sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (27/02/2009)

Vampiros românticos, assustadores ou simplesmente versáteis?

A falta de notícias parece ter posto em pânico os fãs da série “Crepúsculo” de Stephenie Meyer, cuja primeira obra chegou aos cinemas meses atrás e arrecadou o bom número de quase 200 milhões de dólares apenas em solo americano. A continuação, “Lua Nova”, estancou em seus até então explosivos rumores da presença (ainda não confirmada) de gente como a estrela mirim Dakota Fanning (“Guerra dos Mundos”) e a problemática Lindsay Lohan (“Meninas Malvadas”) no elenco. O filme, a ser dirigido por Chris Weitz, responsável pela equivocada adaptação de “A Bússola de Ouro”, lançou com pouco barulho o primeiro teaser-poster, completamente negro em sem graça com seu logotipo colado da capa do livro original. Enquanto “Lua Nova” tem data de estréia já para 20 de Novembro desse ano, os rumores agora giram cada vez mais absurdos em torno do tomo seguinte da série, “Eclipse”, que pode chegar aos cinemas em tempo recorde, no mês de Junho do ano vindouro. Ao contrário do que normalmente acontece, os primeiros rumores giram em torno da cadeira de direção da segunda continuação. Três nomes incrivelmente diferentes foram anunciados por fontes distintas, todas negadas com uma veemência um tanto exagerada pela Summit Entertainment, produtora da série. O primeiro conferiria a “Eclipse” um tom mais sombrio e psicologicamente denso, sob o comando do espanhol Juan Antonio Bayona, aplaudido por sua estréia, o filme de terror mexicano “O Orfanato”. Segundo a revista Variety, porém, o nome mais cotado para o cargo seria o de James Mangold, conhecido pela versatilidade e competência que já foram da comédia romântica (“Kate & Leopold”) ao faroeste (“Os Indomáveis”). O terceiro rumor, mais bizarro, daria conta da atriz Drew Barrymore (“As Panteras”) manejando a câmera do terceiro filme da série, que seria seu segundo trabalho como diretora, depois da inédita comédia “Whip It!”, estrelada por Ellen Page (“Juno”).

Allen, cidadão do mundo

Quanto tempo Woody Allen passou filmando apenas em sua amada Manhattan? Quase ninguém mais se lembra, mas foram quase duas décadas de filmes que tinham como pando de fundo a maior metrópole americana, filmes que começaram memoráveis no premiadíssimo “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e se aproximaram aos poucos da decadência até o cúmulo da falta de criatividade com o arrastado “Igual a Tudo na Vida”. E então veio o furacão de mistério “Match Point”, um filme que respirava o úmido ar de Londres para contar uma história inglesa por excelência, uma rede de intriga e mistério fascinante. “O Sonho de Cassandra” tentou repetir o feito sem sucesso, mas “Vicky Christina Barcelona” se beneficiou com a atmosfera condimentada da cidade que dá nome ao título para contar uma história vibrante com a marca de Allen. Não chega a ser uma surpresa que o americano esteja escalando um elenco internacional para seu próximo filme, mais uma vez passado na capital inglesa, cujo título e premissa (como de costume) continuam escondidos. A primeira a embarcar, aproveitando o embalo do oscarizado “Quem Quer Ser um Milionário”, foi a indiana Freida Pinto, musa do filme de Danny Boyle (“Extermínio”). Em seguida, o veterano galês Anthony Hopkins assinou para trabalhar pela primeira vez com Allen, pronto para quebrar em nome do diretor a aposentadoria decretada (de novo) no ano retrasado, depois do digital “A Lenda de Beowulf”. Ao lado dos dois está o badalado Josh Brolin, recém-indicado ao Oscar pelo trabalho em “Milk – A Voz da Igualdade”, que reedita a parceria com o diretor, iniciada com o não tão ruim “Melinda e Melinda”. Australiana naturalizada inglesa, Naomi Watts (“King Kong”) estréia ao lado do diretor como a possível ligação entre o cenário e as pessoas que lá vivem, já que o restante do elenco é internacional. A última edição a estrelada lista é a de Antonio Banderas (“A Lenda do Zorro”), que deve sair direto das dublagens na série “Shrek” para o projeto londrino do diretor.

Últimos dias

É triste, mas nem só de futuros projetos e estréias marcadas vive o mundo do cinema. Um dos casos mais angustiantes para os admiradores da sétima arte nos últimos meses, a progressiva piora do estado do ator Patrick Swayze, acometido de um câncer de pâncreas desde o final do ano retrasado, chegou ao seu triste auge na manhã dessa sexta-feira em Los Angeles. Patrick foi visto no aeroporto de Van Nuys, na cidade, embarcando em seu jatinho particular ao lado da esposa Lisa Niemi, da mãe Patsy e de seu poodle de estimação. Ao que parece, o ator estaria se dirigindo ao rancho isolado que possui no Novo México, onde desejaria passar os últimos dias de sua vida. As últimas notícias sobre o caso de Patrick anunciavam que a quimioterapia havia parado de surtir efeito s obre o tumor, e embora ele tenha negado o fim do tratamento, não foi mais visto no hospital onde costumava realizá-lo. Desde que contraiu a doença, no final de 2007, Patrick teria passado por momentos de otimismo (“estou respondendo bem ao tratamento”) com desabafos desesperançados (“estou muito assustado, não vou insistir em ficar vivo”). Seu último trabalho, a inédita minissérie em sete capítulos “The Beast”, onde interpreta um policial com métodos pouco convencionais investigado por um novo parceiro, na verdade um agente duplo, estréia no Brasil no dia 8 de Março pelo canal por assinatura A&E. Ao que parece, as filmagens de cinco meses enfraqueceram o ator, que teria parado de tomar os remédios para se concentrar na atuação. Segundo ele, o efeito dos medicamentos mais a preocupação com a interpretação “ultrapassam o limite do meu cérebro”.

Verhoeven em pauta

A filmografia recheada de clássicos contemporâneos do holandês Paul Verhoeven parece realmente ter despertado o interesse de Hollywood depois da volta por cima com “A Espiã” e o anúncio do novo e polêmico “Thomas Crown 2”, primeira continuação assinada pelo diretor e seu retorno aos grandes estúdios, uma década depois do morno “O Homem Sem Sombra”. E não demorou para que seus filmes mais famosos, feitos entre o fim da década de 80 e início de 90, entrassem na pauta de refilmagens corriqueiramente dispensáveis de Hollywood. A primeira escolha foi óbvia: “Robocop”, a “reimaginação” do neoclássico de 1987, já tem o pouco convencional nome de Darren Aronofsky (“O Lutador”) na direção. O próximo passo cronológico seria um pouco mais arriscado, já que sua obra posterior levanta algumas polêmicas até hoje quanto a qualidade. Estrelado por um Arnold Schwarzenegger no auge dos anabolizantes, “O Vingador do Futuro” estreou em 1990 trazendo o atrativo de uma Sharon Stone um pouco antes do estrelato com “Instinto Selvagem” (outra obra de Verhoeven, aliás) e o futuro distópico de sempre do mestre da ficção científica Philip K. Dick, cujos conto já haviam inspirado filmes como “Blade Runner – O Caçador de Andróides”. Ao invés de trazer andróides e filosofia na interpretação sem graça de Harrison Ford, porém, “O Vingador do Futuro” tinha memórias implantadas e confusão a todo instante na interpretação igualmente sem sal do futuro governador da Califórnia. A diferença? O filme de Verhoeven foi um sucesso imediato, arrancando quase 300 milhões de dólares na bilheteria mundial e marcando como um dos filmes mais bem-aceitos do astro de ação. A refilmagem ainda não tem elenco, direção ou data de estréia definidas.

Bom, pessoal, e por hoje é isso mesmo… aí estão as notícias do dia e já tivemos uma crítica de um filme que eu indico incondicionalmente, realmente uma pequena pérola de cinema que precisa ser descoberta com urgência… Certo? Agradeço a todos os comentários como sempre, e agora só me resta desejar os melhores filmes para todos vocês e até amanhã!

Juntos Pela Vida – Queen Latifah domina a tela em um pequeno grande filme

Juntos Pela Vida (Life Support, EUA, 2007).

De: Nelson George.

Com: Queen Latifah, Wendell Pierce, Rachel Nicks, Evan Ross.

90 minutos.

 

 

 

 

Para algo que se renova diariamente, a vida não uma coisa fácil de definir. A verdade é que nos acostumamos tanto a ela que quase nunca nos deparamos com os enigmas indissolvíveis que ela nos apresenta a cada dia. São perguntas iquietantes demais para quem quer seguir com seus dias ordinários, aceitando a sina a que foi condenado. Viver é aceitar nosso destino e o lugar que nos foi dado no mundo? Ou devemos desafiar tudo isso para encontrar nossa própria zona de conforto e sempre buscar algo para melhorar, reparar, aperfeiçoar essa experiência fascinante que é a vida? Não é fácil ver uma delas terminando por conformismo ou pela falta de auto-preservação. O instinto de sobrevivência humano é tão arraigado que é difícil acreditar na facilidade com que ele desaparece quando as complexas maquinações de nossa indecifrável mente nos dizem para fazer exatamente o contrário da sensatez. Talvez a loucura e a auto-destruição nasça da contemplação demorada dos enigmas da vida, ou simplesmente da falta dessa contemplação. A vida a nossa volta é uma eterna confusão sobre a qual pensamos ter controle, ou será que realmente podemos moldar o mundo a nós antes que ele nos molde para ser apenas mais uma engrenagem de uma sociedade que afinal pouco importa? Pensando nisso, egoísmo é mesmo um pecado ou foi transformado em tal para que uma estrutura maior podesse sobreviver, não importa o que se passa com cada um dos pequenos peões? Às vezes transgredimos tanto as chamadas regras do lugar em que vivemos que elas se tornam insignificantes, simplesmente guias de um caminho que, se pudéssemos escolher, não seguiríamos. E quando menos esperamos o mundo está dividido entre aqueles que seguem “as regras” e aqueles que vivem a sua margem, se perguntado para quê afinal seriviria esse pequeno detalhe chamado vida. Juntos Pela Vida é um filme que encontra significância tanto pelos estudos dos sentimentos de uma mulher que já esteve dos dois lados desse jogo quanto pela situação social que retrata com competência notável e total imparcialidade de julgamentos.

Ana (Queen Latifah) já foi uma mulher perdida pelo mundo, uma mulher que perdeu a custódia de sua uma filha por causa do vício em drogas incentivado pelo marido marginal, Slick (Wendell Pierce). Foi preciso que o choque a AIDS a atingisse para que ela finalmente percebesse que caminhava rapidamente para um “destino” que não desejaria para ninguém. E então ela moldou sua vida as regras, colocou-se presa entre elas e aos poucos tentou recuperar tudo o que havia perdido. Não foi fácil, mas ela conseguiu se acertar com a filha mais nova, ainda que a mais velha, Kelly (Rachel Nicks) continuasse a se recusar a sair da proteção da avó. O terceiro elemento principal dessa trama é Amare (Evan Ross), um jovem criado ao lado de Kelly que também se descobre HIV positivo e se entrega às drogas, desaparecendo da vida de todos que haviam sempre lhe dado suporte. É o bastante para que Kelly procure a ajuda da mãe, que empreenderá a busca mais para impedir que a filha se distancie ainda mais dela com a mudança da avó do que pelo bem do garoto. “Juntos Pela Vida” é um conto comovente sobre uma mulher descobrindo como agir sendo parte integrante de um mundo que ela mesma construiu, um mundo que ela entende apenas em parte. Ana é uma mulher que segue a vida a pesar de tudo, uma mulher que se salvou de uma situação fisicamente destruidora para cair em uma jornada desesperadora de emoções fortes sugeridas em nuances inteligentes pelo excepcional roteiro do trio Nelson George (“CB4 – Uma História sem Rap”), Jim McKay (“Gente Comum”) e Hannah Weyer (“Angel”). Os três constroem um texto doce, encantador e emocionante a um tempo, absolutamente magnífico ao retratar as angústias de pessoas que recuperaram a vida após o surgimento do medo de perdê-la. O caso de Amare é uma sábia forma de mexer com a protagonista e com todos ao redor dela, um exemplo perfeito e trágico do que ela poderia ter se tornado caso não tivesse tido força de vontade o suficiente. Os diálogos são críveis, bem construídos, mas o silêncio diz mais que tudo, os atos fazem mais diferença que a palavra.

