quarta-feira, 29 de abril de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (29/04/2009)

TMNT begins

“Teen Mutant Ninja Turtles”, ou simplesmente TMNT, é o nome que os americanos e os fãs mais radicais espalhados pelo mundo usam para se referir a franquia conhecida pelos mais leigos simplesmente como “Tartarugas Ninja”. Um enorme sucesso na transição dos anos 1980 para os 1990, o grupo super-heróico de tartarugas adolescentes modificadas geneticamente e batizadas com nomes de pintores do Renascimento foi protagonista de uma série de TV em animação que durou uma dezena de temporadas, além de uma trinca de filmes para cinema que viraram freqüentadores assíduos da Sessão da Tarde até pouco tempo atrás. Um tanto esquecidas no novo século, as tartarugas amantes de pizza retornaram a todo o vapor em 2007 com a super-produzida animação digital “Tartarugas Ninja – O Retorno”, produção que garantiu a Weinstein Company ao menos uns poucos dólares em um ano turbulento. O filme comandado pelo estreante Kevin Munroe e dublado por gente de categoria como Laurence Fishburne (“Matrix”) e Patrick Stewart (“X-Men”), não demorou para render seus frutos na terra do aproveitamento total que é Hollywood. Enquanto a repentina popularidade não passa, a capital do cinema deve aproveitar a oportunidade para capitalizar em cima dos fãs ao produzir uma nova versão live-action (assim como a trilogia dos anos 1990) protagonizada pelo quarteto de super-heróis. Kevin Eastman, que entre outras manias oitentistas ajudou a criar a série original, já declarou em seu fórum virtual que está animado com a possiblidade de um enredo reinventando (outra vez) a origem do grupo. Nas mãos da Warner Bros, o filme pode ser “um retorno às origens e uma chance de introduzir novamente o Destruidor, entre outros detalhes” segundo Eastman. Outro co-criador da série que se pronunciou sobre o novo filme foi Peter Laird, que causou estranhamento aos fãs ao declarar que a produção está sendo influenciada pelo clima de “Batman Begins”. Segundo ele, “apenas contar o que aconteceu no primeiro número da revista em quadrinhos dos personagens resultaria em um filme muito curto, portanto acredito que outras tramas da série devem aparecer”. A idéia de ver atores vestindo roupas de tartarugas ainda não agrada, mas quem sabe a tecnologia infinita de Hollywood não dá um jeito? É esperar 2011 para ver.

Trash duas vezes

piranha_poster_01

Em 1978, faziam apenas três anos que Steven Spielberg havia se tornado tudo o que conhecemos hoje com o sucesso estrondoso de “Tubarão”. Aventuras sobre peixes assassinos nunca foram exatamente o forte de Hollywood, mas como toda moda está aí para ser aproveitada, um novato Joe Dante (“Gremlins”) se valeu da premissa para surgir para o mundo com seu trash assumido e divertido no cult-clássico “Piranha”, de título auto-explicativo. Feito com menos de 1 milhão de dólares, o longa era o exagero em forma de imagem, não apresentando nenhuma justificativa plausíveis para as piranhas super-desenvolvidas que atacavam os hóspedes de um hotel em suas corredeiras particulares. Tudo desculpa para uma aula de cinema de terror trash e 90 minutos de puro massacre em águas turvas. Como era de praxe na década de 1980 (e anda mais raro nos últimos tempos, ainda bem), o filme ganhou uma continuação picareta logo no ano seguinte, que chamou a atenção por ser o primeiro trabalho do ainda desconhecido James Cameron (“Exterminador do Futuro”) na direção. Um quarto de século e um remake televisivo que passou em branco depois, as piranhas assassinas ressuscitaram para a capital do cinema ante a moda do 3D que abriu o espaço como nunca para filmes de monstros atraírem a platéia como um ímã. A bem da verdade, a refilmagem de remake está sendo comentada nos círculos cinéfilos desde 2005, quando Chuck Russell (“O Máskara”) era o responsável pelo novo roteiro. Na visão dele, a nova epidemia de ataques marinhos seria causada por um terremoto que abre caminho para piranhas pré-históricas saírem de uma cratera milenar e aterrorizar a população. Não por acaso, ele ficou no cargo só até 2007, quando o diretor Alexandre Aja (“Espelhos do Medo”) embarcou no projeto e exigiu que o roteiro passasse por uma reestruturação, o que acabou o conduzindo as mãos do próprio ao lado de Josh Stolberg (“Maldita Sorte”) e Pete Goldfinger (“Avatar”). Com as filmagens atrasadas e já com a tecnologia 3D agregada a sua produção, “Piranha 3D” (Hollywood não perde mesmo essa mania) ganhou um elenco surpreendente para uma série que sempre teve desconhecidos atuando. Elizabeth Shue (“O Homem Sem Sombra”) protagoniza ao lado de Adam Scott (“Quase Irmãos”), e dos experientes Ving Rhames (“Missão: Impossível III”) e Richard Dreyfuss (“Poseidon”). A refilmagem deve chegar aos cinemas em 19/03/2010.

Irmão poderoso

Tony Scott pode não ter a sombra do prestígio do qual o irmão mais velho desfruta, mas isso não o impede de sair na vantagem de quando em quando. Quieto em seu canto desde que não fez mais do que o de sempre em “Déja Vu”, Tony pode retornar em grande estilo no que pode ser a aventura mais explosiva e ousada dos últimos tempos. Tudo isso enquanto o irmão anda com problemas para colocar na agulha sua versão do mito de “Robin Hood” ao lado do parceiro Russell Crowe (“Uma Mente Brilhante”). Em comum, ao menos, os dois tem associados de altíssimo nível. Se Ridley tem o ator mais rigoroso e perfeccionista do nosso tempo, Tony tem Denzel Washington (“Dia de Treinamento”), que não passa longe da mesma definição. Se o ator realmente embarcar no thriller “Unstoppable”, o que soa como incrivelmente provável, seria o quinto filme tocado pela dupla, que se mostrou eficiente em “Maré Vermelha” e “Chamas da Vingança”, mesmo que tenha escorregado no final do segundo tempo com o recente “Déja Vu”. Ainda assim, é de se confiar em um diretor de ação incrível e um ator tão talentoso unidos para contar a explosiva história da tentativa de dois homens comuns em impedir um vagão sem direção a provocar um dano material e humano sem precedentes. O tal veículo carrega uma carga tóxica tão grande que, caso derramada em um provável descarrilamento, pode dizimar uma cidade do tamanho de Nova York. E não é que o sempre contundente Mark Bomback (“Duro de Matar 4.0”) teve a audácia de localizar a ameaça na Grande Maçã? Não é pouco se pensarmos que o mundo americano ainda vive a sombra e a lembrança do 11 de Setembro, o que abre espaço para uma trama tão simplista significar bem mais do que pretende ou poderia pretender. O primeiro convocado pela 20th Fox para dirigir o projeto foi Martin Campbell (“007 – Cassino Royale”), que pulou fora para se envolver com uma dezena de outros projetos, incluindo o esperado “Edge of Darkness”. Depois de finalizar o polêmico remake “The Taking of Pelham 123”, sobre o assalto a um metrô protagonizado pelo próprio Washington ao lado de John Travolta (“Hairspray”), Scott tratou de fazer o projeto engatar uma marcha mais veloz para chegar aos cinemas entre o fim desse ano e o começo de 2010. Ao que parece, o astro confia em seu comandante. Sempre bom sinal.

Princípio do punk

Se tivesse se tornado esportista, cantor de algum gênero popular ou escritor, a história de Ian Dury seria hoje uma daquelas que são lembradas como exemplos de vida e superação. Seu nome seria exaltado nos documentários baratos que pipocam por aí sobre pessoas que foram além de alguma limitação para se tornarem algo inacreditável ou extraordinário. Mas ele preferiu seguir um caminho mais obscuro e se tornou uma lenda por ser um dos pioneiros do movimento punk que nos acompanha até hoje em uma variedade grande de bandas entre 1971 e 2000, quando faleceu aos 57 anos. Alternativo, polêmico, super-ativo, Ian Dury hoje é um nome que passa em branco pela maioria das pessoas. Ou pelo menos até “Sex & Drugs & Rock & Roll”, sua cinebiografia, chegar aos cinemas em meio a onda causada pelo sucesso inesperado do independente “Control”, sobre outra figura fascinante que não se encaixava no mainstream, Ian Curtis, líder da banda Joy Division. Depois do filme dirigido pelo novato holandês Anton Corbijn faturar bem mais do que se esperava, foram anunciados filmes baseados na vida de figuras como Kurt Cobain e John Lennon, que aliás já foi tema de pelo menos uma dezena de filmes. Ian Durys é o patinho feio desse trio, mas suas história pode surpreender. Nascido em 1942 em alguma pequena cidade inglesa, Ian Robbins Dury contraiu a paralisia infantil, ou pólio, aos sete anos, em 1949. Ele passou mais de três anos internado com graves infecções e total falta de movimentos nas pernas. Ensinado pelo irascível ambiente do lar para crianças desabilitadas onde passou toda sua infância, Dury se tornou uma pessoa determinada, focada e extremamente criativa. Fez apenas quatro anos da escola convencional antes de entrar para um prestigiado colégio de artes britânico, onde eventualmente se tornou professor. Com os movimentos limitados, Dury fez teatro, apresentações performáticas que eram consideráveis impossíveis para sua condição e encontrou realização na música quando ainda explodia o rock progressivo, formando o Kilburn and the High-Roads, banda de pouco sucesso que não passou do primeiro álbum. O The Blockheads, banda que rendeu-lhe o cargo de fundador do punk, foi em mais longe com suas letras espertas (a maioria do próprio Bury) e som pesado e independente que caracterizou o movimento. Dury não foi derrotado por suas limitações, mas por um câncer que o matou em 2000. Oito anos depois, seu filme ganha elenco estrelado que conta com Andy Serkis (“Coração de Tinta”), Naomie Harris (“Extermínio”) e Ray Winstone (“Indiana Jones e O Reino das Caveiras de Cristal”), que tem título inspirado no maior sucesso de sua carreira solo, que veio a se tornar o lema de qualquer punk que se preze.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… estou tentando estabelecer uma rotina, mas está meio difícil… acabei de perceber que ando bem atrasado com as notícias, mas aos poucos a gente vai ficando informado juntos, certo? Espero vocês sempre por aqui, sempre apreciando o cinema. Bom, como vocês já devem ter notado aí na coluna do lado: O Filme-Pipoca agora tem comunidade no Orkut! O link para quem não viu é esse aqui: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=87626813. Espero vocês por lá também. Os melhores filmes para todos vocês sempre e até mais!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (28/04/2009)

Apunhalados pelas costas

Quadrinhos underground são um ramo que pouca gente toma conhecimento e menos ainda se empolga quando a eventualidade ocorre. Portanto, fazer sucesso é um lance de sorte raro. “The Losers”, por exemplo, pode ter sido uma publicação do braço alternativo da DC (o sempre polêmico Vertigo), mas chamou a atenção dos críticos pela qualidade ao adaptar para o século XXI a trama da já pouco conhecida minissérie dos anos 1970 de mesmo nome, um conto da Segunda Guerra sobre uma singular tropa americana composta apenas por homens que já viram a tragédia passar por suas vidas. Pouco do espírito aventureiro do original ficou na nova versão, escrita por Andy Diggle (“Batman Confidential”), que se sustentou nas bancas por três longos anos e mais de 700 páginas da história de um grupo de ex-agentes secretos traídos pela CIA que se reúnem para orquestrar sua vingança. Os Losers eram um grupo de alta hierarquia na agência durante os anos 1990, quando a guerra contra o terrorismo ainda engatinhava, mas se tornaram obsoletos e acabaram sabendo demais, o que levou o contato Max a armar uma cilada para que todos fossem friamente assassinados. Eventualmente, eles escaparam. Uma década escondidos depois, eles estão de volta com um plano mirabolante para conseguir sua vingança e a retirada de seus nomes da lista de procurados da CIA. A história, prato cheio para os delírios pirotécnicos das super-produções, despertou a ganância de Hollywood em 2005, mas passou três anos de sua vida com problemas para encontrar a casa em que tomaria vida cinematográfica. Primeiro, a Warner contratou Peter Berg (“Hancock”) para desenvolver o roteiro e Tim Story (“Quarteto Fantástico”) para a cadeira de direção. Três anos depois, porém, a Dark Castle abocanhou o projeto e lhe deu um novo rumo mais sóbrio, com James Vanderbilt (“Zodíaco”) escrevendo e Sylvain White (“O Poder do Ritmo”) conduzindo. Felizmente o projeto continua de pé na produtora, mesmo que as escolhas de elenco cheguem a confundir. Jeremy Renner (“Extermínio 2”) tem o perfil perfeito para encarnar Jensen, o hacker e alívio cômico da equipe, mas deu a entender que iria interpretar o protagonista Clay ao definir seu personagem como “um anti-herói bem interessante”. Por sua vez, Jeffrey Dean Morgan (“Watchmen”), que não faria feio na pele de Clay, pode se tornar o cowboy atirador Cougar. Sobrou para Chris Evans (o Tocha Humana em pessoa) encarar o hacker ao lado de Columbus Short (“Encontrando Forrester”) na pele do piloto Pooch e Zoe Saldana (“Star Trek XI”) como a gélida Aisha.

