sexta-feira, 31 de julho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (31/07/2009)

Vampiros em marcha

newmoon

Crepúsculo tinha tudo para ser um fracasso. É claro que aqui estamos falando da adaptação do primeiro livro de uma série com base de fãs vasta e sólida, mas fazer funcionar em película o que está no papel é sempre uma matéria delicada. Ainda mais com uma trama vampírica sem grandes cenas de ação ou apelo para o suspense, cujo centro é o típico romance entre dois adolescentes que anda tão criticado no filão das comédias românticas. Quer mais risco para o investimento? Sem problema, chame uma diretora egressa do cinema independente para guiar as câmeras e escale uma dupla de jovens atores conhecidos só por papeis coadjuvantes. Ao olhar da imensa maioria dos executivos dos grandes estúdios, uma coisa assim simplesmente não tinha chance de dar certo. Na teoria, a decisão perfeita seria engavetar o projeto e seguir em frente, dando alguma satisfação furada ao fãs colerizados que encheriam a Internet por alguns meses com abaixo-assinados que se provariam inúteis. Tudo perfeito, se não fosse esse pequeno doce da vida, a surpresa, que atacou forte em novembro e deu à ousadia da Summit Entertainment uma recompensa de quase 400 milhões nas bilheterias ao redor do mundo. Pois é, o mundo gira, e agora o antes velho e ultrapassado mito dos sugadores de sangue noturnos ganhou o misterioso poder de levar um projeto instantaneamente para o topo da lista de prioridade de um estúdio, enquanto o bastardo Crepúsculo tem a página de rumores mais badalada da rede. Começando na sequencia imediata do romance, intitulada Lua Nova, que começa a mostrar sua própria personalidade na divulgação que se prepara para o que pode ser o lançamento do ano em 20 de Novembro. Dessa vez o filme é comandado pelo mais comercial Chris Weitz, responsável pela fantasia A Bússola de Ouro, que não é nenhum idiota e já escalou um elenco de peso para formar a família antagonista da vez. Os Volturi, vistos aí em cima em pose familiar comovente, são um clã antigo de vampiros poderosos, que não por acaso contam com intérpretes talentosos de verdade para representá-los. Começando da esquerda para a direita, Aro é interpretado por um  irreconhecível Michael Sheen, que parece estar em todas desde Frost/Nixon. Depois, o patriarca Marcus ganhou o rosto do veterano da televisão Christopher Heyerdahl (Stargate), e a ala jovem da família está bem representada pelos talentosos Jamie Campbell Bower (Sweeney Todd), Dakota Fanning (Heróis) e Cameron Bright (Obrigado por Fumar). A continuação ganhou ainda um extra de publicidade quando um tablóide inglês fotografou a grandiosa filmagem do clímax do filme em Roma, e por fim foi anunciado que a banda de rock Radiohead será responsável pelo tema principal. Enquanto isso, o terceiro filme da série, intitulado Eclipse e em plena produção, ganhou a presença de Bryce Dallas Howard (A Dama na Água) assumindo um papel que foi de uma semi-desconhecida no primeiro filme. Eclipse tem David Slade, o homem por trás de 30 Dias de Noite, tentando variar o cardápio sem sair do próprio território. Coisa de vampiro caçador.

Paul is back!

paul milla 

Paul W.S. Anderson tem uma carreira curiosa de se acompanhar, bem atípica para as regras hollywoodianas desde seu início, no começo da década passada com o ultra-violento suspense de ficção Shopping, que contava com um Jude Law pré-fama na pele do líder de um grupo de arruaceiros que, ao lado de sua namorada, enfrentava a lei e gangues rivais em “um futuro muito próximo”. Em suma, era um Blade Runner que deixava de lado a filosofia e partia para as vias de fato, num estilo que se comunicava muito mais com a nova geração de jovens do que o épico de Ridley Scott. Depois do clássico cult instantâneo que fez em sua estréia, porém, Anderson supreendeu por engatar a quinta marcha e abraçar qualquer projeto ligado a cultura pop que visse pela frente. Se saiu com uma das adaptações de video-games mais competentes de todos os tempos com Mortal Kombat, o primeiro de 1995, colocou lado a lado dois monstros do cinema de ação oitentista e reergueu as respectivas carreiras em Soldado Universal, de 1998, e finalmente se meteu a levar para o cinema a franquia virtual mais adorada pelos fãs de survival horror, Resident Evil. Conseguiu em 2002, arrancou alguns elogios inesperados da crítica, não irritou os fãs o bastante para gerar protestos na rede e ainda antrou solteiro e saiu casado com a beldade Milla Jovovich, protagonista do filme e das duas seqüencias, nas quais o marido participou na produção e na elaboração do roteiro, deixando a câmera da série em prol de projetos como o merecidamente infame Alien Vs. Predador e o subestimado Corrida Mortal. Agora, logo depois de provar para quem quisesse ver que podia ir além de algumas cenas de ação quando servido de um bom roteiro, Anderson está envolvido em pelo menos mais três projetos que podem chegar quase ao mesmo tempo nos cinemas. A começar pelo mais atribulado, Spy Hunter, que estava quase pronto sob os ângulos da câmera de John Woo e já tinha até poster lançado na rede quando uma tremenda confusão ainda mal explicada entre o mestre chinês, o astro The Rock, o roteirista Stuart Beattie e o estúdio zerou o projeto. Na época, o próprio ator chegou a dizer que a saída do comandante era o reflexo do excesso de gente na elamboração do projeto, o que gerou um conflito de idéias impossível de se resolver. Anderson chegou para repaginar o filme em ainda por volta de 2007, e embora os rumores atuais apontem seu envolvimento apenas no roteiro da produção, não há nenhuma notícia concreta. No mesmo estado de estagnação desde mais ou menos a mesma épcoa está a refilmagem The Good Long Friday, remake de um clássico cult estrelado por Bob Hoskins na pele de um poderoso gângster que tem seu império ameaçado por uma série de atentados. O original contava ainda com Helen Mirren como a esposa do protagonista, mas o remake não tem ninguéme scalado no elenco e parece estar em processo de roteirização. Por falar em roteiro, Anderson finalizou recentemente o texto de Castlevania, adaptação de um dos clássicos do video-game de ação e horror, e o cargo de diretor anda disputado entre Sylvain White (O Poder do Ritmo) e James Wan (Jogos Mortais). Por último, a boa notícia para quem não gostou da forma como a franquia que saiu de Resident Evil foi conduzida é que Anderson está disposto a voltar a direção da série em seu quarto capítulo, intitulado Afterlife, que pode ou não ser estrelado dessa vez por Ali Larter, da série Heroes, que já teve uma participação no terceiro filme.  As filmagens e os rumores sobre a nova trama dão largada em Setembro.

Novas histórias do morcego

batman 3

Para quem não está acostumado com o esquema de rumores que rola em torno das próximas grandes produções de Hollywood, é curioso ver que a coisa funciona mais ou menos como uma corrente motivada pela imprensa, especializada ou não. Uma notícia puxa a outra, na medida que esses veículos de comunicação fazem entrevistas não raro apenas para confirmar o boato anterior, tudo sob a luz de uma declaração que já naturalmente leva ao pobre entrevistado a tendência de formar um elo a mais na corrente. Em suma, notícia ruim traz mais notícia ruim, e notícia boa traz mais notícia boa, uma dinâmina que se refletiu de jeito bem curioso nos mais recentes rumores sobre o terceiro filme da nova série do Homem-Morcego. Depois da explosão crítica e comerical da obra-prima que foi Cavaleiro das Trevas, o terceiro capítulo da saga de repente virou o alvo preferencial de todos os sites especializados, e não houve uma frase inocente sequer que escapasse de sua acirrada vigia. Nossa história começa a mais de um mês, em 17 de Junho, com o site de fãs Batman-on-Film publicando uma nota que dava conta do possível afastamento do diretor e roteirista Christopher Nolan da série. Considerado o grande responsável pela nova cara do herói e dono da câmera e do texto de Begins e Cavaleiro, a suposta saída do cineasta do comando criativo foi o bastante para deixar os fãs do herói mais pessimistas sobre o terceiro filme, que era comentado desde a saída do segundo. Os rumores antigos (como mostra o poster falso logo ali em cima) davam conta do vilão Charada na produção, com a provável face de Johnny Depp sob o chapéu e a vestimenta verde. Interpretado por um caricato e divertido Jim Carey com tom de sátira em Batman Eternamente, o personagem do novo filme viria ainda ao lado de outra famosa antagonista do herói, a Mulher-Gato, que por sua vez também já tinha uma célebre encarnação com Michele Pfeiffer e seu uniforme de látex em Batman – O Retorno. De qualquer forma, a possível saída de Nolan acabou, no esquema da corrente, levando o astro da franquia Christian Bale, outro grande culpado pela complexidade do novo herói, a verbalizar a possibilidade que o terceiro filme não acontecesse. Sem deixar o defunto esfriar, no entanto, quem reascendeu os rumores do terceiro filme foi a própria Pfeiffer, que disse a época da estréia de seu Chéri que adoraria repetir o papel da vilã que fez em 1992, mas podia entender que a produção exigisse uma nova cara. No embalo, quem falou logo em seguida foi Johnny Depp, que finalmente expressou seu interesse em entrar para a dança no papel do Charada, tudo enquanto a corrente de boas notícias continuava e o ator Gary Oldman, dono do papel do Comissário Gordon, lançava Book of Eli e deixava escapar na entrevista de divulgação que as filmagens do novo filme teriam início no começo do próximo ano, com previsão de lançamento para 2011, e ainda emendava um suspeito “mas você não ouviu isso de mim”. Sem ter como confirmar a declaração de Oldman, a pressão acabou caindo sobre David Goyer, o parceiro de Nolan no texto dos dois primeiros do personagem no novo século. Segundo ele, o diretor estava envolvido nas filmagens de Inception, seu thriller psicológico, mas logo depois os dois se reuniriam para discutir o futuro do personagem. Mas esse, veja só, não foi o último elo da corrente. O rumor mais recente deu bizarra conta da estrela teen Miley Cyrus, da série Hannah Montana, filmando testes para o papel de Batgirl. Depois disso, resta esperar para ver se a corrente encontra seu fim nos cinemas ou na gaveta.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo. Como vocês viram nessas últimas edições do nosso Boletim, eu estou tentando citar cada vez mais minhas fontes, dar crédito a elas, e ainda controlar um pouco o tamanho e a quantidade das notícias. De qualquer forma, estou vendo uma grande mudança na estrutura do Boletim em breve… mas por enquanto é só isso mesmo… Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (27/07/2009)

Pesadelo século XXI

freddy

Cada um tem o recolucionário que merece. Em 1984, o cinema vivia a plena era de ouro do terror slasher, com Jason Vorhooes (Sexta-Feira 13) lançando sua quarta investida nos cinemas em quatro anos e Michael Myers (Halloween) tirando umas férias do terceiro capítulo de sua saga, nem tão bem-sucedido quanto os anteriores. Foi então que o mundo observou a mente criativa de Wes Craven, futuro criador da bem-sucedida série Pânico, ganhar o primeiro crédito de sucesso com um certo assassino cínico, de rosto queimado e senso de justiça torto, que buscava vingança por uma morte lenta e dolorosa infringida pelos pais e avôs dos adolescentes de Illinois, estado americano, que vêem seus sonhos invadidos pela cruel, cínica e grotesca criatura. Freddy foi um sucesso porque era engraçado e assustador ao mesmo tempo, e não dá para negar que sua presença de espírito foi o que garantiu a validade dos outros seis episódios de sua saga, todos lançados no curto intervalo de tempo de uma década. Além de um êxito comercial, porém, Freddy foi um revolucionário porque tinha um motivo além da própria psicopatia para marcar. Era cruel e repulsivo, sim, mas acima de tudo era um homem destruído em busca de vingança. Nada que os músculos de um Schwarzenegger ou um Stallone já não oferecesse ao público na época, mas dessa vez éramos obrigados a temê-lo. De uma forma quase indecifrável, Freddy era um anti-herói. Eternizado na pele do ator Robert Englund, que fez questão de representar o personagem em absolutamente todas as suas encarnações, Freddy ressurgiu para toda uma nova geração enfrentando seu célebre colega em Freddy Vs. Jason, o sucesso metteórico que talvez seja o maior responsável pela recente onda de remakes de filmes de terror clássicos. A recepção do público a nova empreitada foi o bastante para a produtora Platinum Dunes, que tem os créditos pelo novo Sexta-Feira 13 e por mais um punhado de remakes recentes, colocar em movimento o antigo projeto de dar um novo começo a mitologia do personagem para uma nova e mais exigente geração de espectadores de terror. A proposta não foi o bastante para interessar Craven, que recusou se envolver no remake, exemplo no qual foi seguido por Robert Englund, que abriu mão das luvas de metal do personagem pela primeira vez desde que se tornou o símbolo de uma geração em 1984. Sem nada para se apoiar, Wesley Strick (Casa de Vidro) foi chamado para arrumar a casa e redigiu um roteiro descrito como um retorno as raízes assustadoras do assasino, deixando as piadas em segundo plano em favor de uma jornada mais visceral pela mente de um psicopata que ataca suas vítimas em meio a vulnerabilidade do sono. O segundo passo foi chamar Samuel Bayer, estreante em terrenos cinemtaográficos com um currículo extenso no mundo dos videoclipes, para assumir as câmeras de um genuinamente novo A Hora do Pesadelo. E ele começou com o pé direito, reunindo uma turma de jovens talentos da televisão para servir de lixa de unha para o assasino, que será interpretado por Jackie Earle Haley, indicado ao Oscar pelo pedófilo de Pecados Íntimos. Entre as novas vítimas do senhor dos sonhos estarão Thomas Dekker (Sarah Connor Chronicles), Kyle Gallner (Smallville) e Katie Cassidy (Supernatural). Agora, é só esperar Abril de 2010 para conferir o resultado final. Até lá, é melhor pensar suas vezes antes de deitar a cabeça no travesseiro.

