu o manto de James Rhodes, melhor amigo de Stark e futuro substituto do milionário quando este cai em problemas com álcool.

Super-cool

Mark Millar é um escritor de tiradas certeiras e ácidas, momentos de puro deleite pop e uma modernidade impressionante, sem comparativos no atual quadro de criadores de quadrinhos. Na ativa desde o começo da década passada, esse escocês tomou o holofote principal ao assumir o roteiro de diversos títulos da poderosa Marvel e ainda assim não deixou de lançar suas infalíveis minisséries em edições limitadas, sempre pérolas de humor e tours de force pela genialidade pop de seu autor. Kick-Ass, primeira dessas minisséries bancadas pela Marvel, não foi uma exceção. Lançada no começo do ano passado, a trama era sobre um adolescente que improvisa um traje de super-herói e sai as ruas realizando o sonho de qualquer nerd mesmo sem ter poder especial algum. Só como aperitivo para quem não conferiu: na primeira tentativa o garoto é massacrado, e na segunda vai parar no YouTube. Em seis edições, Millar foi livre para destilar sua ironia e sua observação cool e sagaz do mundo moderno ao seu redor. E de quebra ainda vendeu feito água e se tornou um dos ícones da nova geração de nerds. Agora, pouco mais de um ano depois do fechamento da trama, a única conclusão possível de se tirar é que Millar é um sujeito muito esperto. A bem da verdade, o projeto de filmar Kick-Ass surgiu quando a segunda edição ainda chegava as bancas e o badalado diretor Matthew Vaughn (Stardust) aceitou comandar a obra. De lá para cá, o hype de Kick-Ass só fez crescer e é inegável que o filme vai chegar aos cinemas nos próximos meses como um forte candidato a futuro cult. Com o roteiro a cargo do próprio Vaughn, como sempre ao lado da parceira Jane Goldman, o filme começou bem na cotação dos fãs ao escalar a revelação Chritopher Mintz-Plasse (Superbad) para interpretar o icônico vilão Red Mist, principal rival do protagonista. Para o papel principal, aliás, a produção acertou outra vez ao convocar o pouco conhecido Aaron Johnson, cujos trabalhos mais notáveis até hoje foram o protagonista do infantil O Senhor dos Ladrões e a ponta como o jovem Eisenheim em O Ilusionista. Se a confiança não é muita em relação ao garoto, ao menos ele está em boa companhia. Saído direto das filmagens apoteóticas da ficção científica Presságio e tocando o projeto ao mesmo tempo em que roda Aprendiz de Feiticeiro, Nic Cage crava outro personagem interessante na pele de um ex-policial vingativo que treina sua filha para ser uma arma mortal. De brinde, o filme ainda tem o astro em ascensão Mark Strong (RocknRolla) encarnando, só para variar, um chefão do crime nova-iorquino. Sinas a parte, as primeiras fotos empolgaram ainda mais os fãs e de uma hora para a outra Kick-Ass se tornou o filme mais esperado do ano. Ficou curioso? Quer saber mais? Vá para o Google e junte-se aos nerds.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… notícias boas para os fãs de quadrinhos e das comédias… e de séries antigas! Um dia cheio hoje, mas arranjei um tempo para juntar essas pequenas novidades do mundo do cinema para vocês… então vou ficando por aqui mesmo. Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Anjos & Demônios – Há males que vem para o bem… conspiração, superação e suspense em pleno Vaticano

Anjos & Demônios (Angels & Demons, EUA, 2009).

De: Ron Howard.

Com: Tom Hanks, Ewan McGregor, Ayelet Zurer, Armin Mueller-Stahl, Stellan Skarsgard.

138 minutos

Cinema não é feito para passar informação, apesar de não raro ter uma mensagem atrelada as suas imagens. Por mais que um filme pretenda retratar uma situação que facilmente poderia figurar na realidade ou de fato o tenha, por mais que seja a vontade de realizar uma obra realista, não são informações jogadas ao vento e ao acaso que serão o fato decisivo para envolver uma platéia, o espectador. Isso porque cinema não é, nem nunca será, realidade, por mais que as imagens em movimento possam repercutir com força nela. Informação pura e simples, nua e crua, sem nenhum contexto emocional ou uma competente ambientação de entretenimento, não passa de minutos desperdiçados para descobrir coisas que serão esquecidas minutos depois. Talvez esse tenha sido o maior erro de O Código da Vinci, adaptação cinematográfica produzida em 2006 para o mega-best-seller do americano Dan Brown. A história do simbologista Robert Langdon descobrindo um segredo milenar ao lado de uma agente do governo francês e um milionário britânico funcionava perfeitamente como leitura rápida, densa e fascinante no papel. Mas isso porque havia espaço o bastante para a quantidade mesmerizante de informações na prosa do autor e para o desenvolvimento de personagens que chegavam as últimas palavras como velhos conhecidos. Na adaptação, porém, a informação foi prezada muito acima do contexto emocional dos protagonistas, criando uma jornada orgânica que pouco conseguia instigar ou entreter com sua narrativa arrastada e congestionada de curiosidades facilmente esquecíveis. Nem mesmo o talento de um ator do nível de Tom Hanks (Náufrago) foi capaz de transformar Langdon em um homem de verdade em meio a tanta confusão e a uma jornada tão mística. De fato, muitos dos coadjuvantes terminaram mais familiares do que a dupla de protagonistas, completada por uma perdida Audrey Tatou (O Fabuloso Destino de Amélie Poulin). Pois bem, cá estamos, três anos, mais de 700 milhões de dólares em bilheteria ao redor do mundo e muita expectativa depois, para atestar mais uma vez que erros servem para alguma coisa, no final das contas. Anjos & Demônios ainda não de forma alguma um filme perfeito, mas é impossível negar que talentos renasceram das cinzas para dar uma forma muito mais acertada a essa segunda investida de Langdon nas telas. Afinal, se ainda continuamos a caminhar é porque um dia já tropeçamos. Todos nós erramos, faz parte do que nos faz cada vez melhores. Seja você cínico ou inocente, não custa nada dar uma nova chance a Ron Howard, Hanks e companhia. Mesmo que a Igreja diga o contrário.

Polêmicas, permissões de filmagem e tramas heréticas a parte, a verdade é que a adição de mais um nome na elaboração do roteiro de Anjos & Demônios talvez seja a mudança mais acertada na criação progressiva de um novo rumo para a franquia estrelada pelo professor mais famoso do nosso século. Dessa vez, temos o sempre competente Akiva Goldsman (Uma Mente Brilhante), que havia escorregado no filme anterior, em pleno domínio de sua eficiente condução de trama, levando o personagem por uma jornada que consegue ser linear, convencional, impactante e surpreendente a um único tempo. Um trabalho infinitamente superior ao predecessor, mas talvez boa parte do crédito deva ir para o versátil David Koepp (O Quarto do Pânico), que injeta suspense, energia e um andamento mais corrido a um roteiro que não se esquece de parar para contemplar aos poucos os dilemas de seu protagonista. Aqui, Langdon ganha em humanidade ao ser confrontado por um conflito interior extremo enquanto se envolve, como sempre, em uma das maiores conspirações da história da humanidade. De certa forma, trata-se de um processo inverso ao que ocorreu em Da Vinci. Em Anjos & Demônios, o foco é tão concentrado no professor de Harvard que de certa forma os coadjuvantes se tornam figuras borradas que circulam em torno de Langdon, um caçador de furacões que não tem culpa de estar presente em momentos tão cruciais. Dessa vez, os ventos fortes nos quais Langdon se perde miram seu olho para o pequeno mundo da cidade do Vaticano, sede-maior da administração da Igreja católica, um país dentro de uma cidade e, como bem observa um dos coadjuvantes no início, “um pesadelo de jurisdição”. O papa morreu, o Conclave dos cardeais para decidir o sucessor do falecido está prestes a começar e a polícia do Vaticano recebe uma ameaça sem precedentes. Os quatro prefiriti, os favoritos para serem eleitos Sumo Pontífice, foram seqüestrados pelos Illuminatti, lendários inimigos dos atrasos da Igreja Católica, e o seqüestrador promete matar um por um, em praça pública, até a meia-noite, quando uma bomba escondida em algum lugar nos raio de quilômetros consumiria toda a cidade. É aí que entram Robert Langdon, chamado por um capitão da polícia para desvendar as mensagens da ameaça, e Vittoria Vetra, uma bióloga marinha que se viu envolvida no assassinato de um físico do laboratório mais avançado no mundo, na Suíça. O local em questão, não por acaso, registrou o roubo de um tubo de antimatéria, o material mais delicado e explosivo conhecido pelo homem, produzido pela primeira vez em pequena escala pelo acelerador de partículas do local. O elemento final é o Camarlengo Patrick McKenna, ex-secretário pessoal do papa falecido que se vê no cargo de poder maior dentro da Igreja enquanto os cardeais não saírem de sua clausura. Resta ligar os pontos, tarefa que o roteiro escrito a quatro competentes mãos faz com desenvoltura impressionante para quem se lembra da confusão de Da Vinci.

Se o pecado maior do roteiro foi consertado com a simples adesão de mais um elemento para tornar a fórmula vitoriosa, a mesma sorte não teve o diretor Ron Howard, que saiu da nominação ao Oscar pelo verbal Frost/Nixon direto para uma superprodução cheia de impacto visual e estilo muito menos sutil que o equilíbrio de forças da entrevista do ex-presidente americano. A verdade é que Howard, apesar de todas as objeções dos críticos de plantão, é um bom diretor. Mesmo nas tomadas mais equivocadas de Da Vinci, sua câmera fazia o que podia para se confrontar com o roteiro apressado, imprimindo um pouco de elegância aos cortes e movimentos, ainda que o visual soasse equivocado a todo o momento. Aqui, a história é outra, mesmo porque a mudança de cenário é quase nula perto do tour pela Europa que a aventura anterior promovia. Filmando em um único ambiente e na maioria das vezes em “locações camufladas”, Howard manipula o ambiente com competência impressionante, seja ao coordenar a épica seqüencia da multidão na praça de São Pedro ou imprimindo um filtro sufocante na bem montada seqüencia em que Langdon fica preso sem oxigênio nos arquivos do Vaticano. Se controlando a ambientação Howard faz um trabalho exemplar, porém, é impossível negar que dessa vez sua câmera está menos inspirada e até repetitiva. Em alguns momentos chega a irritar e atrapalhar o envolvimento a forma como o diretor parece ter adquirido uma fascinação incurável por giros, deslizes e suportes. Até mesmo nos momentos íntimos, raros e ainda assim competentes por parte do roteiro, Howard dá a impressão de estar filmando a um mundo desabar. Não que de certa forma ele não esteja, é claro, mas tamanha convicção em apenas um estilo de direção é capaz de cansar e quebrar a concentração até do espectador mais compenetrado. Os movimentos são tão persistentes que até entram na frente dos atores de quando em quando. E não dá para negar que eles estejam bem melhores com um bom roteiro para guiá-los. Tom Hanks mostra mais uma vez que é capaz de construir uma atuação notável mesmo quando ofuscado por uma trama de escopo global. Seu Langdon aqui está mais forte do que no primeiro filme, mais definido e muito mais interessante. Crédito tanto para o roteiro quanto para a atuação concentrada e detalhista do astro. A israelense Ayelet Zurer (Ponto de Vista) pode não ser tão boa e significativa companhia quando Audrey Tatou em Da Vinci, mas faz o que pode com seu pouco tempo de tela. Também desse mal da pouca significância sofre Armin Mueller-Stahl (Senhores do Crime) na pele do cardeal mais velho, mas o veterano ainda consegue se destacar com uma interpretação a altura dos mestres a manipulação de massas. O mesmo pode se dizer do sueco Stellan Skarsgard (Piratas do Caribe) ao encarnar o comandante-maior da polícia vaticana, um suspeito a primeira vista que o ator tira de letra com a desenvoltura de sempre. A bem da verdade, porém, o show é todo de Ewan McGregor (A Ilha), um barril de pólvora manso prestes a estourar a cada cena, uma atuação que chega ao limite para nunca mais fazer o caminho de volta e uma construção de personagem no nível de atores veteranos e consagrados. Seu Camarlengo é a força, o combustível e a figura mais fascinante em um filme que, no final de seus 138 minutos, deixa na lembrança o quão fraca pode ser a índole humana. E, é claro, são duas horas de entretenimento de primeira. Cá entre nós, muito mais do que Da Vinci teve para nos oferecer.

Nota: 7,5

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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (08/06/2009)

Célebre engenheiro

É notável o que um arrasa-quarteirões é capaz de fazer pela carreira de um ator em Hollywood. Britânico, na ativa há quase quinze anos e colecionando elogios da crítica e de um seleto público desde que seu Todo Mundo Quase Morto se tornou o besteirol queridinho dos especialistas em 2004, Simon Pegg só conseguiu mesmo escancarar as portas dos grandes estúdios quando foi escalado pelo amigo J.J. Abrams (Missão: Impossível III) para o posto principal da engenharia da renovada Enterprise que chegou aos cinemas americanos no último 08 de Maio. No papel do engenheiro Montgomery Scott, Pegg assumiu com propriedade o manto que fora do estigmatizado James Doohan, cuja carreira fora da série se resume a participações especiais em produções de segunda categoria. É claro que Pegg, sendo um cara esperto como é, não se deixaria cair no mesmo destino, e já emendou uma nova loucura pessoal para seguir a ascensão a fama. O projeto em questão, intitulado Paul, segue a linha das obras anteriores idealizadas por Pegg e seu parceiro Nick Frost (Penélope), se utilizando de uma trama tipicamente clichê para quebrar todo e qualquer paradigma do gênero em que se metem. Se terror e ação já ficaram para trás, a bola da vez para a dupla são os filmes de extra-terrestres. O personagem título é o alien que cruza o caminho de dois amigos fanáticos por quadrinhos que atravessavam o país para chegar a Comic Con, maior convenção do gênero no mundo. É claro que, aproveitando a oportunidade, Paul pede ajuda aos dois para retornar ao seu planeta natal. A sinopse promete, mas talvez sejam as novidades na trupe de Pegg que empolguem mais. Além do habitual parceiro, o inglês se juntou o badalado comediante Seth Rogen (Segurando as Pontas), que trouxe a reboque o diretor Greg Mottola, responsável pelo cultuado Superbad, assumindo seu terceiro projeto em três anos para compensar quase uma década trabalhando em episódios isolados de séries de TV de curta duração. Além de Rogen e seu parceiro cineasta, Pegg ainda reuniu para Paul os talentos de Bill Hader, conhecido por aqui como o parceiro de Will Ferrell em Escorregando Para a Glória, e Jason Bateman, que vem enfileirando uma boa série de sucessos sérios comerciais e críticos no naipe de Hancock e O Reino, mas ainda é um dos mais inteligentes comediantes em atividade. A cereja no bolo para um elenco tão excepcional? Coadjuvante de ouro da última safra de comédias americanas, Sigourney Weaver deve mais uma vez meter-se entre os maiores talentos da nova geração para participar do filme como uma antiga conhecida humana do protagonista alienígena, que será todo construído em CGI e receberá a voz de Rogen. Paul está sendo filmado no Novo México, onde se localizaria a lendária Área 51, antiga conhecida dos cinéfilos de plantão.