C.S.I. com tortura

edge

O que se esperar de um filme de Mel Gibson? Há quem diga loucura, há quem prefira ousadia e há quem goste de usar o termo ambição, mas a bem da verdade o que todos nós esperamos e invariavelmente encontramos é violência. Uma violência refinada, ainda que crua, é verdade, níveis acima dos “Jogos Mortais” que vemos por aí, mas ainda assim tarda mas não falha: Gibson não consegue passar duas horas na tela do cinema sem assistir a uma tortura, uma morte violenta, uma cena ensangüentada, um acidente horroroso ou qualquer coisa do tipo. É de se tirar o chapéu para um homem que nunca negou isso, nunca abriu mão de suas opiniões sempre controversas e ainda continua vivo na terra do cinema sem precisar fazer uma dezena de filmes por ano. Gibson é um astro por natureza, e é isso que “Edge of Darkness”, projeto que vem tocando da forma que bem entende desde o começo do ano passado, vem para provar. Sem das as caras em frente as câmeras desde “Crimes de um Detetive”, de 2003, Gibson volta a atuar no projeto, um remake (para variar) de uma minissérie britânica que acumulou prêmios em seu país em meados da década de 1980. A trama se aproveitava da investigação pessoal do detetive de polícia Ronald Craven, na época interpretado pelo desconhecido Bob Peck, sobre o assassinato da própria filha para expor as entranhas mais sombrias da corrupção dentro da polícia inglesa da época. Polêmico para sua época, “Edge of Darkness” atravessou os anos como uma espécie de clássico escondido da TV que voltou a vida com o interesse de Gibson e o conseqüente embarque do diretor Martin Campbell (“007 – Cassino Royale”) no projeto de reviver a trama e transportá-las para terras ianques na atual paranóia pós-11 de Setembro. A coisa tomou outra proporção quando os cinéfilos salivaram com a possibilidade de ver Gibson se confrontando com ninguém menos que Robert De Niro (“As Duas Faces da Lei”), que poderia ser o intérprete de um oficial enviado para limpar as evidências na cena do crime, o que desperta o primeiro interesse no investigador, agora rebatizado de Thomas Craven. O elogiado Danny Huston (“30 Dias de Noite”) se juntou a gangue como um homem de negócios suspeito do crime na visão de Craven. A coisa começava a ficar boa de verdade quando as famosas “diferenças criativas” tiraram De Niro do projeto, sendo substituído pelo sempre eficiente Ray Winstone (“Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”), o que não impediu que as filmagens começassem, a Warner garantisse a distribuição do thriller e a primeira imagem fosse lançada (aí em cima).

Soldados decadentes 

universal soldier

A conjunção de astros em que se tornou “Soldados Universal” no início dos anos 1990 não foi de se subestimar. Sob o comando do veterano Roland Emmerich (“O Dia Depois de Amanhã”), os dois maiores astros de ação da época batalhavam por longos 103 minutos em uma perseguição que empolgou os fãs do gênero e chegou a ganhar duas continuações para a TV tidas como não-oficiais ainda na década em que nasceu. Em 1999, o belga Jean-Claude Van Damme (“Street Fighter”) até tentou recuperar a fama ao produzir uma seqüência picareta, sem o seu co-astro no original, o sueco Dolph Lundgreen (“Rocky IV”). “Soldado Universal II” até chegou a ser lançado nos cinemas, mas naufragou e selou de uma vez por todas a decadência de seu astro. Sem uma sombra de sua fama no novo século, Van Damme entrou para o mundo dos filmes direto para vídeo e lá amargurou por longos oito anos até experimentar uma espécie de renovação discreta com o esperto “J.C.V.D.”, bizarra semi-biografia ainda inédita no Brasil que provocou furor entre os apreciadores de cinema independente e críticos especializados que descobriram, afinal, que o belga sabe atuar. Lundgreen ensaia o mesmo com o igualmente estranho “Command Performance”, com o qual ele pretende voltar as salas de exibição contando a história de um baterista de uma banda de rock que fica, por alguma razão, com a responsabilidade de salvar o presidente americano de um atentado. Mais provável é que ambos cheguem juntos a seu objetivo de renascimento olhando para o passado. Depois de anunciar a primeira parceria com Steven Seagal (“A Força em Alerta”) no antecipado “Weapon”, Van Damme lançou-se em um vôo mais ambicioso ao acertar os ponteiros com Lundgreen e chamá-lo para retornar aos personagens do original em “Universal Soldiers: The Next Generation”, cuja trama permanece guardada a sete chaves longe dos blogueiros de plantão prontos para dissecar a produção. O que se sabe até agora é que ambos ganharam a companhia de ilustres desconhecidos como Zahary Baharov (“Guerra S.A.”) e Jon Foo (“O Protetor”) no filme roteirizado por um estreante e dirigido pelo documentarista John Hyams. Estreante na ficção, o nome do cineasta chama a atenção por ser o filho do talentoso Peter Hyams, que anda meio esquecido mas chegou a dirigir, veja só, o próprio Van Damme nos tempos de glória de “Timecop”. A primeira foto dos protagonistas foi liberada (aí em cima), mas o filme ainda não tem data para chegar aos cinemas. Ou as locadoras, quem sabe.

O último rei da ficção

O título é apoteótico, o nome do escritor é conhecido nos círculos dos apreciadores de ficção científica e, mais recentemente, em Hollywood, e talvez por isso seja difícil acreditar no quão intimista pode se tornar “The End of Eternity”. Isso se os grandes estúdios deixarem. A impressão, é claro, só fica para quem não conhece de verdade a obra de Isaac Asimov, considerado por muitos o melhor escritor de ficção científica de todos os tempos. Não é a toa. Ler as palavras do escritor é como uma viagem por todos os elementos do gênero. Há mistério, o medo do desconhecido, a vontade de explorar, a empolgação ao construir o futuro e o lirismo nas discrições. Tudo isso sempre para suportar tramas que poderia tomar a proporção que fosse e ainda não se desviavam do cerne emocional e da personalidade de cada personagem. Quem prefere o cinema deve ter conhecido um Asimov distorcido em “O Homem Bicentenário” e, especialmente, no recente “Eu, Robô”. Nada contra o filme, uma aventura de ficção científica eficiente e instigante, mas pouco sobrou dos princípios geniais que o escritor lançou para a robótica no livro inspirador da obra cinematográfica, dividido em curiosos contos para revelar a natureza e evolução da robótica em um fantástico exercício de imaginação carregado de sincera dedicação. Se o talentoso e visualmente genial Alex Proyas (“O Corvo”) fez sua mágica mas não conseguiu reproduzir a que Asimov guardava em sua escrita, as chances de Kevin MacDonald não são tão maiores quanto se pensa. Cineasta habilidoso em matérias políticas como demonstrou no recente “O Último Rei da Escócia” e no ainda inédito no Brasil “Intrigas do Estado”, MacDonald acaba de assinar para sair de seu ambiente natural e assumir a direção de “The End of Eternity” assim que terminar de rodar seu épico romano “The Eagle of the Ninth”. Ou talvez não seja tão distópica assim essa mudança de gênero. Apesar de ser uma história de ficção científica, o livro que originará a obra tem nas entrelinhas muito de política. Em suma, é Asimov brincando de ser Philip K. Dick em plenos anos 1950. A trama acompanha a trajetória de uma organização que recruta homens de todas as épocas da história da humanidade para controlar o futuro. Com modificações meticulosamente calculadas, os “Eternals” são capazes de minimizar o sofrimento da humanidade séculos depois. Quando Andrew Harlan, um dos “Eternals”, descobre que é parte de um plano da organização para garantir a própria criação em uma modificação muito grande no passado que pode até mesmo afetar a vida da mulher que ele ama. Confuso ou não? Boa sorte para MacDonald.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… quero me desculpar, ando muito atarefado, então os boletins estão começando a sair periodicamente… primeiro, porque é semana de provas… segundo, porque eu percebi que deixei muita coisa para trás com a promessa de atualizar esse blog duas vezes por dia. Acho que preciso de um pouco mais de tempo para fazer as outras coisas que gosto de fazer. Estava pensando em marcar dias para o Boletim sair… algo como três ou quatro vezes por semana. Mas isso é coversa para outro dia. Agradeço a compreensão. Até mais!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Austrália – A nova viagem encantadora de Baz Luhrmann

 

Austrália (Australia, Austrália/EUA, 2008)

De: Baz Luhrmann.

Com: Nicole Kidman, Hugh  Jackman, David Wenham, Brandon Walters.

165 minutos

Realizar uma obra-prima, por incrível que pareça, pode não ser um bom investimento a longo prazo para o cineasta responsável por sua orquestração. Já que nossa percepção de cinema é toda baseada em expecatativas e como elas se comparam ao resultado real, uma obra-prima enterrada anos no passado pode voltar para assombrar um diretor que, afinal, pode não estar querendo repetir o feito. Mas nossos olhos não vêem intenções, e a interpretação das imagens que vemos na tela pode não ser tudo o que esperávamos. Ousado, ambicioso e genial, o australiano Baz Luhrmann foi elevado a uma categoria acima da enorme maioria dos outros diretores em 2001, quando sua estilizada e emocionante história de amor em forma de musical encantou ao mundo inteiro e levantou polêmica entre críticos e admiradores. “Moulin Rouge”, o filme em questão, poderia ser exagerado, pretensioso e cheio de excessos e heresias na visão de alguns, mas difícil mesmo era negar a genialidade visual de Luhrmann e segurar as lágrimas diante do final trágico de uma obra que essencialmente envolvia por não querer falar sobre nada além do amor. Pode parecer ingênuo, mas fez todo o sentido diante da câmera de Luhrmann e da interpretação icônica de Nicole Kidman. Praticamente deixado de lado no Oscar 2002, a revelia da opinião da maioria dos críticos de cinema, Baz Luhrmann seguiu o trabalho magistral de “Moulin Rouge” com seu habitual intervalo ao estilo Kubrick. Durante sete anos ele amadureceu uma idéia que poderia amplificar a um nível estratosférico a ambição que marcou a sua carreira e ainda lhe dar a oportunidade de homenagear sua terra natal no que ele chamou de “...E o Vento Levou da Austrália”. O resultado da idéia chegou aos cinemas com uma expectativa tão grande e uma mobilização tão intensa que foi impossível evitar aquele tipo de espectador que entrava no cinema esperando ver os mesmos tons fortes e cortes rápidos da última obra do diretor. E se há algum filme de que “Austrália” passa realmente longe, esse filme é “Moulin Rouge”. O que não significa que um dos dois filmes precise ser ruim. Não há aqui a dramatização exagerada e o romantismo inocente que encantava no filme de anos atrás, muito menos a montagem teatral dos cenários ou as luzes que coalhavam a Paris do musical. Cada um ao seu nível e no que pretendem, ambos são filmes vitoriosos que envolvem o espectador em uma jornada encantadora. Ainda assim, poucos arriscariam, sem saber, que se tratam de dois filmes dirigidos pela mesma pessoa. E é quando um diretor se confunde com sua obra que a genialidade se torna incontestável.