Quebrando o gelo

Hollywood pode ser uma terra cruel com quem se aventura dentro de seus limites, mas a essa altura do campeonato eu, você e mais meio mundo já deve estar cansado de ouvir essa mesma ladainha. O que de fato intriga e permanece e segredo são as razões de tal crueldade de investimentos garantidos e lucro acima de ambição artística. Afinal, para quem está de fora do esquema, o que corre pelos corredores e salas impecáveis dos grandes estúdios continua um absoluto mistério. Não raro, somos deixados esperando por uma produção que ascende nosso instinto de cinéfilo e logo depois ficamos sabendo que o estúdio resolveu adiar a estréia sem nenhum motivo aparente. Alguns, no fim, nem conseguem chegar aos cinemas e acabam aportando sem escala nas prateleiras das locadoras. Destino tão “desonroso” não deve ter o suspense de ação Whiteout, que parece finalmente ter conseguido uma data definitiva de estréia, marcada para Outubro desse ano, quase um ano mais tarde do que foi a princípio prometido pela Warner, major americana que bancou a distribuição do filme do estúdio Dark Castle, dono dos créditos por recentes sucessos como o terror adolescente Casa de Cera e ação debochada RocknRolla, do diretor Guy Ritchie. Se na própria produção o filme já ganha pontos para um investimento de bilhereria, a garantia só sobre para outro nível quando a trama é toda baseada em uma história em quadrinhos, no caso uma minissérie em quatro partes lançada em meados de 2005 com roteiro de Greg Rucka e arte de Steve Lieber. Por fim, o filme ainda contou desde o começo com a presença da atriz Kate Beckinsale, conhecida como a estrela da série Anjos da Noite, que pode não estar no melhor momento de sua carreira, mas continua sendo um nome de peso para estampar o topo de um cartaz. Isso sem contar a coadjuvância de um até então ilustre desconhecido Gabriel Macht, que em março último se tornou o novo astro da terra do cinema ao protagonizar o suceso The Spirit na pele do herói-título. Assim a produção seguiu, com elenco completo pelos esquecidos Tom Skerritt (Brothers & Sisters) e Columbus Short (Poder do Ritmo). O roteiro inicial da dupla Jon e Erich Hoeber, que só tem a ação criminal Montana no currículo, passou por uma revisão pesada de outros dois irmãos, Chad e Carey Hayes, esses mais experientes no suspense da trama, tendo assinado o script do terror Colheita do Mal. A missão de filmar na imensidão branca da Antártida, onde ocorre a trama de assassinato e investigação, foi assumida por Dominic Sena, que não pegava em uma câmera desde 2001, quando lançou a ação cool Swordfish. As coisas pareciam bem, o primeiro pôster anunciava o filme para 2008, mas algo deve ter feito as coisas mudarem de figura na Warner, que resolveu adiar o filme para Abril de 2009 e, depois, para Outubro. Com trailers e fotos lançadas, resta esperar que a nova decisão seja mesmo definitiva. 

Girls. Bond Girls.

bond. james bond 

Quando o britânico Daniel Craig assumiu, no urbano e violento Cassino Royale, o papel do espião da rainha mais famoso do mundo e ainda assumiu que estava lá para atualizar o personagem e trazê-lo de vez para um século dominado pelo brutal, instintivo e acima de tudo muito lucrativo Jason Bourne, ninguém, e me inclua nesse balaio, conseguia apostar no sucesso da empreitada. Mais ainda, os fãs todos pegaram seus piquetes e protestaram contra a escalação de um Bond loiro, de charme tosco e tendências violentas, argumentando que a produção havia passado dos limites ao descaracterizar o personagem pensando apenas no lucro. Na internet chegou a surgir um site que atraiu toda a atenção da mídia, dividiu opiniões e acabou fechado. O Daniel Craig is Not Bond foi reaberto recentemente como uma fonte de notícias que serve bem aos fãs revoltados e aos que queiram ver um outro lado a chuva de elogios que desceu sobre o reboot da série e sua recente e acelerada continuação, Quantum of Solace. O fato é que a crítica em massa aprovou o novo James Bond, assim como o público, que fez dos dois últimos filmes da série os maiores sucessos do personagem em solo americano. Enquanto isso, o vindouro 23º filme do personagem começa a ganhar seus rumores e suas confirmações, preparando-se para um lançamento em 2010, sinal de que a série voltou a produção constante. Depois de Marc Forster, diretor de Quantum of Solace, pular fora do comando do novo filme e o rumor sobre a contratação de Danny Boyle, recém-oscarizado por Quem Quer Ser um Milionário, ter sido desmentido, a bola da vez é a contratação de um novo roteirista para a série, para se juntar ao veterano Paul Haggis, que não larga o osso desde que assumiu o texto do espião em Cassino Royale. Quem deve co-escrever a nova trama é o premiado Peter Morgan, o homem por trás de A Rainha e Frost/Nixon, nome que atiçou os nomes mais badalados da terra do cinema a cavar seu lugar na nova aventura. Os sempre presentes rumores sobre as garotas de Bond no novo filme tiveram início no nome de Freida Pinto, a musa de Quem Quer Ser um Milionário, e seguiram com a declaração clara de interesse por parte de Angelina Jolie e Jennifer Aniston, que teriam que disputar lugar com o suposto retorno da personagem Camille, representada pela atriz Olga Kurylenko em Quantum of Solace. Por fim, a última a entrar na acirrada disputa foi Megan Fox, que pelo jeito pretende sair direto das filmagens de Jennifer’s Body para a participação na aventura, ao lado de Michael Sheen (Frost/Nixon), única presença quase confirmada na pele do vilão da vez, que pode ou não ser o velho conhecido Blofeld, um dos maiores inimigos do espião, que tem sete participações ao longo dos vinte filmes da série e ainda foi a inspiração para Mike Myers criar o vilão Dr. Evil dos filmes de Austin Powers. Sheen é um velho parceiro do roteirista Morgan, que tem presença garantida pelo menos em outros dois vindouros filmes de sua autoria, A Special Relationship e The Damned United.

Especial: O primeiro teaser do Alice de Tim Burton

Pouco a pouco, quase como quem não quer nada, Alice no País das Maravilhas vai se tranformando no que pode ser o filme de fantasia mais carregado de expectativa desde que o mundo interiro viu o final da jornada de Frodo e seus amigos em O Retorno do Rei. Se não bastasse a visão única de um artista como o cineasta Tim Burton sobre uma das maiores histórias infanto-juvenis de todos os tempos, o filme ainda me reúne um elenco fora de série que combina velhos parceiros do diretor e novos integrantes da gangue de forma espetacular e por fim ainda divulga artes conceituais e caracterizações que prometem se tornar mais do que clássicas. Aliás, marque bem cada palavra quando eu digo que Alice estará na maioria das categorias técnicas, se não em mais algumas das principais, do Oscar 2011. Por fim, toda a espera que acaba de começar é coroada por um teaser como esse logo aí em cima, que não precisa mostrar muito para se tornar o um minuto e meio mais sensacional da história recente do cinema. É bem verdade que vemos só o bastante para nos deixar com água na boca, mas é impossível não se pegar vendo e revendo o bendito videozinho, tudo na vã esperança de pegar algum detalhe a mais ou uma nuance das breves atuações que veremos na íntegra em Abril do próximo ano, quando o filme estreará no que vem se tornando cada vez mais um grande evento. O clima de conto-de-fadas sombrio e pitoresco a um só tempo é evidente desde o primeiro take, mostrando a atuação de uma promissora Mia Masikowska, mera desconhecida com papéis pequenos em filmes como Um Ato de Liberdade antes de assumir os holofotes do novo filme do diretor. Logo em seguida, direto ao assunto, o trailer nos mostra o que todos nós já sabemos, com a queda de Alice pelo buraco do coelho, impressionante nos efeitos especiais, ela tomando o que quer que seja e diminuindo de tamanho, tudo de prelúdio para enfim entrarmos no País das Maravilhas. A narração é clara, ainda que quase idílica: “Há um lugar como nenhum outro na Terra, uma terra cheia de encantamento, mistério e perigo. Alguns dizem que para sobreviver é preciso ser tão maluco quando um chapeleiro… o que, felizmente, eu sou”. Introdução esperta para um Johnny Depp que leva mais uma vez ao limite sua própria caracterização, surgindo na tela como um grande e brilhante holofote, interpretando um Chapeleiro Maluco que pode e vai se tornar um ladrão de cenas melhor que qualquer outro. Enquanto isso, ainda vemos os primeiros flashes do comediante Matt Lucas sob maquiagem e efeitos especiais como os gêmeos bizarros Tweedle-Dee e Tweedle-Dum, e de Michael Sheen igualmente coberto por píxels na pele do simbólico Coelho Branco que conduz Alice pelo começo de sua viagem. Também aparecem frações de segundo das performances de Anne Hathaway como a Rainha Branca, de sua irmã Rainha de Copas, representada por Helena Bonham-Carter, e até do ator Stephen Fry, promissor mesmo sem mostrar o rosto como o Gato. É com toda essa expectativa que a gente espera por mais dolorosos nove meses para entrar na toca do coelho.

Bom, pessoal, e por hoje é só. Depois dessas quatro notícias, mais dois trailers para gente ficar esperando pelo resultado final, só me resta agradecer como sempre a todos os comentários e desejar os melhores filmes para todos vocês! Até mais!

domingo, 26 de julho de 2009

Coração de Tinta – Magia dos dois lados da tela

ink

Coração de Tinta (Inkheart, Alemanha/Inglaterra/EUA, 2008).

De: Iain Softley.

Com: Brendan Fraser, Eliza Bennett, Paul Bettany, Andy Serkis, Helen Mirren, Jim Broadbent, Sienna Guillory, Jennifer Connelly.

106 minutos.

Os leitores vorazes que por ventura estiverem passando os olhos por essas linhas devem concordar comigo que não raro há um gosto especial nos mundos que surgem em nossa mente durante a leitura. Tão especial que, muitas vezes, mesmo que por breves instantes, desejamos com todas as nossas forças viver aquela história por nós mesmos. O mundo de papel pode ser muito mais atraente que o de carne e osso que vemos e vivemos todos os dias, e cada criação humana e tão única em suas palavras que é impossível evitar um desejo, por mais secreto que seja, de que tudo aquilo se torne em verdade. Mesmo preso no mesmo mundo da ficção do qual tira personagens bem familiares ao espectador e ao leitor, Coração de Tinta deve a maior parte do envolvimento e fascinação que causa a esse antigo e arraigado sonho humano, romantizado pela escritora alemã Cornelia Funke na novela infanto-juvenil de fantasia e aventura homônima lançada em meados de 2003, tudo por meio do esperto e de certa forma antigo conceito de “Língua de Prata”, espécie de rara habilidade nata que leva as pessoas a materializar aquilo que lêem em voz alta. Sempre cuidadosa com a própria escrita, Funke construiu em papel uma ode a literatura e uma deliciosa aventura cheia de encantamento e povoada por personagens construídos com esmero digno da apreciação de qualquer crítico exigente ao mesmo tempo em que a fez movimentada por um ritmo dinâmico e peculiar capaz de prender o leitor mais casual. Em meio a tudo isso, ainda ganhávamos de graça uma leitura lúdica, quase escapista, que usava uma premissa por si só interessante para explorar criações próprias de uma forma no mínimo incomum. Mesmo quando eram tirados de um “livro dentro do livro”, os personagens de Funke tinham alma, vida própria e, portanto, não deixavam dúvida ao leitor de sua capacidade de sair do mundo da ficção. Feito meia década depois de o livro explodir mundo afora e até ganhar uma continuação, Coração de Tinta, o filme, prefere um caminho mais arriscado e mais visual ao transformar esses mesmos personagens em caricaturas que povoam um mundo mais do que real e podem se provar tão perigosas quanto as ameaças das quais fugimos ruas afora. A força da palavra escrita ainda é o cerne da trama, mas de alguma forma a tradução visual das peculiaridades do material original pediu adaptações que podem ou não agradar aqueles que viveram a experiência literária de forma mais marcante. No final das contas, porém, o filme deixa intacto o caráter escapista e a fascinação natural que a trama tem, criando um universo que tem brilho próprio e apoiando-se em um elenco sólido para representar bem aqueles personagens que estavam nas palavras de Funke, enquanto o roteiro se preocupa mais em dar ao espectador a sensação de estar embarcando em uma aventura tão verdadeira quanto fantástica. O equilíbrio é complicado, de fato, mas Coração de Tinta consegue se aventurar entre o humano e o ficcional com competência notável e acaba sendo acima da média para as recentes investidas cinematográficas no terreno da fantasia. Real ou não, aqui estamos nós diante de mais um mundo que merece nossa atenção, seja em papel ou em imagens.