Para além do roteiro, porém, Nelson George faz um bom trabalho no controle das câmeras, acertando em cheio ao impor uma cadência diferente a casa seqüência, realçando o impacto emocional das passagens finais e quase trabalhando em função da trilha-sonora com seu estilo documental-poético que cria imagen belíssimas em um ambiente tão explorado como a cidade cinzenta de Nova York. Não espere se deparar com as luzes ofuscantes da Broadway ou a fervilhante Quinta Avenida, a beleza da filmagem em “Juntos Pela Vida” tem muito mais a ver com climatização e proximidade do que com grandes paisagens. O fato é que George dá espírito ao filme com sua câmera intrusiva, compreensiva e concessiva, que não julga os personagens, mas cumpre com louvor a missão de captar cada nuance das interpretações honestas do elenco. Dos atores jovens, o mais notável é Evan Ross (“Pride”), encarando um papel naturalmente complexo e entregando uma atuação não menos que irretocável para o Amare sem rumo criado pelo roteiro, um anti-herói comovente e uma metáfora perfeita para a entrega e a culpa. É impossível não sentir um arrepio nas cenas mais significantes de seu personagem, quase sempre ao lado da eficiente e estreante Rachel Nicks, uma promessa para grandes papéis no futuro. Mas se “Juntos Pela Vida” é o pequeno grande filme que é, a culpa é toda de Queen Latifah. A ex-rapper, indicada ao Oscar pela explosiva performance em “Chicago”, encontra a prova final de seu talento incontestável ao encarnar a sofrida Ana, o olho do furacão de uma história desvastadora. Detalhista e absolutamente perfeita, Latifah acerta em cheio ao utilizar da postura corporal (mutável durante todo o filme) a expressão mais sutil para construir uma personagem que seqüestra nossa atenção a casa segundo em tela. Não há sequer um momento, dos mais furiosos aos mais corriqueiros, em que a atriz se descuide e mostre a personalidade expansiva que sempre foi sua marca. O que vemos aqui é uma Latifah contida, concentrada e incontestavelmente magnífica. A representação maior das muitas memórias que deixa “Juntos Pela Vida”, um filme que versa sobre a vida sem precisar responder a nenhuma das questões colocadas no início dessa humilde crítica. Afinal, não cabe a um roteirista fazê-lo, e sim a cada um, dono da própria vida e do próprio destino, um molde de dois lados que pode se adequar ou mudar o mundo a seu favor. Egoísmo demais? Talvez. Mas se há uma grande verdade depois de tanta contestação é que “Juntos Pela Vida” é um filme que merece ser visto, pensado, refletido, vivido... e nunca mais esquecido.

Nota: 9,0

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (26/02/2009)

Vilões em foco

Não é fácil interpretar as coisas em Hollywood. Por exemplo, o que dizer de um roteiro que roda a terra do cinema a procura de um estúdio anos a fio, é deixado na gaveta e ressuscitado de uma hora para a outra por uma major como a Warner Bros.? A história nos mostra que pode ser tanto sinal de um material fraco (“Os Reis da Rua”) quanto de potencial revolucionário demais (“Hancock”). Uma das duas coisas está acontecendo com “Suicide Squad”, adaptação da série em quadrinhos underground da DC que começou a ser publicada há exatas cinco décadas, em 1959. Com um ren ovador foco em um grupo de vilões, formado por um ex-presidiário e seis outros sujeitos que ele conheceu através de um grupo de ajuda a suicidas. Eles planejam roubar uma corrida de cavalos da forma mais violenta que puderem encontrar. O estudo, espécie de “Watchmen” dos super-vilões, promete ser interessante, mas é difícil dizer com tantas mudanças de diretrizes que aconteceram desde 2004, quando o comediante de palco Christopher Dean Johnston entregou o primeiro tratamento para a Working Title Films (“Queime Depois de Ler”). A produção foi engavetada, mas ressuscitou recentemente na Universal, onde o script recebeu a revisão dos estreantes Matt & Billy Eddy e passaram de comédia de ação para aventura dramática com toques irônicos, a ser comandada pelo inusitado nome de Seth Gordon (“Surpresas do Amor”). O diretor sobreviveu na função, mas além de roteirista o projeto mudou ainda de estúdio, agora sob a tutela da Warner e reescrito uma vez mais pelo mais adrenalinesco Justin Marks (“Street Fighter: The Legend of Chun-Li”). É esperar para ver o resultado de uma equação tão complexa.

A Sessão da Tarde do futuro... direto do passado

A confusão do título é digna dos paradoxos temporais mais intrigantes da terra do cinema, mas a situação na verdade nem é tão difícil de explicar. Um dos clássicos mais infelizmente esquecidos da Sessão da Tarde, a fantasia alemã e sucesso-supresa dos anos 80 “A História Sem Fim” marcou tanta presença nas sessões vespertinas e na infância de tanta gente que, é claro, não poderia ficar de fora do intenso revival oitentista que Hollywood tem marcado para os próximos anos. A nova adaptação da densa novela de Michael Ende veio para engrossar uma série de filmes revivendo a magia familiar dos grandes filmes de duas décadas atrás, um grupo que já inclui filmes tão esperados quanto “Tron 2.0”, “Os Caça-Fantasmas III” e “Esquadrão Classe A”. O projeto ainda está em fase de negociações entre a Appian Way, produtora do astro Leonardo DiCaprio e nome por trás do recente “O Curioso Caso de Benjamin Button” e a Warner Bros., detentora dos direitos sobre o material de origem e os filmes já feitos, integrantes de uma trilogia bastante criticada por deixar muitos detalhes da novela de fora. O plano é reparar os erros que começaram já no filme original, carta de entrada de Wolfgang Petersen (“Poseidon”) na terra do cinema. O filme, lançado em 1984, teve duas continuações em 1990 e 1994, sob a batuta de Chris Miller (“Happy Feet – O Pingüim”) e Peter MacDonald (“Legionário”), cujos trabalhos desagradaram profundamente os fãs e passaram longe da fama do original. Nada está certo ainda, mas caso o acordo for fechado logo, a refilmagem da história do garoto submergindo num mundo literário deve chegar aos cinemas em 2011.

Momentos eternos de uma lente enterrada

Entre os fotógrafos profissionais ou mesmo admiradores mais dedicados a arte da fotografia, não existe nome mais famoso que o de Robert Capa. Nascido na Hungria sob o nome de André Friedmann, ele se tornou com o nome artístico a personalidade mais venerada entre os profissionais do meio, especialmente por suas solenes imagens da Guerra Civil Espanhola e Segunda Guerra Mundial. Ele foi um dos poucos fotógrafos presentes no Dia D, onde eternizou o desembarque dos soldados na Normandia e ainda documentou a libertação de Paris no fim da Guerra entre o nazismo e os países aliados. Capa morreu em 1954, em decorrência de um passo descuidado e a explosão de uma mina enquanto registrava a Guerra da Indochina. Além do lado profissional, a vida pessoal do húngaro causou grande inte resse na época, especialmente graças ao relacionamento com a atriz Ingrid Bergman (“Casablanca”). Com um breve resumo de vida como esse, não é difícil imaginar que grande filme sairia dessa história, e parece que nós não fomos os únicos a perceber. Pierce Brosnan, “laureado” recentemente com o Framboesa de Ouro pela cantoria em “Mamma Mia”, já trouxe o projeto da biografia para a sua produtora, a Irish Dreamtime (“Encurralados”) e ainda fisgou o talentoso diretor Paul McGuigan (“Xeque-Mate”) para o comando do projeto, a ser financiado em parceria com a MGM. Não se sabe se Brosnan desempenhará um papel no elenco da biografia, mas o fato é que o projeto sobre Robert Capa foi um substituto para outra história real da qual ele iria participar, a biografia de James Miranda Barry, uma mulher que precisou se passar por homem para entrar no exército. Esse último projeto foi sabotado pela crise econômica.

Mais Bush, mais traição e mais espionagem no cinema

Recém-concluída, a desastrosa administração de George W. Bush como presidente dos Estados Unidos já rendeu o polêmico e pouco notado “W.”, do sempre politizado Oliver Stone (“Nixon”). Agora é a vez de um ataque mais  direto e da rede de intrigas tecidas em um dos casos mais marcantes da administração do texano. Em 2003, um escândalo foi armado pela imprensa quando uma coluna do jornalista Robert Novak trouxe em suas linhas a revelação da identidade de uma espiã da CIA . O que isso tem a ver com o governo? Valerie Plame (na foto), a tal espiã, era esposa do embaixador Joseph Wilson, notório desagrado e adversário político do mentor e assessor político de Bush, Karl Rove. A suposta vingança do figurão foi relatada pela própria Valerie no explosivo “Fair Game: My Life as a Spy, My Beatrayal By the White House” (“Jogo justo: minha vida como espiã, minha traição pela Casa Branca”, sem tradução para português), uma denúncia em forma de livro que provocou polêmica ao ser lançado apenas dois anos depois do caso, quando Bush filho continuava no cargo máximo da nação. Um pouco mais cautelosa, Hollywood decidiu aproveitar o potencial cinematográfico da história apenas depois da saída do presidente, e já acertou os ponteiros para que o abreviado “Fair Game” chegue aos cinemas logo no início de 2011. O roteiro já foi escrito, pelos irmãos Jez & John Butterworth, dupla responsável pelo morno pseudo-épico arturiano “A Última Legião”. Já a direção anima um pouco mais os fãs de adrenalina e conspirações: Doug Liman, um homem que já provou que entende de ação (“Jumper”), mas também sabe tecer intrigas governamentais (“A Identidade Bourne”). No elenco, por enquanto apenas o casal principal está definido, reunindo pela primeira vez Naomi Watts (“King Kong”) e Sean Penn (“Milk – A Voz da Igualdade” ).

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… notícias de ótimos filmes para o futuro, uma crítica que deu o que falar sobre as virtudes (ou defeitos) da Hollywood atual… um dia bom, eu diria, muito bom… como sempre agradeço a todos os comentários e desejo só os melhores filmes para todos vocês. Até a próxima!

Outlander: Guerreiro VS Predador – Injustiças de Hollywood e a surpresa do ano

Outlander – Guerreiro VS Predador (Outlander, EUA/Alemanha, 2008).

De: Howard McCain.

Com: James Caviezel, Sophia Myles, Jack Huston, John Hurt, Ron Perlman.

115 minutos.