Refilmagem perturbadora

Os primeiros anos da década de 1990 foram um verdadeiro celeiro para filmes subversivos e quebradores de tabu se tornarem sucesso e catapultarem a carreira de seus astros e diretores. Instinto Selvagem escancarou uma sexualidade aberrante e atraente a um tempo e ainda conseguiu tempo para promover um bem-vindo retorno as tradições mais enraizadas do suspense cinematográfico. Transpoitting tratou o mundo das drogas com humor culpado, mas não se esqueceu de mostrar o poço de depressão em que vive quem se arrisca nesse degradante vício. E, só para finalizar a lista, Pulp Fiction tornou tudo isso o mais cool possível, além de um show de roteiro e bom cinema. O que pouca gente esquece é que Vício Frenético também merece seu lugar nessa trilogia de ouro aí em cima. Para quem não conhece, basta dizer que o filme foi assinado por Abel Ferrara entre a ascensão a fama com O Rei de Nova York e a ruína com Invasores de Corpos, e que tinha Harvey Keitel, hoje conhecido por papéis coadjuvantes em filmes como A Lenda do Tesouro Perdido, mas a época com toda a aura de astro, na pele do imoral protagonista, um policial corrupto e viciado que investiga o estupro de uma freira em uma Nova York distópica e futurista enquanto tenta se redimir de seus erros. Brutal e sutil a um tempo, o filme garantiu a época seu lugar ao Sol como uma espécie de cult instantâneo, mas os anos se passaram e, ao contrário de seus colegas citados no começo do texto, Vício Frenético foi esquecido. Ou ao menos pela maioria esmagadora do mundo. William Finkelstein, criador e roteirista regular de séries televisivas do calibre de NYPD Blue e Law & Order, por acaso, não faz parte dessa maioria. Sem nenhuma experiência em longas-metragens para o cinema, o premiado roteirista escreveu Bad Lieutnaut: Port of Call New Orleans, que provocou burburinho quando foi anunciado devido ao título, o mesmo do filme de Ferrara no original em inglês. Os fãs do original e o próprio diretor não demoraram a expressar sua desaprovação poucos dias depois de Werner Herzog (O Sobrevivente) aceitar materializar o roteiro para a Millenium Films e anunciar que Nicolas Cage (Presságio) como seu preferido para assumir o papel do protagonista. A polêmica esquentou depois que Herzog categoricamente afirmou que o projeto em que estava envolvido não era, de forma alguma, uma refilmagem. Segundo ele, “o protagonista e a história são completamente diferentes”. Seguindo em frente, Herzog escalou Eva Mendes (Motoqueiro Fantasma) e Val Kilmer (Déja Vu) para papéis coadjuvantes, e ainda contou com a adesão do rapper Xzibit (Arquivo X). Apesar de toda a polêmica e da sinopse guardada a sete chaves, ao que parece o mundo noir construído por Herzog tem mesmo pouco a ver com o que Ferrara fez em 1992. Bad Lieutnaut tem distribuição garantida no Brasil, mas não houve uma data definida.

Um novo conde

olaf

Eu posso não estar isento do sentimento de um fã nesse caso, mas é fato consumado pela imensa maioria dos críticos literários por aí que Desventuras em Série é o trabalho de um gênio. A série de treze livros infanto-juvenis assinados por Daniel Handler sob o misterioso e genial pseudônimo de Lemony Snicket pode ter tido seu último capítulo publicado em 2006, mas continua mais do que viva na imaginação dos fãs e, como não poderia deixar de ser, dos executivos de Hollywood. A bem da verdade, a vida sombria dos órfãos Baudelaire já ganhou uma vez a grande tela, exatamente meia década atrás, em uma superprodução comandada por um diretor testado e aprovado entre o público jovem e um nome mais forte impossível no topo do cartaz. Desventura das desventuras, o filme foi contra o que se esperava e não agradou o público em massa que não estava acostumado com o estilo irônico da série e estranhou tamanha treva e teatralidade em um filme de fantasia que, heresia, não tinha um final feliz. E talvez nunca viesse a ter. A verdade é que Desventuras, o filme, não mereceu o destino que teve. Tratava-se de uma adaptação fiel ao clima dos livros, que limava e mudava muitos detalhes mas nem por isso se acovardava em ser a espécie estranha que tanto vendeu nas prateleiras das livrarias. Tudo isso graças a direção equilibrada de Brad Silberling (Gasparzinho) e a tradução perfeita de Jim Carrey (Sim Senhor) para o repulsivo e irresistível Conde Olaf. A verdade é que Desventuras era diferente demais para a máquina comercial que se tornou o cinema. Ou ao menos naquela época. Sim, pois cinco anos mudam muita coisa no século da velocidade de informação, e não é para se subestimar anos em que tivemos a súbita glorificação do cinema independente, uma obra britânica com alma indiana vencendo o Oscar e até um filme de super-heróis, pura diversão fútil, se tornando o melhor exemplar de cinema do ano. Pois bem, o mundo está pronto para o verdadeiro Desventuras. Ainda mais estranho, ainda mais sombrio, mas cima de tudo... diferente. Foi no início do mês que o diretor Brad Silberling acendeu uma esperança nos fãs da série ao comentar pela primeira vez sobre uma continuação para o filme de 2004. E ele disse mais: “Acredito que exista a chance da continuação receber um formato completamente diferente da primeira versão. Handler e eu conversamos sobre fazer cada filme com um suporte diferente, mas são só projetos. No momento estou tentando negociar com a Paramount a possibilidade de fazer o segundo filme em stop-motion”. Resta saber se o projeto vai para frente dessa vez, e quando poderemos conferir o resultado. Que Desventuras não precise mais ser tão desventurado quanto seus protagonistas.

Em time que está ganhando...

Era mais do que óbvio que os X-Men não sobreviveram ao mar de mortes que o terceiro capítulo da trilogia mutante promoveu dentro do grupo. Ou ao menos que não voltariam as telas de cinema no mesmo formato. X-Men 4 pode ser um sonho impossível, mas como certo mutante com garras bem demonstrou há alguns meses, nada impede que o grupo retorne aos poucos para as salas de projeção. Sucesso de escala mundial, X-Men Origens: Wolverine abriu as portas para que os mutantes invadam a programação dos cinemas nos próximos anos. Afinal, a Fox não é burra o bastante para simplesmente deixar para trás a maior franquia que tem nas suas fileiras. E como a ordem é seguir forrando os cofres do estúdio, ao menos outros dois filmes baseados em alguns aspectos das aventuras do super-grupo mutante devem sair do forno ainda no próximo ano. O primeiro, como muita gente deve ter adivinhado no final da projeção do filme do mutante canadense, é o filme-solo do mercenário Deadpool, interpretado em um par de cenas decisivas por Ryan Reynolds (Três Vezes Amor). O astro anda envolvido no filme do mercenário desde 2004, quando ainda era um coadjuvante de luxo em comédias de terceira categoria prestes a subir na vida hollywoodiana. Hoje um nome consolidado e pronto para estampar o topo de qualquer cartaz, Reynolds parece mais seguro de si mesmo quanto a vontade de encarnar o personagem em uma aventura-solo. Por enquanto, o projeto não tem nem ao menos uma trama, que dirá um roteirista e menos ainda os companheiros de elenco de Reynolds para a empreitada, apesar de algumas presenças garantidas ao menos em pequenas pontas, como assinala a história do personagem que nos foi apresentada superficialmente no filme de Gavin Hood (O Suspeito). Outro projeto com mutantes poderosos que ainda está em estágio de desenvolvimento primário é X-Men: First Class, espécie de “pré-continuação” ao primeiro filme do grupo, assinado por Bryan Singer (Operação Valquíria). A trama sobre o primeiro super-grupo treinado pelo professor Xavier, ao menos, já tem um roteirista garantido na ficha técnica e alguns intérpretes da série anterior demonstrando seu interesse. O roteiro está sendo redigido por Josh Schwartz, conhecido no mundo da televisão como o criador das séries The O.C., Chuck e Gossip Girl. Já quem se mostrou interessada em reprisar o papel foi Anna Paquin, a Vampira da trilogia e atual atriz principal da série True Blood. Ambos os filmes devem chegar aos cinemas entre 2010 e 2011.

Nota de luto: David Carradine

Família pode ser algo importante dentro do jogo cruel de Hollywood, mas não é um nome famoso que vai garantir o lugar de alguém no rol de grandes atores da história do cinema. David Carradine nasceu dentro dos muros da capital do cinema, ao oitavo dia do último mês do ano de 1936, e seu pai era nada mais nada menos que um dos atores mais prestigiados e adorados de sua época. John Carradine foi muito provavelmente o homem mais versátil da história da atuação cinematográfica, coadjuvante eficiente de filmes como Ingratidão e As Aventuras de Huckleberry Finn, protagonista clássico e brilhante em encarnações lendárias de personagens shakespearianos. Foi tentando lidar com essa pesada herança que David, o filho, começou a ensaiar os primeiros passos na própria carreira cinematográfica. Chegando a trabalhar com Martin Scorsese pouco antes do ítalo-americano ascender a fama, Carradine achou mesmo seu lugar na TV, onde se tornou um ícone na pele do pacífico mestre das artes marciais Kwai Chang Caine, protagonista da série Kung Fu, um clássico de três temporadas entre 1972 e 1975. Foi apenas um ano depois de deixar para trás o personagem que o fizera uma lenda que Carradine demonstrou seu verdadeiro talento, cantando na biografia-faroeste Esta Terra é Minha Terra. Comandado por Hal Ashby (Shampoo), David acumulou prêmios da crítica e ainda saiu-se com a primeira indicação ao Globo de Ouro fora de trabalhos televisivos. A carreira prosseguiu com certo vigor até 1980, quando mais uma vez foi aclamado pela crítica por sua atuação no drama western de Walter Hill (The Warriors), A Cavalgada dos Proscritos. Três anos depois David seguiu a tendência de sua época e estreou na direção, vencendo o prêmio do público em Cannes pelo trabalho em frente e atrás das câmeras do road-movie Americana. Para a surpresa de todos os fãs, porém, Carradine acabou por cair no mesmo filão de filmes de ação de terceira categoria que outros tantos astros dos anos 1980, mas foi esperto o bastante para se garantir num terreno já conhecido e ressuscitar seu ícone em Kung Fu: A Lenda Continua, que teve quatro temporadas entre 1993 e 1997. Apesar da momentânea recuperação, o verdadeiro talento de Carradine foi visto em seu auge quando o diretor Quentin Tarantino (Pulp Fiction) o chamou para encarnar o personagem título de sua saga em duas partes Kill Bill. Em uma atuação hipnotizante, Carradine criou uma outra lenda e, mesmo que o título anunciasse o final de seu personagem, nunca houve tanta emoção no ato de ver um vilão dar seus últimos passos. Ou seria ele um herói? David, sabiamente, não nos deixou descobrir e levou a última indicação ao Globo de Ouro. O ato foi encontrado enforcado dentro de um armário de hotel em Bangkok, na Tailândia, em 03 de Junho. Deixou um trabalho não-finalizado, dois filhos com ex-mulheres e a esposa atual, que o acompanhava desde 2004. Bill tinha 72 anos.

Em memória de David Carradine *08/12/1936 +03/06/2009

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… De fato foi um choque receber a notícia do falecimento desse grande ator que foi David Carradine… mas a vida, e o cinema, continuam e o Boletim Cinéfilo está de volta, finalmente, depois de uma boa ausência… vou tentar sempre manter a constância com as notícias, mas vocês sabem como é cansativo o dia-a-dia… enfim, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Especial: Festival de Cannes 2009 – Crise, audácia e puro cinema na riviére francesa

O Festival de Cannes surgiu de uma ação audaciosa, arriscada até, de um homem que queria separar arte de política e, especialmente, de guerra. Este homem se chamava Jean Zay, o último ministro da educação francês a tomar posse antes da invasão alemã durante a Segunda Guerra. Antes de ser deposto e morto por militantes, porém, Zay se viu chocado com a interferência do fascismo na seleção de filmes para o Festival de Veneza, hoje um dos maiores do circuito, e decidiu criar um evento cinematográfico mundial sediado na França. É claro, os planos de criar uma festa para o cinema mundial em terras Aliadas ficou para depois quando os alemãos invadiram a França e o restante da Europa oriental, e apenas por volta em 1946, após a derrota do III Reich, é que o festival foi ressucitado.

Pode parecer estranho para quem vê a Palma de Ouro, maior prêmio do festival, como algo definitivo demais, mas o primeiro grande prêmio de Cannes foi repartido entre nada menos que onze produções de nacionalidade diferentes. A seleção, ao passar do tempo, foi naturalmente se afunilando, mas o troféu foi dividido pelo menos outras oito vezes ao decorrer desses 62 anos em que Cannes tomou o posto de maior festival do mundo em termos de cinema e ponto de encontro de todo o tipo de gente envolvida na sétima arte, dos astros de Hollywood ao diretor mais inexperiente. Em suma, é um ponto de encontro para quem tem talento e vontade de contribuir para o crescimento da arte de contar histórias através da imagem e do movimento. Não importa o status, Cannes é o lugar do notável, do espetacular e do fantástico. Duas semanas de sonho para qualquer cinéfilo. É melhor ficar de olho aberto.