Obviamente, quando falamos na criação de um mundo atraente e o assunto é cinema, a imensa maioria dos créditos deve ir ao roteiro, que precisa buscar o equilíbrio entre a caracterização do cenário e a relação entre os personagens, sempre quesito fundamental em qualquer trama que ambicione envolver seu espectador. No comando desse barco, é admirável a audácia do americano David Lindsay-Abaire, mais conhecido pelo texto da animação Robôs e futuro autor do roteiro de Homem-Aranha 4, que escolhe a rota mais turbulenta para administrar tão complexa gerência e se aproveita do tempo limitado de que dispõe para focar em um grupo concentrado de protagonistas e torná-los no símbolo quase vivo daquele conceito arraigado que se torna em magia na trama. Os coadjuvantes são meras caricaturas, cuja ficção está naturalmente estampada em seus rostos, mas de alguma forma se tornam ingredientes indispensáveis para uma receita ousada que prova dar certo em meio a soluções bem-armadas de roteiro. São eles, as caricaturas, que formam a sólida base e muitas vezes fazem o papel de alavanca para que um trio inusitado de protagonistas venha a se tornar justamente o tipo de personagem que desejamos mais profundamente que se tornem em realidade. Ironicamente, o texto de Abaire faz de tudo para que por breves instantes eles sejam, criando diálogos que soam reais sem precisar recorrer ao caminho fácil do exagero melodramático e montando situações que colocam sob uma perspectiva diferente o caráter e os objetivos que movem cada um desses personagens. A mistura resulta em um texto de profundidade rara no gênero a que pertence. É a pura magia que está incutida na trama sendo transferida para o espectador, e de alguma forma é nessa inesperada transferência que o texto de Abaire prova que, ao menos dessa vez, a rota mais arriscada pode ser a correta, triunfando em um clímax que consegue emocionar, liberar adrenalina e gerenciar com cuidado o destino de cada um dos personagens, substituindo a surpresa baseada em um único conceito que movimentava a novela pela de um final que pouca gente espera nos dias cínicos por que Hollywood está passando. Sim, aqui estamos nós diante de um fim de conto de fadas, mas de certa forma esse conceito tão ultrapassado serve como uma luva para o mundo de tinta que se tornou em imagem pelo texto de Abaire, uma espécie completamente diferente do de Funke, e não por isso menos encantador. Coração de Tinta, o filme, é centrado em Mortimer “Mo” Folchart, um encadernador com a rara habilidade de trazer ao mundo real os personagens dos livros que lê em voz alta. Como tudo nessa vida tem um preço, em uma noite sua esposa é levada para o mundo da obra de fantasia que dá nome ao filme, enquanto os vilões da história saem das páginas para o mundo real. Quando finalmente encontra um cópia do raro livro e se prepara para trazê-la de volta, porém, ele é encontrado por Dedo Empoeirado, um maleável cuspidor de fogo que também foi arrancado do mundo de ficção e é capaz de tudo para retornar para sua família e sua mulher, inclusive se reunir ao vilão Capricórnio, líder de uma enorme rede de capangas, que por sua vez não tem interesse nenhum em voltar a sua vida medíocre do livro e vai atrás de Mo e de sua filha, Meggie, para obrigá-lo a trazer tesouros para ele das obras de ficção.

Para uma trama que a bem da verdade vai muito além disso em ramificações e pequenas surpresas, Coração de Tinta conta bastante com o elenco para segurar as pontas e dar mais força aos momentos-chave, levando muitas vezes a decisão ousada do roteiro nas costas e fazendo-o funcionar infinitamente melhor. Começando, é claro, por Brendan Fraser, um pouco fora de seu estereótipo aventureiro de A Múmia para incorporar o personagem que, segundo a própria autora do livro, foi escrito com sua atuação em mente. Ele não tem tanto espaço para exercitar seu poder dramático, mas não chega a decepcionar quem conhece seu talento na construção lenta e elaborada de personagens levados por carisma, transformando Mo em um protagonista complexo, humano, falho e encantador a um único tempo, trabalhando bem sua voz, elemento fundamental na trama, e usando-a aliada com a força de uma interpretação segura para corresponder a todas as expectativas nas cenas em que o dom do personagem é exigido. Por sua vez, a jovem Eliza Bennett, que já havia mostrado talento interpretativo na ação O Agente, segue acima da média e atua na pele de uma Meggie consideravelmente mais dotada de personalidade do que aquela do livro, concedendo a segunda protagonista da trama um pouco mais do que o puro simbolismo dos “olhos do espectador” e estrelando alguns dos momentos mais encantadores e mais aflitivos do roteiro com competência invejável. Por fim, o trio de protagonistas é fechado por um excepcional Paul Bettany, conhecido como o albino Silas da adaptação de O Código da Vinci, que encarna com fidelidade todo o mistério que envolve Dedo Empoeirado no livro e ainda concede a ele o rosto ambíguo e fascinante de um homem com um objetivo que não deixa nada nem ninguém, sejam vilões ou heróis, entrarem em seu caminho. Em última instância, Bettany o torna em um relutante anti-herói numa transição suave da dúvida para uma quase certeza, já que de claro mesmo só há paixão daquele homem, daquela aberração, pelo seu mundo. Isso Bettany sabe traduzir perfeitamente, seja por puro talento ou pela sábia escolha de Jennifer Connelly (O Dia em que a Terra Parou), esposa do ator na vida real, para interpretar sua Roxanne, a mulher do personagem, em um par de cenas idílicas. É claro que a escolha de elenco não para por aí, e ainda temos uma Helen Mirren estranhamente adorável na pele de Elinor, a tia-avó de Meggie que relutantemente se envolve na trama após sua amada biblioteca ser destruída pelos capangas de Capricórnio. Pode parecer estranho para uma atriz de tamanho potencial dramático se tornar um alívio cômico, mas versátil como é, ela faz o trabalho com gosto e justamente por isso surpreende o próprio espectador. Quem faz papel semelhante é Jim Broadbent, que se encontra mais no papel pitoresco do escritor do Coração de Tinta ficcional do que na recente parte que tomou na série Harry Potter, tornando Fenoglio a espécie de mais do mesmo que, nas mãos de um bom ator, se torna o mesmo com um pouco a mais. Por fim, os destaques se fecham com Andy Serkis, o homem por trás do Gollum de Senhor dos Anéis, que faz de Capricórnio uma caricatura ao mesmo tempo repulsiva e compreensível, exagerando quando o exagero lhe é exigido pelo roteiro e fazendo-se mais realista nos momentos finais, quando o verdadeiro e mais arraigado medo de seu personagem é exposto de forma espetacular. Sua atuação é essencial, para a trama e para o clímax, mas é mesmo o trabalho do diretor Iain Softley, mais conhecido por trabalhos conceituais, como o drama de ficção K-PAX, que faz do universo de Coração de Tinta algo tão atraente e realista quanto o descrito por Funke. Sua câmera é equilibrada, sabe quando se servir de alguma histeria e quando acalmar as coisas com cortes elegantes, seu trabalho com os atores é exemplar e a forma como conduz as cenas repletas de efeitos especiais é notável pela fluidez, sem precisar de cortes e ângulos múltiplos para usar a pirotecnia a seu favor e criando um ritmo crescente que agrada aos olhos e a interpretação a cada minuto mais instintiva do espectador. Curto em seus 106 minutos mas bem-amarrado o bastante para não parecer apressado, Coração de Tinta chega a seu final como um dos mais notáveis exemplares de fantasia dos últimos tempos, fora do esquema das grandes séries, e ainda consegue trazer-nos integralmente a sensação de realidade fantástica que, mais do que nunca, cai como uma luva para personagens de mentira que parecem tão reais. Uma pena que os créditos tenham que vir para acabar com a festa, mas a memória vai ficar por muito mais do que meras duas horas de diversão.

Nota: 7,5

INK-01500
INKHEART
,  
December 22, 2006
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (22/07/2009)

Besouro na corda bamba

green hornet

Não raro, é fácil acreditar que Hollywood é mesmo um mundo a parte, em que certas coisas naturais desse universo aqui fora funcionam de forma diferente lá, dentro das paredes impecavelmente brancas dos grandes estúdios, onde homens engravatados que só pensam em lucro decidem todos os dias o futuro e o presente da sétima arte humana. A sorte, por exemplo, ou a falta dela, pode ser uma maré que vai e vem a cada instante nas ruas de qualquer lugar do mundo, mas basta passar por aquele letreiro e ela se torna uma perseguidora insistente, seja para o bem ou para o mal. Besouro Verde, para quem não sabe, foi uma série de TV de curta porém marcante duração em meados dos anos 1960, quando chegou a competir com o todo poderoso Batman pela maior audiência e lançou para o mundo o chinês Bruce Lee, rosto por trás de Kato, o companheiro e assistente do herói-título. Lá se vão mais de meia década desde que o primeiro rumor sobre um remake da trama em forma de filme surgiu, dando conta de George Clooney, na época ainda sem o Oscar por Syriana na prateleira, interpretando o protagonista, o editor de jornal Britt Reid, que decide lutar contra o crime nas ruas de uma Nova York retro-futurista. Ao lado dele ainda estaria Jet Li (O Confronto) para assumir o manto do mestre chinês e vestir a máscara de Kato. Desde então, o filme já passou pelas mãos de Kevin Smith (O Balconista), que até finalizou um roteiro e escalou seus protagonistas, mas encontrou o caminho correto mesmo quando o comediante Seth Rogen (Ligeiramente Grávidos) abraçou o projeto e deu-lhe um novo fôlego, associando-se a Stephen Chow (Kung Fusão), que deveria assumir o papel de Kato e a direção do projeto. O tempo passou, porém, e as famosas “diferenças criativas” fizeram a má sorte atingir mais uma vez o projeto, quando Chow anunciou que não estava mais disposto a assumir a cadeira de direção. Desde então, Besouro Verde passou por rumores de cancelamento, declarações pessimistas do estúdio e até ocasionais novos nomes no elenco, tudo até encontrar abrigo nas mãos competentes de Michel Gondry (Rebobine, Por Favor), que voltou a chamar Rogen e Chow para estrelarem e incentivou a boataria sobre o filme ao declarar-se entusiasmado pela possibilidade de um filme de ação inovador. A data de estréia foi firmada para Julho de 2010 e os dois rumores mais recentes dão conta de dois nomes de peso para o elenco coadjuvante do filme. Primeiro, Cameron Diaz foi cotada para ser o interesse romântico do protagonista, e em seguida foi o vilão do filme que ganhou a adesão de peso de Nicolas Cage, isso enquanto Stephen Chow se desligava definitivamente do projeto e Besouro Verde se via sem um dos seus protagonistas. Ao que parece, a faca da sorte em Hollywood pode cortar com os dois gumes ao mesmo tempo.

Dominar o mundo!

Olhe para a imagem acima, observe bem os detalhes desse rosto e da expressão estampada nele, repare na posição da mão, como se a foto tivesse sido tirada em um pleno momento criativo, o gesto calando as palavras, quase como se deitvessem a voz para pensar melhor no que seria falado, como se precisasse organizar na mente pensamentos que muitas vezes não encontram tradução. Esse bom velhinho aí em cima, moldado pelo tempo em um rosto fino, olhos grandes sobrepostos por óculos maiores ainda, nariz proeminente, esse mesmo, não deixa nada a dever a nenhum vilão megalomaníaco dos inocentes filmes e séries de outrora com seu plano para dominar o mundo. O primeiro alvo foi Nova York, o começo do grande plano, metrópole habitada por gente fria moldada pelas hipocrisias de uma sociedade consumista que só conseguiu aceitar a forma doce de conquistar do velhinho depois de trinta anos de filmes altos e baixos que de uma forma ou de outra tem seu espaço na história do cinema. Conquistada a maior metrópole do terreno americano, o crápula cineasta ainda atravessou o Atlântico e se aproveitou do sarcasmo natural do povo inglês para cravar duas balas diretas no peito e assim continuar a construção de seu império. Depois sua metralhadora de referências pop, personagens bem-feitos e diálgoos geniais se voltou para uma das mais encantadoras cidades espanholas, e bastou o cativante Vicky Cristina Barcelona para que o receptivo povo do país também abraçasse sua forma de fazer cinema e entrasse para o extenso rebanho. De volta as cidade natal só para não perder a prática e a confiança com Tudo Pode Dar Certo, os anos próximos do vilão Woody Allen já estão preenchidos com pelo menos outras três viagens internacionais na busca pela dominação mundial. Brincadeiras a parte, e acho que o próprio Allen apreciaria essa cheia de sarcasmo e crítica social, é notável que o diretor parece ter pego gosto por explorar novos territórios com sua câmera e criar novos e pulsantes personagens para habitá-los. Só nos próximos anos, Allen deve voltar a Londres para filmar um projeto ainda sem título que tem no elenco os nomes de Naomi Watts (King Kong), John Brolin (Milk), Anthony Hopkins (Beowulf) e Antonio Banderas (A Máscara do Zorro), sem contar a presença incerta de Nicole Kidman. Menos ainda se sabe sobre o projeto francês do diretor, um drama romântico filmado na cidade das luzes que pode ou não ter a musa Scarlett Johanasson no elenco. Por fim, a grande notícia é que os próximos alvos prioritários de Allen somos nós, brasileiros, que receberemos a visita do cineasta em 2011, quando irá filmar uma homenagem ficcional a cidade do Rio de Janeiro, de maneira semelhante com o que foi feito em Barcelona. De sua forma particular, Allen já se pronunciou sobre rodar um filme na América Latina, dizendo que “é algo que não me imponho”.