 

 

 

Uma das características mais encantadoras e únicas dessa representação de nossos tormentos que chamamos de arte é sua capacidade de surpreender, não importa o quanto as circunstâncias soprem contra essa surpresa. E acho que falo por todos os críticos amadores ou não mundo afora quando digo que é sempre maravilhoso ser pego de surpresa pela qualidade incontestável de um filme que tinha tudo para dar errado. Nadar contra a maré sempre foi a especialidade do cinema, lutar contra as desvantagens para construir uma obra que valha a pena ser vista. A premissa de “Outlander” não soava nada bem para os cinéfilos, especialmente com a memória recente do equivocadíssimo “Desbravadores”. A única promessa que uma trama sobre uma nave alienígena desgovernada que encontrava seu destino na Dinamarca dominada pelo povo viking era uma violação terrível da fascinante cultura nórdica, personagens rasos e a dieta de efeitos especiais hollywoodianos de sempre. A mistura idealizada pelos roteiristas estreantes Howard McCain & Dirk Blackman (que posteriormente seriam responsáveis por “Anjos da Noite: A Rebelião”) soava como mais uma daquelas idéias estúpidas que inevitavelmente encontravam o caminho merecido para o Framboesa de Ouro. O trailer só piorou as expectativas, deixando a impressão de um filme de ação descerebrado, com batalhas filmadas de maneira manjada e fogo explodindo para todo o lado em um visual supostamente inovador. Enfim, todos os ventos sopravam para que “Outlander” se tornasse mais um engodo insuportável da terra do cinema, que só não seria uma decepção porque as expectativas já eram baixas demais. Quando foi lançado no cinema, pouca gente foi ver o resultado de tudo isso, fazendo o filme fechar a conta com míseros 128 mil dólares em terras americanas e adicionando mais um fracasso a já extensa lista da Weinstein Company, que teve seu pior ano em 2008. Quem foi não só constatou que o bicho não era tão feio afinal, como também saiu de sua sessão maravilhado com mais uma peça surpreendente de cinema.

São raros os filmes de ação na Hollywood de hoje, dominada pelo cinismo e pelos já banalizados efeitos especiais, que desenham um sorriso no rosto do espectador. Provocar tensão, talvez, mas há muito tempo que a adrenalina deixou de marcar tanto quanto na época de gente hoje renegada como John McTiernan (“Duro de Matar”) e John Frankenheimer (“Ronin”), mestres irretocáveis do cinema feito de impressões para os quais as portas se fecharam na terra do cinema. Pois bem, “Outlander” não só alcança esse feito, como o faz duas vezes. E são cenas tão diferentes que é impossível não se perguntar porque tanta gente sem criatividade continua empregada no espetáculo do cinema. A primeira, uma batalha selvagem travada com fogo e caos, filmada de forma grandiosa, dona de um impacto visual impressionante e senso de perigo que chega a alarmar o sentido mais primitivo do espectador. A segunda, uma sinfonia de suspense e um jogo de gato e rato empolgante que garante o visual graças ao elemento oposto que dá o ritmo ao filme, a água, e termina de forma trágica e triunfante a um tempo, nota dada com habilidade por uma câmera quase documental. Depois dessa descrição, é fácil perceber que, no mínimo, “Outlander” é um filme que supera de longe todas as expectativas. Talvez não seja uma obra-prima, mas cumpre bem o que se propõe e ainda não se perde na confusão de uma mistura que todas as chances diziam ser equivocadas. Por incrível que possa parecer, o roteiro de Howard McCain e Dirk Blackman é a maior virtude e ponto diferencial de “Outlander – Guerreiro VS Predador” (péssimo subtítulo, diga-se de passagem), que se desenvolve perfeitamente bem nas duas vertentes que se juntam na trama. O trabalho da dupla consegue ser um filme de monstro exemplar sem deixar de lado o encantamento da cultura nórdica, mostrada mais em detalhes fundamentais do que nos pontos já tão explorados por outras obras de competência variável. E o script ainda consegue ir além de tudo isso para versar, de maneira grosseira mas eficiente, sobre adaptação, adequação e a capacidade impressionante de se reconstruir do ser humano, independente da época em que vive.

Um tema universal e atemporal que cai perfeitamente bem para a jornada do Kainan (James Caviezel), o tal alienígena que cai na Terra dominada pelos guerreiros vikings trazendo com ele a desgraça de seu povo, uma criatura monstruosa e insaciável. Durante sua estadia em nosso mundo, ele aos poucos se integra a um vilarejo viking comandado por Rothgar (John Hurt), o primeiro reis do ano que ficaria conhecido posteriormente como “o ano dos três reis”. O próximo na linha de sucessão é Wulfric (Jack Huston), um jovem arrogante que nutre um ódio mortal por Gunnar (Ron Perlman), que ele acredita ter sido responsável pela morte de seu pai. Para completar o círculo principal, Freya (Sophia Myles) é a típica princesa que odeia o título e tenta provar seu valor como guerreira perante a aldeia. Esses personagens e todos os outros moradores do lugar se envolvem na inevitável caçada do monstro, cujos hábitos e peculiaridades apenas Kainan conhece, fato que o faz ganhar a confiança de todos. O dilema final pode ser previsível, mas há algum tempo que um filme não trata do sentimento de lar com tanta eficiência quanto “Outlander”. Além de construir o grande motivo de triunfo de seu filme, Howard McCain estréia também como diretor e faz um trabalho louvável, mostrando-se grande comandante nos momentos de adrenalina e utilizando os efeitos especiais mais como um acessório do que como algo fundamental. Não é difícil embarcar na jornada comandada por McCain, mesmo que o elenco seja no mínimo irregular. Jack Huston, mais conhecido pelo trabalho na recente versão televisiva de “Spartacus”, e Sophia Myles (“Tristão & Isolda”) sofrem um pouco com o estereótipo de seus personagens, os menos desenvolvidos da trama, mas ainda assim conseguem entregar um trabalho correto. O mesmo pode se dizer de John Hurt e Ron Perlman, se reencontrando depois da relação pai-e-filho em “Hellboy”, ambos com menos tempo de tela do que suas interpretações mereceriam, mas indiscutivelmente marcantes, ainda que o personagem de Perlman seja quase supérfulo para o andamento da trama. O protagonista James Caviezel faz o trabalho mais notável, despindo-se do sofrimento do furacão “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson para entregar a interpretação recheada de estranheza que o personagem merece. Para um filme que prometia muito instinto, pouco cérebro e duas horas perdidas da sua vida, “Outlander” acabou sendo uma das maiores surpresas despercebidas de um ano cheio das que acabaram vingando. Injusto? Essa é Hollywood, queridos. Nua, crua e cruel.

Nota: 7,5

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (25/02/2009)

Reviravoltas de Hollywood

O projeto já foi dado como uma das produções mais esperadas dos últimos anos, passo u por sua longa e polêmica fase de “diferenças criativas”, sobreviveu pela insistência de um astro recém-revelado e agora renasce com novos anúncios que animaram os fãs do material original. Estamos falando, é claro, de “Besouro Verde”, adaptação da série sessentista estrelada por um Bruce Lee comprando sua passagem para o mundo do cinemão americano. A reimaginação (termo da moda entre os produtores) originalmente deveria estrear ainda no final desse ano, prometendo ser a grande aventura da temporada e já tendo alguma bilheteria garantida pela presença de Seth Rogen (“Ligeiramente Grávidos”) no elenco principal e no roteiro, enquanto o astro chinês Step hen Chow (“Kung Fusão”) assumiria o manto de Lee e ainda se encarregaria da direção. A primeira notícia ruim que chegou foi a saída de Chow da direção, e embora o elenco ainda contasse com seu nome, os produtores começaram a perceber que talvez o projeto não vingasse, apesar de tudo. Rogen insistiu, trouxe a bordo o duvidoso nome do amigo Adam Sandler (“Click”) como o vilão da trama e revitalizou o projeto aos olhos da mídia, o que levou ao recente anúncio do francês Michel Gondry (“Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”) como o novo ocupante da cadeira de direção. Seria a primeira grande produção de Gondry, que fez bastante barulho nos festivais e cinemas mundo afora com sua última obra, “Rebobine, Por Favor”. A nova data de estréia é 25/06/2010.

Saudosismo por toda a parte

Lá se vão vinte anos desde que “Os Caça-Fantasmas II” divertiu tanto quanto seu predecessor e fechou a conta da franquia com quase 400 milhões de dólares apenas nas bilheterias americanas. De lá para cá, muita coisa aconteceu com alguns dos astros mais marcantes dos anos 1980. Bill Murray virou astro sério e até obteve o reconhecimento do Oscar com “Encontros e Desencontros”. Dan Aykroyd entrou em decadência e foi fazer papéis coadjuvantes em filmes medíocres, mas ora quem diria, também recebeu a nominação da Academia por seu trabalho em “Conduzindo Miss Daisy”. Sigourney Weaver envelheceu bem melhor, esbanjando talento em papéis pequenos que ficam na memória e deixam a marca registrada de uma grande atriz. E Harold Ramis se manteve em evidência, valendo-se da admiração de um ícone para continuar trabalhando com os melhores nomes da comédia, ainda que fosse pouco notado. É fácil abrir um sorriso no rosto observando a ação do tempo em todos esses intérpretes, mas pode ser ainda mais gratificante receber a notícia que a probabilidade de vê-los juntos mais uma vez é bem grande. E sem truques, estamos mesmo falando de um “Caça-Fantasmas III”. Embora ainda não tenha data de estréia, a continuação saudosista já fechou os quatro principais no elenco, e o roteiro está perto da finalização, de autoria de Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky, dupla vinda da versão americana de “The Office”. As notícias mais recentes dizem que o diretor Ivan Reitman (“Irmãos Gêmeos”) pode retornar na direção em filmagens que não devem demorar a começar.

Mais um depois do último

Apesar de toda a campanha de marketing, a admiração merecida e o prêmio póstumo, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” não foi o último trabalho do falecido Heath Ledger, recém-premiado com o Oscar póstumo por seu impressionante desempenho como o Coringa. Esse posto pertence  a “The Imaginarium of Doctor Parnassus”, fantasia do sempre experimental Terry Gilliam (“Os Doze Macacos”), projeto que o ator estava filmando a época de sua morte. Embora tenha ficado por algum tempo a deriva, o projeto encontrou um novo rumo com a ousada decisão do diretor de dividir o trabalho como o protagonista entre três outros atores, que completariam o trabalho já filmado do ator. Os escolhidos foram Johnny Depp (“Piratas do Caribe”), Colin Farrell (“Alexandre”) e Jude Law (“Closer – Perto Demais”), todos intérpretes do protagonista Tony, um homem que entra para a bizarra trupe de teatro itinerante do Doutor Parnassus do título, a cargo de Christopher Plummer (“A Noviça Rebelde”) e acaba se envolvendo no resgate da filha deste das mãos do diabo, interpretado pelo músico Tom Waits (“Domino – A Caçadora de Recompensas”). O filme já entrou em estágio de pós-produção e tem estréia prometida para 24 de Setembro deste ano nos EUA. Isto é, se houver algum estúdio disposto a lançá-lo. Apesar do apelo da presença final de Ledger, as corporações tem hesitado em abrir a carteira para lançar o longa graças ao tom independente/experimental do projeto, mesma característico que transformou “Contraponto”, último filme de Gilliam, em um fracasso lançado apenas em DVD no Brasil três anos depois de naufragar em terras americanas. Por enquanto, “The Imaginarium of Doctor Parnassus” só tem lançamento garantido no Reino Unido.