Antes…

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Começou-se a falar de Cannes 2009 já no segundo dia do ano, quando o primeiro comunicado dos oragnizadores do Festival veio para, mais do que apenas definir a presidente do júri da edição, selar um namoro antigo que já havia rendido dois prêmios em edições anteriores. A atriz francesa Isabelle Huppert, conhecida do público brasileiro pelo trabalho em 8 Mulheres e na comédia Huckabees, já levou para casa dois troféus de melhor atriz concedidos pelo célebre festival francês, o mais recente pelo desempenho em A Professora de Piano, filme do austríaco Michel Haneke (Caché). Ao receber a notícia, Isabelle deu o seguinte pronunciamento: “Estou muito feliz e orgulhosa. A história entre mim em Cannes é antiga e isso selará definitivamente meu amor pelo festival e pelo cinema mundial”. Adepta dos filmes independentes e constante parceira de cineastas estreantes, a escolha de Huppert para fazer a seleção de filmes a serem exibidos e ainda organizar as votações para os prêmios do ano demonstrou, como disseram quase todos os cinéfilos e críticos por aí, a vontade obstinada que Cannes sempre teve para permanecer atual e relevante. Ao lado dela no júri foram mais tarde anunciados os nomes das atrizes Asia Argento (A Última Amante) e Robin Wright-Penn (A Lenda de Beowulf), dos cineastas Nuri Bilge Ceylan (Três Macacos), Lee Chang-Dong (Sol Secreto) e James Gray (Os Donos da Noite).

É de fato uma pena que a escolha de Huppert tenha vindo em uma época tão complicada para esse tipo de festa do entretenimento, que por algum motivo tende a funcionar melhor quando o mundo não está alarmado por uma crise financeira global. A preocupação, para Cannes, não chegou a se refletir na seleção de filmes e certamente não será fator decisivo para a concessão da Palma de Ouro, mas acabou colocando os organizadores do festival em estado de alerta. Tanto que, em Abril, três meses depois do começo das novidade sobre o Festival, foi liberada na Internet a notícia de que Cannes 2009 seria dominado pela sobriedade e pela ponderação no glamour, uma vez que pela primeira vez o festival não conseguiu patrocínio, público ou particular. Os hotéis, a época, já estavam lotados para a ocasião, mas mesmo o maior dos eventos cinematográficos é incapaz de escapar de um crise que afeta todos os ramos e segmentos da economia. Ainda assim, para que gosta de bom cinema, Cannes continua sendo o mais perto do paraíso que se pode alcançar. Com ou sem crise.

Prova disso é o grande evento para os sites especializados no qual se transformou o progressivo anúncio da seleção de filmes para o ano, que começou com o anúncio de Up – Altas Aventuras, novo longa da Pixar, como o primeiro filme em animação a abrir o festival. E mais, a obra também marca a primeira exibição em 3D feita em qualquer festival de cinema do mundo. O diretor geral do festival, Thierry Frémaux, se pronunciou sobre o assunto: “Estamos muito felizes de que um filme em 3D abra o Festival de Cannes, já que se trata de uma das aventuras que o cinema oferecerá em um futuro próximo. Além disso, estamos orgulhosos de receber o estúdio Pixar, seu brilhante universo, seus diretores e seus produtores talentosos”. No anúncio das outras obras que comporiam as duas semanas de festival, Cannes surpreendeu e entregou o esperado na mesma medida, selecionando diretores consagrados e outros nem tanto para competir pelo prêmio principal. A produção mais esperada da lista principal é “Inglorious Basterds”, nova obra de Quentin Tarantino (Kil Bill), ambientada no contexto da Segunda Guerra e estrelada por Brad Pitt (Benjamin Button), mas vários outros diretores com história em Cannes estão na seleção. Os destaques:

- Pedro Almodóvar, que concorreu por Volver e até ganhou o prêmio de melhor diretor por Tudo Sobre Minha Mãe, retorna três anos depois, e de novo ao lado de Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona) com o drama Los Abrazos Rotos, sobre um homem que cai em depressão após perder a mulher em um acidente de carro.

- Jane Campion, conhecida por aqui como a diretora de O Piano e primeira mulher indicada a um Oscar na categoria de direção, volta treze anos depois de vencer a Palma de Ouro pela obra já citada e tem notoriedade garantida com Bright Star, drama romântico sobre o romance de uma mulher com o poeta John Keats no século XIX.

- Isabel Coixet, cujo primeiro trabalho hollywoodiano, o suspense Fatal, foi lançado em DVD por aqui, é a estreante da vez no festival francês e chega com um thriller dramático sobre um vendedor de peixes que trabalha também como assassino profissional. Map of the Sounds of Tokyo é estrelado por Rinko Kikuchi (Babel).

- Michael Haneke, que tem três indicações a Palma de Ouro e levou um trio de troféus secundários em 2005 por seu suspense psicológico Caché, voltou a Áustria e filmou The White Ribbon, drama pesado de guerra sobre o fascismo e como ele afetou a educação na Alemanha da época da Primeira Guerra.

- Ang Lee, que por incrível que pareça tem apenas uma nominação, e por Tempestade de Gelo, retorna com força e polêmica ao contar a história do lendário Festival de Woodstock, o auge da filosofia hippie. Taking Woodstock conta com um elenco estrelado se arriscando em papéis polêmicos e provocou reações contraditórias nas primeiras exibições públicas.

- Ken Loach parte para sua nona indicação a Palma de Ouro e vem forte a vitória de Ventos da Liberdade em 2006. Looking for Eric soa como o tipo de filme motivacional que Gus Van Sant faria nos anos 1990, a história de um jovem jogador de futebol que encontra um lendário craque do passado e descobre que ainda tem muito o que aprender.

- Chan-Wook Park, o homem que acordou a Coréia do Sul para a produção cinematográfica e viu sua “trilogia da vingança” explodir mundo afora, volta ao seu ambiente de suspense e chega com Thrist cotado como um dos filmes mais esperados da seleção. A história é boa: um homem de fé é transformado em um vampiro ao servir de coabaia para um experimento científico.

- Lars Von Trier, o diretor mais polêmico e controverso do mundo, resolve provocar ainda mais furor ao imaginar o mundo governado pelo Demônio em pessoa e ainda coloca Willem Dafoe (Homem-Aranha) para interpretá-lo. O resultado é Antichrist, oitava indicação do cineasta a Palma de Ouro e terceira depois da vitória por Dançando no Escuro.

Uma lista de destaques bem grande para uma seleção oficial de vinte filmes, mas é fato que Cannes sempre trouxe o que há de mais fino, mais esperado e ao mesmo tempo mais alternativo no cinema. É claro, o festival não se resume a lista do prêmio principal, e Cannes 2009 reserva algumas surpresas fora da competição. Na seleção Um Certo Olhar, por exemplo, está À Deriva, novo filme do brasileiro Heitor Dhalia (O Cheiro do Ralo). Selecionado pela primeira vez para um festival internacional, Dhalia se pronunciou encantado: “Cannes é Cannes. Quem gosta de cinema sabe o que esta palavra significa. Estou muito, muito feliz em ter meu filme selecionado para o festival. A sensação é até meio surrealista. É como estar em um filme do Fellini”. De última hora, Um Sol Alaranjado, longa de estréia de Eduardo Valente que fez sucesso na mostra paralela no ano anterior, foi incluído na lista de sessões especiais. Lá também estão quatro curtas tupiniquins, dois da diretora Vera Egito, que participa da abertura (com Elo) e do fechamento (com Espalhadas pelo Ar) dos trabalhos em Cannes. Ao lado dela, Thiago Ricarte e seu Chapa são os representantes brasileiros na mostra de universitários. E Renata Pinheiro e seu Superbarroco participam da Quinzena dos Realizadores. Sob essa denominação, aliás, um par de outras surpresas apareceram no festival.

A primeira é a comédia I Love You Philip Morris, estrelada por Jim Carrey (Sim Senhor) e pelo brasileiro Rodrigo Santoro (Carandiru), sobre um casal gay que desafia a lei para permancer junto. A segunda é o novo filme do consagrado Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão), a saga familiar noir e auto-biográfica de Tetro, estrelado pro Vincent Gallo (Desejo Insaciável). A seleção de destaques fecha com The Imaginarium of Doctor Parnassus, nova obra de Terry Gilliam (Os Doze Macacos) e famoso “último filme” do falecido Heath Ledger, que precisou ser substituído por quatro outros atores para que o fim das filmagens. Ao lado de Parnassus fora de competição está Agora, novo longa de Alejandro Amenábar (Os Outros), estrelado dessa vez por Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel). Michel Gondry (Rebobine, Por Favor) também leva sua última obra, o documentário The Thorn in My Heart, para o boulevard francês.  E, por fim, Sam Raimi (Homem-Aranha) é o herói maldito do festival com seu novo Drag me to Hell, que fará parte da famosa “sessão da meia-noite” de Cannes. O Festival, que foi marcado para começar dia 13 de Maio e terminar dia 24, seria fechado com a estréia do esperado Coco Chanel & Igor Stravinsky, o filme que conta o caso de amor entre a famosa estilista e o célebre bailarino. Onze dias, dezenas de filmes e flashes sem parar para os astros que passariam pelo tapete vermelho. Cannes 2009 estava bom antes mesmo de começar.

Durante…

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Aconteceu muita coisa em Cannes. Entre astros desfilando no tapete vermelho, obras autorais dividindo espaço com grandes estréias e coletivas de imprensa explosivas ao final de cada sessão, o festival foi provavelmente o centro do mundo cinematográfico durante os breves 11 dias durante os quais a cidade francesa recebeu atores, diretores, roteiristas, produtores, representantes de estúdios e jornalistas do mundo inteiro. Hollywood, por pouco tempo, ficou para trás e parecia que todas as notícias que valiam a pena ser lidas vinham de Cannes. Declarações de gente equilibrada e outras nem tanto, polêmicas que repercutiram nos noticiários e nas rodas cinéfilos mundo afora e, porque não, marcas que vão, de uma forma ou de outra, mudar a forma que o mundo vê cinema. Assim é Cannes, uma revolução e um espetáculo a cada ano, o centro de um furacão de ventos arrasadores que parece passar rápido demais. Um sonho cinéfilo tornado em realidade. Bem-vindos a riviére.

Primeiro dia: Quarta-Feira, 13 de Maio de 2009

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Cannes, tradicionalmente, começa antes das luzes se apagarem na sessão de abertura. No início da tarde, horas antes de Up inaugurar a seleção, os nove componentes do júri oficial da edição 2009 do festival se reuniram para a apresentação oficial à imprensa. A impressão geral foi que o prêmio principal do ano, pelo qual o júri é responsável, seria pautado pela emoção. Ou ao menos foi o que deu a entender a líder da trupe, a atriz francesa Isabelle Huppert. Conhecida pela falta de paciência para lidar com a imprensa, ela se mostrou bem tranqüila na apresentação aos repórteres. Nas palavras dela, acertadas como sempre: “Não acredito que o ato de escolher um melhor filme seja um ato somente racional, que tem que ser baseado em fatores apenas de qualidade do próprio filme. Temos que ouvir a alma, julgar com elas”. A rodada de entrevistas foi bastante coesa entre os membros do júri, mas a oportunidade para uma boa polêmica não foi perdida pelos repórteres, que no último instante alvejaram Huppert e seus colegas sobre a idéia de que julgar também seria um ato de diplomacia, algo escrito na biografia do presidente do festival. Huppert respondeu com a classe que se esperava: “Acho que não é uma palavra atraente quando se trata de festivais, não estamos tratando do mundo dos negócios. Prefiro expressões como conflito de opiniões e palavras como reações ou contrastes”. Huppert é a primeira mulher a presidir o júri desde que a atriz e escritora sueca Liv Ullman ocupou o cargo em 2001. O grande destaque da apresentação foi a presença da atriz Asia Argento, esbanjando charme e em estado de graça, brincando com repórteres e se tornando o foco de todos os flashes.

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Pode parecer piegas ou conversa de estúdio que quer sair bem na foto com os moralistas, mas a verdade é que a grande receita da Pixar pode ser resumida em uma palavra: alma. Assim eles chegaram ao domínio da categoria de animação do Oscar, assim eles conquistaram a confiança total da Disney, assim eles chegaram ao marco histórico de primeira animação a abrir o festival de Cannes. E o fato de Up soar como um início muito leve para o festival que já teve filmes de arte como exclusividade em seu cardápio apenas prova a força e a eficiência dessa receita. A nova obra do estúdio de animação mais brilhante do mundo é a história singela de um ancião que vê seu sonho realizado ao sair em uma viagem aérea cheia de perigos. Ele percebe, é claro, que um acompanhante indesejável embarcou ao seu lado, e aos poucos a amizade entre os dois vai se fortalecendo. Enfim, uma história não muito diferente da de sempre. Mas a Pixar consegue fazer soar original. O foto aí em cima, do elenco com o diretor Pete Docter (o grandão no meio) e o produtor John Lasseter (ao lado dele), mostra bem o espírito que abriu Cannes 2009. As palavras de Docter sobre Up, depois da sessão ter deixado todos os espectadores com um sorriso no rosto? “O filme tem um pouco de todos nós no filme. Histórias pessoais, sonhos e nossa fantasia de crianças. Acreditamos que seja uma história da infância de todo mundo”. Assim começou Cannes: animado, orgulhosamente alegre, uma viagem ao mundo dos sonhos e um tour de force pela Pixar e toda a sua criatividade. De esquentar a alma.