Baz Luhrmann é um mago da imagem, um homem capaz de transformar cada tomada, por mais banal que seja, em uma obra de arte. E se há uma lição clara que ele tenta passar com a imagem em “Austrália” é que ousadia nem sempre é a resposta. Luhrmann não tenta inovar nos movimentos pela paisagem de seu país e nem nos ângulos de câmera que usa para contar a história a que se propõe. Mas de alguma forma indecifrável, a imagem que ele cria com seus cortes e movimentos de certa forma convencionais é milhares de vezes mais deslumbrante do que qualquer coisa produzida por Hollywood nos últimos tempos. Suas panorâmicas pelas paisagens são quadros pintados com agilidade de um artista que sabe o que faz, e a climatização que sua câmera impõe nos momentos de adrenalina não poderia ser mais perfeita e emocionante para o espectador. Mesmo quando se concentra no âmago de seus personagens, Luhrmann revela uma grandiosidade surpreendente, filmando interpretações como se cada detalhe se integrasse ao cenário e fazendo de cada movimento um novo elemento de encantamento. Em resumo, se há alguém para ser aplaudido de pé em “Austrália”, esse alguém é sem dúvida nenhuma Baz Luhrmann. Idealizador de sua própria história, o diretor contou com uma dupla de roteiristas ao seu lado para criar os acontecimentos que movimentam o filme. Com Stuart Beattie (“30 Dias de Noite”) e Ronald Harwood (“O Escafandro e a Borboleta”) prestando assistência, Luhrmann construiu uma história vibrante e movimentada a cada segundo que nunca deixa cair a atenção do espectador, mas também se mostra um tanto quanto esquizofrênica em sua concepção. Ao retratar a vida de uma lady inglesa ao país que dá nome a obra a beira da Segunda Grande Guerra, Luhrmann passeia por drama, comédia e aventura sem nunca deixar perder de vista as proporções épicas que transparecem a cada take de “Austrália”. De uma difícil e fatal travessia a uma dolorosa separação e o final triunfante movimentado pela chegada da Segunda Guerra ao continente, passando por relações complexas entre os personagens que tratam de preencher o âmbito emocional da trama, o roteiro é conduzido com habilidade, mas nunca deixa esquecer o quanto pretende. Isso pode ser uma virtude ou um malefício para uma obra cinematográfica. Mas acima de tudo demonstra um dos poucos lampejos de ousadia de um filme tecnicamente perfeito.

A trama encontra seu ponto inicial logo após a entrada dos EUA na Segunda Guerra, com os japoneses avançando pelo Pacífico em todas as direções e se aproximando perigosamente das ilhas da Oceania. Nesse panorama mundial, não há nada que deixe transparecer a tensão por que passa a Austrália habitada por nativos, fazendeiros poderosos e inescrupulosos, damas mimadas e vaqueiros grosseiros. É com esse cenário da grande cidade de Darwin que a lady inglesa Sarah Ashley (Nicole Kidman) ao desembarcar na ilha visando convencer o marido fazendeiro a vender seu pedaço de terra no Sul. O que ela descobre rapidamente é que Faraway Downs, a fazenda em questão, é a única da região que não é dominada por um poderoso fazendeiro, e que seu marido foi morto por um dos homens desse magnata inescrupuloso. A trama se estende por anos a fio mesclando todos os gêneros imagináveis e ainda discutindo origens, preconceito, honra e vingança sob uma ótica bem clara e agressiva, tomando por linha-mestra o amor de Sarah pelo vaqueiro Drover (Hugh Jackman) e seu relacionamento fraternal com o garoto nativo Nullah (Brandon Walters), narrador de toda a história e ponto de referência para o clímax excepcionalmente bem montado. Mas se a trama evolui através das épocas, é responsabilidade dos atores retratarem o amadurecimento de seus personagens. Não por acaso, o seleto elenco de “Austrália” cumpre muito bem a função. Nicole Kidman, repetindo a parceria com Luhrmann, ainda é uma das atrizes mais transparentes e eficientes na hora de transmitir emoções e compor personagens. Com seu retrato sutil da lady inglesa que protagoniza o filme, Nicole mostra que sabe mesclar carisma, detalhismo, tiradas cômicas quase despropositais e uma caracterização não menos do que perfeita. Mas se a desenvoltura de Nicole já era esperada, o talento desavisado de Hugh Jackman (“X-Men”) surpreende. Além de demonstrar o mesmo carisma de astro que o sustentou pela carreira, o ator adiciona um tempero emocional e racional a seu personagem que o torna quase magnético na tela. Drover é simplista, não raro o tipo de personagem que irritaria pela falta de princípios, mas nas mãos de Jackman cresce em personalidade e identificação. Pouco o que fazer tem David Wenham (“Van Helsing”) além de encarnar o típico vilão nada sutil que de uma hora para outra se torna um oponente a ser batido nos debates verbais. Wenham tem o porte e a prepotência que o papel exige, mas não vai além disso e é facilmente ofuscado por seus companheiros de cena. Não que isso realmente influa no resultado final, é claro. “Austrália” é, de uma forma ou de outra, uma viagem de misticismo, paixão, paisagens deslumbrantes e seres humanos inesquecíveis. Ponto para Luhrmann, sorte a nossa. Assista sem medo.

Nota: 8,5

domingo, 26 de abril de 2009

Posters na Parede – Os Novos Cartazes

Anjos da Noite – A Rebelião (2009)

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Ser independente é um bom negócio na Hollywood do século XXI. Realizado por uma produtora deconhecida, com um elenco que ainda não tinha encontrado seu caminho para o sucesso em Hollywood e dirigido por um estreante com estilo, “Underworld – Anjos da Noite” veio em 2003 para servir de estopim para uma série de revisitas ao universo vampiresco que andava meio em falta na terra do cinema. Com quase uma centena de milhões de dólares em caixa, o filme rendeu uma continuação com cara de super-produção e a marca registrada das majors hollywoodianas. Patrocinado pela Sony, “Anjos da Noite: A Evolução” contava com Kate Beckinsale (“Click”) de volta após se sagrar uma estrela e uma expectativa financeira tão alta que foi quase impossível esconder a decepção quando um filme tão mais “evoluído” do que o primeiro não foi muito além da bilheteria de seu predecessor, rendendo bem menos do que se esperava para os cofres do estúdio. O resultado? Três anos depois, “Anjos da Noite: A Rebelião” chega aos cinemas com cara de caça-níqueis desesperado, um orçamento de porte intermediário e sem os dois nomes que definiram a franquia. Kate e o marido diretor Len Wiseman (“Duro de Matar 4.0”) podem ter caído fora, mas isso não tira da terceira parte da saga o mérito de ter uma das mias promissoras candidatas a futura estrela de ação. A bem da verdade, a inglesa Rhona Mitra já está na ativa há algum tempo, mas permaneceu escondida em filmes de baixo orçamento até participações grandes em “Nip/Tuck” e “Boston Legal” lhe salvassem do anonimato. Agora, ela é a estrela de filmes como “Juízo Final”, “Atirador” e este novo “Anjos da Noite”, que deve chegar aos cinemas brasileiros em 17 de Abril depois de surpreender (de novo) nas bilheterias americanas. De volta dos anteriores, só mesmo Michael Sheen (“Frost/Nixon”) e Bill Nighy (“O Guia do Mochileiro das Galáxias”). Renascimento para a franquia? Não é de se duvidar. Afinal, dólares não matam vampiro nenhum.

 500 Days of Summer (2009)

500 days of summer

Zooey Deschanel é um doce. Dotada de uma habilidade fantástica para se fazer adorável e de uma voz típicas das boas moças, a atriz tornada famosa pela participação no neo-clássico rocker “Quase Famosos” é uma daquelas que, apesar de ter pouco talento efeito, cativam a cada cena e parecem saber escolher exatamente o papel que se encaixa em seu perfil. Embor esteja passando por uma fase de auto-reformulação com seu projeto musical She & Him, Zooey não pensa em se afastar das atividas no cinema, e não são poucos os que estão agradecendo por isso. O diretor Marc Webb, por exemplo. Conhecido por trabalhos no mundo dos videoclipes com bandas como Green Day e 3 Doors Down, o diretor disse que não poderia imaginar ninguém além de Zooey no papel principal de seu longa-metragem de estréia, a ser lançado em terras brasileiras em 24 de Agosto. Dito e feito. Em “500 Days of Summer”, Zooey é uma mulher que não acredita no amor, mas é também a namorada de Tom, um azarado escritor de cartões comemorativos. O que o filme pretende é estudar os motivos para o fim de um relacionamento, contando em flashbacks as lembranças de Tom dos 500 dias passou ao lado de Summer (notou o trocadilho do título? Esperto, não?). A dupla de roteiristas estreantes Scott Naustadter e Micahel H. Weber é a responsável pela cadeia de lembranças e pelos diálogos entre o casal, muito elogiados pelos primeiros espectadores do filme no Festival de Sundance, conhecido por incentivar especialmente os filmes independentes. Outro ponto bastante notado na ocasião é a química entre Zooey e Jospeh Gordon-Levitt (“O Vigia”), intérprete de Tom e narrador de toda a história. No poster, a frase estampada: “Isso não é uma história de amor. É uma história sobre amor”. É esperar para ver se esse amor não é o mesmo que vemos todos os dias na Sessão da Tarde. Zooey, sem dúvida nenhuma, merece algo melhor.

Arthur et la Vengeance de Maltazard (2009)

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Pode parecer um tanto quanto egocêntrico um diretor de cinema comandar a adaptação de um livro de própria autoria. E sem dúvida nenhuma pode ser perigoso, como já nos mostraram dezenas de obras arruinadas por zelo em excesso ao marerial original. É claro, Luc Besson não é qualquer um. O francês, espécie de sensação dos anos 1990 que chegou ao novo século como um astro em seu país e nada mais, ainda é um roteirista de primeira linha que consegue combinar idéias criativas, adrenalina pura, tiradas cômicas fantásticas e ambientação das boas. Em 2006, em uma espécie de acesso repentino de arrogância, Besson levou para os cinemas “Arthur e os Minimoys”, primeiro livro de uma série de própria autoria, e deixou todos os críticos calados com o trabalho exemplar que fez. O filme tinha um talentoso Freddie Highmore (“A Fantástica Fábrica de Chocolates”), a experiência de Mia Farrow (“O Bebê de Rosemary”) bem aplicada em um papel a sua altura e animação de ponta para mostrar o quanto atual ainda eram as aventuras tecidas por Besson. Apesar da fira recepção dos americanos, “Arthur e os Minimoys” estourou no resto do mundo e fechou a conta com orçamento recuperado e uma boa margem de lucro para a Weinstein Company. É claro, com tal resultado, não demorou para surgirem os planos para levar a continuação, “Arthur et la Vengeance de Maltazard”, pelo mesmo caminho. Pronto para aportar no mundo inteiro em 9 de Dezembro, a continuaçãoc conta com a volta confirmada de Highmore e Farrow. O escopo da trama é maior: enquanto no primeiro todo o conflito girava em torno de encontrar o avô do protagonista no mundo dos Minimoys, aqui a questão é ajudar os mesmos a encontrar o caminho da própria cidade, atacada e saqueada pelas forças do tal Maltazard, recuperar um tesouro perdido e assim salvar o mundo em miniatura. Um pouco clichê? Melhor esperar. Afinal, Besson já nos mostrou que julgar antes de ver pode não ser um bom negócio.