Um astro na Casa Branca

Pode respirar aliviado, essa notícia (ainda) não trata de Arnold Schwarzenegger sendo eleito presidente da nação americana. A notícia é sobre outro astro, e um que já se disse “politizado, mas nunca político”. Uma das maiores metamorfoses do mundo do cinema, George Clooney (que foi de astro de televisão com “E.R.” a super-astro sério e oscarizado com “Syriana”) foi uma das ausências mais incomuns notadas na festa do Oscar 2009 comandada espetacularmente  por Hugh Jackman (“Austrália”). Ele apresentou sua justificativa nessa terça-feira, e não houve quem reclamasse depois das explicações. Clooney estava em uma reunião que ele descreveu como “extremamente produtiva” com o comandante-em-chefe dos EUA, Barack Obama, discutindo uma questão tão ímpar a urgente quanto a crise humanitária no Sudão. Clooney cumpriu naquela noite suas obrigações como embaixador da paz das Nações Unidas, e declarou que os refugiados, abrigados no país vizinho de Chade, “são mais de 250 mil e precisam que façamos nosso melhor”. Ainda segundo ele, tanto o presidente quanto o vice, Joe Biden, foram receptivos quanto ao que ele tinha a dizer, já que Clooney visitou o campo de refugiados recentemente, onde inclusive foi visto circulando sem escolta de seguranças da ONU.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… um dia pouco produtivo, mas amanhã é outra história e eu tenho pelo menos um par de críticas na manga, quase prontas… pelo menos uma vem amanhã, certo? Os melhores filmes para todos vocês e até a próxima!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Busca Implacável – Vingança ou justiça? O clichê de Monseiur Besson

Busca Implacável (Taken, França, 2008)

De: Pierre Morel.

Com: Liam Neeson, Famke Jansen, Maggie Grace, Katie Cassidy.

96 minutos.

 

 

 

 

Vingança e justiça são conceitos tão espantosamente parecidos que às vezes é difícil entender porque a sociedade que construímos os tornou tão impossíveis de associar. As regras que seguimos dizem que a retaliação é um crime tão brutal e passível de punição quanto aquele que a causou. Radicalizando um pouco o conceito, não importa o mal que nos é infringido, não cabe a nós devolvê-lo ou fazê-lo notar. A vingança é um sentimento tão profundamente arraigado nos instintos humanos que muitas vezes nossa soberana e ultimamente incompetente justiça, a mãe de todas as convenções, não parece o bastante para punir crimes tão hediondos. Talvez tenha sido esse sentimento de frustração que lev ou o cinema, representação artística maior das angústias do homem e tantas vezes válvula de escape para a falta de realização pessoal em uma sociedade guiada pelo bem maior, tenha escolhido tantos anti-heróis em busca de vingança para estrelar filmes cuja qualidade é capaz de variar do inesquecível ao dispensável. Há pouco tempo, por exemplo, o mestre Steven Spielberg retornou ao Oscar com um tomo de vingança das mais brutais, e houve quem dissesse que “Munique” era o legítimo dono da estatueta principal. Perto da visão impactante de alguém como Spielberg, “Busca Implacável”, investida do decadente e multi-talentoso francês Luc Besson (“O Quinto Elemento”) no brutal subgênero passa longe de ser uma obra-prima. Em seu roteiro, Besson trata a vingança como algo natural, numa ingenuidade que simplesmente não casa bem com o nome do homem que revolucionou o cinema de ação nos anos 90 com “O Profissional” e um par de outras pequenas obras-primas. Seu tratamento, escrito na parceria habitual com Robert Mark Kamen (“Carga Explosiva”), carece de mais humanidade em meio a reações automáticas, irrealísticas e, nos piores momentos, vergonhosas. É triste ver um roteirista tão talentoso e marcante para toda uma geração de apreciadores de cinema chegar ao ponto de apelar para frases de efeito previsíveis, cenas absolutamente sem sentido e clichês a ponto de irritar o espectador. Há uma década ou mais atrás, o nome de Luc Besson nunca estaria na mesma frase que a expressão “repetição hollywoodiana”. Por incrível que pareça, não poderiam haver duas palavras melhores para definir “Busca Implacável”, um filme de ação europeu que erra o deixar de lado as peculiaridades da produção do continente e apostar em uma fórmula tão americanizada que às vezes soa como um tour de luxo pelo lado sujo de Paris.

Nada contra o cinema de ação americano, é claro, celeiro de talentos e filmes simplesmente tensos demais para ignorar, mas boa parte da análise de um filme tem a ver com expectativas, e do jeito que está, no meio do caminho entre Europa e EUA, “Busca Implacável” é um filme que vai decepcionar dois lados de uma mesma equação. Aqueles que embarcarem esperando um filme de ação mais inteligente, sofisticado mas ainda assim intenso, uma espécie de Bourne com o ritmo característico do cinema europeu, provavelmente vai encontrar pouco o que apreciar e ainda menos do que analisar. Do outro lado da moeda, quem quer de divertir com a dieta blockbusteriana de sempre vai encontrar dificuldades para acompanhar a equivocadamente ramificada trama e ainda sentir falta de um pouco mais de espetáculo, impressão, nos momentos de adrenalina. É impossível negar que Besson ainda é um dos escritores de ação mais talentosos por aí. Em “Busca Implacável”, pelo menos nesse ponto, ele acerta em ir contra as convenções do gênero, preferindo a climatização que a destruição, mas lidando bem com ela quando se mostra necessária. Viajar com o filme nos momentos de perseguição ou quando a vingança finalmente chega as vias de fato é fácil, mas no restante do filme o roteiro engata uma série de tropeços imperdoáveis, seja na construção estereotipada dos personagens ou na crueldade um tanto quanto repetina que surge em seu protagonista, quase doentia de tão determinada. Em alguns momentos mais desgovernados, o Bryan Mills em busca de vingança de Liam Neeson quase deixa de ser um anti-herói  para se tornar um vilão, tamanho é o sadismo que Besson impõe forçadamente a seu jogo de gato e rato pelas ruas marginais da cidade-luz. É lá que Kim (Maggie Grace) e Amanda (Katie Cassidy) são seqüestradas por um grupo de albaneses traficantes de mulheres. O que eles não sabiam era que Kim é filha de Bryan Mills (Liam Neeson), um agente aposentado da CIA que impôs uma série de condições aparentemente paranóicas para permitir que a filha viajasse com a amiga. Por um acaso infeliz para os seqüestradores, pai e filha estavam falando no telefone a ocasião do acontecimento, e Bryan não heistará um segundo em usar todas as suas habilidades enterradas para recuperar a rebenta, de quem estava começando a se aproximar após a aposentadoria.

Logo no início, o roteiro deixa claro que Bryan não só não hesitará em matar os seqüestradores, como toma essa como sua primeira diretriz, já no primeiro contato através do celular da filha. “Eu não sei quem vocês são, mas se vocês não deixarem minha filha ir agora, eu vou proculá-los, eu vou persegui-los, eu vou achá-los e eu vou matá-los”. Chega a ser curioso nos primeiros minutos após esse esclarecimento o quão repentinamente o raciocínio do personagem ligou o crime a vingança, mas o tempo passa e nada mais de interessante ou intigante é apresentado, o filme fica jogado a própria sorte e preso a própria trama genérica e previsível. Ainda para ajudar o diretor Pierre Morel (“B13 – 13º Distrito”) parece sem criatividade, movendo a câmera da forma óbvia, deixando de investir em seu elenco para apostar em takes mais amplos que tiram a força da brutalidade, elemento essencial de um filme como esse. Mesmo nas cenas de ação, impressionantes apenas no clímax e em uma explosiva perseguição em uma espécie de mina de carvão ou algo que o valha, Morel parece entediado ao guiar, construindo tomadas impactantes mas irritantemente óbvias. O elenco faz seu trabalho resignado, acorrentados pela própria falta de criatividade da trama. Liam Neeson, em seu primeiro papel mais interessante desde “Batman Begins”, parece entender bem o espírito de seu personagem, mas encontra pouco o que desenvolver em meio a uma brutalidade tão resoluta. A jovem Maggie Grace, recém-saída de “Lost” é a dona do úncio trabalho verdadeiramente digno de nota, que ultrapassa o morno mesmo com a mais experiente Famke Jansen (a Jean Grey de “X-Men”), que pouco tem a fazer a não ser exercitar sua coadjuvâncias de luxo nessa história de vingança que promete demais, cumpre de menos e cela a absoluta falta de criatividade um homem tão criativo quanto Luc Besson.

Nota: 5,0

Bom, pessoal, aí está a crítica nova para esse filme, eu tive que reescrever porque senti que a primeira não tinha capturado o espírito do filme e estava um pouco mal justificada. Espero que vocês entendam as neuroses de um crítico amador, mas de qualquer forma obrigado a todos que lêem o blog e mil perdões por essa troca tão repentina. Valeu, pessoal!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (23/02/2009)

Erro fatal

 

Os fãs da franquia animada da Dreamworks Animation sobre o ogro verde que vem emplacando sucessos desde 2001 terão um ano para comemorar depois da relativa decepção do terceiro capítulo. Em 2010, além do já aguardado ansiosamente “Gato de Botas”, com o personagem do astro espanhol Antonio Banderas (“A Máscara do Zorro”) alçando vôos solos, a continuação da trama principal promete estrear no mesmo ano, meses depois para aproveitar a empolgação em torno do spin-off. O título original, “Shrek Goes Fourth”, é uma alusão mais do que clara a expressar americana “go forth”, que pode ser traduzida como “seguir adiante”. Como o trocadilho não funciona em nossa língua, é bem provável que o filme acaba se chamando apenas “Shrek 4” por aqui. O comando da série trocou de mãos uma vez mais depois do estreante Chris Miller não manter o nível de trabalho de Andrew Stanton, diretor das duas primeiras aventura se subseqüentemente do primeiro “As Crônicas de Nárnia”. O dono da cadeira de direção da vez é Mike Mitchell, diretor de comédias como “Gigolô por Acidente” e do premiado curta-metragem animado “Herd”. Ele retorna ao mundo digital para filmar o novo roteiro de Josh Klausner, que também redigiu a terceira aventura e já atraiu de volta todos os nomes principais do elenco, de Mike Myers (Shrek) a Cameron Diaz (Fiona), passando por Eddie Murphy (Burro) e, é claro, Antonio Banderas (Gato de Botas), que segundo os rumores ainda se juntariam ao hiper-ativo Tom Cruise, que promete tomar de assalto o mundo do cinema nos próximos anos. O astro do thriller “Operação Valkíria” viveria o vilão da vez, um aproveitador barato que engana o protagonista com promessas de uma vida mais tranqüila em uma espécie de dismensão paralela para tomar o trono do casal de ogros. O filme já tem até data de estréia marcada: 21 de Maio de 2010.