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No páreo do dia estava também Spring Fever, drama chinês que compete na amostra Um Certo Olhar, notável reveladora de talentos futuros para a arte cinematográfica. O filme de Lou Ye (Palácio de Verão), porém, não chegou a empolgar a platéia e foi recebido com um frio silêncio após a seção. O filme foi realizado em 2006, mas apenas agora chegou a ser exibido, uma vez que a rígida censura cinema vetou a estréia da obra no país. Trata-se, de certa forma, de uma versão asiática para Brokeback Mountain, uma história de amor gay que começa com o relacionamento de dois rapazes e acaba evoluindo para uma complexa rede de ciúmes, violência e mistério baseada em um triângulo amoroso de conseqüências catastróficas. A reação dos jornalistas foi quase unanime: o filme se perde em meio ao tempo e só consegue se recuperar no final, mas ainda assim não atinge o impacto que pretendia. Em suma, nada para se apostar em meio a seleção bem promissora da exibição paralela. A polêmica em torno do banimento do filme na China, porém, não passou em branco, e o diretor Lou Ye não perdeu tempo para soltar seu protesto: “Gostaria de trabalhar de forma livre e desejo o mesmo a meus colegas. Quanto a polêmica, já esperava esse tipo de reação”. As exibições do Um Certo Olhar guardam o único longa-metragem brasileiro com possibilidades de sair com um troféu, À Deriva, de Heitor Dhalia (O Cheio do Ralo). O júri da seleção paralela conta com o diretor Paolo Sorrentino (O Amigo da Família), o crítico Piers Handling, e a atriz Julie Gayet (Shall We Kiss?).

Segundo dia: Quinta-Feira, 14 de Maio de 2009

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Às vezes se tem sorte, às vezes não. Até a última quinta-feira, quando Fish Tank se tornou o segundo filme da mostra Um Certo Olhar a ser recebido com frieza pela platéia de Cannes 2009, a diretora britânica Andrea Arnold só conhecia um lado desse dilema. Revelada em 2003 quando o curta-metragem Wasp saiu vitorioso em sua categoria no prêmio da Academia. Desde então, Arnold entrou no seleto rol de prefiridas dos apreciadores mais conceituados de cinema. A estrada a levou até Cannes pela primeira vez em 2006, quando seu longa-metragem de estréia, Red Road, levou o grande prêmio do júri. Fish Tank também foca sua câmera na juventude problemática e cheia de fantasmas. A trama aqui é sobre Mia, uma adolescente de quinze anos que não consegue viver em sociedade, se tornando violenta e descontrolada quando posta em convívio com alguém além de sua mãe. Não é difícil imaginar como a vida de Mia muda quando a mãe arranja um namorado novo. Na pouco movimentada coletiva de imprensa realizada logo após a sessão, Andrea discutiu sobre seu processo criativo e sobre a inspiração para a trilha-sonora, recheada de hip hop. Segundo ela: “É como aparece uma história para mim, primeiro uma imagem, e depois dou a ela um tratamento documental. No caso de Mia, é na música e na dança que ela se encontra protegida, no seu lugar correto”. Apesar da recepção fria ao filme em geral, sobraram elogios a estreante Katie Jarvis, que não compareceu ao festival graças a uma gravidez, mas surgiu como a primeira provável concorrente ao prêmio de melhor atriz.

Essa decididamente merece um vídeo. Afinal, por mais que seja uma festa que premia o cinema autorial e o talento de verdade, Cannes é também um espetáculo de glamour e circunstância. Além, é claro, de uma excelente estratégia de marketing. No ano passado, quem sacudiu a cidade francesa foi o astro de TV Jerry Seinfeld, que se vestiu de abelha e voou sobre o Hotel Carlton, onde o evento é sediado todos os anos, preso por um cabo. Tudo para divulgar a animação Bee Movie, que nem ao menos seria exibida na quinzena. Esse ano, a coisa se repetiu de forma um pouco mais ambiciosa e menos ridícula. Afinal, estamos falando aqui de toda a esperteza de Michael Bay (Pearl Harbor), um dos mais brilhantes publicitários que Hollywood já teve em suas fileiras. A expectativa que ele vem criando em torno da continuação Tranformers: Revenge of The Fallen, apenas aumentou com a instalação de um boneco em tamanho natural de Bumblebee em frente ao hotel, a vista de toda a cidade. Para quem não está familiarizado com os nomes do robôs, Bumblebee é o Camaro do protagonistas Sam (Shia LaBeouf), o primeiro transformer a se revelar no filme original. Com a profusão de novos robôs anunciados para a continuação, o temor dos fãs de que a relação entre Sam e Bumblebee fosse abandonada ficaram para trás com a instalação do próprio em frente ao tapete vermelho do maior evento de cinema do mundo. Pompa a quem merece.

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Cannes também é feito de surpresas, e era claro depois de duas recepções frias a filmes que prometiam ao menos um pouco mais de discussões que o festival precisava urgente de algumas delas. Pois a salvação veio, em par, e direto do Oriente. No meio da tarde e fora da competição, Air Doll ainda assim lotou a sala de exibição com capacidade para mais de três mil pessoas. O filme em questão faz parte de forma tímida da seleção de diretores consagrados que Cannes fez para sua edição 2009. No caso, se trata do japonês Hirokazu Koreeda, conhecido por aqui pelo pesado drama sobre pedofilia Ninguém Pode Saber, que chega a sua terceira participação em Cannes com o novo filme. Air Doll é uma surpreendente pérola de sensibilidade e maestria ao contar a história de uma boneca inflável que desenvolve uma alma e se apaixona por um balconista de locadora. Uma espécie de Pinóquio para adultos que esconde por baixo da criativa premissa uma série de lições de vida, como disse o próprio diretor. Os críticos se dividiram entre os que compreenderam o registro fantástico de um diretor que normalmente se mostra realista e melancólico e os que acharam a coisa toda esdrúxula demais. Quem também dividiu opiniões foi Thirst, primeiro filme da competição principal a ser exibido. A trama é, basicamente, a de um padre que participa de um experimento científico fracassado e se torna um vampiro, mas o que mais desperta curiosidade é a forma como o cineasta coreano Chan-Wook Park, vencedor do grande prêmio do júri com seu Oldboy, navegaria dentro desse universo de terror mais radicalizado do que psicológico. Pela reação dos jornalistas, a saída foi apostar no requinte de detalhes e na subversão, criando um universo exagerado e extravagente que agradaou a alguns e pareceu equivocado a outros. Ninguém melhor que o próprio Park para esclarecer a coisa toda: “Não era o cristianismo que me interessava ao pensar em um padre como protagonista, e sim os dilemas que tem quem escolhe esse ofício. Fiz o filme para provocar os cinco sentidos da platéia; é um filme para ver, escutar, cheirar, sentir o gosto se possível e até que pudesse ser tocado”. Foi com olhos puxados que Cannes 2009 começou, de fato, a esquentar.

Terceiro dia: Sexa-Feira, 15 de Maio de 2009

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O cinema independente mudou. Filmes feitos sem apoio de grandes estúdios, de uma hora para a outra, se transformaram em uma mina de ouro para as produtoras iniciantes e começaram a atrair astros à procura de um pouco mais de profundidade. Afinal, ao menos disso o cinema indie americano não abriu mão: roteiro em primeiro lugar. Push, o representante desse novo conceito de filme independente em Cannes 2009, passou pelo tapete vermelho com pompa e circunstância inesperadas. Mas primeiro saibamos do filme. Um estouro na última edicão de Sundance, onde levou dois dos troféus principais, o filme mudou o nome para Precious visando evitar a confusão com o filme de aventura super-heróica estrelado por Dakota Fanning (Guerra dos Mundos). Afinal, são duas espécies cinematográficas completamente diferentes. Precious é baseado na obra literária mais “infilmável” de todos os tempos, lançada em 1996 e recebida como uma golfada de ar fresco e honestidade pelos críticos da área. A trama, do filme e do livro, acompanha a adolescente Clareece “Precious” Jones a partir do momento em que entra para uma escola de alfabetização adulta, esperando que sua vida mude de rumo. Na infância, ela foi molestada pelo pai, sofreu do descaso da mãe e se tornou uma figura mal-vista pela sociedade, seja por sua cor, por seu peso ou por sua forma inconstante de ver o mundo. Dirigido por Lee Daniels (Assassinos de Aluguel), Precious acendeu uma chama de esperança para a mostra Um Certo Olhar, que corre paralela a competição principal. As sessões iniciais da mostra foram recebidas com frieza, mas o filme estrelado pela estreante Gabby Sidibe recebeu um sonoro aplauso de vários minutos após a exibição. Para a atriz sobraram elogios, mas o foco das câmeras se voltou para o que ela mesma chama de “seus ídolos”: a cantora Mariah Carey e o músico Lenny Kravitz, que parecem ter finalmente acertado suas escolhas no cinema ao atuar como coadjuvantes da produção, que saiu do festival com distribuição garantida em pelo menos onze países, incluindo os EUA.

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Se havia uma discussão inevitável entre as várias que esquentaram Cannes 2009, essa discussão era sobre a participação da mulher como criadora de obras cinematográficas. O espaço das cineastas tem sido bastante respeitado nesse novo século em que a evolução chega até a historicamente atrasada Hollywood. Mas, em 1993, quando O Piano revelou para o mundo da diretora neo-zelandesa Jane Campion, as coisas eram diferentes. Prova disso é o simples fato de que Campion foi a primeira mulher a ser indicada para o Oscar isso quando a festa esquentava os motores para completar 60 anos de vida. A estatueta ela não levou, mas a Palma de Ouro está na estante. Uma década e meia depois, ela retorna a cidade francesa com Bright Star, a história de amor real entre o poeta John Keats e a sua paixonite de infância Fanny Brawne. O filme, que estreou como o segundo da competição principal a ser exibido, foi recebido com aplausos diplomáticos pelos jornalistas presentes na sessão, mas cumpriu seu papel ao ascender de uma vez por todas a discussão aí no começo do texto. Segundo a diretora Campion: “Mulheres não têm muito espaço para se expressar e ficam esperando que alguém faça isso por elas; só que somos metade do planeta e espero que cada vez mais tenhamos diretoras com essa ambição de se fazer ouvir”. Em um júri presisido por uma mulher e com outras quatro representantes femininas, a declaração deve ter batido forte, o que colocou Bright Star como primeiro concorrente plausível ao prêmio principal, mesmo que siga um caminho diferente do esperado, focando mais nas cartas que Keats mandava a amada e menos em sua pouco conhecida obra poética. O motivo foi esclarecido por Campion: “Keats era alguém de muita autoconfiança, sabia que estava no caminho certo. Apesar disso, seu nome e sua poesia são ignorados por muitas gerações”. O filme é estrelado por Ben Whishaw (Perfume), que faz par a uma radiante Abbie Cornish (Candy).

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Apesar de toda a aura de grande mestre do cinema atual, Martin Scorsese nunca foi exatamente um dos grandes preferidos de Cannes. Talvez seu cinema seja “americano demais” para um festival em uma cidade francesa, mas ao menos Cannes demorou bem menos que a Academia para reconhecer o talento incomparável de Scorsese. Ele levou a Palma de Ouro para casa já em 1976, quando era um diretor de segunda viagem no clássico Taxi Driver, e foi indicado mais duas vezes, vencendo na categoria de melhor diretor em 1985, pelo pouco conhecido Depois de Horas. Desde então, Scorsese tem passado em branco por Cannes. E também não retornou esse ano, uma vez que seu Paciente 67 continua incompleto, mas ao menos marcou presença no tapete vermelho para conferir a reestréia de seu filme preferido, o musical Sapatinhos Vermelhos, de 1948, em cópia restaurada. A bem da verdade, há um pouco mais do que isso na presença de Scorsese na cidade francesa. Ele, além de ajudar nos fundos para recuperação de filmes clássicos, foi colocado no posto de guia do projeto Cannes Classics, que visa recuperar grandes obras e realizações incompletas do passado. E ele, como sempre conceituado e simpático com os jornalistas, deu um show de conhecimento sobre o assunto, se recusando a falar de seu próximos projetos e do aparelho de marketing por trás de seu novo filme. Como representante do World Cinema Foudation em Cannes, Scorsese ainda contribuiu para o projeto com filmes do naipe de Inferno, realização lendária de Henri-Georges Couzot (O Mistério de Picasso) cujos originais, perdidos desde a época das filmagens foram recuperados pela equipe do diretor. Segundo ele: “Estes filmes tiveram grande influência sobre nós, em nossa maneira de narrar e de filmar. Por isso, é importante recuperá-los em bom estado, eles nos ajudam a perceber quem nós somos. Quanto mais platéias virem esses filmes, mais elas vão querer ver outros filmes assim, e aí o que acontece é que a platéia muda, o que significa que os filmes que estão sendo feitos mudam”. 

Quarto dia: Sábado, 16 de Maio de 2009

 cannes 9 Nem é preciso falar muito sobre Woodstock. A própria menção do nome do maior festival hippie da história, ocorrido em agosto de 1969, desperta imagens bem definidas e sensações bem distintas entre os que entendem um pouco de música ou da década de sessenta. Afinal, Woodstock é uma daquelas ocasiões (ou histórias) impossíveis de esquecer. É quase como se todo aquele clima tirualístico se gravasse em nosso inocnsciente e de lá fosse impossível tirá-lo. Talvez por isso seja algo tão polêmico o lançamento de Taking Woodstock, primeiro filme de ficção que ousa reconstituir aqueles três dias em 1969, ou talvez seja pelo fato de que o diretor escolhido para tal missão não é americano. O que a maioria dos críticos por antecipação do filme se esquecem, porém, é que Ang Lee não é qualquer cineasta. Na ativa desde 1992 e já com cinco obras americanas no currículo, o taiwanês pode até errar a mão de vez em quando, mas é inegável que sua desenvoltura para passear entre gêneros não encontra páreo entre os cineastas de hoje. Mas, ainda assim, porque Woodstock? Talvez seja melhor emprestar as palavras do próprio, ganhador do Oscar de melhor diretor por outra obra polêmica, O Segredo de Brokeback Mountain. Segundo ele: “Para mim, Woodstock significa um período em que ainda era possível ser feliz, e o filme é, antes de tudo, sobre a felicidade. Foi um último momento de inocência, em que jovens foram contra as convenções sociais, se sentiram livres para fazerem o que quisessem e foram se integrar a natureza. É claro, a música foi importante na minha adolescência, mas só me interessei em fazer o filme por surgiu um ponto de vista novo, mais pessoal, de um drama de quem estava lá e viu tudo acontecer de dentro”. Depois de tais palavras, resta dizer que o filme foi muito elogiado pelo roteiro, que foca em histórias paralelas e não se perde em meio a narrativa cheia de personagens que vão do grotesco ao emocionante em pouco tempo. O elenco é outro ponto forte desse “filme pequeno sobre um momento grandioso”, incluindo Emile Hirsch (Na Natureza Selvagem), Liev Schreiber (Na Companhia do Medo) e Jeffrey Dean Morgan (Watchmen).