Downloading Nancy (2008)

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Maria Bello é uma grande atriz. A própria sentença pode causar polêmica em quem conhece o trabalho dessa americana de 42 anos que se viu na mira de fãs furiosos ao realizar o sonho de ser uma aventureira e assumir o manto de Rachel Weisz (“Círculo de Fogo”) como Evelyn O’Connell na malfadada continuação “A Múmia: Tumba do Imperador Dragão”. Apesar desse pequeno escorregão impensado, não há o que apague a habilidade impressionante de Bello em transmitir emoções intensas na pele de personagens no limite. Foi assim como a mulher de Nicolas Cage em “As Torres Gêmeas” e como a esposa seqüestrada de Gerard Butler no subestimado “Encurralados”. Mas poucas vezes a idéia de ver Bello em um filme provocou tanta expectativa quanto em “Downloading Nancy”, polêmica obra de estréia do clipeiro sueco Johan Reck que precisou amadurecer por dois anos para poder ser lançado como merece. Depois de passar pelo Festival de Sundance, o filme se tornou um dos mais comentados pelas rodas alternativas de cinéfilos do mundo inteiro e chega aos cinemas como um lançamento limitado que promete ganhar volume no boca-a-boca de quer ver e sair da sala mesmerizado por uma trama tão polêmica e trágica. Em “Downloading Nancy”, Maria Bello é a personagem título, uma mulher casada e profundamente infeliz, que encontra seu limite ao conhecer um homem pela Internet e o contratar para matá-la. É quando o plano vai por água abaixo e os dois acabam se apaixonando e começando um relacionamento cheio de ambiguidades de um clima de perigo a cada segundo. Bello entrou no projeto, a bem da verdade, para substituir Holly Hunter (“Aos Treze”), outra atriz que prometia muito com um papel tão complexo, e ganhou em seguida a adesão de Jason Patric (“O Álamo”) e Danny Huston (“30 Dias de Noite”). Seu par protagonista surgiu na pele de Rufus Sewell (“O Ilusionista”), um homem acostumado a interpretar vilões radicais. Pelo andar da carruagem e com trailer lançado na Europa, “Downloading Nancy” deve chegar ao Brasil entre Julho e Agosto.

Moon (2009)

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Acontece todo ano. Não se passam doze meses em Hollywood sem que um projeto alternativo se torne o assunto de maiores comentários entre os blogueiros de plantão. Se ano passado o detentor de tal título foi o planejado “Cloverfield”, A bola da vez é um pouco menos previsível. “Moon”, só para começar a conversa, é uma ficção científica independente que aposta no intimismo e em discussões profundas sobre solidão e isolamento em pleno vácuo espacial, tudo motivado por um encontro sobrenatural e abstrato do homem com uma força desconhecida. Assustado com a idéia? Pois é, os estúdios também pensaram assim. Realizado na raça por três produtoras estreantes, “Moon” tomou menos de um mês de filmagens e começou a fazer seu barulho em festivais de cinema independente ao longo dos Estados Unidos já no começo desse ano. Depois da arrasadora passagem do longa de estréia de Duncan Jones pelo circuito e os elogios rasgados dos que conferiram o resultado, a divisão independente da Sony resolveu tomar o filme para si e o planeja lançar em salas limitadas em solo americano em Junho. Quando a brincadeira deve chegar ao Brasil é uma incógnita, mas o fato é que muito se pode esperar de um filme que aposta em uma premissa tão inovadora. Se não fosse tão arriscado dizer tal coisa, “Moon” poderia surgir por aí como o primeiro candidato sério ao Oscar 2010. A trama é centrada no astronauta Sam Bell, um contratado da empresa Lunar que passou os últimos três anos em Selene, uma base de operações na Lua, com o único objetivo de extrair do solo do satélite um gás chamado Helium 3, que pode ser a resposta para a crise energética da Terra. Seu trabalho rotineiro começa a sair errado poucas semanas antes de seu solitário contrato expirar e seu retorno a Terra se concretizar. O que ele descobre é que a Lunar pode ter seus próprios planos para substituí-lo e que o novo recurta é horrivelmente familiar. A vida de que ele se lembra é realmente a dele? Talvez não seja apenas o contrato que esteja prestes a expirar. Para interpretar esse terrível conflito, o escolhido foi Sam Rockwell (“O Guia do Mochileiro das Galáxias”) e a surpresa do ano é Kevin Spacey (“K-Pax”) aparecendo apenas em voz ao dublar o computador da nave.

Extract (2009)

extract

Mike Judge merece um capítulo a parte na história recente de Hollywood. Tornado famoso por dirigir, escrever, produzir e dublar absolutamente todos os episódios da cultuada série em animação “Beavis and Butt-Head”, o equatoriano mais famoso da terra do cinema ganhou reconhecimento crítico de sua genialidade ao transformar seu curta “Office Space”, de 1991, e um longa-metragem que arrancou alogios rasgados da crítica e o rótulo de filme cult sob o título brasileiro de “Como Enlouquecer seu Chefe”, uma crônica moderna sobre conformismo e revolução a um único tempo, convivendo no mesmo mundo hilário construído pelo diretor-roteirista. O que ele fez em seguida? Permaneceu quieto em seu canto fazendo pequenas participações como ator em filmes de amigos como Robert Rodriguez (“Pequenos Espiões”) e só deu o ar da graça novamente em 2006, com o pouquíssimo visto “Idiocracy”, filme estrelado por um decadente Luke Wilson (“Minha Super Ex-Namorada”) que contava a história de um futuro em que a Terra definha e os humanos permanecem alienados pela mídia, a cada dia mais acomodados e mais idiotas. Mais três anos se passaram e agora Judge toma Hollywood de assalto mais uma vez com “Extract”, espécie de ficção científica bizarra que de certa forma remete a uma versão mais refinada de “Click”. Aqui não temos um controle remoto, mais uma espécie de planta transgênica que produz um extrato capaz de resolver os problemas de quem o toma em um segundo. Quem se encanta com as possibilidades é Joel, um americano médio que tenta conciliar problemas pessoais com a mulher Cindy e profissionais, especialmente com o empregado Dean. No papel do trio de protagonistas estão Jason Bateman, que anda com a agenda lotada depois de “Hancock”, a ucraniana Mila Kunis (“Max Payne”) e o ex-astro Ben Affleck (“A Última Cartada”). O filme tem data marcada para Setembro nos EUA.

The Brothers Bloom (2008)

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Um último trabalho, por alguma razão misteriosa que provavelmente nunca conseguiremos descifrar, costuma guardar surpresas e transformações inesquecíveis. Talvez por isso o cinema e a literatura, especialmente, sejam tão fascinadas por esse tipo de situação. É de se notar que os grandes filmes de personagens normalmente se localizam em um tempo de transição para os protagonistas, e o apelo é ainda maior quando essa transição é de uma vida criminosa e para uma mais, digamos assim, tranqüila. “The Brothers Bloom”, apesar de possuir todas essas características, se tornou um daqueles projetos de gestação e digestão lenta que costumam vir casados com um ritmo que só pode ser descrito como europeu, tamanha a falta de adjetivos para a cadência típica dos filmes do outro lado do Atlântico. Fala-se de “The Brothers Bloom” desde que o diretor Brian Johnson viu sua obra de estréia, “Brick”, ganhar elogios ao passar pelo circuito de festivais europeus e anunciou que seu próximo projeto seria sobre três irmãos criminosos que se preparam para deixar o ramo com um último golpe a uma excêntrica milionária, pela qual o caçula dos três se apaixona. A primeira a embarcar no projeto foi Rachel Weisz (“A Múmia”), que na época alavancou o projeto e convenceu o diretor a começar a filmar logo no início de 2007. Nos primeiros meses daquele ano, os três irmãos acabaram se tornando dois e Rachel ganhou a companhia de Adrien Brody (“King Kong”) e Mark Ruffalo (“E se Fosse Verdade”) na pele da dupla, além Rinko Kikuchi (“Babel”) como a parceira de golpe da gangue. Os atrasos já começaram na filmagem com a entrada de última hora de Robbie Coltrane (“Harry Potter”) no elenco e o adiamento da estréia do fim de 2007 para 16 de Janeiro… de 2009! Como a divulgação do longa já começou, parece que é razoável afirmar que a atual data é definitiva, marcada para 15 de Maio no mundo todo.

Milagre em St. Anna (2008)

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Você pode abrir o sorriso ou torcer o nariz, mas é impossível negar a relevância de Spike Lee para o cinema das últimas décadas. Desde que surgiu para o mundo discutindo preconceito, os problemas da juventude e divertindo como poucos diretores que tratam de tais assuntos em “Faça a Coisa Certa”, Lee perdeu-se um pouco no caminho entre o engajamento e a repetição e só encontrou um sopro de originalidade ao fazer cinema de verdade no thriller de assalto mais elegante e sensacional do nosso século, “O Plano Perfeito”. Agora, dois anos depois de uma continuação para o filme estrelado por Clive Owen (“Rei Arthur”) sendo desenvolvida, Lee volta a sua veia polêmica e dramática ao lançar seu sempre politizado olhar a Segunda Guerra Mundial. Mas “Milagre em St. Anna”, que tem data de estréia brasileira marcada para 30 de Abril, não é o épico de guerra padrão que todo diretor que se preze tem que ter em seu currículo. Talvez seja melhor resumir um pouco da trama que Lee conta em seu novo filme do que se estender em explicações que vão levar a lugar algum. O filme se passa em Agosto de 1944, com a Guerra a iminência de seu fim e as forças Aliadas triunfando contra a Europa nazi-fascista. A campanha aqui não é contra a Alemanha, mas contra a Itália e as tropas não são o conjunto de americanos médios que compõe a maioria dos filmes do gênero. São os membros da 92ª Divisão da Infantaria, conhecida por ser formada inteiramente por soldados negros em uma época em que o preconceito não havia sido completamente superado, que protagonizam a aflitiva trama de perseguição e armadilha regida pelo diretor. Toda a confusão porque um dos soldados se sacrificou para salvar uma criança italiana. A estrela do filme é o inconstante Derek Luke (“Três Vezes Amor”), mas o elenco coadjuvante se destaca pela presença de gente como John Turturro (“Transformers”), Joseph Gordon-Levitt (“O Vigia”) e John Leguizamo (“Fim dos Tempos”). Tudo para adaptar a novela do autor James McBride, que fez questão de escrever por si mesmo o roteiro.

Star Trek XI (2009)

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“Audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve”. Não é de se subestimar uma série de TV e cinema que prometeu tudo isso e ainda conseguiu ir além. Quando, quarenta anos atrás, uma pequena e nem um pouco ambiciosa série de ficção científica estreou para ficar curtos três anos no ar e em seguida partir para o que parecia ser o esquecimento, ninguém imaginou que estaria presenciando o nascimento de um fenômeno pop sem absolutamente nenhuma comparação. Cinco séries, quatro décadas, uma dezena de filmes depois, não há quem duvide que “Star Trek” acaba de chegar a um ponto em que vale a pena arriscar. E quem melhor para imprimir um novo tom a uma série tão cultuada sem escorregar no ódios dos fãs do que J.J. Abrams, o homem mais esperto do cinema atual, um produtor de mão cheia e um grande diretor de ação como demonstrou em episódios de sua série “Lost” e, mais recentemente, no subestimado “Missão: Impossível III”. O recomeço da série no século XXI vem para nos lembrar da magia e da fascinação de uma premissão tão simples e genial e para, a um tempo, reiventar tudo o que aprendemos a conhecer como “Jornada nas Estrelas”. Pode se chamar de novo começo depois de um desmerecido fracasso para a tripulação da Nova Geração em “Nêmesis”, mas acima de tudo é necessário dizer que o “Star Trek” de Abrams vem para criar uma nova cronologia para o universo dissecado pelos fãs mais radicais em livros, séries em quadrinhos, jogos para videogame e produtos afins. Mais do que um novo filme de “Star Trek”, estamos diante aqui de um “Star Trek” absolutamente reformulado. Com caras novas, personagens reformulados, ação com efeitos especiais de última geração e toda uma nova gama de referências. Se há uma ligação com o passado só mesmo a participação de Leonard Nimoy, a primeira encarnação do Sr. Spock agora interpretado pelo jovem e talentoso Zachary Quinto (“Heroes”), que ao lado de Chris Pine (“Sorte no Amor”) na pele do Capitão Kirk e de Karl Urban (“Desbravadores”) como o Dr. Leonard “Bones” McCoy, aterrisam em terras brasileiras no comando da Enteprise em 08 de Maio. É hora de explorar o espaço… mais uma vez.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… Passei um bom tempo escrevendo esse post, afinal semana passada não tivemos os posters… estava pensando em deixar assim mesmo, uma vez a cada duas semanas, porque consome bastante tempo (que nem sempre tenho) para formular e caçar esses cartazes… mas por enquanto é só isso mesmo… Os melhores filmes para todos vocês sempre e até amanhã!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Dia em que a Terra Parou – Remake na beira do precipício