Entre os gigantes, o quarto

Enquanto “Batman – O Cavaleiro das Trevas” escalava com velocidade impressionante nas bilheterias durantes meses a fio no ano passado e as críticas mais que positivas explodiam imprensa e internet afora, não foram poucos aqueles que acreditaram que a fantástica continuação engendrada por Christopher Nolan (“Insônia”) entraria para o seleto grupo de filmes cuja bilheteria ultrapassou a decididamente impressionante marca de 1 bilhão de dólares. Acabou não acontecendo por ínfimos 3 milhões de dólares, e “O Cavaleiro das Trevas” fechou as contas como a quarta maior bilheteria mundial e a segunda americana, somando no total pouco mais de 997 milhões de dólares. É claro, o Oscar chegou e desde o lançamento, “Cavaleiro das Trevas” era um dos favoritos a revoluconar o prêmio da Academia. Para promover o filme e garantir algumas indicações a mais além das garantidas (estratégia que não funcionou as mil maravilhas, diga-se de passagem), as salas IMAX em terras americanas receberam de volta o estrondoso sucesso, que confirmou o prazo de validade durarouro ao finalmente arrebanhar os milhões que faltavam para a histórica marca. A posição nos rankings não mudam, mas “Batman – O Cavaleiro das Trevas” agora faz parte do mesmo honroso grupo que inclui o recordista “Titanic” (1 bilhão e 835 milhões), “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (1 bilhão e 129 milhões) e “Piratas do Caribe: O Baú da Morte” (1 bilhão e 60 milhões). A entrada no carinhosamente apelidado “clube do bilhão” finalmente coloca “O Cavaleiro das Trevas” definitivamente na história do cinema. É esperar para ver se o épico urbano de Nolan envelhecerá tão bem quanto seus companheiros.

Polêmica na tradução

Milk – A Voz da Igualdade”, fábula de Gus Van Sant (“Dogville”) sobre o primeiro político gay a ser eleito a um cargo público em terras americanas já foi lançado, digerido, e escolhido para seus modestos dois prêmios da Academia (melhor roteiro original para Dustin Lance Black e melhor ator pars Sean Penn), mas continua causando a polêmica que prometeu desde os primeiros rumores sobre a produção. Dessa vez, porém, o chamariz não vem de protestos ou piquetes em terras americanas, mas uma simples desistência, e em território brasileiro. Marco Ribeiro, dublador conhecido por inúmeros trabalhos como a voz tupiniquim do comediante Jim Carrey (“Sim, Senhor”) e do ator Tom Hanks (“Forrest Gump”), é também a voz oficial de Sean Penn, protagonista do filme, no Brasil. Marco, que além da atividade em dublagem é também pastor de uma Igreja Evangélica, se disse “desconfortável” para fazer o trabalho de adaptação do roteiro de “Milk” para o português. A coordenadora da dublagem do filme defendeu a decisão de Ribeiro, dizendo que não se trata de preconceito da parte do dublador, mas sim graças a algumas pessoas que “confundem sua profissão como ator com o lado religioso”. Segundo ela, para aqueles que conhecem a voz do pastor, seria estranho ouvi-la dando voz a um político homossexual, principalmente nos moldes polêmicos e concisos do diretor Van Sant e do roteirista premiado com o Oscar Dustin Lance Black. Penn será dublado agora pelo ator Alexandre Moreno, voz do ator Adam Sandler (“Click”) na maioria de suas produções e do Gato de Botas na série animada “Shrek”.

Bom, pessoal, e por hoje é isso, o fim de um dia completo! Tivemos Oscar previsível mas inovador, tivemos notícias sobre uma continuação, quebra de recordes e uma polêmica de leve para fechar o dia… Quem poderia pedir mais? Bom, quero agradecer uma vez mais a todos os comentários e desejar só os melhores filmes para todos vocês. Até amanhã!

Especial Oscar 2009 – Os vencedores, afinal!

O apresentador e o show: “O musical está de volta!”. Não se enganou que predisse que o astro australiano Hugh Jackman renderia um grande apresentador para a edição 2009 do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O ator já começou dando um show de bom humor ao improvisar uma música costurando os temas dos filmes indicados ao prêmio principal da noite, chamando a colega Anne Hathaway, indicada ao prêmio de melhor atriz por “O Casamento de Rachel” para o palco e fazendo uma interpretação hilária do sóbrio e político “Frost/Nixon”. A cerimônia de premiação foi toda costurada com números musicais, apresentados com desenvoltura impressionante por Jackman, dono de um Tony (o Oscar do teatro) pela performance em uma bem-sucedida peça da Broadway. A produção sofisticada e luxuosa dos veteranos Bill Condon & Laurence Mark não deixou dúvidas da inovação que a Academia pretendia, visando atrair mais audiência e um público mais popular. A platéia mais próxima ao apresentador deu um tom mais controladamente informal a cerimônia, enquanto a participação de gente como Beyoncé e Zac Efron garantia o espetáculo musical ao lado do anfitrião, carismático e piadista como nunca, um apresentador perfeitamente peculiar para uma edição tão inovadora (em sua concepção) do prêmio da Academia. Sua abertura musical foi aplaudida de pé pela platéia de astros, concorrentes ou não. Em seguida a diva pop subiu ao palco para entoar clássicos do musical cinematográfico ao lado do ator, de “Singin’ in The Rain” a “One Night Only”, que Beyoncé já havia tido a oportunidade de interpretar no filme “Dreamgirls”. Outra novidade na cerimônia foi a forma de apresentar os prêmios, trocando os astros aleatórios pelos cinco últimos vencedores de cada categoria, cada qual discursando sobre um dos candidatos. Apenas o prêmio principal, de melhor filme, foi anunciado pelo diretor Steven Spielberg. A maioria dos discursos dos vencedores convenientemente evitou polêmicas, uma regra quebrada apenas por Sean Penn e Dustin Lance Black, laureados pelo naturalmente político “Milk – A Voz da Igualdade”. Quem viu ficou com um sorriso no rosto e não mudou de canal. Missão cumprida, senhor Jackman. Nos vemos em “Wolverine”.

Os vencedores: É impossível negar que, para além do espetáculo, do luxo e da reviravolta da produção, o Oscar 2009 foi extremamente previsível em suas premiações. Em cada categoria apresentadas as previsões da maioria se confirmavam, seja no favoritismo energético de “Quem Quer Ser um Milionário?” ou nas premiações quase tradias de gente como Kate Winslet (melhor atriz, por “O Leitor”) e Danny Boyle (melhor diretor, por “Quem Quer Ser um Milionário?”). A ousadia ficou só na embalagem, que tornou o produto final muito mais saboroso do que nos últimos anos, em que a cerimônia chegava a ser enfadonha com suas piadas esquecíveis e glamour forçado. A injeção de energia a entrega dos prêmios camuflou um primeiro passo muito modesto para uma jornada tão longa rumo a eliminação dos preconceitos, que encontraria em 2008 sua representação perfeita. Tudo bem, já tiramos do caminho a previsibilidade dos prêmios, mas é sempre bom notar que apenas o fato de “Quem Quer Ser um Milionário?” ser um prêmio óbvio já é bem diferente do que estamos acostumados a ver no Oscar. Ou alguém duvida que algum tempo atrás, quando a Academia celebrava os dramas corretos e deixava para trás os verdadeiros grandes filmes, “Quem Quer Ser um Milionário” teria passado em branco pela festa? Talvez nem mesmo a indicação conseguisse. Nas próprias indicações mais do que nas escolhas, a premiação do Oscar 2009 finalmente deixou para trás a “fórmula acadêmica” para premiar a originalidade que, afinal, mantém a roda criativa do cinema girando. Talvez não fique tão claro na lista aí embaixo, dos filmes que saíram triunfantes depois de 3h33min de premiação, mas não é difícil imaginar que ela pode ser o começo de algo muito, mas muito interessante. Uma palavra que ninguém ousaria usar em um texto sobre Oscar alguns anos atrás.

- Melhor filme:Quem Quer Ser um Milionário”, de Danny Boyle

- Melhor diretor: Danny Boyle, por “Quem Quer Ser um Milionário”

- Melhor ator: Sean Penn, por “Milk – A Voz da Igualdade”

- Melhor atriz: Kate Winslet, por “O Leitor”

- Melhor ator coadjuvante: Heath Ledger, por “Batman – O Cavaleiro das Trevas”

- Melhor atriz coadjuvante: Penélope Cruz, por “Vicky Christina Barcelona”

- Melhor roteiro adaptado:Quem Quer Ser um Milionário”, por Simon Beaufoy

- Melhor roteiro original:Milk – A Voz da Igualdade”, por Dustin Lance Black

- Melhor filme estrangeiro:Okuribito” (“Departures”, Japão), de Yojiro Takita

- Melhor animação:Wall-e”, de Andrew Stanton

- Melhor fotografia:Quem Quer Ser um Milionário”, por Anthony Dod Mantle

- Melhor edição/montagem:Quem Quer Ser um Milionário”, por Chris Dickens

- Melhor direção de arte:O Curioso Caso de Benjamin Button”, por Donald Graham Burt & Victor J. Zolfo

- Melhor figurino:A Duquesa”, por Michael O’Connor

- Melhor trilha-sonora:Quem Quer Ser um Milionário”, por A.R. Rahman

- Melhor canção: Jai Ho, de A.R. Rahman & Gulzar (“Quem Quer Ser um Milionário”)

- Melhor maquiagem:O Curioso Caso de Benjamin Button”, por Greg Cannom

- Melhores efeitos visuais:O Curioso Caso de Benjamin Button”, por Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton & Craig Barron

O maior, o melhor: Vamos tirar uma coisa bem prática do caminho para falar defintiva e conclusivamente sobre o Osar 2009. A estratégia da Academia deu certo para esse ano, a inovação e a aposta em um show mais completo tiveram como recompensa o crescimento significatitivo de 6% na audiência, em comparão ao último ano, interrompando a linha descresente que vinha se formando nos últimos anos. Mais para além de números, de surpresas ou a falta delas e ainda mais para além do espetáculo, o Oscar é um símbolo, um ícone, uma festa eterna que possui muito mais significado do que muita gente imagina. O Oscar é a celebração máxima do cinema, não importa se os eleitos melhores são de fato os melhores ou se o preconceito domina os prêmios. Nem mesmo o rigor irritante da Academia é capaz de quebrar o simbolismo e a sobrenatural e inexplicável atração que o Oscar exerce sobre a esmagadora maioria dos cinéfilos. “O maior evento cinematográfico do ano” resiste aos tempos, passa por décadas e por críticas e permanece inflexível na posição anunciada no topo do cartaz acima. Não existe festa, reunião, premiação sem polêmicas, e às vezes é mais fácil pensar no Oscar como as Olímpiadas relâmpago do cinema. Temos nossa torcida, sabemos quem são os melhores e gostamos de ser surpreendidos, mas acima de tudo nunca deixamos de acompanhar. Assim sempre foi, é e sempre sera, independente de apresentadores, audiência, prêmios ou indicados. Os filmes ficam para trás, o símbolo permanece eterno. É a sina da vida, queira ou não, goste ou não. Tudo isso já dito, resta esperar pelo ano que vem, com um Oscar ainda maior e, esperamos todos, cada vez melhor.