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Monica Bellucci e Sophie Marceau são a mesma pessoa. Ou pelo menos a partir de certo ponto de Ne te Retourne Pas, estréia em longas-metragens da diretora francesa Marina de Van, mais conhecida fora de seu país como a roteirista de 8 Mulheres, filme de François Ozon (Swimming Pool). Ambas, que contracenam pela primeira vez, interpretam Jeanne, uma escritora e dona-de-casa que começa a perceber mudanças em seu corpo e não encontra reconhecimento da anomalia na família. Desesperada e sob pressão para terminar sua última obra, Jeanne parte para a Itália buscando se reconciliar com o passado na busca por uma mulher que figurava em uma foto antiga de sua falecida mãe. Ao chegar lá, Jeanne se torna uma pessoa diferente física e emocionalmente, que prefere ser chamada de RosaMaria e vai descobrir o estranho segredo de sua verdadeira identidade. É a complexidade planejada do cinema francês posta em prática em terras estrangeiras e sob a atuação de duas beldades que, veja só, são também boas atrizes. Monica, que surgiu ao mundo em 2000 ao interpretar uma ex-atriz pornô no seminal Malena do diretor Giuseppe Tornatore (O Homem das Estrelas), é apaixonada confessa pelo cinema francês, no qual trabalha desde o início da carreira, em 1996, com o célebre O Apartamento. Fluente na língua oficial do festival, ela e sua parceira de cena, conhecida por aqui como a bondgirl de Pierce Brosnan em O Mundo Não é o Bastante, conversaram após a sessão do filme sobre como esse tipo de troca de personalidade é o sonho de infância de qualquer um. Sophie, sempre simpática, disse: “Também tive essa vontade um dia e ainda bem que me tornei atriz, assim posso fazer isso sempre". As duas foram responsáveis pela primeira grande aglomeração de fotógrafos de Cannes 2009 no tapete vermelho que levava a sessão de estréia do filme, que é exibido fora de competição. Ainda assim, a dupla de estrelas foi ovacionada ao fim da projeção e a coletiva de imprensa foi a mais concorrida da edição.

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Apesar de Ang Lee ter sido bem recebido com seu tipicamente americano Taking Woodstock, sábado foi o dia do cinema francês em Cannes. Nada mais justo para um festival localizado em uma pequena e adorável cidade litorânea do país, que além de ver duas de suas estrelas brilhando acima de todas as outras também sentiu o gosto doce de apresentar o melhor filme do festival até então. Un Prophète foi o quarto e mais arrasador concorrente a Palma de Ouro a passar pelo tapete vermelho do festival. A presença sempre carismática do diretor Jacques Audiard (Um Herói Muito Discreto) não foi capaz de amenizar o impacto de violência e opressão de sua última obra, a pesada história de um jovem árabe que é jogado em uma prisão francesa e, de uma hora para a outra, se torna peça chave de todas as grandes ações do crime organizado. Como era de se esperar do sempre poético Audiard, responsável também pelo metafórico De Tanto Bater Meu Coração Parou, não se trata de uma crítica ao penoso sistema carcerário francês, mas um pujante paralelo para a prisão em que cada um de nós vivemos, e também um tratado sobre um novo tipo de criminoso. Não o marginal sujo a que estamos acostumados, mas um profeta como o anunciado pelo título. Na disputada coletiva de imprensa realizada após os vários minutos de aplauso entusiasmado dos jornalistas, Audiard foi alvejado por elogios explícitos e perguntas admiradas. Entre elas, o diretor explicou como se interessou pelo filme: “Eu li o roteiro e me interessei na mesma hora. Para mim, essa prisão é uma metáfora do que está fora dela, toda a sociedade em geral. Reconheço que, no roteiro, há certa ambigüidade quanto ao sentimento de culpa. É um filme que se movimenta em vários gêneros e que dá atenção aos personagens. Pareceria mais um western. Há algo nele de O Homem Que Matou o Fascínora. Outro elogiado foi o ator estreante Tahar Rahim, que interpreta o protagonista, mas o filme já estreou com poucas chances de levar a Palma de Ouro, uma vez que o vencedor do ano passado, Entre os Muros, além de francês, se localizava também em um espaço concentrado. Cannes não gosta de se repetir.

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Brillante Mendoza não é um novato em Cannes. O cineasta filipino, pouco conhecido fora do circuito de arte europeu, pisou pela primeira vez no tapete vermelho da cidade francesa no ano passado, trazendo seu Serbis para a competição principal. O drama pesado e sem concessões sobre a saga cheia de polêmicas de uma família dona de um cinema pornô decadente, como esperado, dividiu as reações entre encantamento e pura revolta. Como não há nada melhor do que uma boa polêmica para esquentar a divergência de opiniões natural de um festival tão abrangente como Cannes, Brillante está de volta em Cannes 2009 com o igualmente polêmico Kinatay. A trama da vez envolve o chocante seqüestro de uma prostituta por parte de uma gangue liderada por um policial corrupto. O fim trágico da história se anuncia a partir do envolvimento de um jovem aprendiz da academia policial que está em busca de dinheiro para bancar o sustento de sua mulher e filho, que toma conhecimento do seqüestro a partir de um amigo, membro da gangue. Curiosamente, ao final da projeção do filme, o quinto a ser exibido na competição principal, o público se dividiu entre vaias e aplausos, sob as mesmíssimas justificativas. Afinal, é impossível negar que o cinema e sem concessões de Mendoza é difícil de engolir, indigesto em alguns momentos e exagerado em outros tantos, mas corajoso acima de tudo. Ele faz filmes para contar uma história, sem se importar com as conseqüências ou a visão do espectador. Mendoza, acostumado com as reações divididas, disse: “Esses raptos são constantes nas Filipinas e as pessoas se acostumam a ler sobre essas mortes, sem mais dar conta de seu horror. Eu tentei, com o filme, mostrar a brutalidade da forma mais crua possível e assim tirar a banalidade desses atos que os jornais trazem com tanta freqüência”. Motivo nobre que rendeu alogios tímidos a sua câmera, ao menos.

Quinto dia: Domingo, 17 de Maio de 2009

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Pouco conhecido no Brasil, o diretor Johnnie To, além de ser um dos cineastas mais profícuos de seu tempo com um currículo de mais de cinqüenta obras, é também um dos mais versáteis. Talvez seu filme mais conhecido por aqui, Eleição – O Submundo do Poder é um suspense tenso e cheio de intrigas políticas que conquista por mostrar criminosos da temida máfia chinesa como seres humanos de verdade, envolvendo o espectador em seus dramas pessoais ao mesmo tempo em que acompanha o dia-a-dia de violência e barbárie de cada um deles. Vengeance, segunda figuração de To em Cannes, é quase uma antítese a tudo isso. Violento, dinâmico, cheio de estilo e com ação sem parada, o filme narra a jornada de Frank Yuma, um aliado de longa data a uma organização criminosa que sobrevive a uma emboscada organizada contra ele por seu próprio pessoal e sai em busca de uma sangrenta e brutal vingança. Ou seja, tema da metade da filmografia dos “grandes astros” de ação dos anos 1980. E poderia ser banal, insignificante, se não tivesse um mago da câmera comandando o espetáculo. E não sou eu quem estou dizendo. Se utilizando muito do humor presente nas poucas falas do roteiro, To foi elogiado pela coragem de ralizar entretenimento puro e simples, sem muitas pretensões além da divertir a platéia. Sobre o elemento cômico em sua obra, To disse: “Acredito que esse ingrediente de humor se comunica com a platéia tanto como a ação, que usada a exaustão pode afastar a atenção do espectador do que é importante, a história”. A coletiva de imprensa agitada, porém, se concentrou no astro da música francesa Johnny Halliday, conhecido fora da Europa por pequenos papéis em filmes como A Pantera Cor-de-Rosa 2. O ator também não poupou palavras ao seu diretor: “Eu me sentia muito perdido ali, num país desconhecido de língua difícil, então tinha que escrever minhas próprias indicações. Ajudava o fato de Johnnie ter uma postura muito física ao dar instruções para os atores, porque isso tem muito a ver com o filme, em que quase não se fala e sim é baseado na ação”. Vengeance não se tornou candidato sério a Palma de Ouro, mas deixou os espectadores com belas duas horas de diversão.

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Em 2000, Dançando no Escuro foi um furacão que passou por Cannes. Segundo filme produzido com dinheiro americano do dinamarquês Lars Von Trier, futuro diretor do polêmico Dogville, o filme acompanhava a destruição do sonho americano ao vivo e a cores, sem poupar na crueldade ao mostrar a jornada de uma jovem européia que vinha para a América com o filho e descobria que os filmes de Hollywood não eram um retrato fiel da verdade. Um drama pesado, sim, mas também um musical de quebrar o coração estrelado por uma Bjork não menos que extraordinária, vencedora do prêmio de melhor atriz no festival. Não por acaso, Dançando no Escuro saiu também com a Palma de Ouro. Nove anos, muita polêmica e notoriedade depois, Trier retornou a Cannes com o ego inflado para apresentar Anticristo, sua primeira incursão no meio do terror explícito, um filme que prometia emoções fortes, atuações intensas e cenas de pura genialidade visual e psicológica. Em suma, a previsão era de outro furacão. Pois é, parece que a metereologia francesa errou feio dessa vez. Em uma tentativa patética de se superar e trazer impacto ao espectador, Trier tropeçou na própria ambição e na falta de um elemento mais solidamente humano no roteiro. O script de sua própria autoria foi criticado pela psicologia barata incutida na trama sobre um casal americano em crise que resolve ir para uma cabana isolada da sociedade e é assaltado por estranhos acontecimentos e delírios. A dupla protagonista, ao menos, saiu ilesa. Willem Dafoe e especialmente Charlotte Gainsbourg (Não Estou Lá) sairam até com alguns elogios, mas a explosiva coletiva de imprensa do diretor acabou como uma demonstração pública de prepotência. Evitando perguntas sobre o filme depois da sonora vaia recebida, Trier soltou o verbo apenas no final da coletiva: “Eu não me preocupo com a audiência quando faço um filme. Foi a mão de Deus que me fez escolher esse história e realizar esse filme agora. Não tenho que explicar nada, fiz o filme porque sou o melhor diretor do mundo. Sei que muitos diretores pensam o mesmo de si, não estou certo de que seja o melhor, apenas sinto isso”. A declração repercutiu na imprensa, é claro. Melhor baixar a bola da próxima vez, Lars.

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Toda festa do cinema tem seu Martin Scorsese. Que me perdoem os fãs do diretor de clássicos como Taxi Driver e Os Bons Companheiros, mas a expressão aí em cima se refere mesmo aos anos a fio que a Academia demorou para conceder a estatueta dourada mais famosa do mundo ao cineasta, injustiça que só foi corrigida recentemente com o prêmio tardio por Os Infiltrados. Quem vivia o mesmo dilema em Cannes era Ken Loach, cineasta irlandês conhecido por aqui mais por seus recentes trabalhos políticos como Pão e Rosas ou Ventos da Liberdade. Esse último, aliás, foi o responsável por finalmente dar às mãos do diretor a Palma de Ouro, após sete outras indicações e até um troféu pelo “conjutno da obra” em 2004. Três anos depois, Loach retorna a Cannes com aura de participante especial em seu Looking for Eric, que de certa forma foge bastante do que o diretor tem feito ultimamente. Fora das causas e lembranças de sua Irlanda maltratada de outros tempos, Loach abre os olhos para a modernidade e para a paixão pelos esportes em sua nova obra. A comédia dramática é a história de um carteiro fanático por futebol que vem atravessando problemas em um casamento de longa data e se vê aceitando conselhos do próprio ídolo, o ex-jogador de futebol Eric Cantona. Em sua própria pele, o ex-craque do Manchester United engata de uma vez por todas a carreira cinematográfica que vem ensaiando desde 1995. O currículo do jogador inclui participações em filmes como Elizabeth, e ele se diz tão apaixonado pela sétima arte quanto ainda é pelo esporte que praticava. Nas palavras dele, o mais assediado nas entrevistas coletivas após a aplaudida sessão de Looking for Eric: “Assim como me iniciei aos poucos no futebol com o apoio dos tocedores, também vai depender do público minha carreira de ator. Se assim quiserem, continuarei a atuar”. Cantona foi elogiado timidamente por alguns dos jornalistas, mas Loach não passou em branco e foi alvejado de perguntas sobre o risco de se fazer um filme de futebol para os fãs do esporte. A resposta foi afiada: “O ritmo do futebol é completamente diferente do ritmo do cinema. Nem pior nem melhor, apenas diferente. Jamais tentaria fazer um filme dessa forma, pois recriar um jogo em sua concepção real é impossível”. 