O reino de metal

iron man EW

Pode ter passado voando para quem estava atrás de umas boas férias e não podia esperar para que o mês passasse mais rápido, mas é fato que já faz mais de um mês desde que Homem de Ferro 2, a seqüência mais esperada do próximo ano, figurou pela última vez nas linhas do nosso Boletim. Na época, a notícia era a primeira imagem oficial, que mostrava Mickey Rourke na pele do vilão Chicote Negro e expunha pela primeira vez seu uniforme, muito criticado pelos fãs da revista do herói. Desde então, o marketing da aventura tem sido surpreendente pela discrição, liberando novas imagens reveladoras na rede sem o alarde que era de se esperar para um estúdio recém-nascido que tem mostrado tanta preocupação com a divulgação de seus filmes. Pouco depois da fatídica última notícia a ser colocada nessas linhas sair para quem quisesse ver, foi revelado que o filme seguiria a tradição dos filmes da empresa de quadrinhos e teria mais uma vez o quadrinista Stan Lee em uma participação especial, dessa vez mais destacada, na pele de um apresentador de talk show que questiona Tony Stark sobre as inovações no traje e no comportamento do Homem de Ferro do novo filme. Ainda pouco tempo depois, vazou na rede uma foto de um carro de corrida profissional marcado com o símbolo e o logotipo da Strark Enterprises, empresa de produção de armas do protagonista, que deve ter sua própria equipe de fórmula um no roteiro redigido por Justin Theroux, o homem por trás de Trovão Tropical. Outra imagem, liberada mais recentemente, mostrava Tony vestido com um macacão de corrida, o que confirma as expectativas dos fãs em ver o herói em um cockpit. A revelação seguinte foi o visual de Scarlett Johansson, que pintou as famosas madeixas louras de vermelho para se tornar a encarnação quase literal da Viúva Nega, uma espiã russa que pode se aliar a Stark ou ao Chicote Negro, um dos mistérios da trama que até agora permanece escondido. Se a Viúva de Emily Blunt prometia mais inteligência, ainda que com um pouco menos de beleza não vem ao caso agora, mas ao menos já sabemos que veremos Stark sentado no banco dos réus em algum ponto do filme, como confirmaram fotos de Robert Downey Jr, Don Cheadle e Gwyneth Paltrow em um cenário de tribunal. O motivo da acusação continua um mistério, mas há quem diga que o herói precise responder por dirigir alcoolizado ou até por espionagem industrial. Por fim, as últimas novidades se esquivaram de uma polêmica envolvendo a disputa por atenção entre duas das atrizes principais do filme para “deixar vazar” que a atriz Leslie Bibb (Delírios de Consumo de Becky Bloom) deve voltar a cena como a repórter que importuna a vida do herói com perguntas, digamos asim, espinhosas. A capa aí em cima é da Entertainment Weekly, que publicou a primeira reportagem completa sobre o filme, com acesso aos sets e entrevistas com os atores.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… a pedidos, aliás, eu dei uma maneirada no tamanho do Boletim, tentando selecionar só mesmo os filmes e novidades que merecem destaque, mas vou tentar em contra-partida publicar mais freqüentemente, acho que esse é o caminho… então, a gente se vê logo! Obrigado por todos os comentários, aliás, é sempre bom ler as reações dos leitores! Os melhores filmes para vocês e até mais!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe – Luz e trevas, morte e vida… fã e espectador de um fenômeno que começa o fim de sua jornada

Harry Potter e O Enigma do Príncipe (Harry Potter and The Half-Blood Prince, Inglaterra/EUA, 2009).

De: David Yates.

Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Michael Ganbon, Tom Felton, Bonnie Wright, Jim Broadbent, Alan Rickman, Jessie Cave, Evanna Lynch, Helena Bonham-Carter.

153 minutos.

Se vocês me permitirem o intrometimento e talvez até a repetição, adoraria poder lhes contar uma pequena e simplória história sobre o nascimento de um fã. O ano era 2002, e este escriba que voz fala ainda não havia descoberto nem sequer todas as belezas da sétima arte, que dirá o maravilhoso mundo da informação virtual. Quando aquele garoto entrou no cinema em 22 de Novembro para ver Harry Potter a Câmara Secreta, porém, não podia imaginar que daquele dia nasceria uma paixão que me levaria, sem sombra de dúvida, até onde estou hoje. O segundo filme da série, mais uma vez dirigido por Chris Columbus (Esqueceram de Mim), era uma aventura de andamento próprio, único e não menos do que encantador, carregada por uma trama de suspense apoiada por evidências sutis, apresentadas de forma quase ao acaso. Embora eu com certeza não tenha notado na época, era quase como assistir a uma adaptação de Agatha Christie com uma boa dose a mais de diversão, pirotecnia hollywoodiana e, a longo prazo, personagens que de uma forma ou de outra marcariam para sempre a memória e o coração de muita gente. A partir do momento que eu saí daquele cinema, havia me tornado muita coisa que não era quando entrei. Era um cinéfilo agora, era mais um entre muitos fãs do maior fenômeno literário jovem do século e me tornaria também um leitor por prazer, como imagino que muitos mais se tornaram após a intervenção da britânica Rowling, autora desses livros que misturavam aventura, magia literal e mistério dos mais envolventes para produzir, como em uma produtiva aula de poções a cada página, a pura essência do encantamento. Rowling trouxe a sutileza de volta a voga na literatura, e pelo menos nas duas primeiras investidas cinematográficas da sua criação, parecia que faria o mesmo com o cinema. É claro, a partir daquele momento uma sessão de qualquer Harry Potter para mim e penso que para muitos outros, era uma experiência dividida entre a visão de cinéfilo que podia entender certas escolhas de roteiro e direção, e a de fã, que era capaz de gritar de revolta ao ver sua obra preferida mutilada. Eu sei que parece egoísta, mas quem é fã deve saber bem do que eu estou falando, porque para começar quem verdadeiramente ama esse trio de ouro que compõe o trivial de qualquer aventura da série, não há filme perfeito e não há adaptação que não seja passível de uma ou outra correção. É em momentos como esses, sentado confortavelmente em uma sala de cinema sem conseguir evitar de ver cada cena de minha série preferida com uma lente de aumento, que renovam a fé de que a imaginação humana é mesmo algo único e misterioso da forma como deveria ser. Na tela nada ou quase nada acontece da forma como nossa mente projetou ao ler as frases do livro, e de alguma forma impossível de evitar aquela nova visão, a do diretor ou do roteirista, cai como uma luva ligeiramente apertada ou folgada demais. Por melhor que seja a cena, e somos capazes de notar isso apesar dos que dizem os críticos mais entendidos, não é da forma como queríamos, e nunca será. O filme é produto conjunto de mentes e pensamentos que não são os nossos, e quando nossa imaginação projeta algo que marca tão profundamente em nossa memória e sentimento, não há como não sentir uma espécie de revolta, mesmo que culpada. Sexta e antepenúltima aventura em terras cinematográficas dos bruxos, Harry Potter e o Enigma do Príncipe soa como um produto de cinema válido, quase notável, mas é simplesmente impossível de digerir de forma completa para quem foi apresentado ao tratamento único da autora dos livros a um tempo de névoa e guerra que marca o mundo dos bruxos e dos humanos “normais” na sexta aventura em papel. A sutileza é jogada para o alto em favor da brutalidade, e talvez seja isso mesmo que sirva melhor ao cinema do novo século, mas não poderia ter havido pecado maior para um fã do que esse.

De fato, é quase admirável as mudanças e esforços empreendidos pelos produtores para tentar recuperar a confiança dos fãs de longa data desses personagens, ainda mais a luz da chuva de críticas que desceu sobre Michael Goldenberg (Peter Pan) quando o inglês estreou na batuta do roteiro da série em A Ordem da Fênix já deixando de fora diálogos considerados sagrados pelos fãs e de fato essenciais para o desenvolvimento de uma então subtrama que se tornaria mais do que essencial no decorrer da aventura dos livros posteriores. Para o novo filme a Warner tornou a chamar Steve Kloves, o inconstante responsável pelos quatro filmes anteriores e pelo aplaudido texto da dramédia Garotos Incríveis, dessa vez na adaptação de uma trama extrema e perigosamente pessoal para os fãs, ansiosos para assistir o já noticiado primeiro namoro de seu herói e as complicações nos romances entre os personagens que todos tanto amam. Eliminado o elemento surpresa que impregna todo o sexto livro da série nas palavras sempre acertadas de Rowling, a missão de Kloves era ainda mais complicada ao corresponder as expectativas de pelo menos duas platéias. Uma, fanática pelos livros que queria fidelidade e sentir aquele arrepio correr pela espinha nos momentos mais grandiosos, especialmente no clímax da trama, o mais emocionante da série até então, e outra, de críticos empolgados com todo o clima político do quinto filme, que queriam mesmo é ver a guerra entre o lado negro e o lado iluminado da magia explodir em tela antes da hora. O resultado de tanta pressão, ainda mais ao lado da expectativa acumulada devido a polêmica decisão do estúdio em adiar em quase um ano a estréia do novo filme, é um texto que não agrada integralmente a nenhum dos lados, mas tem seus acertos e sua soluções inteligentes. De forma muito mais notável no começo do filme, Kloves consegue montar a guerra já esperada sem com isso irritar os fãs, gerando interesse em ambos os lados da batalha, resumidos com sabedoria em uma série de cenas rápidas e impressionantes. Porém, quando decide deixar para trás certos momentos decisivos para o desenvolvimento da personalidade de alguns personagens cujos traços seriam reforçados no sétimo livro, já anunciadamente dividido em dois filmes a serem lançados em 2010 e 2011, Kloves erra e produz cenas que não marcam tanto quanto as descritas pelas palavras da autora. No clímax, aliás, sem querer estragar um par de surpresas, é mais do que oportuno observar que o roteiro corta pelo menos duas das frases mais marcantes de toda a série em favor de um par de efeitos especiais impressionantes que, apesar da maestria técnica da super-produção, não conseguem emocionar e envolver da forma como fariam estudos tão intensos de dois personagens que se tornarão elementos-chave na trama derradeira. Mais uma vez a trama nos leva de volta a Escola de Magia de Hogwarts, não antes de deixar bem claro que o mundo dos humanos “normais” também não está imune a guerra que começa a se desenrolar nos domínios bruxos. Nesse clima de paranóia e opressão somos levados de novo ao mundo de magia que a série sempre ofereceu ao espectador, dessa vez com um clima de suspense mais acentuado e focado no até então apenas irritante Draco Malfoy (Tom Felton), que finalmente recebe sua Marca Negra e uma missão perigosa para desempenhar a mando do bruxo das trevas mais poderoso de todos os tempos. Enquanto isso, temos Rony Weasley (Rupert Grint) ganhando seu lugar na equipe de quadribol e arranjando uma namorada que rende momentos bem engraçados, Lilá Brown (Jessie Cave). É curioso que, para o filme que antecede uma trama tão focada em seu principal personagem quanto Relíquias da Morte, essa sexta aventura tem poucas cenas de fato marcantes para Harry, mais uma vez interpretado por Daniel Radcliffe. É bem verdade que temos a primeira namorada do herói, Gina Weasley (Bonnie Wright), mas a forma como o roteiro trata o romance é tão menos focada que a do livro que de envolvimento de verdade temos muito pouco enquanto o passado do vilão Lord Voldemort nos é revelado de forma fascinante por meio de lembranças bem mixadas ao restante da trama, nas aulas particulares do protagonista do o diretor Dumbledore (Michael Ganbon), mais sábio e importante do que nunca no contexto da trama.