Bom, pessoal, e essa foi nossa cobertura do Oscar, completinha, com direito a conclusão e aperitivo para o ano que vem! Agora é voltar para a vida normal, certo? As críticas e as notícias voltam amanhã no nosso blog e eu queria agradecer a todos os inteligentes e sucintos comentários na postagem anterior, é bom saber que todos estão acompanhando de perto esse mundo do cinema e é sempre gratificante saber que o blog é parte dessa conexão. Certo? Então os melhores filmes para todos vocês, sempre!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Especial Oscar 2009 – Ousadia, inovação… e previsões

“O maior evento cinematográfico do ano”. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não faz questão de esconder a pompa e a circunstância de seu prestigiado prêmio, colocando uma estatueta no centro dos holofotes, um título ofuscante com suas luzes douradas e uma frase nem um pouco modesta no topo do cartaz que anuncia a edição 2009 do Oscar. Pretensões a parte, é mais do que óbvio que a frase não poderia ser mais verdadeira. Desde que começou com uma modesta coletiva de imprensa para premiar o épico “Asas” em 1929, quando o prêmio nem mesmo tinha o apelido pelo qual é hoje mais conhecido, o Oscar evoluiu aos poucos para a representação maior da cinefilia (se é que essa palavra existe), o evento que reúne a esmagadora maioria dos apreciadores do cienma e não faz questão de enconder sua grandiosidade. Luxo, afinal, foi o que nunca faltou no dicionário da Academia, mas prêmios previsíveis, injustiças histórias e críticas fulminantes foi o que mais se ouviu sobre a cerimônia que nos últimos oito anos tomou lugar no Kodak Theatre, em Los Angeles. O Oscar se tornou, em sua pretensão artística, um prêmio inacessível, inalcançável, às vezes instransponível de tão pomposo e previsível. A audiência das transmissões pela televisão caía a cada ano, e a insistência em nem mesmo indicar grandes sucessos de bilheteria apenas aumentava essa espécie de ódio ambíguo que aos poucos crescia na comunidade cinéfila contra o prêmio da Academia. Demorou, mas nem mesmo o presidente Sid Ganis foi capaz de negar que a premiação precisava de novos ares com urgência. Muita gente apostava em 2009 como o ano da virada total do Oscar. Afinal, o ano anterior, morada dos filmes a serem premiados, havia trazido grandes sucessos comerciais a roda de melhores filmes. “Batman – O Cavaleiro das Trevas” foi o furacão do ano, “Wall-e” provocava polêmica e admiração ao acreditar na primeira indicação de uma animação a melhor filme desde 1992, “Slumdog Millionaire” ameaçava trazer a indústria de Bollywood para o prestígio crítico e para fechar o quarteto principal, “O Curioso Caso de Benjamin Button” não deixava mais espaço para a Academia ignorar David Fincher.

As apostas davam conta de todos os quatro concorrendo ao prêmio principal da noite, provavelmente com a zebra “Frost/Nixon” correndo por fora, até mesmo o rigorosíssimo crítico Roger Ebert apostava no filme do Homem-Morcego. E absolutamente todas as previsões tinham o nome de Christopher Nolan, diretor de “O Cavaleiro das Trevas” concorrendo na categoria. Mas então veio 22 de Janeiro, e o recém-premiado como melhor ator Forest Whitaker (“O Último Rei da Escócia) subiu ao palco ao lado do presidente da Academia para anunciar a esperada lista de indicados ao prêmio mais esperado de todo ano cinematográfico. O sorriso de Whitaker foi impecável, e é quase um sacrilégio colocar nele a culpa da a primeira vista decepcionante lista. “Onde foram parar indicações principais de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”? A ausência é Christopher Nolan é a injustiça do século no Oscar? Kate Winslet, indicada como melhor atriz pelo filme que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante? Quem diabos são Melissa Leo, Richard Jenkins e Michael Shannon? Equívocos e mais equívocos. Mais um ano que poderia ser inovador por água abaixo…” Provavelmente esses pensamentos passaram pela cabeça de todos os cinéfilos (e me coloquem nesse grupo, por favor), mas bastou uma análise mais pormenorizada, equilibrada, de certa forma fria, para ver que o desastre não foi tão grande assim. Ainda tínhamos a vitória quase certa de Heath Ledger, o primeiro ator a receber o Oscar póstumo, e afinal das contas, mesmo com os filmes trocados, Kate Winslet ainda era favorita. Meryl Streep estava lá, indicada merecidamente como sempre por seu desempenho em “Dúvida”, havia sempre a surpresa jovem de Anne Hathaway, e em uma avaliação final, pelo menos “Slumdog Millionaire” e “O Curioso Caso de Benjamin Button” confirmaram o inovador favoritismo. E quem assitiu “Rio Congelado”, “The Visitor” e “Foi Apenas Um Sonho” sabe que as três surpresas independentes mereceram as indicações. Na pesagem da balança, o Oscar 2009 não foi tão revolucionário quanto prometia, mas não é por isso que deixou de ser “o maior evento cinematográfico do ano”. Com um tempero ligeiramente diferente, é claro.

A cerimônia

2009 marca o oitavo ano em que a cerimônia do Oscar é realizada no Kodak Theatre, em Los Angeles. A tradição começou com Whoopi Goldberg, que em 2002 foi encarregada de dissipar o fantasma do 11 de Setembro da maior cerimônia do ano, que causou polêmica ao premiar “Uma Mente Brilhante” em detrimento do primeiro capítulo da trilogia “O Senhor dos Anéis”, injustiça corrigida dois anos depois com a premiação do terceiro filme, batendo concorrentes como “Mestre dos Mares” e “Encontros e Desencontros”. Mas o fato é que, não importando o premiado, o luxo e a ostentação da Academia, às vezes resvalando no brega e levando crítica ferrenhas dos cenógrafos de plantão, estavam sempre presentes. As músicas manjadas para dar o tom de vitória, o momento emocionante com o telão mostrando os nomes e fotos dos falecidos do ano, os discursos emocionados (que sempre funcionam, diga-se de passagem), as piadas irregulares e o controle rigoroso que a Academia exercia sobre seus premiados e apresentadores chegava a irritar em alguns momentos mais mal-ensaiados. A produção medíocre de gente como Tally Barr (“Celebrity Deathmatch”) e Laura Ziskin (“Stealth – Ameaça Invisível”) carecia de sofisticação, um pouco mais de senso de espetáculo para fazer do Oscar, além de um prêmio de prestígio e importância garantida, uma cerimônia agradável de se assistir. Para consertar os erros de um passado tão recente, a Academia não se furtou a contratar quem mais entende de espetáculo na terra do cinema. Não, ainda não estamos falando de Steven Spielberg. Mas a dupla Bill Condon & Laurence Mark foi a escolha perfeita para a complicada missão, visto que a especialização desses dois americanos é transformar produtos não exatamente vendáveis como “Chicago” e “Memórias de Uma Gueixa” em sucessos asbsolutos de bilheteria. Na maioria das vezes, também de crítica. Mas além da ousadia da Academia em contratar profissionais tão distintos, o que mais impressiona são as decisões que, pelo menos em teoria, soam acertadíssimas para a grande festa que o Oscar finalmente há de se tornar nessa edição de 2009.

Os acertos já começaram na inovação quanto ao apresentador dos prêmios, cargo normalmente ocupado por algum comediante ligeiramente decadente. Ao invés do culpadamente engraçado Steve Martin, da acidez inconfundível de Chris Rock ou da inteligência em excesso de Jon Stewart, o escolhido foi um ator sem muita experiência em comédia, mas que já mostrou possuir um carisma imenso em papéis exigentes, e tem tanta presença de palco que já é detentor de um Tony, o Oscar do teatro. Hugh Jackman, que já tem passagem vitoriosa pela Broadway, mas anda decepcionando no cinema com filmes como A Lista e Austrália, a princípio parecia uma escolha um tanto estranha para uma cerimônia tão solene como o Oscar. Seriedade demais em um prêmio como esse pode tornar a noite no mínimo enfadonha, mas conforme as notícias iam sendo liberadas e as primeiras fotos do ator preparado para começar sua apresentação vazavam na Internet, ficava claro que Jackman iria libertar seu lado descontraído que o tornou um dos preferidos dos jornalistas de cinema e que lhe rendeu várias menções como o astro mais carismático de Hollywood. O eterno Wolverine das telas é também o primeiro apresentador não-americano do Oscar desde que Paul “Crocodilo Dundee” Hogan assumiu parte da cerimônia em 1987. Coincidência ou não, ambos são australianos. Polêmico e brincalhão, Jackman deixou os fãs espantados ao declarar, ainda que em zombaria, que o prêmio seria todo cantado e que ele apareceria nu no espetáculo. É claro, ele desmentiu a notícia: “Não queremos ser desagradáveis nem nada. Esse é o Oscar, emoção crua”. Para além dos apresentadores, porém, é bom lembrar que outros anúncios bem interessantes foram feitos quanto a cerimônia do Oscar 2009. O primeiro diz respeito a uma suposta cortina de cristais que enfeitaria o imenso palco do Kodak Theatre durante toda a cerimônia, produzindo uma espécie de “efeito arco-íris” que promete arrebatar o olhar da platéia. Outra suposta notícia dá conta de estátuas gigantes brilhando em cima do palco e a impressionante quantidade de 70 mil flores para a decoração do teatro. A cerimônia parece que vai extrapolar as medidas de grandeza, já que o tráfego de carros em torno do Kodak está interrompido desde 16 de Fevereiro, quando os preparativos começaram.

Os indicados (e as irresistíveis previsões)

Oscar é tempo de vigiar, é tempo de criticar e é tempo de apreciar para os cinéfilos. O momento máximo do cinema, os poucos dias em que nosso assunto preferido toma as primeiras páginas dos jornais, ganha matérias enormes com focos dos mais variados. Quando sentimos o gosto de, afinal, não sermos minoria. Mas, acima de tudo isso, qualquer cinéfilo freqüentador da Internet sabe que o Oscar é tempo para previsões, palpites, análises, riscos. E como é bom se arriscar a prever a Academia! E melhor ainda é ser surpreendido, não acham? Nem por isso deixamos de ter nossos preferidos, nossas apostas. Eu, sinceramente, não sei ser frio ao torcer no Oscar ou qualquer outra premiação. Consigo reconhecer e comparar atuações, direções ou o resultado geral, mas simplesmente não posso deixar de torcer por alguma zebra e vibrar quando ela se confirma. Por mais que seja merecido, quando minha torcida vai para o outro lado a apreciação é menos animada. De qualquer forma, o fato é que o Oscar 2009 promete trazer algumas surpresas em meio a certezas quase completas que ninguém ousará discutir. A categoria principal tem um favorito, é claro, mas tem concorrentes sérios e alguns filmes que tem crescido na opinião crítica nos últimos meses, arrebanhando prêmios e cada vez mais lançando sua sombra sobre os favoritos da premiação. Um bom prêmio é aquele que não se consegue prever antes da última palavra. As apostas continuam altas, mas algo me diz que todas elas podem ser em vão. Um pensamento que, de forma nenhuma, me impede de fazer minhas próprias previsões. Afinal, todos nós merecemos um pouco de diversão, e não ter favoritos seria perder toda a graça de um prêmio como o Oscar. O prestígio aumenta o que está em jogo. Mas os movimentos não são dos mais simples.

- Melhor filme:Slumdog Millionaire/Quem Quer Ser um Milionário?”, de Danny Boyle

Impossível não apostar nessa fábula triunfante do britânico Danny Boyle depois de inúmeros prêmios. A terra do diretor finalmente se rendeu ao seu talento e “Slumdog”, como foi carinhosamente apelidade pelos admiradores, saiu do BAFTA (o Oscar inglês) com sete prêmios e outras quatro indicações. O Globo de Ouro rendeu mais dois pares de troféus para o filme, que foi eleito o melhor do ano em mais da metade dos principais prêmios críticos espalhados por EUA e Europa. Não seria pouca a revolução se “Slumdog Millionaire” de fato saísse vitorioso do prêmio da Academia. Um filme britânico não é premiado desde 2000, quando o épico “Gladiador” saiu merecidamente laureado, mas não é apenas pela história rivalidade EUA-Inglaterra que “Slumdog” é tão pouco convencional para um favorito ao Oscar. Mais que um filme britânico, o drama de Danny Boyle é um filme indiano, com personagens, atores, ambientação e alma firmemente fincadas no país de Bollywood, a maior indústria de cinema da atualidade. A “prima mais pobre” de Hollywood ultrapassou sua matriz já há muito tempo, mas nunca foi exatamente conhecida por sua qualidade, ainda que Mira Nair (“Feira das Vaidades”) esteja aí para provar o contrário. Foi preciso que a Inglaterra investisse em um filme hindu para que a notoriedade fosse garantida. Deu certo. “Slumdog” saiu com 10 indicações e pelo menos três prêmios para o qual é favorito, incluindo a disputa principal da noite. Irônico para a história de um garoto em busca de seu amor? Aparentemente, as ironias não passam despercebidas a Academia.