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O melhor (e o maior) sempre fica para o final. Cannes não quis contrariar a regra e deixou a premiere de Agora para o final da noite, onde os flashes estelares brilhariam mais no tapete vermelho. Em uma das maiores mobilizações de fotógrafos dessa edição do festival, Rachel Weisz chegou exuberante e inspirada para a primeira sessão do filme em que atua sob o comando de Alejandro Amenábar (Os Outros). Simpática, a estrela que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2005 por O Jardineiro Fiel posou para todas as fotos e permaneceu no tapete vermelho até o último momento antes das luzes se apagarem na sala de exibição. Curiosamente, Agora, o filme mais grandioso da carreira do diretor espanhol, foi feito sem dinheiro americano, com cachê reduzido para os atores que participaram e um orçamento substancial de 73 milhões de dólares. Tudo isso para contar da forma que Amenábar queria a história da matemática, cientista e filósofa Hypatia, considerada pelos historiadores como a primeira notável mulher a desafiar a organização rígida da sociedade, isso em pleno Egito dominado pelos romanos, quando direito das mulheres e feminismo não eram nem mesmo fantasmas. A bem da verdade, a protagonista não é Weisz, que interpreta Hypatia, mas sim o ator inglês Max Minghella, conhecido por aqui por pequenas participações em Syriana e Um Louco Apaixonado. Ele atua na pele de Davus, um jovem escravo que vê no nascimento do cristianismo a oportunidade de perseguir a liberdade, ao mesmo tempo que se apaixona por sua “proprietária”, justamente a filósofa de Weisz. O filme ainda conta com Rupert Evans, o agente humano babá de Hellboy no primeiro filme da série, atuando como o bispo católico Synesius, que inicia Davus nos costumes esperados dos cristãos. O choque de culturas se torna forte sob a câmera de Amenábar, ou ao menos foi o que disseram os jornalistas que compareceram a entrevista coletiva, onde o diretor esclareceu o processo de pesquisa para o filme: “Fomos percebendo que nesta época específica da humanidade há vários paralelos com os dias de hoje. Assim o projeto foi ficando cada vez mais intrigante, porque notamos que poderíamos fazer um filme sobre o passado lidando com assuntos muito presentes nos tempos atuais”. Agora foi exibido fora de competição.

Sexto dia: Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

 cannes 15 Tiranos também se apaixonam. Vincere é o retorno de uma das grandes figuras da história recente de Cannes ao festival, sete anos depois de ter saído com o prêmio ecumênico do júri por A Hora da Religião. Marco Bellocchio pode não ser o cineasta italiano com maior presença em terras brasileiras, mas suas obras políticas nas décadas de 1960 e 1970 e a regularidade de sua produção até hoje sem dúvida o colocam no posto de um dos mais notáveis deles. Sempre discutindo assuntos polêmicos e reconstituindo épocas atribuladas, Bellocchio carrega no dramatismo em Vincere. O filme, feito originalmente para exibição televisiva, foca na personagem real Ida Dalser, uma jovem italiana na época da ascenção do fascismo que conhece Benito Mussolini como um jovem socialista e idealista, se apaixona por ele e dá luz a um filho. Com a ascenção do amado ao poder, porém, Ida é jogada para escanteio, abandonada a própria sorte e internada em um hospício. Contar que Ida lutou pelo reconhecimento da paternidade até sua morte, em 1937, não seria estragar a dramaticidade de uma obra que encontra forças, mais do que em seu diretor consagrado ou em seu roteiro conciso, nas interpretações de uma dupla de atores que encarna seus papéis com garra. Tanto é assim que, mesmo com a recepção fria ao filme, Giovanna Mezzogiorno (Amor nos Tempos de Cólera) surgiu logo como uma das favoritas ao prêmio de atuação feminina do festival, enquanto o pouco conhecido Filippo Timi (Em Minha Memória) foi bastante elogiado por sua composição do ditador italiano dos tempos da Segunda Grande Guerra. Outro ponto bastante citado pelos jornalistas presentes na sessão foi a edição ágil e o ritmo acelerado em que a história é levada, intercalando imagens de ficção com poderosas cenas de arquivo que se encarregam do contexto histórico inerente a trama. O tom melodramático impressio por Bellochio, porém, garantiu opiniões antagônicas.

Sétimo dia: Terça-Feira, 19 de Maio de 2009

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Não é fácil falar sobre Pedro Almodóvar. Primeiro, porque há muita coisa a dizer em se tratando de um cineasta que completa esse ano seis décadas de vida, quase quatro destas dedicadas a arte de fazer cinema. Segundo, porque sua obra é tão cheia de sutilezas a essa altura do campeonato que se tornou impossível definir sua forma de contar histórias em uma palavra. Terceiro, e talvez mais importante, porque o que Almodóvar faz é cinema para a alma, e não para as palavras definirem. Los Abrazos Rotos é o primeiro longa do diretor espanhol a ser selecionado para a competição oficial de Cannes após Volver ter ganho o prêmio de melhor roteiro em 2006. E é uma obra completamente diferente daquela que rendeu a Penélope Cruz a primeira indicação ao Oscar. Volver era sobre mágoa, tinha elementos sobrenaturais, cenas de puro suspense e conflitos familiares intensos. Los Abrazos Rotos segue uma linha mais metalinguística, cheia de inserções pessoais do diretor e se apoia muito mais nas atuações do que no ritmo insinuante de um roteiro digno do nome e do prestígio de Almodóvar. Elegante, instigante e emocional acima de tudo, a nova obra promoveu um banho de alma para os jornalistas presentes a sessão da estréia, logo na manhã do sétimo dia em Cannes. A obra surpreendeu e envolveu quem se arriscou, contando a personalíssima história de um diretor em crise de identidade e cego, que tenta dar forma a sua nova obra ao mesmo tempo que acerta as contas com o passado e com a mulher, mais nova que ele. O papel de protagonista ficou com Lluís Homar (Poder e Luxúria), que ao lado de uma inspirada Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), dá corpo e alma a um filme delicioso. Quem também estava em estado de graça era Almodóvar, que deu um show de simpatia, inteligência e receptividade nas estrevistas após a exibição.  Questionado sobre a força das mulheres em suas obras e sobre a aproximação de temas entre Los Abrazos Rotos e seu seminal Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, Almodóvar replicou: “Essa força feminina acho que se explica pelo fato de eu ter crescido rodeado por mulheres em casa, na rua, no povoado onde morava, pois os homens estavam na guerra. Mau eu preferia que isso fosse explicado por um psicanalista, se houver algum na platéia. Fui acompanhado por fantasmas, bons e gratos fantasmas de Mulheres, durante todo o processo de produção e realização desse novo filme. Utilizei até o mesmo estúdio daquela época, acho que por isso há tantas semelhanças entre os dois trabalhos”. Não foram poucos os que indicaram Los Abrazos Rotos como um grande candidato a Palma de Ouro.

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Ela não perde uma. Já que Cannes não é sinônimo apenas de bom cinema, Paris Hilton abrilhantou um pouco mais o pavilhão de estrelas dos paparazzi e chegou a cidade francesa com a desculpa de prestigiar o documentário Paris not France, obra da estreante Adria Petty, que acompanhou a socialite durante a turnê do primeiro álbum de sua carreira musical, lançado em 2006. O material reunido pela diretora permaneceu em circuito fechado graças a falta de apoio da própria Paris, que inclusive se recusou a comparecer a primeira exibição da obra, no Festival de Toronto. Três anos depois, mais segura de si e com menos receio das imagens supostamente expositivas da obra, Paris compareceu a uma sessão de fotos para promover o filme ao lado do namorado Doug Reinhardt. Perguntada sobre a mudança de atitude em relação ao assunto, Paris respondeu: “Eu segurei por três anos, pois não me sentia bem com o que é mostrado. Agora estou pronta. Antes, as pessoas poderiam dizer que não trabalho, não faço nada. Mas agora sei que é mentira”. Opiniões e cinema a parte, Paris não se limitou a prestigiar o documentário, é claro, durante sua estadia em Cannes. Não demorou para que a herdeira ganhasse as manchetes dos tablóides ao perder o celular na cidade francesa, aparelho que supostamente conteria toda sua lista de contatos (famosos ou não) e até imagens comprometedoras. Poucos dias depois, parecendo bem menos preocupada, Paris foi vista causando escândalo em um clube noturno ao trocar carinhos íntimos com o namorado durante uma dança, que teria sido filmada pela própria, que tinha uma câmera na mão. Depois, Paris ainda ganhou destaque pelo ousado maiô que vestiu para relaxar em uma piscina do hotel em que estava hospedada. Por breves momentos, ela fez os jornalistas esquecerem que estavam em festival de cinema. Afinal, não é todo dia que Paris vai parar… em Cannes.

Oitavo dia: Quarta-Feira, 20 de Maio de 2009

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Quando dirigiu seu primeiro curta-metragem, Alain Resnais era um jovem de 14 anos vivendo na Europa no tenso período entre guerras. Documentarista por natureza e sem recursos em uma França devastada pelo nazismo, o futuro grande mestre seguiu com pouco notadas obras de curta duração sobre grandes pintores e artistas de sua época. Isso até 1959, é claro, quando Hiroshima Meu Amor chegou a Cannes (e ao Oscar) concorrendo pela Palma de Ouro e elevando Resnais do status de desconhecido a artista da imagem. A partir daí, seguiu-se uma verdadeira aula de como ultrapassar as décadas sem soar analógico ou se apoiar no paradigma de “clássico”. Os anos 1960 foram marcados por seu Muriel, os 1970 viram o nascimento da farsa dramática com seu Stavisky, e Resnais seguiu com fôlego, revelando o talento de Gerard Depardieu em Meu Tio da América nos 1980, e resgatando o bom e velho romance tradicional em Amores Parisienses, de 1997. O século 21 chegou, muitos astros e cineastas ficaram para trás com a rapidez das coisas no negócio que se tornou o cinema, mas Resnais continua por aí e, acredite, mais relevante do que nunca. Quem viu Medos Privados em Lugares Públicos sabe do que eu estou falando e também deve saber que o novo longa do diretor, Les Herbes Folles, segue pelo mesmo caminho. Estrelado mais uma vez por seus atores-fetiches Sabine Azéma e André Dussolier, o filme é um Romeu e Julieta mais dinâmico e, é claro, moderno. Georges é um escritor casado e pai de dois filhos que encontra a carteira de Marguerite, uma dentista frustrada com sua vida medíocre, e inicia um relacionamento intenso e inesperado com ela. Resnais, que baseou-se em uma novela de Christian Gailly para contruir a trama, esclareceu o que lhe atraiu no filme: “Esses personagens são capazes de resisitir ao desejo e praticar atos irracionais, o que dá enorme vitalidade à história e leva a quem assiste um tom de confusão muito saboroso”. Retornando ao festival quase tirnta anos depois de Meu Tio da América, Resnais e sua nova obra foram recebidos de forma diplomática pelos jornalistas.

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Quentin Tarantino em um tapete vermelho é uma cena rara de se ver. O diretor de clássicos modernos do naipe de Pulp Fiction e Kill Bill não é exatamente o maior freqüentador dos grandes eventos de cinema mundo a fora e nunca foi de ficar horas parado fazendo poses para fotos diplomáticas. Talvez exatamente por isso, quando pisa em uma passarela rubra, Tarantino é uma explosão de carisma e energia. De volta a Cannes uma década e meia depois de sair de lá com a Palma de Ouro em mãos pelo explosivo Pulp Fiction, Taratino foi o evento do dia ao passar pela sessão de fotos antes da primeira sessão de seu novo filme, o esperadíssimo Inglorious Basterds. Ele fingiu atacar os fotógrafos, posou ao lado dos atores, mostrou seus famosos dotes de dançarinos acompanhado por uma belíssima Mélanie Laurent (Não se Preocupe, Estou Bem), que entrou na brincadeira de seu comandante e fez a alegria dos fotógrafos a beira do tapete vermelho. É claro, animação por parte deles já era de se esperar na premiére de um filme estrelado por Brad Pitt, que bateu recorde de câmeras em punho ao passar pelo tapete vermelho ao lado de seu esposa, Angelina Jolie. Pitt, aliás, terminou a rodada de entrevistas após a sessão de estréia do filme com o posto de uma das respostas mais interessante e mais reveladoras sobre o filme. Bastardos Inglórios, provável título da obra por aqui, propõe um jogo de verdade e ficção durante a Segunda Guerra, correndo paralelas as histórias de uma garota judia em busca de vingança contra o carrasco que exterminou sua família e a de um batalhão de soldados americanos renegados que se tornam heróis ao usar-se de força bruta para fazer os nazistas provarem de seu próprio veneno. Pitt interpreta o líder do batalhão, um homem naturalmente sério e cheio de suas regras, e u personagem que levanta questões sobre violência e vingança. Sobre a polêmica, Pitt disse: “Foi um dos papéis mais complexos que já fiz, pois como defender a idéia de justiça do personagem sem concordar com seus métodos? Uma coisa está ligada a outra, e numa guerra essas questões éticas são complicadas. Atualmente me interessa algo novo, que tenha frescor e eu não tenha explorado antes”. Já Tarantino foi mais expansivo quando perguntado sobre o tom de comédia quase impróprio que impõe a sua narrativa: “Alguns me perguntam se é um conto de fadas, porque esses homens fazem o que todo mundo teria gostado de ver na Segunda Guerra. Há alguns aspectos corretos nessa definição cômica, já que essa trama é fantasiosa, não ocorreu de verdade. Mas prefiro definir como uma tentativa de mudar o curso da história da maneira mais plausível possível, esse foi o maior desafio do filme”.

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Há duas maneiras de exergar Sam Raimi e sua ainda curta porém notável  filmografia. A primeira é como a obra de um cara cheio de estilo e referências, de um nerd de verdade que sabe como agradar o público ao qual ele mesmo pertenceria se não estivesse lá, vivendo o sonho de qualquer um. A segunda é como uma série de filmes com modismos repetidos, tiradas cômicas bem sacadas, roteiros “espertos” e um par de boas influências quando se trata de atuação e produção. Você escolha, mas de fato pouco importa. Porque a verdade é que Raimi é alguém, acima de tudo, que sabe equilibrar gêneros, gostos e vontades de forma magistral, deter o controle criativo absoluto sem abrir mão de ouvir segundas opiniões e sempre sair com o produto mais satisfatório possível no fim do processo. Drag Me to Hell, por exemplo, não tem nada de impressionante ou original. Mas é tamanho show do pirotecnia, diversão e equilíbrio cinematográfico que fica impossível não sorrir ao fim da sessão. Quase como aquela música que você sabe não ser a maior obra de arte do universo, mas se pega ouvindo de novo e de novo, assoviando pelos cantos, cantarolando baixinho. E Sam Raimi está em Cannes. Precisa de algum outro argumento? Brincadeiras e descrições a parte, Drag Me to Hell é uma das poucas participações inéditas na edição 2009 do festival de Cannes. Alojado nas famosas e temidas sessões da meia-noite do festival, o filme de Raimi acertou em cheio a uma platéia cansada de ver filmes que revertiam suas expectativas e entregou um produto perfeito dentro dos parâmetros em que se esperava. Repugnante, cheio de adrenalina, assustador em alguns momentos e de cenas cômicas no mínimo geniais. Saiu aplaudido com a história de uma gerente de banco que é amaldiçoada e perseguida por demônios após recusar o empréstimo de uma senhora idosa que se revela, mais tarde, uma bruxa. Na entrevista coletiva, o foco foi na mudança de projeto radical entre uma super-produção como Homem-Aranha 3 diretor para um terror de orçamento modesto: “Foi ótimo trabalhar em Drag Me to Hell porque o elenco é muito pequeno. Foi um amabiente muito íntimo, e isso é a única coisa que não curto realmente  nos filmes do Homem-Aranha. Esses são mais como reger uma orquestra sinfônica, enquanto este último filme foi como tocar com um quarteto de jazz. Adorei trabalhar sem as restrições de um personagem que pertence a muitas pessoas e que muitas outras veneram”.