Com tantos erros e acertos pesados em uma trama que deveria e termina sendo quase espontaneamente tão marcante, é fato que não raro o elenco de peso reunido pela série precisa segurar as pontas das cenas mais indecisas. Da parte jovem da lista temos um Daniel Radcliffe um tanto perdido em meio a um foco tão fraco no personagem que interpreta, tentando segurar as pontas e conseguindo dar a Harry a sensação de deriva e confusão que impregna todos os pensamentos do protagonista no livro. Se Radcliffe se mostra desenvolto mesmo em meio a alguns erros, seu par não pode ser parabenizado da mesma forma. Pela primeira vez mais destacada na pele de Gina Weasley, a graciosa Bonnie Wright não consegue evidenciar toda a personalidade que marcou a personagem nos livros e acaba criando mais um par quase inexpressivo para um protagonista que, sem ter no que se apoiar, acaba soltado ao vento em algumas cenas. Ao menos temos um ponto a favor das garotas com Emma Watson, que dá seu maior show na série até agora tendo que lidar com as primeiras evidências mais claras de uma paixão pelo amigo Rony e injetando bastante emoção a pelo menos um trio de cenas que poderiam passar quase despercebidas. No final, numa das mais bonitas e marcantes cenas criadas com precisão cirúrgica por Kloves, a câmera em um close na interpretação de Emma resume tudo aquilo que cada espectador deve estar sentindo naquele momento. Quem também sai ganhando é Evanna Lynch, mais uma vez a encarnação quase literal da excentricidade de Luna Lovegood e uma das mais carismáticas e marcantes figuras do filme, ainda mais quando salva o herói de uma situação complicada no início e o acompanha em um dos momentos mais engraçados do filme, quase na metade da projeção. Luna e Evanna são a dupla perfeita que, não raro, concedem um pouco de alma e ingenuidade a uma trama de tamanho perigo, suspense e expectativa. Isso ao lado de Rupert Grint, carismático da cabeça aos pés ao encarar algumas das mais marcantes e divertidas cenas do filme, seja lidando com não uma, mas duas tramas de romance, seja segurando bem as pontas nos momentos cômicos e dramáticos de Rony, que cresce muito ao olho do espectador no novo filme. Aliás, no extremo oposto da trama mas também num momento de puro crescimento está Tom Felton e seu juvenil vilão Draco Malfoy, que passa sem escalas de adolescente irritante para ameaça mais do que sólida e se torna um personagem de complexidade impressionante na atuação que não raro é a que mais arranca sentimentos de verdade do espectador comum. Isso porque, é claro, há todo um novo sabor no Dumbledore de Michael Ganbon para quem conhece a importância do personagem na série e na trama, e o ator não decepciona, finalmente encarnando de verdade o diretor da escola mais famosa do mundo da magia e se tornando o elo emocional mais forte com o espectador. Mais por causa dele do que pelo roteiro ou pela direção, o final é aterrador, triste e faz a realidade cair como uma pedra na mente e no sentimento do espectador. Guerra é morte, e se há uma encarnação para ela em Enigma do Príncipe essa encarnação é Belatriz Lestrange, levada com sabedoria por Helena Bonham-Carter em uma interpretação acertadíssima que vai além da loucura demonstrada nas poucas cenas do quinto filme para se tornar o puro símbolo da maldade que a bruxa má é nos livros. De novidade mesmo só o Horácio Slughorn de Jim Boradbent (Moulin Rouge!), dono de pelo menos uma cena impressionante, mas que não cumpre a promessa de ladrão de cenas que carregava das palavras de Rowling e dos produtores do filme. Quem rouba o show mesmo é Alan Rickman, mais uma vez a encarnação literal e magnífica de Snape e a única razão pela qual o corte de uma das frases mais marcantes do personagem (“Não me chame de covarde!”) não fazer assim tanta falta. Atuação, aliás, que só deixa mais forte o trabalho sólido de câmera empreendido por David Yates, o homem por trás do visual mais sombrio e realista que a série já teve, que já assinou contrato para as duas partes derradeiras da série. Ele sabe quando ser detalhista e filma as melhores e piores cenas do roteiro de Kloves com sabedoria e clima variável, num trabalho daqueles de se admirar pela adequação de gênero. Em meio a ângulos acertados, palavras que nem sempre soam como deveriam e um elenco muito mais do que essencial, porém, Enigma do Príncipe é um competente interlúdio para a guerra de verdade, sombria e alucinante, a ser assistida no fim da série. Por enquanto, é o bastante de Harry e sua turma. Até o ano que vem.

Nota: 8,0

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Listas da década (2000-2009) – As 10 melhores interpretações femininas

Pode ter passado voando, mas é um fato a ser encarado. O tempo é assim, inexorável e inevitável, algo poderoso que não para e não se deixa afetar pelas vontades e controles de nós, meros humanos. Mas o tempo passa, e o homem produz coisas extraordinárias. A cada dia cresce a consciência de nossa espécie em relação ao meio que nos cerca e, acima de tudo, não paramos. Não paramos com os negócios, não paramos nem mesmo com o doloroso e cruel sistema de capital que criamos para nós mesmos. Não paramos com a arte. Que dirá com o cinema, hoje a forma de expressão mais vendável, popular, fascinante e abrangente que se vê por aí. Os filmes estão lá, prontos para serem vistos, julgados e atirados a própria sorte. Afinal, cinema é acima de tudo uma equação que precisa de elementos precisos, acertados, equilibrados. Especialmente em tempos como esses em que nos vemos refletindo sobre tudo o que se passou há tanto tempo e as conseqüências desses atos para a sociedade dos dias de hoje, o elemento mais forte e decisivo de um filme é a honestidade. O passo a seguir é quase óbvio. Afinal, se um filme precisa soar como a vida real, são os humanos em frente as câmeras que precisam convencer de forma mais contundente. Atores, atrizes. Não por coincidência, em uma década na qual a participação feminina no cinema recebeu uma injeção de credibilidade com novas cineastas surgindo por aí, elas terminaram ganhando contronos de maior destaque, sempre tomando o holofote principal como a categoria mais disputada dos prêmios espalhados pelo mundo. Estamos às portas do fim da primeira década do século 21. Nada mais justo do que se lembrar das estrelas que brilharam mais fortes nesses nove anos.

10ª posição: Maria Bello em Encurralados (2007)

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Se toda unanimidade é burra, então não há porque evitar de falar de alguém que possue seus admiradores e seus críticos. No caso da atriz Maria Bello, aliás, os últimos existem aos borbotões por aí depois da britânica assumir o manto de Rachel Weisz no terceiro e malfadado capítulo da série A Múmia. Críticas de fãs e sua validade deixadas de lado, o fato é que assistir a Bello em um momento de inspiração é como observar uma força da natureza tomar conta da tela. Excelente em todos os gêneros e estilos que se propõe a fazer, a atriz brilhou mais do que nunca ao lado de um Pierce Brosnan também inspirado no suspense Encurralados. A trama de seqüestro envolvendo os dois mais o marido da personagem de Bello, interpretado por Gerard Butler, é uma das menos notadas e mais criativas dos últimos anos, com um desfecho de cair o queixo e as palavras finais mais arrepiantes desde muito tempo. E advinhe quem as profere? Bello, é claro, atingindo um nível de suspense, calafrios e crueldade quase impossível de suportar, virando ao contrário a cabeça do espectador e nos presenteando com a melhor demonstação de um dos maiores talentos dos últimos e, esperamos dos próximos anos. Em sua boca, em sua atuação, cada palavra e ato de Abby Randall adquire um novo significado e toda a maestria de sua atuação vem a tona em uma única cena, aproveitada em cada segundo e expressão pela excelência de Bello. Talento puro e brutal, com toda a pompa inglesa, apenas a espera de uma mulher de mentira pela qual valha a pena trabalhar.

Futuro? Adepta dos filmes independentes, Bello tem pelo menos meia dúzia de filmes recentes que ainda não aportaram no Brasil. Certeza mesmo até agora parece só Downloading Nancy, um polêmico thriller virtual, e o drama The Private Lives of Pippa Lee, estrelado por Keanu Reeves na pele de um homem comum que entra numa espiral de puro desespero. Em filmagens ela está com The Company Men, primeiro “filme de crise” produzido por Hollywood, e Grown Ups, próximo filme de Adam Sandler.

9ª posição: Toni Collette em Pequena Miss Sunshine (2007)

Equilibrar comédia e drama pode ser tarefa difícil para um roteirista que se proponha a redigir um filme com os dois elementos, mas é fato consumado que fica para os atores desse tipo de obra a missão mais hercúlea de todas. Para a mistura agridoce funcionar, a receita é, pura e simplesmente, seres humanos de verdade povoando a tela. E, por mais estranho que possa parecer, é muito mais difícil para um ator interpretar esse tipo de personagem do que um cheio de trejeitos e aspectos marcantes capazes de gravar na memória do espectador. Não se trata de uma repetição, mesmo porque pessoas de verdade nunca são as mesmas de um minuto para o outro, mas acima de tudo é preciso carisma. Felizmente, isso e talento são duas coisas que Toni Collette tem de sobra. Não que ela seja uma atriz de impressionar a cada cena, mas sua forma peculiar de construir personagens com nuances e momentos pequenos que fazem toda a diferença de alguma maneira casa bem com a comédia dramática. Tanto que sua atuação em Pequena Miss Sunshine é a chave para entender e se envolver na família disfuncional que protagoniza o filme. Na pele da “normal” Sheryl Hoover, a atriz australiana encontra o ponto de equilíbrio ideal entre desespero e conformação, mesclando cenas de puro desabafo com outras propositadamente contidas para construir um personagem capaz de mexer com as emoções do espectador sem deixar de ser a sólida rocha do primeiro minuto de filme. Um dessmpenho invejável e detalhista que merece mais destaque do que teve.

Futuro? Está comprometida com o papel principal da série de TV United States of Tara, criada pela  badalada Diablo Cody (Juno), cujos doze primeiros episódios atraíram audiência suficiente para evitar o cancelamento.

8ª posição: Maggie Gyllenhaal em Mais Estranho Que a Ficção (2006)

Hollywood pode ser um lugar cruel com quem tenta a sorte em suas ruas. A escada para a fama é longa, de degraus íngremes e ainda tem os mais inimagináveis obstáculos pela frente. Maggie Gyllenhaal teve seu nome para ajudá-la e ainda assim só conseguiu seu discreto lugar na capital do cinema apoiada no irmão Jake, como coadjuvante do cult Donnie Darko. Daí para frente, ela seguiu com equilíbrio invejável, fazendo as escolhas certas e, de quando em quando, sendo permitida a mostrar todo o talento que tem. E se Mais Estranho Que a Ficção se tornou a obra-prima subestimada que é, então boa parte do mérito deveria ir para Maggie. Sua Ana Pascal é o ponto de equilíbrio de um roteiro criativo do início ao fim, a calmaria de normalidade em meio a chuva de idéias bizarras do genial Zach Helm. No papel da padeira sonegadora de impostos pela qual o protagonista, um fiscal da Receita que começa a ouvir a narração da própria vida, se apaixona, Maggie é um poço de serenidade com vida e brilho próprios. Perfeccionista, detalhista mas acima de tudo instintiva em cena, ela constrói aos poucos a ligação emocional mais forte de todo o filme, chegando ao final como o elemento conciliador de um clímax conflitante dominado pela competência caricata de Will Ferrell. É notável o quanto Maggie se destaca entre os coadjuvantes de peso do nível de Emma Thompson e Dustin Hoffman, protagonizando a própria história e tornando cada cena algo um pouco mais especial. Nunca uma história de amor foi tão encantadora. E nunca Maggie demonstrou o quanto mais de espaço seu talento merece para brilhar.

Futuro? A participação em O Cavaleiro das Trevas deu um empurrão a mais em sua carreira, e ela está no ainda inédito Away We Go, filme de verão inusitado do diretor Sam Mendes (Beleza Americana), dessa vez sem a presença da esposa, a atriz Kate Winslet (O Leitor). Está escalada também para co-estrelar a continuação da comédia infantil Nanny McPhee ao lado da protagonista e criadora da trama Emma Thompson, com quem contracenou em Mais Estranho Que a Ficção.

7ª posição: Helena Bonham-Carter em Sweeney Todd (2007)

Não é missão para qualquer atriz a de se destacar contracenando com o sempre excepcional Johnny Depp. Especialmente quando este se apresenta com uma caracterização estourada e impressionante de um personagem atormentado e cheio de nuances. A bem da verdade, Sweeney Todd, primeiro musical assumido de Tim Burton e quinta parceria de diretor e astro, é o show dele. O que apenas torna ainda mais importante a presença de Helena Bonham-Carter, que adiciona uma boa dose de obsessão amorosa e, mais tarde, de sentimento fraternal, ao interpretar a Mrs. Lovett que conspira com o protagonista para sua vingança e ainda arranja um jeito de faturar com seu negócio de tortas. Helena faz seu trabalho de forma impressionante, achando o ponto certo para a personagem não soar estranha no contexto bizarro mas surpreendentemente denso criado por Burton e pelos roteiristas. Não é uma missão fácil, mas ela a desempenha com instinto e força invejáveis, conseguindo não soar apagada quando contracena com Depp e criando uma química com ele que só pode ser descrita como maravilhosa de se assistir. Em certa cena, quando os dois olham pelas janelas da loja dela para planejarem o maligno e sangrento plano de vingança, a dança entre os dois, as vozes que se confundem, a letra que pinga ironia de cada palavra e as duas atuaçõs se integram em uma conjunção virtualmente perfeita que é capaz de trazer junto até o maior dos críticos dos musicais. A verdade é que Helena é mesmo uma atriz capaz de desempenhar qualquer papel e ainda sair-se com uma desenvoltura no mínimo surpreendente. E a Mrs. Lovett de Sweeney Todd é o brilho maior desse talento.

Futuro? Esgatou participações marcantes no quarto Exterminador do Futuro e no sexto Harry Potter, roubando o show na pele da bruxa má Belatriz Lestrange. Garantiu lugar também nas duas partes derradeiras da série e na nova obra do marido Tim Burton, a ser lançada em 2010, Alice no País das Maravilhas.