 

- Melhor ator: Sean Penn, por “Milk – A Voz da Igualdade”

Vamos tirar uma coisa do caminho: o legítimo ganhador do Oscar 2009 de melhor ator é Mickey Rourke. Sua performance profundamente emocional, frágil e perseverante a um tempo, detalhista e humana em “O Lutador” é sem dúvida nenhuma a interpretação masculina mais memorável do ano. Ainda assim, é impossível negar que Sean Penn é excepcional, acima da média. Perfeccionista e metódico, não há ator como ele na Hollywood de hoje ou de dez, vinte anos atrás. Suas interpretações são tão marcantes, viscerais e emocionantes que algumas delas acabam por ir além do filme que representam e tornar-se em parte da cultura pop global. Até hoje qualquer ator que ambicione interpretar um soldado desequilibrado se volta para seu explosivo desempenho no devastador “Pecados de Guerra”. Escondido por trás das câmeras nos últimos anos, é natural que seu retorno provoque comoção, mas também é impossível negar que sua escolha de projeto foi não menos que ousada. “Milk – A Voz da Igualdade” conta a história do primeiro político abertamente gay a ser eleito a um cargo público nos EUA. Mas, ao mesmo tempo, não é um filme sobre preconceito, e sim um contro fascinante sobre um político honesto, uma raridade, uma excessão que precis lutar contra tudo e contra todos para conseguir seu espaço. Talvez por isso que fique a impressão que o roteirista começa a escorregar quando parte para a fase hippie do político. Mas, de ponta a ponta, Penn é magnífico, detalhista, honesto e inigualável. Será um prazer vê-lo subir ao palco do Kodak Theatre uma vez mais, mesmo que o homem que deveria estar lá fosse outro.

- Melhor Atriz: Kate Winslet, por “O Leitor”

 Kate Winslet é a nova Meryl Streep. Pode parecer precipitação, exagero ou mesmo equívoco, mas é isso que a Academia nos diz, ano após ano, para quem quiser ouvir. Quando uma atriz tem presença constante no Oscar, é quase como se ela corresse o risco de se tornar uma constante desimportante, pouco notada e nunca premiada. Infelizmente, Meryl já entrou nessa época, ainda que sua interpretação em “Dúvida” tenha crescido muito nos últimos meses com o prêmio BAFTA e o SAG. O fato é que Kate, em quase vinte anos de carreira, já angariou impressionantes 6 indicações ao prêmio máximo do cinema, número que Streep havia alcançado em 1986, com cerca de uma década de carreira. Mas, para além das comparações, o fato é que Kate merece sua estatueta dourada há muito, muito tempo. E 2008 foi um ano glorioso em sua carreira, um ano em que protagonizou duas produções com enorme potencial crítico e em que venceu simultaneamente os Globos de Ouro de melhor atriz em drama e melhor atriz coadjuvante. Independente dos defeitos de “O Leitor” ou do fato de que a personagem da atriz é na verdade uma coadjuvante, o desempenho excepcional de Kate fala por si mesmo, traduzindo com perfeições os questionamentos do roteiro do também diretor Stephen Daldry. Com um olhar, ela expressa o desespero do analfabetismo e a vergonha da própria ignorância melhor do que mil palavras. Para além das discussões que dizem que sua dona de cada medíocre de “Foi Apenas um Sonho” era mais merecedora de uma indicação, o fato é que, mesmo com as circunstâncias lutanto contra ela, pela primeira vez Kate surge como favorita absoluta.

- Melhor Ator Coadjuvante: Heath Ledger, por “Batman – O Cavaleiro das Trevas”

Era uma vez um filme de super-herói, um beco sem saída vigiado por fãs e controlado por um estúdio possessivo em demasia. Então, como é de sua natureza, o Coringa chegou para terminar com o conto de fadas. E não o Coringa piadista que o mundo aprendeu a apreciar na pele de Jack Nicholson no “Batman” divertido, mas equivocado de Tim Burton. Quando Heath Ledger tira a máscara sorridente para revelar a maquiagem mal-aplicada e pronuncia a já célebre frase “o que não nos mata apenas nos torna… mais estranhos”, sabemos que estamos diante de algo excpcional. O Coringa de Ledger ainda é o vilão icônico que os leitores de quadrinhos conhecem, mas acima de tudo é um homem perigoso, um agente do caos e um maníaco que se acha no direito de destruir vidas para provar suas anarquistas teorias sociais. O Coringa é um vilão inteligente, uma força da natureza, e a interpretação de Ledger não é menos que so brenatural, envolvente e impressionante. Com o Coringa, ele entra num patamar que poucos atores alcançaram: seu personagem parece sair dos domínios cinematográficos para assombrar o espectador em carne e osso, assustar com seu realismo psicopata. Tudo isso devido ao talento imensurável de um ator que não ficou para ver sua interpretação repercutir. O luto pela sua morte apenas aumentou a visibilidade de uma performance que falará por si própria quando a imagem acima aparecer no palco do Kodak Theatre e os apalusos retumbantes soarem pelo teatro, o reconhecimento merecido e tardio de um ator que pode não estar mais entre nós, mas continua vivo na memória que quem viu seu último suspiro. Ou, como preferiria o Coringa, sua última gargalhada.

 

- Melhor Atriz Coadjuvante: Penélope Cruz, por “Vicky Christina Barcelona”

Polêmicas a parte, Penélope Cruz tem uma carreira indiscutivelmente brilhante. É quase ridículo pensar que apenas a beleza a levou a conquistar diretores tão singulares como Bigas Luna, que a revelou no inesquecível “Jamón, Jamón” e Pedro Almodóvar, responsável por sua escalada a fama em filmes como “Tudo Sobre Minha Mãe” e mais recentemente por seu retorno aos holofotes com o singular “Volver”, que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar. A mais nova vítima da espanhola é no mínimo improvável: Woody Allen andava para lá de confortável com sua musa Scarlett Johansson e o aplaudido “Match Point” quando a descontrolada Maria Elena, saída de sua mente genial para o mais novo tomo de sua autoria, “Vicky Christina Barcelona”, encontrou a representação perfeita nas mãos de Penélope. Visceral, carismática, maravilhosa em seu desleixo e encantadora, a espanhola rouba o filme de gente como Johansson e Javier Bardem, surgindo como um furacão para atrapalhar o romance polêmico entre duas turistas e um espanhol. Em “Vicky Christina Barcelona”, Maria Elena é a definição perfeita do caos, desajeitada e despreocupada, complexa e fascinante. A habilidade da atriz em traduzir tudo isso é capaz de queimar a língua do crítico mais ferrenho. Concorrendo com a promissora jovem Amy Adams e com as já veteranas Taraji P. Henson e Viola Davis, Penélope pode ser o equilíbrio perfeito entre inovação e merecimento e o prêmio mais delicioso da noite. Nada melhor que um pequeno colírio em uma festa tão importante quanto o Oscar.

- Melhor Diretor: Danny Boyle, por “Slumdog Millionaire/Quem Quer Ser um Milionário?”

Não são muitos os diretores que marcam uma geração, e ainda mais raros são aqueles que revitalizam gêneros perdidos. O britânico Danny Boyle fez as duas coisas a um tempo, e duas vezes. A primeira em meados dos anos 90, em que pegou o desgastado e abandonado subgênero dos “filmes sobre drogas” e o utilizou para fazer o filme que definiria de uma vez por todas a falta de objetivos da juventude da época. “Transpoitting” era brutal, culpadamente divertido e acima de tudo assustador. Reconhecidamente um dos melhores filmes da década e presente em uma parte respeitável de listas de 100 melhores da história, o filme foi praticamente ignorado pela Academia, que concedeu uma indicação de consolação como melhor roteiro adaptado, mérito mais da novela de Irvine Welsh do que do roteiro de John Hodge. O mesmo descaso acometeu o imperfeito, mas sem dúvida fundamental “Extermínio”, lançado em meados de 2002 e recebido com bilheteria muito acima do esperado tanto em terras inglesas quanto em solo americano. A crítica de dividiu, mas ninguém discutia o quanto era perfeitamente adequada a direção de Boyle, e mais tarde foi constatado que o filme revitalizou um gênero que só sobrevivia pela insistência do veterano George Romero. Dessa vez, nem consolação foi concedida. Mas o tempo é o melhor juiz de todos, e seis anos e outras duas pequenas obras-primas depois, Danny Boyle não deixou espaço para descaso ao dirigir uma fábula vibrante, emocionante e inesquecível no filme mais premiado do ano, “Slumdog Millionaire”. Talvez fosse mais inovador premiar finalmente a genialidade técnica de David Fincher, mas a Academia, apesar de tudo, sabe reconhecer o momento de pagar uma dívida de muitos anos.

Outras apostas (categorias técnicas, secundárias, mas não menos importantes):

- Melhor Roteiro Original: “Simplesmente Feliz”, por Mike Leigh

- Melhor Roteiro Adaptado: “Frost/Nixon”, por Peter Morgan.

- Melhor Fotografia: “A Troca”, por Tom Stern.

- Melhor Direção de Arte: “Foi Apenas um Sonho”, por Kristi Zea & Debra Schutt.

- Melhor Figurino: “A Duquesa”, por Michael O’Connor.

- Melhores Efeitos Especiais: “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, por John Caglione Jr & Connor O’Sullivan

- Melhor Música: “Dow to Earth”, de Peter Gabriel e Thomas Newman (“Wall-e”)

- Melhor Trilha-sonora: “Slumdog Millionaire”, por A.R. Rahman

Bom, pessoal, é isso aí… agora é esperar a noite para finalmente conferir nossas apostas e ver o restultado da inovação ou não da Academia, certo? Pelo menos tivemos um especial a altura, eu acho? Quero saber a opinião de vocês nos comentários!! Hoje nem teremos notícias porque o assunto do dia é Osar e ponto! Eu estarei ligado, independente da Globo. E vocês? Aguardo os comentários ansiosamente!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Os Doze Macacos – Contestação, emoção e Terry Gilliam

12 monkeys

12 monkeys

Os Doze Macacos (Twelve Monkeys, EUA, 1995).

De: Terry Gilliam.

Com: Bruce Willis, Madeline Stowe, Brad Pitt, Christopher Plummer.