Nono dia: Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

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Em 1998, um então desconhecido Xavier Giannoli saiu do festival de Cannes com uma Palma de Ouro de melhor curta-metragem nas mãos. O troféu concedido pelo cultuado L’interview foi o passaporte de Giannoli para o time de realizadores renomados da França, posição consolidade com o sucesso internacional de Quando Estou Amando, história de um cantor romântico francês e começo da parceria com o célebre e talentoso Gérard Depardieu. Três anos depois, a dupla continua firme e volta a concorrer a Palma de Ouro por À L’origine, a inusitada história de um ex-presidiário que se faz passar pelo representante de uma grade empreiteira e constrói uma rodovia no meio do deserto com a ajuda de uma pequena comunidade abalada pelo desemprego. Depardieu pode ser o nome mais conhecido do elenco, mas quem brilha na pele do protagonista de dupla identidade é François Cluzet (Não Conte a Ninguém). O ator ganhou os elogios mais entusiastas a produção, que agradou bastante apesar da abusiva duração de duas horas e meia. Durante a coletiva de imprensa, Giannoli negou que tivesse feito o filme para retratar o abandono social de certas comunidades francesas, e ainda discutiu a moral de seu personagem. Segundo ele: “Sempre parto do personagem, do ser humano para uma história. Não me interessa retratar o social e sim o drama de uma pessoa. No caso de Paul/Philippe, ele ganha a confiança das pessoas e, apesar de tudo, se sente responsável por não decepcioná-las. Isso me interessou muito, a idéia de responsabilidade quando se conta com a crença das pessoas, um valor que deveria ser pensado por todos que são donos dessa confiança, principalmente os políticos”. Durante sua jornada de criminoso a benfeitor social, o protagonista ainda se envolve com a prefeita da cidade pela qual sua ferrovia passaria. A personagem, Stéphane, é interpretada por Emmanuelle Devos, que esteve em Cannes em jornada dupla. Além de À L’origine, a estrela francesa proomover também Las Herbes Folles, novo filme de Alain Resnais.

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Michael Haneke, mais até do que um cineasta, é um sociólogo bastante competente. Indicado a quatro Palmas de Ouro até hoje e preferido antigo dos críticos de todo o mundo, o que Haneke faz com seu cinema é mostrar a nossa sociedade como ela é, sem concessões e censuras, e ainda lançando mão de recursos cinematográficos quase cruéis para mostrar ao espectador o quão ineficiente e hipócrita são nossas regras. As regras dele também, é claro. Mais conhecido por aqui como o diretor do brutal Violência Gratuita e do tenso Caché, Haneke foi a Cannes mais uma vez esse ano para apresentar sua visão sobre uma sociedade pautada por regras conservadoras e seus segredos por baixo do tapete. Das Weisse Band ou The White Ribbon é a história de um vilarejo exclusivamente protestante no interior alemão da década de 1910 que é abalado por acidentes estranhos demais para serem tratados como tal. Conforme os longos 144 minutos do filme vão se passando, a intimidade dos envolvidos nos acontecimentos vai sendo revelada com o requinte quase cruel da câmera de Haneke, que revela as faces problemáticas, destrutivas e autoritárias dos presumidamente normais moradores do local. Boa parte do filme, rodado em preto-e-branco, é narrado sob o ponto de vista de crianças e adolescentes, especialmente os filhos do pastor local, um homem totalitário que amarra uma fita branca no braço das crianças para lembrar-lhes de alguma punição. O elenco infantil foi bastante elogiado, assim como o equilibrado roteiro de Haneke. Pouco afeito a discutir sua obra, porém, o diretor pouco esclareceu na entrevista coletiva, preferindo deixar as inquietações de sua obra para os jornalistas analisarem. Segundo ele: “Me perguntam se é um microcosmo da Alemanha e eu respondo que é toda a Europa e todo o mundo. Onde houver uma idéia de fascismo, terrorismo, absolutismo, como queiram chamar, me interessa discutir. Há violência em todos os meus filmes. No mundo de hoje é difícil evitá-la”.

 cannes 22 uhulll!

O cinema brasileiro é de uma vitalidade e originalidade admiráveis”. E não sou eu que estou dizendo. As palavras aí em cima são do próprio Thierry Frémaux, presidente da equipe organizadora do Festival de Cannes e mestre de cerimônias para a premiere de À Deriva, filme tupiniquim que compete aos troféus da mostra paralela Um Certo Olhar. Brasil em Cannes não é novidade, uma vez que nosso praís tem até mesmo uam Palma de Ouro, concedida a O Pagador de Promessas em 1964. Quase meio século depois, o representante brasileiro na cidade francesa é a nova obra de Heitor Dhalia, um dos novos preferidos da crítica brasileira depois de colocar O Cheiro do Ralo nas salas de projeção com dinheiro do próprio bolso. Agora aliado com a 02 Filmes de Fernando Meirelles (Ensaio Sobre a Cegueira), Dhalia filmou um drama intimista, emocionalmente brutal e tecnicamente perfeito. Ou ao menos foram esses os comentários após a apaludia sessão da história de Filipa, uma adolescente que assiste a progressiva separação dos pais em plenos anos 1980, durante as férias da família em Búzios, e ao mesmo tempo tem sua iniciação na sexualidade. Nome mais conhecido internacionalmente do elenco, o francês Vincent Cassel (Fora de Rumo), apaixonado assumido pelo Brasil, atua como o pai da garota, um escritor que trai a mulher com uma americana. Ao lado dele, Débora Bloch retorna aos cinemas quase uma década depois do papel em Carandiru e é passa para trás pelo marido e por Camilla Belle, brasileira naturalizada americana que ficou conhecida por seu papel em 10.000 a.C. do diretor Roland Emmerich. O elenco é completo ainda por Cauã Reymond (Divã), que foi a maior atração dos fotógrafos, brasileiros ou não, ao passar pelo tapete vermelho com a companheira Grazi Massafera. Ele, que tem priorizado cada vez mais o cinema, disse: “Eu queria estar muito estar nesse projeto do Heitor, mesmo sabendo que meu personagem não teria muita participação. Cinema é o que mais gosto, tenho mais liberdade para me exercitar e criar tipos novos. Espero estar em breve em outro filme dele, quem sabe como o protagonista”. Enquanto isso, Dhalia se pronunciou sobre a boa reação a seu filme: “O filme parte de minha experiência pessoal, mas trata de um tema universal, que é a separação de um casal, o olhar de um adolescente sobre isso e a violência que esmaga a infância”.

Décimo dia: Sexta-Feira, 22 de Maio de 2009

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Sharon Stone com lágrimas nos olhos não é algo que se vê todos os dias. Acostumada a interpretar tipos classudos, sedutores e fortes no cinema, Sharon não escondeu a emoção ao comandar o jantar de gala da fundação AmfAR, fundação americana engajada na luta contra a AIDS, um dos eventos mais disputados do décimo dia do festival de Cannes. A estrela dividiu o comenado da cerimônia com o ex-presidente americano Bill Clinton, e apresentou a cantora britânica Annie Lennox, que entreteu os célebres convidados enquanto uma variedade de coisas eram leiloadas no palco. Entre os objetos mais disputados da noite estiveram um saxofone assinado pelo próprio Clinton, obras de arte de pintores consagrados e uma viagem para seis pessoas nas ilhas Galapagos a bordo de um iate. Essa última alcançou o maior lance, de 1 milhão de dólares. O evento ocorre em Cannes desde 1993, e desde então conseguiu arrecadar mais de 44 milhões de dólares para a luta contra a doença que afeta boa parte da população mundial. Quem fez a festa dos fotógrafos no evento, porém, foi mesmo Robetr Pattinson, a sensação adolescente do momento, intérprete do vampiro Edward em Crepúsculo. Além de convidado do evento, Pattinson subiu ao palco ao lado de Sharon para leiloar… um beijo na bochecha. Inspirado, Pattinson brincou: “Se der certo, pode virar algo mais”. Depois de concorridos lances, os pais de uma adolescente levaram “o lote” por quase 28 mil dólares. Ainda durante o evento foi anunciado o primeiro prêmio de Cannes 2009, a bem-humorada Palm Dog, que premia já há algum tipo os melhores “atores caninos” da edição. O vencedor do ano foi Dug, o cão que aparece no longa-metragem Up, da Pixar. A brincadeira com o prêmio seguiu com a Vergonha Canina do Ano, e quem levou foi o filipino Kinatay, que tem uma cena de atropelamento de cachorro.

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Talvez seja um pouco cruel marcar alguém tão talentoso quanto Terry Gilliam como um cineasta amaldiçoado. Ao mesmo tempo, é fato que as ambições e sonhos de um diretor capaz de produzir grandes obras-primas têm vez ou outra se tornado um problema. Nem vemos entrar em detalhes sobre The Man Who Killed Don Quixote, o lendário “filme que não queria ser feito”, mesmo porque basta dizer que entre as adversidades encontradas pelo diretor logo no início das filmagens estiveram uma imprevista inundação, mudanças de paisagem e até uma dupla hérnia de disco sofrida pelo protagonista. Perto disso, os estouros de orçamento e cronograma de As Aventuras do Barão de Munchausen são brincadeira, mas é como o velho ditado diz: “não acredito em fantasmas, mas que eles existem…”. Brincadeiras a parte, o que atingiu a produção de The Imaginarium of Doctor Parnassus, primeira obra do diretor depois do relativo fracasso do ambicioso Os Irmãos Grimm, não é algo para se brincar. Foi em Janeiro do ano passado, quando o filme de aproximava da metade de suas filmagens, que uma tragédia atingiu o mundo e, mais de perto, o próprio Gilliam. Heath Ledger foi encontrado morto em seu quarto, presumivelmente por overdose de remédios. O que pouca gente comentou na época é que Ledger deixara também um trabalho inacabado, justamente o protagonista Tony da fábula de Gilliam sobre um viajante de dimensões que se apresenta em uma companhia de teatro transcendental. De certa forma, é impossível negar que o filme ganhou muito mais publicidade com a morte do protagonista, e ainda mais com o anúncio de que não um, mas três outros atores tomariam o lugar de Ledger em um arroubo de ousadia integrado a trama do roteiro do próprio Gilliam ao lado do velho parceiro Charles McKeown (O Retorno do Talentoso Ripley). Os nomes para a substituição impressionaram mais ainda: Johnny Depp (Sweeney Todd), Jude Law (Closer) e Colin Farrell (Na Mira do Chefe). No time de estrelas do elenco ainda tem lugar para Christopher Plummer (Á Noviça Rebelde) no papel título e Verne Troyer, conhecido como o “Mini Me” da franquia Austin Powers. Esse último, aliás, foi a estrela da sessão de fotos da aplaudida premiere do filme de Gilliam, que provocou polêmica ao comparar seu Tony a um famoso chará. Nas palavas dele: “De certa forma, a idéia inicial de Tony foi baseada em Tony Blair, uma pessoa de quem eu gosto muito. Não podia imaginar um começo mais adequado a este personagem que não pendurado em uma ponte. Tony acredita no que quer que saia da boa dele mesmo que ele nunca tenha pensado nisso até dizer. Aí está o nosso homem. O nosso homem do Oriente Médio. Enquanto Gaza estava a ser bombardeada ele estava a receber uma medalha de George Bush, é assim que se lida com a paz do Oriente Médio. Bom trabalho, Tony”.

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O Oriente Médio é um barril de pólvora. A expresão, muito comum entre jornalistas e estudiosos da região mais explosiva do mundo, se esquece de mencionar, considerar ou pensar que também existem seres humanos naquela região. Alguns que nada tem a ver com o radicalismo e os conflitos milenares sem sentido que se desenrolam desde sabe-se lá quando. Talvez acima de tudo por isso, Elia Suleiman é um homem de sorte. Israelense de nascença, palestino por criação, o cineasta surgiu para o mundo em 2002 com seu Intervenção Divina e desde então vem crescendo no conceito dos críticos com seu cinema pessoal e emocionante, sem grandes modismos narrativos, uma espécie de realismo brutal e tocante que mostra o lado humano de uma região que estamos acostumados a ver em mapas, que esconde as explosões mais deixa o espectador senti-las ocorrerem por todo o lugar. The Time That Remais só não é um documentário porque se utiliza de encenações para recriar imagens há muito perdidas da família e da vida… de seu própro diretor. Em um relato estático, pulsante e tocante, Suleiman se coloca em frente a câmera e expõe seus próprios dramas, partindo de 1948, quando seu pai lutou contra os israelenses em uma resistência clandestina e chegando até os dias presentes, quando assiste a sua mãe já doente em uma cama de hospital. A saga do cineasta conquistou o público e os jornalistas que compareceram a premiere da obra no décimo dia do festival de Cannes. Ovacionado por vários minutos, Suleiman viu críticos de renome saírem da sessão de sua obra com lágrimas nos olhos, encantados com a mistura agridoce de comédia sutil e drama realista, e ainda foi bombardeado por elogios e questões na coletiva de imprensa que sucedeu a sessão. A pergunta tradicional das razões para se fazer um filme ganhou nova dimensão nas palavras de Suleiman: “Queria reproduzir no cinema a sensação de escutar música, oferecer uma mensagem em uma linguagem que não tenha que ser traduzida, que mesmo sem saber a letra, se possa apreciar a canção. Como palestino, é muito difícil abordar uma trama sem se deparar com a história do nosso país. Eu queria contar algo pessoal. Não tenho vontade de gastar minha energia em analisar como está o mundo”. Saiu com aplausos e com comentários sobre a Palma de Ouro, que se aproximava cada vez mais.