6ª posição: Jodie Foster em Valente (2007)

Há quem diga que a experiência pouco conta nesse mundo passageiro em que estamos vivendo. Especialmente no cinema, hoje um tipo de diversão muito mais prezado pelos jovens do que pelo público mais experiente. É fato que são os adolescentes que lotam multiplexes para ver os blockbusters do momento, e não intelectuais que pretendem sentar-se confortavelmente e assistir a uma obra de arte. Talvez por tudo isso, a voga do momento é dizer que atuação é uma vocação, um dom, e não apenas um ofício. Ou você nasce sabendo, ou você nunca será capaz de aprender. Jodie Foster é a prova cabal de que as coisas não são tão simples assim, e nunca de fato chegam a ser em qualquer discussão equilibrada sobre uma forma de expressão tão complexa quanto o cinema. Atuando desde os sete anos, com o Oscar em cima da lareira desde vinte e seis, Jodie passou pela carreira de forma seletiva, quase sempre notável dentro de sua área. Passou muito perto de ser considerada a funcionária do mês, e de brinde ainda levou o reconhecimento de uma das atrizes mais talentosas de todos os tempos. Na pele da apresentadora de rádio Erica Bain no pouco visto Valente, Jodie constrói aos poucos uma performance que alcança a integração completa com os outros elementos do filme. Perturbada, aflitiva, sombria e simples a um tempo, a personagem se torna parte indissociável da trama nas mãos de Jodie. Os caminhos que ela segue parecem naturais em sua interpretação completa, que se despe de sutilezas para dizer claramente o quão provocante e contestador pode ser o raciocínio humano. A Erica de Jodie é de verdade, é palpável, é real. E tem boa parte do mérito pela qualidade do filme do qual faz parte.

Futuro? Deve finalmente retornar a direção após o fracasso na pré-produção de Flora Plum, dessa vez comandando as câmeras e fazendo serviço de coadjuvância a Mel Gibson, no papel de um homem que anda pelas ruas com um fantoche na mão e o trata como uma pessoa de verdade. O título provisório é The Beaver

5ª posição: Marcia Gay Harden em O Nevoeiro (2007)

Seres humanos podem ser tão assustadores quanto monstros que nem mesmo sabemos de onde vieram. Essa cruel e desoladora mensagem talvez seja o centro sobre o qual se constroí a trama de O Nevoeiro, a mais recente adaptação da obra do mestre do terror Stephen King empreendida pelo sempre competente Frank Darabont. A teoria soa mal a ouvidos tão acostumados a glórias e conquistas como os nossos, mas é impossível não sentir nojo de si mesmo depois de assistir a forma como gente como a Sra. Carmody aje quando sua vida está em jogo. Disfarçada de si mesmo como uma religiosa fervorosa, a mulher é uma profeta de olhos falsos, fala inflamada e obsessão a beira do ridículo pelo sobrenatural como o sagrado. É equivocada, é enervante e é ainda mais repulsiva do que qualquer dos monstros que invadiram a cidade em que se passa a trama, em que o mercado local é o último refúgio de pelo menos uma dezena de cidadãos. E se a personagem é mesmo tudo isso, a culpa é toda de Marcia Gay Harden. Fascinante, contida e visceral a um tempo, detalhista e brilhante num mesmo quadro, vilã e heroína de diversos pontos de vista, a atriz faz um trabalho complicado de forma magistral, mostrando todo um talento que permanece escondido em produções médias que poucas vezes são capazes de se destacar. Seu brilhantismo não depende de cenário ou produção, e é quase sobrenatural observar como basta a câmera documental do diretor estar ligada para Harden tomar o centro do palco. Sua cena-maior, a oração a luz de velas em um banheiro sujo do mercado, é mais do que hipnotizante. É revoltante. Ou talvez não hajam adjetivos que façam jus a uma performance tão marcante.

Futuro? Tem uma personagem recorrente na série de TV Damages, estrelada pela amiga Glenn Close (101 Dálmatas), mas não para de trabalhar em cinema por isso e já está pronta para lançar The Maiden Heist, filme de assalto estrelado pelos veteranos Morgan Freeman e Christopher Walken como dois seguranças de museu que decidem se aposentar roubando o cofre do lugar. Também é uma das que estão sob o comando de Drew Barrymoore, diretora estreante na comédia romântic Whip It!.

4ª posição: Jennifer Hudson em Dreamgirls (2006)

 

Há certos momentos produzidos pelo cinema e suas sutilezas que são verdadeiramente impossíveis de se descrever. Não só pela qualidade, mas ainda mais freqüentemente pela surpresa que provocam, pelas emoções que despertam sem que ninguém esperasse. Talvez um dos mais recentes momentos do tipo tenha sido quando Jennifer Hudson soltou o vozerião para declarar resolutamente que não deixaria seu amado deixá-la para trás em “And I Am Telling You I’m Not Going”, o maior e mais marcante momento do subestimado musical Dreamgirls, projetado para dar um empurrão definitivo na carreira cinematográfica da cantora Beyoncé e revertido em um show particular de Hudson, ex-perdedora de um American Idol e hoje atriz renomada, com um Oscar na prateleira. O mundo gira, não? E ninguém, ninguém mesmo, estava esperando aquela explosão de emoção visceral liberada sobre um palco pequeno, iluminado por um holofote solitário, filmado de forma quase documental pelo diretor Bill Condon. É quase irônico que tenha sido justamente por essa surpresa que a performance de Hudson tenha crescido tanto em um filme que, além de sua presença, pouco tinha a oferecer para os fãs de cinema e não de música. Dreamgirls, dali para frente, é um show todo dela, construído aos poucos durante pelo menos uma hora de projeção até chegar aquele momento de pura magia, quando ficou mais do que claro a quem a estatueta de ouro pertencia. Hudson foi além da barreira do que os críticos adoram chamar de pieguice e criou um desempenho simbólico, hipnotizante e puramente emocional. Depois de presenciar tamanho talento, não há como discutir o quarto lugar de uma estreante brilhante.

Futuro? Participou da primeira investida cinematográfica da série Sex and The City e foi uma das figuras centrais de A Vida Secreta das Abelhas, mas de inédito mesmo só o suspense O Efeito da Fúria, que deve chegar em breve diretamente para as prateleiras brasileiras.

3ª posição: Audrey Tatou em O Fabuloso Destino de Amélie Poulin (2001)

Quem conhece esse rosto não pode deixar de sorrir ao vê-lo por aqui, e se eu, você e todo mundo que testemunhou a busca dessa estranha garota francesa por um acerto em sua bagunçada vida em meio a toques surrealistas e delirantes não consegue simplesmente esquecer essa expressão de esperteza é porque a história de Amélie é acima de tudo universal. Pode ser que não tenhamos um pai caduco que cria anões de jardim como se fosse preciosidades, nem vizinhos com ossos frágeis que pntam sempre o mesmo quadro, muito menos uma caixa de lembranças guardada no assoalho de nossa casa, mas é inegável que de alguma forma esse tipo de excentricidade se liga a tudo que vemos sem de verdade notar. Nosso mundo não é normal, é estranho e é pulsante em seu frenesi, com bem nos mostra Amélie em uma das primeiras cenas do filme. O restante é uma lição de como viver bem e intensamente, tudo guiado pela câmera de Jean-Pierre Jeunet e pela atuação ao mesmo tempo fiel a estranheza e a normalidade de Audrey Tatou, uma das mais talentosas e subestimadas atrizes que surgiram nesse novo século. A atriz, aqui, é a alma de todo o filme e de toda a trama, encarnando uma Amélie que caminha com facilidade na tênue linha entre a simpatia e a repulsão. É difícil descrever o sentimento exato de ver uma personagem tão complexamente simples em tela, mas talvez seja melhor dizer que Tatou traz um tempero singelo a Amélie que a torna simpática até aos olhos do espectador indisposto. Amélie, hoje quase sinônimo de Audrey, é uma garota doce e linda, que passeia pela vida e deixa a marca que todos nós secretamente desejamos deixar. Sorte a dela, e a nossa, que conseguimos uma paladina de nossas vontades escondidas.

Futuro? Interpreta a personagem-título de Coco Antes de Chanel, filme bastante esperado pelos que conhecem a fantástica história de vida da criadora da maior grife de roupas e perfumes do mundo. O filme fez tanto barulho fechando o Festival de Cannes que até garantiu uma improvável distribuição nos cinemas brasileiros, ainda sem data marcada.

2ª posição: Nicole Kidman em Moulin Rouge! – Amor em Vermelho (2002)

Há uma enorme diferença entre um personagem e um ícone, e talvez muita gente ainda não conheça essa tênue linha que separa seres que habitam obras de arte daqueles que sobrevivem para além delas. Um ícone é maior que sua obra, é mais simbólico e é mais imortal que qualquer trama ou circunstância, é algo que fica para sempre naquela arraigada memória afetiva e fotográfica. Quando a câmera do genial diretor australiano Baz Luhrmann mostra pela primeira vez o rosto conquistador da cortesã francesa Satine, é impossível não perceber de alguma forma misteriosa que, naquele momento, um ícone nasceu e veio para ficar. Branca como a neve, irresistível em seu já lendário vestido vermelho e de cabelos cor-de-fogo que rimam com tudo o que há de mais lindo no visual arrebatador de Moulin Rouge!, uma das mais polêmicas obras-primas do nosso século, Satine é puro deleite para os olhos e para os ouvidos com sua voz afinadíssima e etérea, mas vai além disso na interpretação transparente de emoções fortes imposta pela genialidade pouco valorizada de Nicole Kidman. A atriz, ainda em sua época de glória comercial, encontra o auge do talento na pele de uma mulher forte, insuspeitadamente íntegra, que é levada pelo amor a um final trágico que merece figurar ao lado de grandes obras imortais como Romeu & Julieta. De certa forma, não há nada mais forte do que amor proibido para a emoção humana, e Nicole explora isso de forma genial, deixando-se ver para além da beleza para revelar uma incorporação das mais impressionantes. Satine virou sinônimo de amor, seu visual se tornou um surpreendente padrão e a atuação de Nicole passou como uma das maiores injustiças da história do Oscar, que apenas a concedeu a estatueta por As Horas, um ano depois. É Satine, porém, que até hoje vive nas mente e nos corações de homens e mulheres ao redor do mundo.

Futuro? Uma série de fracassos após o Oscar de melhor atriz pode até ter apagado o nome de Nicole por um tempo, mas ela promete voltar mais uma vez ao topo com uma dupla de musicais que farão bastante barulho nos próximos anos. Nine é a adaptação de uma peça da Broadway pelo diretor de Chicago, que por sua vez já havia se inspirado no clássico Fellini Oito e Meio para desenvolver a trama. Já Rabbit Hole é um drama mais pesado sobre uma família que perde a filha e se vê jogada em um mundo de sonhos e cores parecido com o de Alice. Para finalizar, ela promete incendiar a tela num romance com ninguém menos que Charlize Theron em The Danish Girl.

2ª posição: Meryl Streep em O Diabo Veste Prada (2006)

O ano era 1978, o filme era O Franco-Atirador, uma das maiores obras do cinema americano sobre a Guerra do Vietnã, e pouca gente seria capaz de colocar suas fichas na então jovem atriz revelação Meryl Streep, que concorria pela primeira vez ao prêmio da Academia como coadjuvante na obra do diretor Michael Cimino. Menos gente ainda poderia apostas que aquela atriz de meros vinte e sete anos viria a se tornar uma recordistas da maior festa do cinema americano, e ainda seria freqüentemente chamada de melhor atriz da história do cinema. Que dirá que mereceria tudo isso e muito mais. Corta para 2006, com a adaptação do best-seller moderno O Diabo Veste Prada prestes a chegar aos cinemas do mundo inteiro, que esperava ansioso para ver as desventuras da garota de classe média Andrea Sachs nas mãos da tirana editora-chefe da maior revista de moda do mundo, a fictícia Runway. Aquela altura, todo mundo já sabia que a chefe em questão, de nome Miranda Priestly, era diretamente inspirada em Anna Wintour, poderosa chefona da Vogue, essa sim a maior publicação de moda do nosso mundo de verdade, para quem a autora, Lauren Weisberger, trabalhou no espaço de um infernal ano. O diretor e a roteirista não fizeram mais do que traduzir o veneno das palavras da autora em um mundo de verdade, de imagens e situações comandadas por atrizes afiadas. Mas quando Meryl entrou em cena mostruosa com seu cabelo branco e olhar de desprezo na pele de Miranda, não houve olhos na platéia que não se voltasse para ela. Mais do que um roubo de cenas, O Diabo Veste Prada se tornou o show particular de uma atriz mais do que excepcional, e Meryl construiu cuidadosa e sensacionalmente uma Miranda revoltante para, perto do final do filme, desmoronar toda essa imagem e revelar a editora como, veja só, um ser humano de carne e osso. Se ela chorou e nos fez emocionados ao seu lado, mesmo na pele de uma vilã, o que mais dizer? Mestre é mestre, afinal.

Futuro? Foi comandada por Nora Ephron (A Feiticeira) no novíssimo Julie & Julia, história de romance e culinária que deve sair do forno em Agosto, e por Wes Anderson (A Vida Marinha) na animação-freak The Fantastic Mr. Fox, tirada direto de um conhecido livro infantil do autor de A Fantástica Fábrica de Chocolate. Por fim, deve ser filmada pela câmera esperta de Nancy Meyers (Alguém Tem que Ceder) em sua nova comédia, ainda sem título divulgado.