 

O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, Austrália/Canadá/EUA, 2008)

De: Scott Derrickson

Com: Keanu Reeves, Jennifer Connelly, Kathy Bates, Jaden Smith

104 minutos

Em 1951, o mundo vivia em medo. A cada dia a tensão entre Estados Unidos e União Soviética aumentava e a iminência do início de uma nova guerra tão pouco tempo depois do final da mais devastadora delas deixava cada cidadão bem informado em um estado de nervos quase insustentável. Mas o mundo seguia em frente. As fábricas continuavam a funcionar, os carros continuavam a rodar e o capitalismo continuava a todo o vapor. Por mais a beira do precipício que fosse a situação, a verdade é que nossa sociedade era forte o bastante para resistir. A tudo, ou pelo menos era isso que passava pela cabeça de quem viveu naquela época. Nesse contexto, faz todo o sentido contar a história de um alienígena que vem a Terra para nos convencer a viver em paz, do contrário seríamos destruídos pelo bem dos outros mundos. “O Dia em que a Terra Parou” foi o filme certo na hora certa, e embora não tenha feito muito além de mexer com o psicológico de seus espectadores e oferecer uma dose saudável de divertimento, pelo menos fez sentido dentro se seu tempo. Agora, o que Klaatu teria para nos dizer em pleno século XXI? A resposta é tão óbvia nas movimentações do cinema nos últimos anos que chega a parecer incrível que ninguém tenha pensado nisso antes. Com filmes ambientais explodindo por todos os cantos e aventuras apocalípticas mostrando conseqüências nem tão absurdas do que estamos infringindo ao planeta, o que melhor do que trazer um alien benevolente para despertar-nos da nossa imobilidade com muita conversa e paciência? Ou talvez não. O Klaatu de “O Dia em que a Terra Parou”, o remake mais comentado dos últimos anos, não é o mesmo que nos apareceu meio século atrás. Não há intenção pacífica em sua visita, e pensando melhor talvez seja realmente mais adequado dessa forma. Em compensação, há muita urgência. Quase como se uma sirene cada vez mais alta o acompanhasse por onde fosse, como se tudo dependesse de suas decisões e não das nossas. Como se Klaatu fosse um fiscal e nós fossemos os fiscalizados. Bem que tentamos passar uma boa impressão. Mas o que fica mesmo é a ignorância, e o fato de que ela e a arrogância prevalecem sobre todos os nossos instintos de sobrevivência só nos mostra se realmente merecemos a chance de salvar a nós mesmos. Só mudamos quando o precipício a frente é alto demais e perto demais. Talvez também seja tarde demais.

O fato de esconder todo esse significado em sua história não significa que “O Dia em que a Terra Parou” é uma obra-prima, e ainda menos o filme revolucionário que vai acordar-nos para a situação do mundo a nossa volta. Mas pelo menos consegue convencer de que há, eventualmente, uma boa razão para se fazer um remake. Quando um filme tem algo a dizer, é sempre bom parar para escutar. E durante boa parte de seus 104 minutos, o filme de Scott Derrickson (“O Exorcismo de Emily Rose”) consegue fazer esquecer de que, em um passado distante, aquela história já foi contada. A sensação só funciona, é claro, graças ao trabalho exemplar de David Scarpa (“A Última Fortaleza”) no script. Baseado no original de Edmund H. North (“Patton”), ele prova que fidelidade só funciona de verdade quando aliada a criatividade e constrói todo um novo envoltório para mostrar que aquilo passando a nossa frente, mais do que “um remake de um clássico”, é um novo “O Dia em que a Terra Parou”. Trata-se de um trabalho mais complicado do que a maioria deve imaginar, mas Scarpa cumpre a missão sem muitos tropeços pelo caminho, colocando Klaatu no centro do furacão e tecendo ao redor dele uma teia de tensão e eminência conduzida por uma linha narrativa sólida o bastante para segurar o pouco mais de uma hora e meia de filme. A bem da verdade, em alguns momentos a trama idealizada por ele se ramifica um pouco além do necessário, jogando com cenas desnecessárias e pouco desenvolvimento de verdade. Especialmente no miolo do filme e nas cenas protagonizadas pela estereotipada Secretária de Defesa interpretada por Kathy Bates (“Titanic”), a fraqueza do conceito básico se torna transparente e durante alguns breves minutos, a sombra da estagnação paira sobre o roteiro. Nada que não posse ser recuperado com um clímax emocionante e envolvente, é claro. A premissa é bem fiel a original: o alienígena humanóide Klaatu (Keanu Reeves) vem ao nosso planeta para salvar o que ele descreve como “um dos poucos lugares no universo com suporte para vida” da ação da espécie dominante que chama, equivocadamente, aquele mundo de seu. Ele encontra uma relação ambígua ao se aproximar quase que por acaso da Dra. Helen Benson (Jennifer Connelly), uma astro-biológa que é obrigada a deixar o enteado rebelde (Jaden Smith) em casa para atender a convocação do governo quando uma esfera gigante, a nave espacial de Klaatu, pousa em pleno Central Park. A partir daí, o filme é um entrelaçamento de acontecimentos que aos poucos formam um plano geral bem interessante.

Prezando pela sinceridade, o estilo confuso de Scott Derrickson não ajuda muito a melhorar o resultado final de “O Dia em que a Terra Parou”. Muito falado a época de seu assustador suspense de possessão demoníaca “O Exorcismo de Emily Rose”, Derrickson não chega a impressionar no panorama visual e tampouco inova na maioria dos ângulos de câmera. Apenas quando encontra um objeto a revelar e, por conseqüência, as raízes de seus talentos, que sua câmera verdadeiramente se integra ao roteiro para criar uma experiência mais completa. Lidando com grandes efeitos especiais e mesmo na grande e impressionante tomada mostrando todas as esferas ao redor do mundo, a câmera do diretor se furta de inovações e não raro se mostra hesitante, quase indecisa. Algo que decididamente não contribui para um filme que deveria ser acima de tudo envolvente, o que só acaba funcionando no clímax, esse sim filmado, escrito e atuado com habilidade ímpar e fascinação visual e conceitual completa. Talvez o maior trunfo de “O Dia em que a Terra Parou” para aos poucos superar tantos pequenos erros seja a interpretação surpreendente e mais do que adequada de Keanu Reeves, um homem com credencial para falar da nova ficção científica, protagonista do inovador “Matrix”. Por concentração, inspiração ou puro acaso, a verdade é que Keanu e Klaatu se unem em uma única persona construída com a habilidade única do ator em criar personagens icônicos. Trabalho de intérprete de ponta que surpreende por ter vindo exatamente de alguém que passava longe da lista dos melhores atores da atualidade. De esperado em “O Dia em que a Terra Parou” só mesmo a combinação irresistível de beleza, talento e estranheza que é Jennifer Connelly (“Hulk”). Talentosa como sempre, a atriz quase consegue ofuscar o parceiro de cena ao construir uma Dra. Benson milhares de vezes mais crível e interessante do que a anacrônica dona de casa dos anos 1950, que não resisitiu ao passar do tempo. Talvez o modelo moderno e independente construído pela atriz também não faça sentido daqui há meio século, mas o que importa é que se mescla a narrativa atual de forma não menos que perfeita. Coadjuvantes de peso, os veteranos Kathy Bates e John Cleese (“007 – Um Novo Dia para Morrer”) dão um pouco mais de brilho a dois personagens que pouco tem a fazer dentro da narrativa. A presença de cena de ambos mal é sentida de fato, mas é sempre válido citar o trabalho de gente que conquistou crédito, e muito, no passado. Passado este que passa longe de “O Dia em que a Terra Parou”, o remake, um filme que mostra que nem toda refilmagem precisa ser feita em estilo caça-níqueis e, apesar dos pesares, chega ao final como uma obra que vale a pena ser vista e refletida. Afinal, estamos cada dia mais perto do precipício.

Nota: 7,0

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Boletim Cinéfilo Especial – As Notícias do Feriado

Chapéu de feiticeiro

nic cage

Há algum tempo que rola por Hollywood o rumor de que uma versão live-action e adaptada para atualidade de “Aprendiz de Feiticeiro”, famoso média-metragem da Disney, eternizado nas sinfonias do clássico “Fantasia”, de 1940. Protagonizado pelo símbolo do estúdio, o camundongo Mickey, a trama o colocava como o tal aprendiz do título, que tenta usar seus pouco precisos poderes mágicos para cumprir a dura tarefa deixada por seu mestre, a limpeza do castelo. É claro, as coisas não dão muito certo. Como essa premissa deve chegar aos cinemas de uma forma plausível e com atores de verdade é uma incógnita, mas o fato é que o produtor mais esperto da Hollywood de hoje, Jerry Bruckheimer (“Piratas do Caribe”) colocou a produção em sua agenda e já acelerou o andamento da carruagem contratando o diretor Jon Turteltaub (“A Lenda do Tesouro Perdido”), que por sua vez trouxe a reboque o astro Nicolas Cage (“Presságio”) como o mestre do protagonista e produtor executivo do projeto. A produção aos poucos foi ganhando detalhes e o número de nomes no elenco foi crescendo. Primeiro foi o jovem comediante Jay Bucharel, um dos soldados/atores de “Trovão Tropical”, que embarcou para o estrelato completo ao aceitar o papel do protagonista. Sorte a dele, afinal não é todo dia que se faz par romântico com uma beldade como Teresa Palmer (“Um Verão Para Toda a Vida”), que embarcou como o interesse do protagonista quase ao mesmo tempo em que Alfred Molina (“Homem-Aranha 2”) assinava para ser o vilão de mais uma superprodução. Elenco definido e produção encaminhada, a Disney tratou de colocar sua aposta para uma data no mínimo explosiva: 16 de Julho de 2010, em rota de colisão com o esperado suspense “Inception”, nova obra de Christopher Nolan (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”). Enquanto a produção crescia de tamanho e de expectativa entre os fãs dos clássicos animados do estúdio, as primeiras fotos do set foram divulgadas pelo site Just Jared (a imagem de Nic Cage caracterizado você vê aí em cima) e outro jovem talento, o britânico Toby Kebbell (“RocknRolla”) entrava para o jogo como o ilusionista comparsa do vilão.

Convergência de astros

nine

Trevas e adrenalina, juntas. A princípio, não faz muito sentido, mas o resultado de verdade só vai poder ser visto em 09 de Setembro em terras americanas e sabe-se lá quando no território brasileiro. Em produção desde 2005, “9” ou “Nine”, o filme em questão, é o fruto de uma das parcerias mais improváveis dos últimos tempos. Primeiro, melhor explicar do que se trata. Ganhador do prêmio de melhor curta de animação no Oscar 2006, o “9” original contava a história de um cachorro raivoso contratado para enfrentar um demônio que tem aterrorizado um bairro inteiro roubando a alma das pessoas. Com direção do estreante Shane Acker, o curta-metragem agradou tanto que surgiu aquela vontade de expandir aquele universo fantástico maior e mais ambicioso. Embora a idéia já tivesse surgido na mente do diretor, o primeiro a adotar o projeto e se dispor a bancar a brincadeira foi Tim Burton (“A Noiva-Cadáver”), o homem capaz de transformar trevas em algo vendável e bem-sucedido. Com a moral do diretor na terra do cinema empurrando o projeto, Acker desenvolveu o novo roteiro ao lado de Pamela Pettler (“A Casa Monstro”) e a dupla ainda convenceu Burton a abandonar a técnica stop-motion que costumava em todas as suas produções animadas em virtude de um visual mais sofisticado e feito por computador. Foi quando entrou na equação o nome do russo Timur Bekmambetov, diretor de “Guardiões da Noite” e “O Procurado”, que se juntou a Burton na produção e atraiu de uma vez por todas atenção para o projeto. A partir daí, “9”, o longa-metragem, ganhou um elenco estrelado como poucos no ramo da animação. E quem duvida da capacidade comercial de um filme que nomeia seus personagens com números e nada mais? Agora, ainda o cão guerreiro do curta é trocado por um humano parecido com um boneco de pano, e a ameaça íntima é substituída por uma mais global. É a sobrevivência de uma humanidade a beira da extinção que está nas mãos de 9, o protagonista, a ser dublado pro Elijah Wood (“O Senhor dos Anéis”). Ele recebe a missão de escavar a Terra e encontrar a fonte de um misterioso mal que tem atingido o povo. Ao lado dele, o veterano de guerra 1 com a voz de Christopher Plummer (“A Casa do Lago”), o inventor 2 dublado por Martin Landau (“Cine Majestic”) e a guerreira 7 vivida por Jennifer Connelly (“O Dia em que a Terra Parou”). É esperar e rezar para que os cinemas brasileiros não considerem “alternativo demais”.