129 minutos

 

 

 

 

O que é uma obra-prima? Quem, afinal, julga os critíerios para classificar um filme como lixo cinematográfico ou obra essencial para o entendimento da sétima arte? Às vezes a humanidade é tão complexa, complicada, repleta de trâmites e ramificações que fica difícil responder certas perguntas. Então nosso cérebro aprende a não formulá-las, deixa-las guardadas em alguma região sombria da memória mais arraigada. Contestação, afinal, nunca foi o forte de nossa espécie. Para seres tão evoluídos, não é estranho pensar que os filósofos que realmente tentam entender a vida a sua volta são exceções a uma regra? E pior, uma regra de humanos robóticos que seguem aceitando e destruindo o mundo a sua volta, dia após dia, deixando as preocupações para trás e culpando “o sistema” por tudo isso. Quem desafia o tal sistema, nada contra a maré e quebra as regras inventadas por sabe-se lá quem, é chamado de louco. Em certo ponto de “Os Doze Macacos”, a doutora Kathryn Reilly (Madeline Stowe), deixa escapar a seguinte pérola: “a psiquiatria é a mais nova religião. Nós dizemos o que é certo e o que é errado, o que é normal e o que é loucura... e todos aceitam”. Os críticos renomados são os psiquiatras, os sacerdotes do cinema. São eles que dizem se um filme vale a pena ou não ser visto, que eternizam as obras que sua visão considera como melhores e que condenam outras, as chamadas “bombas” cinematográficas. Mas a verdade é que julgar um filme, assim como julgar a loucura, é uma tarefa subjetiva, que exige respeito e ao mesmo tempo determinação, mas que acima de tudo parte de uma série de experiências de vida que o julgador tem guardadas na memória. Como Alan Moore indagou brilhantemente duas décadas atrás: “quem vigia os vigias?”. Ainda não estamos falando de “Watchmen”, mas não é tão absurdo dizer que “Os Doze Macacos” é tão contestador e revolucionário quanto a obra-prima em quadrinhos de Moore. Aqui, os artistas são outros, mas a forma de manipular uma história fictícia para retumbar na realidade continua a mesma.

O roteiro do casal David & Janet Peoples, responsável pelo faroeste revisionista “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood, criam toda uma trama paranóica futurístico-apocalíptica para dar suporte às mesmas questões levantadas no início desse texto. Para começar, o script não perde tempo com sutilezas e metáforas, deixando clara a crítica que pretende fazer e casando perfeitamente com a forma peculiar de guiar de Terry Gilliam (“Brazil – O Filme”). A trama não é fácil de resumir: James Cole (Bruce Willis) vive em um futuro pós-apocalíptico em que um vírus obrigou os sobreviventes a viverem no subsolo, enquanto a superfície voltou a ser dominada pelos animais. Numa mistura confusa de exploração e coleta de dados, ele é escolhido para voltar ao passado, na tentativa de descobrir a origem do tal vírus e, ao invés de impedi-lo de se espalhar, recolher uma amostra para que ele seja estudado pelos cientistas de sua realidade. Na primeira tentativa, ele acaba indo parar a seis anos antes do planejado, e conhece a Dra. Reilly (Madeline Stowe), uma psiquiatra que acaba simpatizando com o homem, tratado como louco e trancafiado em um manicômio ao lado de figuras grotescas como Jeffrey Goines (Brad Pitt), espécie de psicopata controlado com tendências paranóicas. Os três são conduzidos com habilidade pela trama de forma a se tornarem peças fundamentais na trama maior que se esclarece aos poucos, mas mantém o segredo até o último minuto, onde os equívocos de uma sociedade cheia de pré-julgamentos é exposto sem piedade. Mas além de se tornarem personagens notáveis pela história em que são env olvidos, eles são acima de tudo seres humanos levados pela hipotética loucura, anti-heróis cativantes que tornam o delírio de “Os Doze Macacos” em algo empolgante de se acompanhar. E é claro que os intérpretes acabam recebendo a responsabilidade de manter o interesse nas alturas, e fazem isso com competência, ainda que inconstante.

Bruce Willis se utiliza de todo o seu carisma de herói falível para contruir um Cole fascinante, que passa praticamente o filme inteiro como “um cego em tiroteio”, mas nem por isso se torna um personagem irritante. A confusão que o ator expressa é genuína, sincera, hipnotizante e digna de apreciação. Madeline Stowe, que em 1995 estava no auge da fama hoje perdida e trabalhando com diretores como Robert Altman (“Short Cuts'”) e Michael Mann (“O Último dos Moicanos”), é o elo mais fraco da corrente, mas segura alguns dos momentos mais tensos da trama com competência o bastante para não estragar o resultado. Indicado para o Oscar por sua interpretação visceral e um tanto caricata, Brad Pitt traduz bem a loucura que vai de inofensiva a perigosa em poucos segundos. É impossível negar que a inflexibilidade de seus trejeitos grotescos é admirável, assim como o caráter marcante de sua interpretação. Com gente assim envolvida, a câmera de Terry Gilliam, ex-membro do Monty Python e subseqüente diretor de obras como “O Pescador de Ilusões” e “Medo & Delírio”, indefectível em seus movimentos dinâmicos, closes claustrofóbicos e âgulos imprevisíveis só faz aumentar a natural fascinação que a obra exerce. O trabalho do diretor em climatizar seu filme é notável, se valendo de cortes bruscos e diálogos que soam inacabados (e, por isso mesmo, mais reais) para passar a sensação de confusão que seus personagens. E quando chega a hora de esclarecer tudo e filmar o emocionante clímax, ele substitui toda a estranheza por um bem-calculado detalhismo, filmando toques, olhares, e conseguindo trazer a câmera lenta de volta para os recursos eficientes. Depois de seus 129 minutos, a sensação é que assistir “Os Doze Macacos” é ver a combinação do rigor técnico e racional de Kubrick com o sentimentalismo eficiente, complexo e inesquecível de Spielberg. Tudo isso combinado com a genialidade de Terry Gilliam e uma trama que não vai sair de sua memória por um bom tempo. Mas esse é meu julgamento, uma visão que pode não ser a sua. Assista e tire suas próprias conclusões. Para o bem ou para o mal, uma coisa todos os espectadores hão de aprender: não existe verdade absoluta.

Nota: 8,5

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (20/02/2009)

Sem parar

cruise-diaz

Tom Cruise realmente quer aproveitar o sucesso de “Operação Valkíria”. O astro, que andava esquecido desde polêmicas declarações obre cientologia e da bilheteria abaixo das expectativas de “Missão: Impossível III” já tem uma trinca de projetos com forte cheiro de dólares para os próximos anos. Além do thriller terrorista “Motorcade”, do diretor Len Wiseman (“Duro de Matar 4.0”) e da comédia romântica “Lost for Words”, em que substituiu Hugh Grant (“Quatro Casamentos e Um Funeral”) como parceiro de cena da estrela asiática Zhang Ziyi (“O Clã das Adagas Voadoras”), ele pretende reeditar a parceria com Cameron Diaz (“As Panteras”), e já arranjou o projeto  perfeito para tal. “Wichita” é o exótico título da história de um agente secreto que se envolve com uma mulher perseguida por uma sina: todos os homens por quem se apaixona acabam atacados pela má sorte. Não foram revelados muitos detalhes da produção, mas se o projeto de concretizar será a primeira vez que a dupla se encontra em cena desde o fracasso do ambicioso “Vanilla Sky”. Além do filme de Cameron Crowe (“Quase Famosos”), a estrela teve uma participação não-creditada na ficção científica “Minority Report – A Nova Lei”, primeiro fruto da parceria de Cruise com Steven Spielberg.

Sob os holofotes

fama

Em 1980, Alan Parker era o diretor de musicais mais prestigiado de Hollywood. Quatro anos antes havia revolucionado o gênero com o controverso “Quando as Metralhadoras Cospem”, e ainda conquistado a indicação ao Oscar de melhor trilha-sonora pela ousadia. Depois do aplaudido drama “O Expresso da Meia-Noite”, ele  anunciou que voltaria ao gênero que o consagrara com uma produção mais, digamos assim, pop. Ninguém imaginava o impacto e a histeria que “Fama”, o resultado da decisão, causaria. De repente, músicas feitas para o cinema não paravam de tocas nas rádios, atuações de gente desconhecida causava furor e fanatismo, e a Academia se rendia a todo o pop de Alan Parker com nada menos que seis indicações, dois prêmios. Vinte e nove anos depois, fãs (sempre eles) ficaram horrorizados com as notícias de uma refilmagem, comandada por um ilustre desconhecido (Kevin Tancharoen, diretor de alguns shows de Britney Spears e Pussycat Dolls), escrita pela roteirista de “Vestida Para Casar” e tendo “o Fera” de “X-Men – O Confronto Final”, Kesley Grammer, como o nome mais conhecido do casting. O filme, que promete ocupar o lugar de musical do ano, tem data de estréia marcada para setembro em terras americanas.

Ripley – Dez anos depois

ripley

1979, 1986, 1992, 1997. A franquia “Alien”, excluindo é claro os horrorosos filmes que tratam da reunião do monstrengo com o “Predador”, nunca foi conhecida pela sua constância. Mas, assim como “O Exterminador do Futuro”, o tempo passa e aqueles personagens continuam no inconsciente coletivo popular, uma mina de ouro p ara um produtor esperto em busca de mais dinheiro para a conta bancária. Doze anos depois do quarto filme render abaixo do esperado e ser criticado no meio acadêmico, a sumida Sigourney Weaver, intérprete da Tenente Ripley em toda a quadrilogia, se declarou interessada em reprisar o papel. Vista pela última vez nos cinemas brasileiros como coadjuvante de luxo em filmes como “Ponto de Vista” e “Uma Mãe para Meu Bebê”, Weaver disse que ainda sente algo para resolver com a personagem que lhe rendeu a fama trinta anos atrás. Nas palavras da própria: “mesmo daqui a vinte anos, se alguém chegar para mim e disser ‘essa é a história e é uma muito interessante’, faria o filme. Não fico pensando a todo momento em fazer um novo Alien, mas eu sinto que a história está um pouco inacabada”. Ainda segundo a atriz, há alguns anos ela recebeu um roteiro, de autoria de Joss Whedon (“Buffy”), mas que a história, passada na Terra, não despertou seu interesse.

Se não bastasse a financeira...

O cinema também pode entrar em uma grave crise nos próximos anos (ou mesmo meses) caso a ameaça de greve se aproximando no horizonte de fato seja concretizada, como sugerem as notícias. Desde que a paralisação dos roteiristas cedeu espaço para o Oscar 2008 que se fala em um novo motim dentro de Hollywood, e dessa vez o prejuízo seria potencialmente maior. Enquanto a parada dos escritores significou prejuízo para projetos futuros, a organizada pelo SAG, sindicato dos atores da terra do cinema, pode causar uma estagnação repentina e irreversível até que as negociações sejam concluídas. A primeira tentativa de chegar a um acordo aconteceu nos últimos cinco dias, numa longa reunião entre os presidentes do sindicato e os representantes da Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP). Mas parece que a conversação não foi muito produtiva, porque os representantes de ambos os lados saíram sem um acerto entre as duas instituições. Os atores reclamam por uma participação maior na venda de DVDs e filmes pela Internet, e embora cerca de 75% dos atores tenham votado pela greve, ilustres membros como George Clooney (“Conduta de Risco”), Susan Sarandon (“Speed Racer”) e Sally Field (“Forrest Gump – O Contador de Histórias” ) já pediram a direção que assine um compromisso com a AMPTP.

Bom, pessoal, e por hoje é isso mesmo… amanhã já tenho uma crítica prontinha para entregar, e o Oscar está chegando aí, hein? Agora é esperar para ver se a Academia vai nos surpreender esse ano… quem sabe 2009 não é a virada do Oscar. Bom, mas agora me resta agradecer aos comentários, e como sempre desejar os melhores filmes para todos vocês. Valeu e até amanhã!