Bom, pessoal, e essa foi nossa primeira lista da década! Sabe, um dia eu pensei que, no final das contas, estamos mesmo prestes a adentrar na segunda década do novo século (nem tão novo assim, afinal)! E não custa nada dar crédito a quem merece. Mais uma coisa, essa lista foi feita mesmo para ser polêmica, então quero comentários dizendo o que acharam do ranking, quem faltou, quem não deveria estar aí, quem está em posição errada, quero ver vocês falando de cinema um pouco também, certo?

Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Selo “Blog de Ouro” para o Filme-Pipoca!

blog de ouro

É sempre bom ganha selos, mostra que seu trabalho está sendo reconhecido, lido e lembrado por alguém. Nesse caso, minha querida amiga blogueira Bones, do blog bones-cinema-tv, que me deu a honra de receber um selo tão legal quanto esse aí em cima. Como qualquer selo, esse tem suas regras, mas essas são bastante simples:

1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”

2. Poste o link do blog de quem te indicou

3. Indique 4 blogs de sua preferência

4. Avise seus indicados

5. Publique as regras

6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo

Bom, para receber um título tão importante eu vou indicar alguns de meus blogs favoritos, vamos lá: Brasilstation – Games, Clube do Camaleão, Diz que fui por aí... e Poesia Inconstante.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… comecei a trabalhar hoje em um especial que provavelmente vai consumir meu tempo livre por alguns dias, então Boletim novo só daqui há algum tempo, e prometo diminuir um pouco o tamanho, a pedidos bastante justos… Enfim, é isso. Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (09/07/2009)

Alice no país das bizarrices

mad hatter helena

O mundo conhece Alice como uma adorável garota inglesa que num dia qualquer se vê encolhendo, seguindo um coelho branco preocupado com as horas e entrando por uma portinhola que conduz a um mundo de cores vivas e habitantes no mínimo excêntricos que nem sempre a recebem bem. Protagonista de País das Maravilhas e da bem menos conhecida seqüência Através do Espelho, a personagem foi criada pelo escritor britânico Lewis Carroll para entreter as crianças da Inglaterra vitoriana, mas sua eternização no imaginário popular acabou vindo somente no século passado, através da animação feita pela Disney dos tempos áureos. Lançado em 1951, o filme do estúdio do rato se tornou um sucesso instantâneo e uma espécie de incorporação irrevogável a cultura popular, tomando posto de destaque entre os clássicos do estúdio. Dito isso e devidamente se respeitando a excelência da Disney em lidar com o público, o fato é que a verdadeira Alice promete chegar aos cinemas apenas agora, nas mãos mais do que competentes do diretor Tim Burton, responsável por fábulas capazes de mexerem tanto com o público infantil quanto com o adulto, a exemplo do eterno Edward Mãos-de-Tesoura. É bem verdade que a conversa agora é outra, mas a expectativa que as primeiras imagens do filme de Burton criaram tanto entre o espectador médio de cinema quanto entre os mais entendidos no assunto é algo que provavelmente não tem precedentes nesse século. É o cineasta mostrando de uma vez por todas como agradar a gregos e romanos, manter o espírito da Disney, que ainda tem seu nome encimado ao pôster da obra, e criar uma obra mais madura, mais ousada e acima de tudo mais fiel ao material original. Isso sem contar que Burton reuniu o melhor de seu time de colaboradores para tornar ainda mais interessante uma trama que por si só já ascende em qualquer um com um mínimo de sanidade a chama do desconhecido e do bizarro. O primeiro a embarcar, como sempre, foi Johnny Depp (Sweeney Todd), que consagra a sétima colaboração com o diretor no papel do Chapeleiro Maluco, uma das bizarras figuras que se senta a mesa de chá com a protagonista, que por sua vez seria defendida pela australiana Mia Masikowa, que pode ser vista recentemente no drama de guerra Um Ato de Liberdade. A partir daí, o elenco começou a crescer e ganhar a atenção de toda a imprensa especializada. Começou com Michael Sheen (Frost/Nixon) assumindo como o Coelho Branco, passou pela esposa do diretor, Helena Bonham-Carter (Harry Potter) encarnando a Rainha Vermelha na sexta parceria com o marido, e chegou até a badalada Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada) no papel da irmã aprisionada da vilã. Outros antigos colaboradores do diretor, Alan Rickman (Perfume) embarcou como a Lagarta para o segundo filme ao lado do cineasta, e Christopher Lee (O Senhor dos Anéis), cujo papel continua um segredo, incrementou a lista dos filmes de Burton pela quarta vez. Sob o roteiro de Linda Woolverton (Mulan), as filmagens começaram em Outubro último e as primeiras imagens surpreenderam os que esperavam por novidades, encantaram os fãs de um bom visual e não desapontaram os fãs do diretor. Uma pequena amostra da caracterização de Carter e Depp está aí em cima, para quem anda ansioso pelo mundo das maravilhas góticas de Burton. A data para conferir o produto completo? Abril de 2010.

O horror da nova estrela

Ao contrário do que muita gente deve ter pensado quando viu aquele rosto perfeito estampar as cenas mais, digamos assim, interessantes de Transformers, Megan Fox está se saindo uma estrela bem ousada, especialmente para tempos em que a terra do cinema aceita qualquer coisa, menos correr riscos. Desde que surgiu, já dois anos atrás, no filme de robôs gigantes comandado pelo mestre da ação Michael Bay (A Ilha), a lindíssima atriz americana já se arriscou em um drama independente que nem mesmo conseguiu sair do circuito de festivais e ainda interpretou uma espécie de paródia de si mesma na comédia Um Louco Apaixonado, que chegou a terras nacionais direto para vídeo, tudo antes de retornar à série que a alçou a fama na continuação lançada há pouco tempo nos cinemas. Jogada esperta, aliás, uma vez que a bilheteria astronômica da continuação garantiu um pouco mais de audiência para o já bastante esperado terror Jennifer’s Body, projeto de estimação da estrela desde o final de 2007, quando assinou o contrato para ser a protagonista da história sobre uma líder de torcida adolescente que é possuída por um demônio e começa a seduzir os rapazes de sua classe apenas para matá-los durante o ato consumador da relação. O próprio resumo da trama, anunciado apenas um mês depois da chegada de Fox ao projeto, atiçou a curiosidade da mídia especializada, que deu muito mais atenção a qualquer notícia do projeto após o surgimento do rumor mais do que óbvio de que a atriz poderia ter sua primeira cena de nudez no filme. Enquanto nada em relação a isso era revelado, Jennifer’s Body ganhou a simpatia do diretor Jason Reitman (Juno), que preferiu bancar a realização na cadeira de produtor e abriu espaço para a nova-iorquina Karyn Kusama, responsável pela aventura Aeon Flux, assumir o comando das câmeras. Com tantos nomes notáveis envolvidos, porém, o cargo mais comentado da produção era o de roteirista, ocupado pela badaladíssima Diablo Cody, recém-laureada com o Oscar pelo trabalho no fenômeno pop-indie Juno. Após o texto ter sido concluído e entregue a produtora, o elenco ao redor de Fox começou a se formar e ganhou a adesão de outra estrela ascendente, a britânica Amanda Seyfried, saindo diretor dos sets iluminados de Mamma Mia para o escuro de terror com a metralhadora pop de Diablo debaixo do braço. Quem também embarcou foi Adam Brody, tomando o centro do palco em seu primeiro papel de destaque depois do fim da série The O.C., da qual foi figura central entre 2003 e 2007. Ao que parece, porém, o personagem do ex-galã teen televisivo não é outra das incautas vítimas da protagonista. Segundo a própria Megan Fox, em entrevista a MTV: “Jennifer é sacrificada injustamente pela banda do personagem de Adam Brody, que faz um pacto com o diabo para consegui lançar um CD. Então, ela acaba possuída por um demônio. Eles pensavam que ela era virgem, mas erraram. Jennifer acaba tendo que se alimentar de sangue humano, então decide matar garotos para sobreviver”. Nem tudo, afinal, é o que parece no mundo pop de Cody.

Gênese do rock

runaways 

Certas bandas são tão fortes em seu conceito inicial que não precisam de muito tempo para fazer história. O The Runaways teve seus quatro meteóricos anos de sucesso em meados da década de setenta, uma carreira que não seria tão notável em circunstâncias normais, e terminou em meio a brigas internas quando a divisão do dinheiro se tornou mais importante que as decisões sobre o próximo disco. Ou seja, uma trajetória comum, quase ordinária, se não fosse pelo fato que o The Runaways foi o primeiro conjunto de rock formado apenas por mulheres a ver a luz dourada do sucesso internacional. Isso apenas quando suas integrantes estavam juntas, é claro. Depois daqueles quatro anos, a vocalista Joan Jett se tornou a voz de toda uma geração ao entoar, ao lado da banda The Blackhearts, a versão mais famosa do histórico “I Love Rock n’ Roll”, e ainda de brinde conseguiu ser a primeira mulher a fundar e comandar uma gravadora própria. Enquanto isso, a tecladista Cherie Currie conciliou com maestria uma carreira no rock alternativo e eventuais investidas no campo da atuação, onde chegou a se destacar ao lado de uma jovem Jodie Foster no hit adolescente dos anos oitenta Gatinhas e Gatões. A dupla, que já era centro das atenções no palco das apresentações da banda, deve formar também o foco principal de The Runaways, a cinebiografia que Hollywood está produzindo em um ritmo alucinante para ser lançado ainda este ano, quando se comemoram as três décadas da separação da banda. O roteiro está pronto desde o final do ano passado, e é assinado pela italiana Floria Sigismondi, que deve também ocupar a cadeira de diretora no filme, sua estréia em longas-metragens após uma longa experiência no mundo dos videoclipes, tendo no currículo trabalhos com gente do naipe de White Stripes e The Cure. A óbvia força das personagens femininas no texto não demorou a chamar a atenção de duas das maiores estrelas juvenis da nova geração, que atraíram mais atenção da mídia para o projeto. A primeira a embarcar foi Kristen Stewart, que saiu direto dos vigiados sets da franquia Crepúsculo para assumir o visual eternizado por Jett, que acabou se tornando uma espécie de padrão feminino no mundo do rock. A personagem, aliás, rima muito mais com o restante da carreira de Kristen, que sempre foi do tipo de se arriscar em dramas autorais e personagens complexos, do que a inocente Bella da nova mania teen. Curiosamente, sua companheira de cena toma o caminho contrário e assume a persona de Cherie Currie como uma escolha atípica para seu currículo. Famosa pela boa atuação em filmes infantis e papéis coadjuvantes, Dakota Fanning (Guerra dos Mundos) mostra mais uma vez o quanto cresceu e começa a tomar decisões ousadas que apontam para um futuro muito interessante. De qualquer forma, se o que Dakota quer é ter a estatueta do Oscar cada vez mais perto de suas mãos, então ela pode comemorar, especialmente porque vai contracenar com Michael Shannon, recém-indicado ao prêmio da Academia pelo trabalho de coadjuvância em Foi Apenas um Sonho. Shannon encarna no filme o empresário ambicioso da banda, que a propósito é completada pela desconhecida Stella Maeve (Harold), que assume as baquetas de Sandy West, pela estreante Alessandra Torresani, dona da palheta da guitarrista Lita Ford, e pela ascendente Alia Shawkat, mais conhecida por um papel fixo na série Arrested Development, que deve viver a baixista Micki Steele. A primeira foto da dupla principal caracterizada (aí em cima) foi liberada pelo site Just Jared.

A outra Verônica

Por mais que se critique sua obra e seu talento, é inegável que Paulo Coelho é o escritor brasileiro cujas obras mais forte repercutem fora das fronteiras de nosso país. Veronika Decide Morrer é a decida quinta obra do currículo do escritor, e versa sobre uma garota eslovena, jovem e linda, que aparentemente sem motivo decide cometer suicídio, mas falha em sua tentativa e acaba indo parar em uma instituição de doentes mentais onde se torna parte de uma experiência para testar a reação de pessoas que sabem terem poucas semanas de vida. Sua experimentação vai do amor por outro paciente da instituição, um esquizofrênico, até o ódio e a aversão pela manipulação que seu próprio psiquiatra faz de sua mente. Mesmo com apenas onze anos desde seu lançamento, Veronika Decide Morrer se tornou uma espécie de clássico precoce do teatro americano, sendo montado com diferentes elencos e produções a cada ano, já inspirou não-oficialmente um filme japonês e ainda teve as mais diversas repercussões mo mundo da música, se tornando o título do terceiro álbum de uma banda de metal dinamarquesa e ainda inspirando uma música do cantor punk Billy Talent, chamada “Saint Veronika”. Ainda assim, a terra do cinema precisou de uma década e mais um ano para se considerar pronta para traduzir uma obra tão comentada desde seu lançamento para imagens. Veronika Decide Morrer ganhou seus primeiros rumores de origem hollywoodiana em setembro passado, quando a envolvida para atuar como a protagonista era a badalada Kate Bosworth, ainda no embalo por ter assumido o manto de Lois Lane em Superman – O Retorno. O roteiro era o mesmo, assinado por uma dupla capaz de causar arrepios nos produtores que gostam de se garantir nas bilheterias. Larry Gross é o homem por trás de Geração Prozac, cruel retrato de uma juventude perdida que causou tanta polêmica que foi descaradamente impedido de chegar aos cinemas brasileiros. Roberta Hanley, dona do segundo crédito pela adaptação do livro, também teve sua dose de polêmica com As Virgens Suicidas, um drama pesado sobre um grupo de jovens religiosas que se tornam motivo de mistério após uma delas se suicidar, e o filme que marcou a estréia arrebatadora da hoje célebre Sofia Coppola (Encontros e Desencontros) na direção. De qualquer forma, o tempo se passou após o anúncio de Bosworth como protagonista e a falta de novas notícias era quase preocupante. Foi só em março último que os fãs puderam respirarem aliviados com a divulgação que a nova protagonista do filme seria Sarah Michelle Gellar, mais conhecida pelo papel principal da série Buffy e do filme de terror O Grito. Junto com sua presença veio a formação de um elenco que agradou a imprensa especializada, apesar de não possuir nenhum astro de primeira grandeza na lista. David Thewlis, ator britânico conhecido como o professor Lupin da franquia Harry Potter, deve encarnar o doutor inconseqüente que mente para Veronika, dando-lhe pouco tempo de vida, apenas para estudar sua reação. Enquanto isso, Erika Christensen (Plano de Vôo) e a recém-nominada ao Oscar Melissa Leo (Rio Congelado) atuam na pele de pacientes da clínica psiquiatra que deve ser o cenário de boa parte do filme, dirigido pela inglesa Emily Young, mais conhecida em seu país por Kiss of Life. O filme, que deve estrear em agosto, teve seu primeiro trailer lançado na Internet recentemente.