O céu não pode esperar

the lovely bones

Fala-se a tanto tempo de “Uma Vida Interrompida”, o novo filme de Peter Jackson, que a adaptação já se tornou uma espécie de lenda urbana do século XXI nas fileiras da terra do cinema. Antes mesmo da estréia da versão do diretor de “O Senhor dos Anéis” para o clássico “King Kong”, o rumor era que o neozelandês apostaria em um clima mais intimista para adaptar o best-seller de Alice Sebold publicado em 2002. Algo mais próximo de “Almas Gêmeas” do que da trilogia aventuresca. Antes mesmo da estréia de “O Retorno do Rei” o nome do diretor estava atrelado ao projeto, abandonado as moscas quando este preferiu realizar o sonho de sua vida ao refazer o filme do gorila gigante. Estrado, aplaudido, esquecido, “King Kong” passou e Jackson se disse mais uma vez interessado em dirigir a história de uma garota de 14 anos que é brutalmente assassinada e passa os anos seguintes observando a forma da família lidar com seu pesar, de seu paraíso particular. A expectativa do visual montado por Jackson para tal locação era de dar água na boca, mas o diretor não se importou com a ansiedade dos fãs e construiu aos poucos seu filme enquanto resolvia a encrenca judicial com “O Hobbit” e a New Line. Em 2007, o elenco foi escalado e já contava com Saoirse Ronan (“Desejo e Reparação”) e Rachel Weisz (“A Múmia”), respectivamente como a protagonista e sua mãe, além da sempre eficiente coadjuvância de Stanley Tucci (“O Diabo Veste Prada”) na pele do vizinho da família e principal suspeito do crime. Outra que embarcou na época foi a veterana Susan Sarandon (“Speed Racer”) como a avó da protagonista e Michael Imperioli (“The Sopranos”) na pele do investigador policial do caso. Já o papel do pai da protagonista foi, digamos assim, mais polêmico. Primeiro, era Ryan Gosling (“Um Crime de Mestre”) o escolhido do diretor, mas parece que as famigeradas “diferenças criativas” tiraram o ator do projeto, sendo substituído por Mark Wahlberg (“Max Payne”). Uma série de adiamentos depois e algumas declarações controversas do elenco, o filme foi finalmente agendado para 22 de Janeiro de 2010 no Brasil, com o novo título de “Um Olhar do Paraíso”. Muita confusão? A primeira foto do esperado paraíso de Jackson aí em cima faz valer a pena. Nos vemos em Janeiro, Senhor Jackson!

Monstros adiantados

Hollywood não deixa passar nenhuma mania para fora de suas fronteiras. Foi só a literatura adolescente ressuscitar (de novo) com “Crepúsculo”, suas continuações e seus filhotes, e a terra do cinema já lançou o olho grande na seu pedaço do bolo de dólares que anda saindo do forno dessa receita. Veja a própria saga vampiresca originada dos livros de Meyer, por exemplo, que anda em um ritmo de produção frenético dentro da Summit Entertainment, que busca desesperadamente aproveitar enquanto a moda não fica para trás. “Crepúsculo”, o primeiro da franquia, acabou de aportar nas locadoras depois de uma carreira vitoriosa nos cinemas americanos e mundiais e já vem com toda uma bagagem de expectativa para as continuações. “Lua Nova” já está bem adiantado para estrear em Novembro desse ano, e vem com a direção de Chris Weitz (“A Bússola Dourada”) para capitanear alguns novos nomes do elenco. Com Dakota Fanning (“Guerra dos Mundos”) confirmada há algum tempo, na última hora a produção ganhou a adesão de Michael Sheen (“Frost/Nixon”) e Cameron Bright (“Obrigado por Fumar”) e entrou em processo de pós-produção. Enquanto isso, “Eclipse”, a terceira parte da saga, continua com sua epopéia de diretores cogitados e confirmados... como possibilidades. O cargo já passou perto do espanhol Juan Antonio Bayona (“O Orfanato”) e do americano Paul Weitz (“Tudo Pela Fama”), mas parece que agora é oficial. David Slade, que tem experiência com vampiros no brutal “30 Dias de Noite”, deve comandar o terceiro filme da série, que chegará aos cinemas em 30 de Junho de 2010. Mas o ataque de Hollywood a literatura de suspense teen não para na série de livros escrita por Stephenie Meyer. Anunciado há algum tempo, “Beastly” ganhou as primeiras novidades no elenco e no cargo de direção essa semana. Baseado no livro de Alex Flinn, o filme é descrito como “uma versão moderna de A Bela e A Fera” e se concentra em Kyle Kingsbury, um adolescente de 17 anos considerado o par perfeito pela maioria das garotas de seu colégio, que causa uma confusão maior do que esperava ao dispensar uma delas, na verdade uma bruxa. Transformado em uma criatura bestial, ele deve encontrar o amor verdadeiro para quebrar o feitiço... e sem a ajuda do MySpace. É de se sorrir com uma premissa dessas. Agora resta confiar no diretor e roteirista Daniel Barnz (“Phoebe in Wonderland”) para comandar o espetáculo, a ser interpretado por Alex Pettyfer (“Alex Rider Contra o Tempo”) e Vanessa Hudgens (“High School Musical”).

O outro lutador

Não foi por acaso que Darren Aronofsky seguiu o ambicioso em excesso “Fonte da Vida” com o emocional “O Lutador”. Lembrado no ano passado por selar o retorno de Mickey Rourke (“Sin City”) ao primeiro nível de astros, o filme de Aronofsky foi na verdade uma segunda chance para o diretor. A verdade é que desde 2007, logo depois da estréia de seu épico através do tempo protagonizado por Hugh Jackman (“X-Men”), o diretor estava envolvido em um filme para contar a história de, veja só, um lutador da vida real. “Irish” Micky Ward percorreu um trajeto cheio de obstáculos sociais e financeiros para ascender de um fenômeno do boxe amador para uma inesperada revelação dos mais altos níveis do esporte. Foi só depois de 15 anos de carreira, já veterano, que Micky sentiu o gosto da vitória sobre o italiano Arturo Gatti e vestiu seu primeiro cinturão de campeão, se tornando exemplo de perseverança e um símbolo do orgulho americano. Tudo isso com a ajuda do meio-irmão, Dicky, um ex-lutador que se tornou técnico do irmão depois de se envolver com drogas e o submundo do crime. A emocionante história, a princípio seria protagonizada por Matt Damon e Mark Wahlberg, que haviam acabado de contracenar no violento “Os Infiltrados”, ganhador do Oscar daquele ano. Isso até o roteiro passar por versões de Paul Attanasio (“Donnie Brasco”) e Lewis Colick (“Céu de Outubro”). A altura em que este passou o bastão para a versão final de Scott Silver (“8 Mile – A Rua das Ilusões”), Damon já estava fora da produção e Brad Pitt (“Benjamin Button”) estava cotado para substituí-lo. As filmagens chegaram a ser anunciadas para Outubro do ano passado, mas chegada a data, o filme não contava mais com Pitt, enquanto Aronofsky ameaçava abandonar o barco. O que ele acabou eventualmente fazendo, abrindo espaço para David O. Russell (“Três Reis”) tomar o leme do projeto e colocá-lo nos trilhos de uma nova pré-produção e outra revisão de roteiro. Enquanto o processo se repete e a aparência é que dessa vez o filme chega as vias de fato, Christian Bale (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”) foi anunciado oficialmente como o definitivo intérprete do irmão do protagonista, ainda com Mark Wahlberg garantido.

Bom, pessoal, muitas notícias nesse feriado que passou e muitas explicações para dar a vocês. Nesses últimos dias o Filme-Pipoca anda meio desatualizado, mas eu juro que estou tentando ao máximo conseguir tempo para postar. Acontece que estou em semana de provas, o que me deixa com a responsabilidade de estudar e terminar os trabalhos a ser entregues essa semana. Mas enfim, coisas de quem ainda tem que estudar… Daqui a pouco passa. Amanhã é possível que eu tenha mais um pouco de tempo, então acho que pode pintar outro Boletim e, quem sabe, uma filmografia ou uma crítica (eu disse quem sabe). Por enquanto deixo vocês por aqui, agradecendo aos comentários e as visitas nesses dias. Então é isso mesmo. Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

domingo, 19 de abril de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (19/04/2009)

O retorno do homem

Hollywood é incapaz de passar por uma década sem venerar um roteirista e fazer de cada nova obra do infeliz um acontecimento gigantesco. Apesar de não serem normalmente os nomes mais aplaudidos de uma produção cinematográfica e de raramente chegarem a boca dos apreciadores mais casuais de cinema, uns poucos afortunados tiveram toda a terra do cinema a seus pés por algum tempo. Nos anos 1990 o terror adolescente esperto de Kevin Williamson, o homem por trás da franquias “Pânico” e “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, teve de conviver com as comédias existencialistas do excêntrico Charlie Kauffman, responsável por “Quero Ser John Malkovich” e “Adaptação”. Mas o século XXI bateu a porta e os dois nomes citados aí em cima ficaram ultrapassados, deixando Hollywood órfã de um grande astro do roteiro. Foi quando, em 2006, Zach Helm ascendeu do total anonimato para o posto mais alto da escada de Hollywood, através da obra-prima cômico-dramática “Mais Estranho Que a Ficção”, a espetacular história de um homem que começa a ouvir a narração da própria vida. Estrela menor na primeira obra de Helm, o veterano Dustin Hoffman (“O Júri”) tomou o palco central no subestimado e encantador “A Loja Mágica de Brinquedos”. Sem seu nome estampando um filme desde então, Helm prepara seu retorno triunfal ao palco do cinema em mais duas aulas de como contar histórias criativas e envolventes. E agora seu parceiro é ilustre. Ainda sem título, o novo roteiro de Helm deve ser filmado pelo documentarista Errol Morris, ganhador do Oscar na categoria pelo trabalho excepcional em “Sob a Névoa da Guerra” e autor de mais uma dezena de pequenas obras-primas do cinema de verdade. Sem dirigir ficção desde “A Brisa da Morte”, de 1991, Morris embarcou para contar a trama centrada em Robert F. Nelson, um técnico de televisão nos anos 1960 que se junta a um grupo de pessoas que acredita ser possível enganar a morte através do congelamento de corpos. É claro, o processo é bem menos fácil do que Nelson esperava. Quase ao mesmo tempo, Helm deve retornar a direção em “The DisAssociate”, que versa sobre um homem que começa a receber cartas de... Deus. Alguém duvida que de uma das duas fontes sai uma nova obra-prima?

Van Helsing neo-noir?