Décimo primeiro dia: Sábado, 23 de Maio de 2009

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Às vezes se paga o preço por ser o último de uma filha brilhante. A última estréia da lista dos filmes que concorriam pela Palma de Ouro do ano, Map of The Sounds of Tokyo veio prometendo sensibilidade, tragédia e romance nas mãos de uma diretora que já tinha mostrado habilidade em lidar com tais elementos em tempos passados. A mulher em questão, Isabel Coixet, vem tomando seu lugar como principal realizadora espanhola desde a década de 80 e até ganhou algum espaço na capital do cinema com trabalhos mais acessíveis como A Vida Secreta das Palavras e Fatal, recente e poético romance estrelado por Penélope Cruz e Ben Kingsley, célebre pelas cenas tórridas entre os dois. O elementro sensual ousado da diretora também está presente na nova obra, a história de um vendedor de vinhos espanhol que vai a Tóquio acertar um negócio e acaba se estabelecendo por lá, engatando um relacionamento que termina de forma trágica com o suicídio da garota. É depois de traumatizante experiência que David conhece outra adorável moça e se envolve em uma nova relação sem saber que a conquista é na verdade a irmã de sua ex-namorada, em busca de vingança. A trama de encaminhamento apoteótico recebeu a maior vaia registrada na edição 2009 de Cannes, fechando a lista de indicados a Palma de Ouro já indiscutivelmente fora de cogitação. A entrevista de imprensa, porém, foi bastante tranqüila, especialmente em se tratando do ator espanhol Sergi López, conhecido por aqui graças a sua visceral interpretação em O Labirinto do Fauno na pele de um cruel capitão do exército. Falando polidamente sobre a experiência de encarnar um personagem com tamanha complexidade emocional e ainda ter de superar a barreira das línguas, López disse: “Para mim foi uma experiência muito próxima, porque faço muitos filmes franceses e sempre me sinto um estrangeiro por aqui. Tive essa mesma sensação quando filmei em Tóquio, numa sociedade que é muito mais fechada para nós ocidentais por causa da língua e da cultura. Ouvi muita gente dizendo que David é um estereótipo, mas isso é a visão ocidental. As japonesas me parecem ser mais púdicas e carregam uma culpa em relação ao sexo, justamente o que a personagem de Rinku Kiguchi precisa superar para cumprir sua missão”.

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Temporada de prêmios aberta! Apostas para todos os lados, tensão e expectativa entre os concorrentes, uma platéia imensa de jornalistas prontos para bhater uma foto do filme vencedor e eventos luxuoso para anunciar os grandes ganhadores da 62ª edição do festival de Cannes. A descrição aí em cima pode não ter sido exatamente o que aconteceu no décimo primeiro dia na cidade francesa, que ainda aguardava o dia seguinte para conhecer a Palma de Ouro do ano, mas é fato que a concessão de prêmios da mostra paralela Un Certain Regard mobilizou a imprensa e proveu um bom aquecimento para quem roía as unhas ansioso com o anúncio dos grandes vencedores. Como sempre remando contra a maré, o júri da mostra, presidido pelo cineasta italiano Paolo Sorrentino (O Amigo da Família), resolveu premiar o eficiente estudo das relações inter-pessoais que o grego Yorgos Lanthimos, desconhecido em terras brasileiras, propôs em seu drama Kynodontas. O filme, terceiro de sua carreira, é um tratado desconcertante sobre autoridade e intransigência, focando na figura de um pai rígido que mantém o restante da família isolada do mundo pelos altos muros de uma fortificada propriedade. Levado em um tom que vai do leve ao chocante, Kynodontas é uma história que concede ao espectador uma dose refrescante de sentimentos reais e fortes. O filme foi elogiado até mesmo pelos seus concorrentes, incluindo nesse barco o brasileiro Heitor Dhalia, que saiu satisfeito com a recepção de seu filme, À Deriva, e conferiu credibilidade a ladainha de sempre: “É clichê, mas ser selecionado para estar aqui em Cannes já foi uma experiência maravilhosa. A recepção do nosso filme foi emocionante, um dos momentos mais lindos da minha vida, e receber comparações com gente como Eric Rohmer e François Ozon é uma honra impossível de descrever”. Além de Kynodontas, saíram vitoriosos da mostra Un Certain Regard outros três filmes. O romento Politist Adjectiv levou o grande prêmio da crítica e o troféu do júri, enquanto o iraniano Kasi Az Gorbehaye Irani Khabar Nadareh e o francês La Pére de Mes Enfantes faturaram dois prêmios especiais. E a tempoada estava só começando.

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Ser a última premiere de um Festival de Cannes tão agitado e ainda estrear logo após uma batelada de prêmios concedidos não é tarefa para qualquer um. O malaio Ming-Liang Tsai, porém, passa longe de ser apenas mais um no mar de realizadores insignificantes por aí. Multi-premiado em todos os festivais europeus e com bastante crédito entre os apreciadores mais profundos de cinema, ele é mais conhecido por aqui graças a O Sabor da Melancia, filme que saiu de Berlim em 2005 com três troféus. Na busca por sua Palma de Ouro desde 1998, quando foi indicado pela primeira vez por seu criativo O Buraco, Tsai chega para a 62ª edição do festival francês com um filme que tem tudo para agradar os donos da casa. E ainda não estamos falando de méritos cinematográficos. Para começar, Visage é um dos primeiros de uma leva de filmes que foram e serão filmados nos corredores mais famosos da Europa, os do Museu do Louvre, em Paris. Se isso já não fosse o bastante para agradar a platéia antes mesmo das luzes se apagarem, Tsai ainda conseguiu reunir três lendas do cinema francês sob seu comando. A mais breve e mais notável é a magnífica Jeanne Moreau (Jules & Jim), que não dava as caras em Cannes desde 2003, quando recebeu a Palma de Our honorária pela contribuição a arte de fazer cinema. Ao lado dela, Fanny Ardant (8 Mulheres) concede brilho a divertita produtora linha-dura que inferniza a vida do protagonista, um cineasta oriental que consegue permissão para filmar dentro do museu um filme sobre o mito de Salomé. É na sua escolha para atuar como o protagonista da obra que entra Jean-Pierre Léaud, ator preferido do falecido François Truffaut (Beijos Roubados), que há algum tempo não ocupava um papel de destaque nas telas de cinema. Em Visage ele interpreta o escolhido do protagonista para estrelar sua obra, uma espécie de versão mais rabugenta de si mesmo. Assediado nas coletivas de imprensa após a aplaudida sessão do filme, Léaud destacou a importância de obra para ressucitar uma lendária tradição do cinema francês: “O que Ming-Liang fez aqui é um milagre. Ele reuniu um elenco único para um momento antológico, aquele que diz respeito a um período fundamental do cinema que perdeu a voz há muito tempo. Estamos comemorando 50 anos de nouvelle vague, mas daqui a pouco volta-se a esquecer a importância dela. Mas o filme de Tsai ficará aíu para sempre lembrá-la”.

Décimo segundo dia: Domingo, 24 de Maio de 2009

Vamos direto ao assunto: a premiação de Cannes 2009 não pode sob nenhuma circunstância ser chamada de mais ousada da década. É verdade, o favorito teve que se conformar com um prêmio secundário enquanto um coadjuvante tomava o holofote principale  as portas do cinema mundial finalmente se abriam para o cinema sem concessões e de profundos estudos psicológicos do austríaco Michael Haneke. Mas Cannes não é só a Palma, e entre prêmios menos importantes e discursos longos  aristocráticos, o festival francês fechou sua 62ª edição com uma premiação pulverizada, quase cautelosa, que se permitiu alguns arroubos de ousadia para injetar um pouco de energia aos comentários sobre a lista de ganhadores. Impossível negar, por exemplo, que Brillante Mendoza subiu ao palco como uma zebra vitoriosa para recer seu troféu de melhor diretor, muito menos que os prêmios de interpretação foram extremamente bem escolhidos. Sem hipocrisia aqui, aliás. Pouco conhecidos e sempre polêmicos, os dois ganhadores venceram mais por mérito e menos por nome, fechando a lista para lá de justa dos que saíram vencedores da riviére francesa. Além dos já citados, o chinês Lou Ye e seu Spring Fever, que provocou polêmica ao ser banido no país de origem, levaram a coroa de melhor roteiro, enquanto seu amigo Park-Cahn Wook saiu da noite com o troféu do júri pelo terror Thrist. Outro prêmio bem disputado, a Camera D’Or do ano surpreesndeu ao laurear o australiano Warwick Thornton, pouco conhecido fora de seu país, pela estréia em longa-metragens com a história de amor Samson and Delilah. Os prêmios foram fechados com a Palma de Ouro para curtas, conquistada pelo português João Salaviza e seu controverso Arena. Abaixo, as fotos e os discursos dos principais premiados:

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O austríaco Michael Haneke, diretor de filmes como Violência Gratuita, e sua Palma de Ouro por Das Weisse Band, que garantiu distruibuição brasileira sob o título de A Fita Branca. O clima opressor do filme baseado na Alemanha nazista conquistou os críticos e desbancou o favorito da casa, Un Prophéte.  “Minha mulher às vezes me faz uma pergunta muito feminina: você está feliz? É muito difícil responder, eu acho, porque felicidade é uma coisa rara. Mas agora eu posso dizer que esse é um momento da minha vida onde eu estou realmente feliz”.

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O francês Jacques Audiard, favorito ao prêmio principal desde que seu Un Prophéte estreou, leva o certificado de consolação concedido pela crítica em seu Grand Prix de Cannes. O bom-humor não saiu de voga, e o filme deixou a riviére francesa com distribuição americana garantida pela Sony Classics. “No meu filme, que queria fazer que um herói se parecesse assim como eu e vocês, mas que também mata porque o ambiente pede isso dele. Então você pode se identificar com ele. É ficção, não vem de lugar nenhum. E é notável que tenha chego até aqui”.

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O filipino Brillante Mendoza, mesmo com toda a polêmica provocada por seu sombrio Kinatay, não teve o talento com a câmera ignorado pelo Júri, que justamente concedeu ao cineasta o prêmio de Melhor Direção do ano. “Primeiramente, eu gostaria de agradecer ao comitê de seleção por trazer meus filmes para cá pelos últimos três anos. Esse prêmio é dedicado a minha filha, Angelica, que sempre foi minha crítica número um, e a um ator que eu respeito muito, Coco Martin. Obrigado a todos por abraçarem meu tipo de cinema”.

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O ator asutríaco Christoph Waltz conquistou seu lugar no conceito dos críticos presentes em Cannes e passou a perna em uma batelada de astros, incluindo seu companheiro de cena Brad Pitt em Inglorious Basterds, nova obra de Quentin Tarantino. No papel de um oficial nazista, Waltz é explosão do começo ao fim no épico de guerra do diretor. “Preciso agradecer a muita gente, mas especialmente a Brad Pitt, por ter me permitido ser seu parceiro em cena. E principalmente ao Coronel Landa e seu inimitável criador. Quentin Tarantino. Quentin, preciso te responder: você me devolveu minha vocação!”.

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A franco-inglesa Charlotte Gainsbourg e sua interpretação visceral no criticado Anticristo, do sempre polêmico Lars Von Trier (Dançando no Escuro), passaram por cima de toda a controvérsia e chegaram triunfantes ao palco principal das premiações do festival. Aplaudida ao subir ao palco, Charlotte recebeu o prêmio de melhor atriz do ano. “Foi a experiências mais intensa da minha vida. Fui fundo, me violentei para chegar até uma composição que eu mesmo considerasse boa. Nunca fui uma pessoa popular, porque nunca falei muito, era a minha forme de se proteger contra tudo o que era falado sobre meus pais. Serge, papai, espero que esteja orgulhoso de mim agora”.

Depois…

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Cannes terminou. Mas já falamos demais do que passou pelas ruas ensolaradas da cidade francesa, tanto que talvez seja bem mais produtivo pararmos um pouco para pensar naqueles que não ficam por lá apenas para os doze dias do festival. Sim, porque tão rápida e tão belamente quanto um pôr-do-sol, passou por Cannes, a cidade, um furacão de astros e estrelas do cinema que desfilaram por tapetes vermelhos, freqüentaram festas que fizeram a alegria dos paparazzi e foram a premieres cheias de fotógrafos que terminavam em coletivas de imprensa concorridas. Por doze dias, também, Cannes foi Babel. Todas as línguagens, visões e estilos do mundo lá estiveram para uma grande festa que, para além dos flashes, se propunha a falar sobre cinema. Não sobre o mundo, não sobre a sociedade. Sobre cinema. Um microuniverso rico e fascinante que por pouco tempo se deixou estudar concentradamente, às vezes, em uma única sala de projeção. Pleas ensolaradas praias da pequena Cannes passaram grandes nomes que ascendem a curiosidade mundo afora, cuja fama e cuja notabilidade ultrapassam fronteiras e se fazem notar para muito, muito longe de onde vivem. Literalmente, o mundo esteve em Cannes. E agora, de repente, da noite para o dia, Cannes é apenas mais uma cidade. Pequena, não um grande póloco comercial ou industrial. Apenas mais uma vila francesa, ou quase isso. Não deve ser fácil se acostumar com a nova (velha) rotina depois de tanta e tão breve agitação. E é quase irônico pensar do que Cannes vive quando os tapetes vermelhos são enrolados e guardados, a espera do próximo ano. De expectativas, talvez. De apostas, quem sabe. Se bem que, em se tratando do festival mais prestigiado e badalado do mundo, o melhor mesmo é esperar que venham mais surpresas. Até 2010.

Bom, pessoal, e esse foi o maior post da história do Filme-Pipoca! E eu demorei quase uma semana para prepará-lo do jeitinho que ficou, começando do momento em que tudo estava definido em Cannes e terminando hoje! Bom, espero que seja o bastante para cobrir um evento tão importante e tão amplo. Agora podemos voltar a vida normal. Cannes, só ano que vem. Os melhores filmes para vocês e até a próxima!