Ryan. Jack Ryan.

Jack Ryan é um cara de sorte. Desde que foi criado pelo escritor americano Tom Clancy como o sumo estrategista que toma o centro dos holofotes em uma conspiração das mais cabeludas na novela Caçada ao Outubro Vermelho, lançada originalmente em 1984, o personagem se tornou figura central de boa parte da obra do escritor, uma espécie de patrimônio nacional dos Estados Unidos e ainda foi presenteado pelo seu criador com uma carreira surpreendente e meteórica que o conduziu em velocidade alucinante desde um dos cargos mais baixos da CIA até o posto de presidente americano, perpetrado em sua sétima aventura, Dívida de Honra. E o destino afortunado do personagem não para por aí. Seis anos de algumas continuações depois de se lançado no meio literário, em 1990, Caçada ao Outubro Vermelho deu a Ryan sua primeira e mais marcante investida cinematográfica, dirigida por John McTiernan (Duro de Matar) e estrelada pelo então mega-astro Alec Baldwin, hoje bem acomodado com seu papel na sensacional 30 Rock. Os próximos anos viram o mito de Ryan crescer no cinema com duas novas aventuras, dessa vez encabeçadas pelo diretor Philip Noyce (Em Nome da Honra) e pelo astro-maior do século passado Harrison Ford (Indiana Jones). Depois do terceiro filme da franquia ser lançado em 1994, a capital do cinema pareceu ter desistido do mundo de intrigas povoado por Ryan, mesmo que os filmes não tenham decepcionado no âmbito comercial, o que só acabou acontecendo com A Soma de Todos os Medos, prequel que mostrava o começo da carreira do agente, dessa vez interpretado por Ben Affleck, que havia acabado de afundar sua carreira com Contato de Risco. Logo após o que parecia ser a derradeira aparição de Ryan na tela grande, porém, Clancy inovou em sua série com O Dente do Tigre, enorme sucesso que apresentava ao leitor o filho do agente, que ressoa como o substituto do pai no papel principal das aventuras do escritor. Foi o que era preciso para que o interesse de Hollywood nas histórias de Ryan reascendesse e os primeiros rumores, datados no começo do ano passado, davam conta de um nome de classe para comandar as câmeras do novo filme, ainda sem título ou sinopse. Ao que parece, porém, Sam Raimi preferiu honrar seu compromisso com a série do super-herói aracnídeo que vem comandando desde o primeiro capítulo e deixou o cargo principal da aventura vago como está até hoje, mesmo que o roteiro já esteja quase finalizado. Quem assina o texto, aliás, é o iraniano Hossein Amini, responsável pelo drama de guerra As Quatro Plumas, lançado em 2002. A notícia mais recente desmente os boatos de que a idéia seria tornar Ryan mais jovem para se adequar ao mundo da espionagem do século XXI. Segundo a Paramount, que desistiu de um projeto encabeçado por Brad Pitt para realizar o mais rápido possível a aventura do agente americano, as negociações mais promissoras são com o ator George Clooney (Onze Homens e Um Segredo), que quer fazer um filme mais comercial. Cara de sorte, esse Jack Ryan.

O mortal escuro da noite

brandon 

Em algum momento dos últimos três você deve ter se perguntado o que aconteceu com Brandon Routh, mesmo que o nome do ator americano de quase trinta anos não tenha de fato passado por sua mente. De nome complicado mas rosto familiar, ele foi o homem que assumiu os óculos de Clark Kent e o uniforme do Super-Homem no último filme do personagem em terrenos cinematográficos, o já esquecido Superman – O Retorno, para em seguida desaparecer em papéis coadjuvantes de filmes fracassados comercialmente, inclusive sendo comandado por Kevin Smith no grosseiro e controverso Pagando Bem, que Mal Tem?. O motivo para tal desaparecimento repentino, porém, é esclarecido mais do que facilmente pela demorada e atribulada produção de Dead of Night, adaptação de uma das mais bem-sucedidas séries de quadrinhos da história, com 80 milhões de cópias vendidas em mais de duas décadas desde a primeira edição, lançada no final de 1986. A série em questão é protagonizada pelo detetive Dylan Dog, que segue a tradição dos quadrinhos italianos em mostrar o sobrenatural e o surreal sob o ponto de vista de um personagem ambíguo, que fica no limiar fino entre o herói e o anti-herói. Para se ter uma idéia, a adaptação da série em quadrinhos vem sendo comentada desde o final de 2007, quando Routh se comprometeu a interpretar o protagonista do roteiro assinado pela dupla Joshua Oppenheimer e Thomas Dean Donnelly, os responsáveis por O Som do Trovão e Sahara. Na época, quem estava comprometido a por um pouco de realismo na ação do filme era David Ellis, o homem por trás do suspense quase insuportável do bom Celular – Um Grito de Socorro e da aventura cult do hit virtual Serpentes a Bordo, tudo obedecendo a um orçamento mediano de 35 milhões de dólares. Ou pelo menos era essa a cifra que até abril último, quando a cadeira de direção foi passada para Kevin Munroe, o dono da câmera de Tartarugas Ninja – O Retorno, o desenho animado em três dimensões que fez do grupo de tartarugas mutantes algo, veja só, emocionalmente profundo. As filmagens demoraram quase mais um ano para começar, mas aos poucos o projeto ganhou forma, com o diretor revelando que quer retratar um Dylan no fundo do poço dando a volta por cima, e o elenco sendo completado. A começar pela ironia das ironias, a presença de Sam Huntington interpretando o amigo do protagonista. O ator foi também o homem de apoio de Routh em Superman – O Retorno, onde interpretou o fotógrafo Jimmy Olsen. Ao redor do protagonista, cuja primeira foto foi revelada há poucas semanas, também estarão a islandesa Anita Briem (Viagem ao Centro da Terra), que será o interesse romântico de Dylan, e o eterno vilão de Equilibrium, Taye Diggs, que irá atuar na pele do líder de um bando de vampiros. As filmagens terminaram há pouco tempo, mas Dead of Night não tem previsão de lançamento.

Trio promissor

Há tanta coisa envolvida tanto no negócio quando na arte de fazer cinema, que é sempre melhor pensar duas vezes antes de dizer que um filme foi um fiasco ou um sucesso. Eu Sou a Lenda estreou no final do ano retrasado como mais um remake maldito de um clássico de seu gênero que os estúdios poderosos de Hollywood transformariam em um show de pirotecnia apenas para demonstrar seu poder de fogo digital. Não que tal rótulo estivesse completamente errado, é claro, mas é impossível ignorar o fato de que quando um filme dá a um ator o status de astro-maior de seu meio, tem a seqüência mais cara da história do cinema e ainda consegue pagar seus custos na bilheteria, deixando algumas centenas de milhões de dólares para os cofres do estúdio que o bancou, esse filme não pode ser rotulado como um fracasso. Francis Lawrence, diretor por trás dos demônios e anjos caídos do sombrio e impactante Constantine, de forças aliadas com o carisma sem igual do grande ator que é Will Smith, criou uma espécie de clássico moderno sobre a solidão e a forma como a emoção e o conhecimento podem trazer a tona tudo ou quase tudo aquilo que chamamos de humanidade. Não é exatamente um filme profundo, de forma alguma pode ser chamado de denso, mas é sem dúvida entretenimento com muita gente competente envolvida. O mesmo pode se esperar da nova empreitada da dupla, que ainda se uniu a um dos mais talentosos roteiristas da Hollywood atual para produzir outro show de efeitos com algum conteúdo e muito envolvimento no vindouro The City That Sailed, um dos dois roteiros com a assinatura de Andrew Niccol prestes a entrarem em processo de filmagem. Só para constar para quem não conhece o homem de nome, Niccol começou carreira criando um épico de ficção científica que questionava a própria humanidade em Gattaca, que também dirigiu, e seguiu carreira assinando celebrados textos como O Show de Truman, O Terminal e a dupla Simone e O Senhor das Armas, que marcaram seus retornos ao trabalho por trás das câmeras. Também de passagem não custa lembrar que antes mesmo de The City That Sailed deve ser lançado The Cross, seu retorno a ficção científica e a função de diretor, comandando a história própria sobre um homem em uma sociedade futurista que tenta realizar o sonho de ultrapassar uma linha nunca antes cruzada por seu povo. A mais nova trama desenvolvida pela habilidosa e sempre surpreendente mão do neozelandês, porém, é simplesmente sobre uma garotinha que deseja reencontrar seu pai, um mágico de rua nova-iorquino, após ser separada dele e levada para Londres. É claro que para conseguir seu objetivo a garota sai em busca de uma lendária sala cheia de velas mágicas onde pode fazer pedidos. Quando encontra-a, porém, não consegue pensar em nenhuma circunstância para reencontrar o pai a não ser pedir que Manhattan desmorone e afunde. Com Smith e Lawrence envolvidos, alguém duvida que o recorde de Eu Sou a Lenda vai ser quebrado?

A história de amor de Michael Moore

Hoje o maior popstar entre os documentaristas americanos, Michael Moore surgiu para o mundo, e pouca gente deve se lembrar disso, como um homem comum brigando por uma razão tão pública quanto pessoal no filme Roger & Eu, o relato de sua própria saga para conseguir uma entrevista com o presidente da General Motors Roger Smith, que sem nenhuma explicação havia fechado a fábrica da marca na cidade do diretor, no estado americano de Michigan, e deixado boa parte da população desempregada. Na época, foi um furacão que passou pelos festivais de Berlim, Los Angeles e Toronto, três dos maiores do mundo, como o serviço público cinematográfico do ano e, quem sabe, até da década. Pouco tempo depois e algumas tentativas fracassadas de emplacar na ficção deixadas para trás, Moore chocou o mundo ao expor a predileção americana pela violência com armas de fogo no impressionante Tiros em Columbine, dono indiscutível do Oscar da categoria documental daquele ano, e ainda foi o primeiro a mexer forte na ferida americana mais aberta do século em Fahrenheit 11 de Setembro, uma obra-prima de manipulação que queria mostrar de uma vez por todas o quanto George Bush era um estúpido incompetente para estar no cargo onde ficou por oito anos. Por falar em ataque terrorista, a última explosão do cineasta atende pelo nome de Sicko, foi nominado ao prêmio da Academia e mesmo assim não aportou em terras brasileiras para expor o pouco caso que o governo americano faz de seu sistema de saúde. Sempre de opinião controversa, porém, Moore promete ainda mais polêmica em Capitalism: A Love Story, seu deturpado ponto de vista sobre a crise econômica mundial, fazendo em minúcias os fatores progressivos que levaram a ela, criticando o pacote de medidas do governo e chamando as campanhas de doação a grandes empresas de “o maior roubo da história desse país”. Sempre polêmica, a mais recente declaração de Moore sobre a obra vai além da ironia do esperto teaser lançado antes mesmo do filme ganhar um título. Nas palavras dele: “O filme terá tudo: luxúria, paixão, romance e 14 mil empregos sendo eliminados todos os dias”. Ao que parece, Moore entrevistou trabalhadores da rua mais movimentada da economia americana, a Wall Street, para um dos segmentos centrais da obra e já disse que o filme deve completar uma trilogia sobre o “império americano”, que começa com Tiros em Columbine e passa por Fahrenheit 11 de Setembro. O filme deve estrear em Outubro, um dia antes do lançamento do tal pacote do governo. Obama que se cuide!

Bom, pessoal, e por hoje é isso! Só para compensar o atraso dessas notícias que eu estou reunindo desde anteontem, essa é a maior edição do Boletim em muito tempo! Espero que vocês tenham gostado, tenho tentado colocar as novidades mais interessantes por aqui! Então, por enquanto é isso mesmo… os melhores filmes para todos vocês e até a próxima!