Duas das maiores manias da moderna Hollywood juntas em um único projeto que tem tudo para ser diversão culpada e herética das boas. Um pouco perdido? Vamos começar do começo. Primeiro, o neo-noir. Tentativa muitas vezes fracassada de ressuscitar o célebre estilo de filmar dos anos 1940-1950, o movimento liderado pelos grandes estúdios que pretendem “se adequar a tendência de heróis falhos nos filmes de ação” só rende mesmo quando combina respeito as origens e direção responsável de gente que sabe o que faz como Robert Rodriguez (“Sin City”). Segundo, a cada vez mais recorrente reedição dos monstros clássicos da literatura de terror em uma única e geralmente absurda história. Quem conferiu o desastre divertido de “Van Helsing” sabe o que eu estou falando. Os afortunados que nem se deram ao trabalho de assistir ao filme de Stephen Sommers (“A Múmia”) só precisam ficar sabendo que o protagonista luta até contra o monstruoso Dr. Jekyll, personagem de “O Médico e O Monstro”. De qualquer forma, é pegando carona nessas duas tendências que “I, Frankenstein” deve chegar ao mundo em forma de quadrinhos nos próximos meses, com edição da Dark Horse Comics (o braço independente da DC) e texto sob os cuidados de Kevin Grevioux. O americano, ao menos, está acostumado com vampiros e criaturas do gênero já que é um dos co-criadores da franquia “Anjos da Noite” e um dos poucos nomes presentes em toda a trilogia. A parceria com o francês Patrick Tatopoulos, diretor estreante no terceiro e recém-lançado filme da série, deve ter sido proveitosa, já que Grevioux deve unir forças com o ex-técnico de efeitos especiais uma vez mais na adaptação de sua própria obra. Com Tatopoulos na direção, Grevioux no roteiro e o novato estúdio Death Ray Films bancando a brincadeira, é de esperar que a fidelidade a obra original seja quase absoluta. O que, infelizmente nesse caso, não garante a qualidade. Afinal, estamos falando de uma série em quadrinhos passada na atualidade que repagina personagens como Frankenstein, Drácula e o Corcunda de Notre-Dame. Se não fosse o bastante, o monstro de partes humanas aprendeu a controlar seus instintos e trabalha como detetive na caça do rei do crime, (adivinhem) Drácula em pessoa.

O mundo de Sofia

A diretora mais em evidência em nosso século, Sofia Coppola tem um ritmo todo próprio para encontrar e desenvolver seus projetos. Em sete anos exercendo o ofício aprendido com o pai, o próprio Francis Ford Coppola (“O Poderoso Chefão”), a talentosa nova-iorquina entregou quatro filmes compostos por delicadeza, detalhismo e uma manipulação de emoções mais do que eficiente. Também notável roteirista com sua forma oscilante de conduzir a trama, Sofia tem agora um desafio um pouco maior a sua frente. Ao se propor a contar a história de um pai irresponsável que vê sua vida mudar com o retorno da filha pequena a sua vida, a cineasta deixa também no ar a esperança de uma injeção de personalidade e criatividade a uma fórmula que já tem soado repetitiva há algum tempo. O cenário, ao menos, é sofisticado e o mundo a explorar, familiar para a diretora. O protagonista será um ator famoso, que se hospeda no popular Chateau Marmon e vive uma vida de excessos típica das celebridades que freqüentam as revistas de fofocas. Isso até sua filha, uma garota de doze anos, buscar desamparado abrigo no apartamento do pai e frear essa vida fugaz pela qual ele passava sem perceber, forçando-o a reavaliar suas recentes atitudes. Para interpretar o protagonista, o sumido Stephen Dorff, cujos últimos trabalhos foram em minisséries televisivas (“XIII” e “O Fator Hades”) e como coadjuvante em produções de porte médio (“As Torres Gêmeas”). Ao seu lado, a pequena Elle Fanning, irmã mais nova e menos famosa de Dakota e atriz de pequenos papéis em filmes como “O Curioso Caso de Benjamin Button”, que deve ter sua grande oportunidade para mostrar que o talento não fica apenas em um lado da família como a intensa garota que vem pedir abrigo junto ao pai que aprendeu a odiar. O título do projeto, “Somewhere”, de alguma forma incompreensível lembra a abstração de “Encontros e Desencontros”, até hoje a obra mais contundente da filmografia de Sofia, e as semelhanças são confirmadas pelo presidente da Focus Features, James Schamus, responsável por ambos os filmes. Segundo ele, o novo filme “tem a empatia, a emoção o espírito que marcaram a produção estrelada por Bill Murray e Scarlett Johansson”. “Somewhere” é também um projeto em família, já que na produção executiva estão Roman Coppola, irmão de Sofia, e o próprio Francis Ford.

Monstros da ação

Jean-Claude Van Damme acaba de experimentar sua dose maior de notoriedade nos últimos anos com o comentado mas nem tanto “J.C.V.D.” e ainda provocou polêmica ao confirmar ter declinado a proposta de Stallone para atuar em “The Expendables”, mas isso não o impediu de preparar seus próximos enlatados para DVD a aportar nas locadores brasileiras e americanas nos próximos anos. E quem melhor para fazer companhia a ele do que outro ex-astro maior da pancadaria que encontrou o caminho das estantes no novo século? Quem pensou imediatamente em Steven Seagal pode se congratular. “Weapon” passa por um momento um pouco turbulento nas mãos do recém-criado estúdio Flagship, mas tem tamanho apelo que parece quase impossível que não se concretize. Afinal, quem resiste a ver dois ícones lado a lado? Ícones do passado, é verdade, e com obras recentes que deixam mais do que uma dúvida no espectador, mas é sempre melhor esperar para elogiar ou criticar. A trama do filme, divulgada recentemente, soa como uma espécie de reedição sofisticada de “Assassinos”, estrelado por Sylvester Stallone e Antonio Banderas em 1995. Ao que parece, Seagal (“A Força em Alerta”) deve interpretar um matador de aluguel especializado em todos os tipos de armas de fogo que se une ao seu maior concorrente no ramo, a ser vivido por Van Damme (“Soldado Universal”) para derrubar um chefe do tráfico de drogas que conta com a própria divisão de narcóticos do FBI ao seu lado. Que os dois juntos são capazes de tirar a missão de letra ninguém duvida, mas será que a dupla de heróis conseguirá ultrapassar as barreiras financeiras de Hollywood? Não que “Weapon” ambicione ser uma grande produção, é claro, mas a dupla de produtores Alison Semenza (“Garotos Perdidos – A Tribo”) e Todd Moyer (“Timecop”) continua firme na atitude de negar qualquer projeto semelhante em andamento, o que pode indicar uma tentativa pífia de esconder o andamento do filme dos internautas de plantão ou talvez uma produção complicada e problemática. Enquanto o dilema continua sem solução, a data do começo das filmagens (Junho desse ano), as locações (Novo México e Vancouver) e o roteirista (Aaron Thomas, da série “Numb3rs”) já vazaram na grande rede.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… algumas notícias bombásticas para os fãs de ação, algumas de dar medo aos de literatura de terror e, esperamos todos, todas para alegrar os amantes do bom cinema. Por enquanto, deixo vocês por aqui mesmo! Os melhores filmes para todos vocês sempre e até mais!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Appaloosa: A Cidade Sem Lei – O vazio faroeste de Ed Harris

appaloosa

Appaloosa – A Cidade Sem Lei (Appaloosa, EUA, 2008)

De: Ed Harris

Com: Ed Harris, Viggo Mortensen, Renée Zellweger, Jeremy Irons

115 minutos

Sou o primeiro a admitir minhas limitações quando o assunto é faroeste. Não, eu não sou aquela espécie de pretenso crítico que sai por aí assistindo todos os filmes antigos e clássicos apenas para contar vantagem e dizer “cinema de verdade é isso”. Mesmo porque, cinema não possui apenas uma definição. A cada olhar um filme adquire certa maneira de soar e cada raciocínio, pode ter toda a certeza, ocorre diferente na mente de cada espectador. Cinema é acima de tudo imprevisível e não se desfaz dessa qualidade sob nenhuma hipótese. Cinema de qualidade não tem um tempo certo para existir ou uma fórmula rígida para acontecer, trata-se de uma série complexa de conjunções que vão desde aquelas que o estúdio e os profissionais podem controlar até aquelas das quais o destino (ou, se você preferir, o acaso) se encarrega. A falta de um significado maior para “Appaloosa” não é fácil de se explicar. Trata-se daquela espécie de sensação que funciona perfeitamente apenas quando vivenciada, e não suporta palavras para descrevê-la. Na teoria, o faroeste tradicional orquestrado por Ed Harris tem todos os elementos onde deveriam estar. Na prática, é um enorme e sem propósito vazio por quase duas horas que só encontra significado e ressonância quando aposta na intensidade do caráter de seus personagens. Infelizmente, trata-se de uma extravagância da qual o roteiro se furta por boa parte do tempo, deixando uma impressão de que, para justificar a jornada daqueles personagens e suas emoções a flor da pele, foi criado um envoltório de trama que soa mal justificado e polido a ponto de perder a atenção do espectador em alguns momentos. Se dos méritos como western de “Appaloosa” eu pouco posso falar, daqueles que o filme ganha como simples e puro cinema, é bom avisar que tudo o que resta no fim da projeção e uma enorme e desoladora decepção. Isso porque se esperava muito de “Appaloosa”. Segunda investida de Harris, ator prestigiado em filmes como “O Show de Truman”, na cadeira de diretor, o faroeste já chegava com o fardo de repetir o sucesso da estréia de seu comandante, o comovente “Pollock”. Além disso, prometia trazer um estudo profundo de personagens e tensão a cada minuto com interpretações e alta voltagem de um elenco não menos que fabuloso. Já que cinema tem tanto a ver com expectativa, todas essas descritas aí em cima se revertem durante os 115 minutos de projeção e transformam “Appaloosa” de um filme que podia até deixar boas marcas em um daqueles que passa por nossos olhos mas não grava em nossas mentes. Em resumo, fútil. Tudo o que a história não merecia ser.

Em “Appaloosa”, apesar dos créditos iniciais, o protagonista é Everett Rich (Viggo Mortensen), o vassalo estudado de um justiceiro famosíssimo no Velho Oeste americano, uma caixa de emoções fortes reprimidas pela noção de coragem e frieza que predominava na época. O lendário Virgil Cole (Ed Harris) é o oposto radical de seu companheiro, um violento e distante pistoleiro que não hesita em matar para cumprir sua missão e nunca encontrou o amor no caminho de sua vida. Os dois chegam a desesperada cidade-título logo após o trágico assassinato do xerife pelas mãos e um fazendeiro inescrupuloso e insolente, o poderoso Randall Bragg (Jeremy Irons). “Appaloosa” começa violento, impressionante e carregado de atmosfera ao mostrar o tal ato hediondo, mas logo em seguida diminui a marcha e aos poucos vai perdendo o charme ao crer piamente na força das situações banais para caracterizar melhor seus personagens. Coincidência ou não, o roteiro só encontra real força quando se rende aos contrastes entre os dois protagonistas e constrói as situações mais claras que os críticos gostam de chamar de “caricaturais” ou “exageradas”. A bem da verdade, para um filme que retrata uma época de extremos dominada pela crueldade e pela estupidez, faz todo o sentido criar situações que deixem claro que aquele mundo que vemos na tela passa longe de ser a nossa hipocrisia civilizada. De qualquer forma, o fato é que o filme erra ao imprimir um andamento arrastado e padronizado demais a partir do momento em que a dupla de justiceiros é contratada pelo grupo de intelectuais da cidade para parar, se utilizando de qualquer método, Bragg e seus homens. O que poderia ser um jogo de gato e rato absurdamente verbal e empolgante na tensão se torna em uma espécie de pastiche romântico manipulador com a inesperada chegada da viúva Allison French (Renée Zellweger) na cidade e o ainda mais improvável romance que ela engata com Cole, nomeado xerife da cidade. A partir daí, o script do estreante Robert Knott ao lado do próprio Harris, enfileira uma série de erros de rumo de trama e adapta a trama da novela escrita por Robert Parker com pouquíssima inspiração. Como para todo revez a uma virtude, o roteiro não é menos que brilhante nos diálogos insinuantes que chegam a salvar algumas seqüências levadas com incoerência e dão uma idéia da sensação que o filme poderia passar se fosse conduzido da maneira certa no primeiro encontro de Cole e Bragg, carregado com ameaças escondidas e interpretado com perfeição.

Não que o elenco se inspire apenas naquele momento. Cumprindo sua parte na equação, os atores fazem um trabalho louvável ao dar vida a personagens vibrantes e cativantes que enchem a tela até nos momentos menos encantadores e mais arrastados. É mesmo uma pena que tais composições fiquem perdidas em meio a uma trama que parece não avançar como deveria. Em mais um estudo profundo de personagens depois de duas parcerias como Cronenberg (“Senhores do Crime”), um excepcional Viggo Mortensen (“O Senhor dos Anéis”) injeta serenidade e uma boa dose de conflito ao Everett Rich que parece não sair de seu estado contemplativo em nenhum momento. Nas mãos de outro ator, seria no mínimo estranho observar tal comportamento, mas é impressionante como Mortensen se ajusta a situação e convence a cada minuto que jamais pensou em fazer outra coisa na vida. Literalmente, perto do final, é o personagem que aparece em cena e não um astro interpretando-o. Mortensen pode ser o maior triunfo de atuação da obra, mas Ed Harris também faz um trabalho notável na pele de um personagem bem diferente do que está acostumado a fazer. Aqui, ele encara um homem de boa índole fazendo justiça, e não um lobo em pele de cordeiro como é de seu costume. E se sai surpreendentemente bem ao dar vida a Virgil, em uma interpretação que combina segurança, intimismo e pura construção artesanal de personagem em uma mistura que funciona as mil maravilhas. De fato, seria muito mais habitual ver Harris interpretando o papel que acabou com Jeremy Irons (“Cruzada”), mas provavelmente bem menos espetacular. O que Irons faz aqui é montar um retrato para lá de contundente da radicalização de um tipo sem limites e escrúpulos para se considerar acima da lei, algo que se faz presente na sociedade até hoje e, talvez por isso, o personagem mais ressonante. Renée Zellweger (“Bridget Jones”) tem pouco o que fazer em meio aos cavalheiros, mas entrega com a competência de sempre o retrato de uma mulher capaz de tudo para conseguir o que quer e permanecer no topo de cabeça erguida, não importa por que meios, sob quais circunstâncias. Os destinos são juntados com eficiência pelo roteiro no final e Harris faz um trabalho aceitável no comando das câmeras, preferindo contemplar do que se aproximar de seus personagens e condizendo com a natureza serena do próprio script. Ou seja, tudo está, de uma forma de outra, no lugar certo. O que não impede que a sensação de vazio fique no final dos 115 minutos nem que a emoção que deveria brotar com sua tragédia fique apenas na imaginação. “Appaloosa” termina com uma caminhada em direção ao Sol poente, uma imagem bonita e poética, mas que vem sem um objetivo e, por isso mesmo, sem impacto. Vazio como o deserto do Velho Oeste americano.

Nota: 6,0

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (15/04/2009)

Fonte seca

set abril

Essa é a história de como eu, um mero mortal, me apaixonei pela arte do cinema. Era 2004, mais especificamente Junho, e quase como por acaso a sétima arte entrou na minha vida através de uma revista mutilada, bonita nos traços e em falta nas páginas. Na capa, certo bruxo com cicatriz de raio na testa e óculos redondos que eu já amava há muito tempo. Pensei, porque não tentar? Abri e me deparei com palavras sobre coisas que nem imaginava existirem. No mês seguinte, certo Aracnídeo veio me estampar a capa da revista que, daí para frente, eu aprenderia a adorar a cada palavra de cada edição. Não sei se estou sendo romântico demais, mas parece justo dizer que foi pelas páginas da revista SET que aprendi a amar cinema. Se me tornei o apaixonado irracional que sou hoje, a culpa é das palavras consoladoras e divertidas de mestres como Roberto Sadovski, o melhor crítico do cinema do Brasil, o homem que aos poucos me fez entender a beleza de um corte de câmera e de cada mínimo detalhe de uma atuação. De repente, assistir filmes não era mais escapismo, era um ritual. Algo que não poderia faltar e uma espécie de elemento indispensável e indissociável da minha vida. Acompanhei cada vez mais de perto o mundo do cinema pelas páginas da melhor revista especializada no assunto no Brasil e tenho orgulho de dizer que, mais do que um apaixonado por cinema, sou um apaixonado por SET. Ou era. Em Março de 2009, a revista que eu aprendi a ter como parte da minha vida estampou na capa o filme dos sonhos de qualquer fanático por cultura pop em geral, quadrinhos principalmente. Ninguém poderia imaginar que os anti-heróis de “Watchmen” seriam a última imagem que SET deixaria os olhos cinéfilos verem em duas décadas de vida. Na promessa ficou a constante e crescente crescimento e reinvenção pela qual a publicação passava, seja no visual, cada vez mais chamativo e elegante, ou no conteúdo, completo como poucos independente do assunto que estamos falando. Ficou também na imaginação uma capa estampando o mutante “Wolverine” (que até foi divulgada, mas não deve chegar as bancas) e as dissertações coerentes de sempre sobre todas as polêmicas do filme-solo de Logan. Ficou para trás as palavras mais inspiradoras e informativas, de pura, simples e comovente paixão ao cinema que o Brasil já viu. Recentemente, nossa dose da era de ouro da terra do cinema já ficara para trás com a morte de Dulce Damasceno, e agora o golpe se torna completo. Fica órfã toda uma geração de cinéfilos, e me inclua nessa lista. A esperança é a última que morre, como garantiu o próprio Sadovski, mas por enquanto fica um vazio.

Escalação tupiniquim

Há algum tempo que o cinema brasileiro não tinha um projeto que valesse a pena acompanhar passo a passo. Depois de ir além da maioria dos cineastas de nosso país com os radicalmente diferentes, mas similares na primazia “O Bicho de Sete Cabeças” e “Chega de Saudade”, a paulista Laís Bodanzky se tornou em uma espécie de unanimidade entre crítica e público. Como já provou milhares de vezes ser uma das mulheres mais inteligentes e talentosas do nosso cinema, a cineasta prepara seu próximo projeto caminhando de mãos dadas com a nove geração brasileira de internautas. O que vai sair da equação é uma pergunta que só poderá ser respondida em Abril de 2010, quando “As Melhores Coisas do Mundo” chegar aos cinemas. A obra será adaptação de uma popular série de livros juvenis escritos por Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto intitulada “Mano”, que narra a história de um jovem e seus amigos lidando com as descobertas dessa fase da vida e levantando entre si temas polêmicos como amor, sucesso, medo e preconceito. As filmagens, que devem começar com um elenco pouco conhecido ainda nesse mês, já estão sendo acompanhadas de perto por um bom número de pessoas, que votaram no site da Warner Lab, divisão independente do estúdio responsável pela produção da nova obra de Bodanzky ao lado de Gullane Filmes, e escolheram o nome do projeto entre seis alternativas boladas pela diretora, também roteirista da adaptação. Com título definido e expectativa crescente, o projeto acaba de ganhar um pouco mais de brilho ao escalar duas estrelas da teledramaturgia e do cinema nacionais. Enquanto os protagonistas devem ser interpretados por ilustres desconhecidos, Caio Blat (“Batismo de Sangue”) encarna um professor de física logo depois de sair das filmagens de “O Bem-Amado” e Paulo Vilhena (“O Magnata”) se encarrega do ensino musical dos garotos como um professor de violão. Outro projeto brazuca bem comentado é “Sonhos de um Sonhador”, a cinebiografia do cantor Frank Aguiar, cujo intérprete acaba de ser definido como Gustavo Leão (“Sete Pecados”) em sua estréia no cinema já ao lado de gente como Chico Anysio e Rosi Campos.

Rápido como um flash

Flash Gordon é um jogador de futebol americano que vai parar com uma turma de amigos em um planeta desconhecido chamado Mongo e se vê as voltas com um imperador impiedoso e seus planos de dominar a Terra. A sinopse, provavelmente a mais conhecida de um personagem que tem raízes bem mais antigas, vem do popular filme de 1980 dirigido por Mike Hodges (“Cálculo Mortal”) em um momento mais ambicioso. Fracasso para a época e sucesso cult anos depois, o filme tinha gente como Max Von Sidow (“Amor Além da Vida”) e Timothy Dalton (“007 – Licença Para Matar”) como coadjuvantes e acabou acrescentando mais do que se esperava ao mito do personagem. Se o mesmo pode acontecer no século XXI, a missão está nas mãos de Breck Eisner (“Sahara”), que deve tentar ressuscitar o personagem no cinema batendo de frente com uma “reimaginação” televisiva bancada pelo Sci-Fi Channel. Para quem não sabe, o herói interplanetário surgiu na década de 1930 em uma seqüência de três serials, nome dado as aventuras descompromissadas que enchiam os cinemas da época e eram exibidas em capítulos de curta duração, produzidos entre 1936 e 1940 e estrelados pelo lendário Buster Crabbe (“Buck Rogers”). Depois, em 1955, um revival televisivo fracassado deixou o nome do personagem manchado até o filme de Hodges vir-lhe restaurar a glória décadas depois. Se agora a missão é do pau-mandado de estúdio Eisner, é mau sinal. Afinal, em 2004 o comando da produção estava nas mãos do nem tão competente, mas sempre apaixonado Stephen Sommers (“Van Helsing”), que afinal já tinha experiência em aventuras descompromissadas tiradas da década de 1930 com sua série “A Múmia”. Tirado do projeto depois das famosas “diferenças criativas” e por cogitar o nome de Ashton Kutcher (“Efeito Borboleta”) para o papel a revelia da opinião dos fãs, Sommers continua como produtor do filme roteirizado pela dupla estreante Matt Sazama e Burk Sharpless. Na trama reestruturada, Flash ainda é um popular jogador de futebol americano, mas leva apenas sua namorada para a aventura e vai parar no planeta controlado pelo tirano através da nave espacial de um cientista russo. Nenhum nome do elenco ainda foi confirmado, Eisner se mostrou empolgado em filmar em breve, dizendo que pretende fazer um filme “intenso, agressivo, corajoso e real”.

As maravilhas de Gondry

Um homem e uma mulher decidem esquecerem um do outro e se apaixonam novamente em um estudo fascinante de destino e amor inevitável. “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” chegou, em 2004, para trazer a tona o talento técnico e emocional de um diretor que andava escondido entre comédias independentes e grandes produções exageradas em todos os sentidos. Ao colocar sua sensibilidade ao meio externo e não ter medo de expor suas idéias sobre amor, vida e destino, Michel Gondry construiu uma improvável e surpreendente obra-prima de romance e comédia entrelaçados sempre naquele gosto agridoce impossível de descrever e empacotado em um lindo embrulho de perícia técnica e inovação por natureza. Assim foi também, de uma forma mais simplista mas não menos competente, em “Rebobine Por Favor”, uma comédia humana e emocionante sobre pessoas de corações e memórias despedaçadas. Agora, assumindo a responsabilidade de um personagem lendário e lidando com pressão de grandes estúdios e as idéias explosivas de um comediante incontrolável e bem-sucedido, é de temer que Gondry caia no corriqueiro de outros tempos e se deixe levar por concepções erradas. Desde que o francês assumiu o comando da adaptação da série de TV sessentista “Besouro Verde” essa dúvida expressa aí em cima invadiu a imaginação de cada um de seus muitos fãs. Ou pelo menos até ontem, quando o diretor publicou em seu badalado diário virtual as primeiras palavras sobre a nova missão de desenvolver o roteiro ao lado da dupla Evan Goldberg e Seth Rogen, responsáveis por comédias como “Superbad – É Hoje!”. Ao que parece, o problema está sendo menor do que se imagina, já que os dois pretendem dar ao novo projeto um tom diferente de seus anteriores, nas palavras do diretor, um pouco mais próximo do espírito da série estrelada por um Bruce Lee no auge da carreira. Um pequeno trecho do post do diretor para atiçar o apetite dos cinéfilos. “Eles escutam minhas idéias para o filme. Acredito que a história está cada vez melhor e eu me sinto como uma parte importante do processo”. Sobre a comentada técnica usada por Gondry em uma cena de luta filmada com dinheiro do próprio bolso, ele escreveu: “Alterei a velocidade da câmera em diferentes ângulos de imagem e em vários tempos. Então, parece que os personagens estão no mesmo mundo, mas em épocas diferentes e depois, estão todos juntos novamente”. Boa sorte para tentar imaginar o resultado.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… Reconheço que fiquei bem triste com a notícia do cancelamento da SET, era colecionador assíduo e tudo o que aprendi sobre cinema devo a essa revista e aos que escreviam para ela, sem preconceitos contra nenhum gênero de filme ou nacionalidade. Era a revista de cinema mais completa do Brasil. Esperamos todos que encontre uma nova casa para voltar a encantar os olhos cinéfilos. Bom, pessoal, queria agradecer a todas as visitas e comentários, e dizer até mais! Os melhores filmes para todos vocês sempre!