“O maior evento cinematográfico do ano”. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não faz questão de esconder a pompa e a circunstância de seu prestigiado prêmio, colocando uma estatueta no centro dos holofotes, um título ofuscante com suas luzes douradas e uma frase nem um pouco modesta no topo do cartaz que anuncia a edição 2009 do Oscar. Pretensões a parte, é mais do que óbvio que a frase não poderia ser mais verdadeira. Desde que começou com uma modesta coletiva de imprensa para premiar o épico “Asas” em 1929, quando o prêmio nem mesmo tinha o apelido pelo qual é hoje mais conhecido, o Oscar evoluiu aos poucos para a representação maior da cinefilia (se é que essa palavra existe), o evento que reúne a esmagadora maioria dos apreciadores do cienma e não faz questão de enconder sua grandiosidade. Luxo, afinal, foi o que nunca faltou no dicionário da Academia, mas prêmios previsíveis, injustiças histórias e críticas fulminantes foi o que mais se ouviu sobre a cerimônia que nos últimos oito anos tomou lugar no Kodak Theatre, em Los Angeles. O Oscar se tornou, em sua pretensão artística, um prêmio inacessível, inalcançável, às vezes instransponível de tão pomposo e previsível. A audiência das transmissões pela televisão caía a cada ano, e a insistência em nem mesmo indicar grandes sucessos de bilheteria apenas aumentava essa espécie de ódio ambíguo que aos poucos crescia na comunidade cinéfila contra o prêmio da Academia. Demorou, mas nem mesmo o presidente Sid Ganis foi capaz de negar que a premiação precisava de novos ares com urgência. Muita gente apostava em 2009 como o ano da virada total do Oscar. Afinal, o ano anterior, morada dos filmes a serem premiados, havia trazido grandes sucessos comerciais a roda de melhores filmes. “Batman – O Cavaleiro das Trevas” foi o furacão do ano, “Wall-e” provocava polêmica e admiração ao acreditar na primeira indicação de uma animação a melhor filme desde 1992, “Slumdog Millionaire” ameaçava trazer a indústria de Bollywood para o prestígio crítico e para fechar o quarteto principal, “O Curioso Caso de Benjamin Button” não deixava mais espaço para a Academia ignorar David Fincher.
As apostas davam conta de todos os quatro concorrendo ao prêmio principal da noite, provavelmente com a zebra “Frost/Nixon” correndo por fora, até mesmo o rigorosíssimo crítico Roger Ebert apostava no filme do Homem-Morcego. E absolutamente todas as previsões tinham o nome de Christopher Nolan, diretor de “O Cavaleiro das Trevas” concorrendo na categoria. Mas então veio 22 de Janeiro, e o recém-premiado como melhor ator Forest Whitaker (“O Último Rei da Escócia) subiu ao palco ao lado do presidente da Academia para anunciar a esperada lista de indicados ao prêmio mais esperado de todo ano cinematográfico. O sorriso de Whitaker foi impecável, e é quase um sacrilégio colocar nele a culpa da a primeira vista decepcionante lista. “Onde foram parar indicações principais de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”? A ausência é Christopher Nolan é a injustiça do século no Oscar? Kate Winslet, indicada como melhor atriz pelo filme que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante? Quem diabos são Melissa Leo, Richard Jenkins e Michael Shannon? Equívocos e mais equívocos. Mais um ano que poderia ser inovador por água abaixo…” Provavelmente esses pensamentos passaram pela cabeça de todos os cinéfilos (e me coloquem nesse grupo, por favor), mas bastou uma análise mais pormenorizada, equilibrada, de certa forma fria, para ver que o desastre não foi tão grande assim. Ainda tínhamos a vitória quase certa de Heath Ledger, o primeiro ator a receber o Oscar póstumo, e afinal das contas, mesmo com os filmes trocados, Kate Winslet ainda era favorita. Meryl Streep estava lá, indicada merecidamente como sempre por seu desempenho em “Dúvida”, havia sempre a surpresa jovem de Anne Hathaway, e em uma avaliação final, pelo menos “Slumdog Millionaire” e “O Curioso Caso de Benjamin Button” confirmaram o inovador favoritismo. E quem assitiu “Rio Congelado”, “The Visitor” e “Foi Apenas Um Sonho” sabe que as três surpresas independentes mereceram as indicações. Na pesagem da balança, o Oscar 2009 não foi tão revolucionário quanto prometia, mas não é por isso que deixou de ser “o maior evento cinematográfico do ano”. Com um tempero ligeiramente diferente, é claro.
A cerimônia
2009 marca o oitavo ano em que a cerimônia do Oscar é realizada no Kodak Theatre, em Los Angeles. A tradição começou com Whoopi Goldberg, que em 2002 foi encarregada de dissipar o fantasma do 11 de Setembro da maior cerimônia do ano, que causou polêmica ao premiar “Uma Mente Brilhante” em detrimento do primeiro capítulo da trilogia “O Senhor dos Anéis”, injustiça corrigida dois anos depois com a premiação do terceiro filme, batendo concorrentes como “Mestre dos Mares” e “Encontros e Desencontros”. Mas o fato é que, não importando o premiado, o luxo e a ostentação da Academia, às vezes resvalando no brega e levando crítica ferrenhas dos cenógrafos de plantão, estavam sempre presentes. As músicas manjadas para dar o tom de vitória, o momento emocionante com o telão mostrando os nomes e fotos dos falecidos do ano, os discursos emocionados (que sempre funcionam, diga-se de passagem), as piadas irregulares e o controle rigoroso que a Academia exercia sobre seus premiados e apresentadores chegava a irritar em alguns momentos mais mal-ensaiados. A produção medíocre de gente como Tally Barr (“Celebrity Deathmatch”) e Laura Ziskin (“Stealth – Ameaça Invisível”) carecia de sofisticação, um pouco mais de senso de espetáculo para fazer do Oscar, além de um prêmio de prestígio e importância garantida, uma cerimônia agradável de se assistir. Para consertar os erros de um passado tão recente, a Academia não se furtou a contratar quem mais entende de espetáculo na terra do cinema. Não, ainda não estamos falando de Steven Spielberg. Mas a dupla Bill Condon & Laurence Mark foi a escolha perfeita para a complicada missão, visto que a especialização desses dois americanos é transformar produtos não exatamente vendáveis como “Chicago” e “Memórias de Uma Gueixa” em sucessos asbsolutos de bilheteria. Na maioria das vezes, também de crítica. Mas além da ousadia da Academia em contratar profissionais tão distintos, o que mais impressiona são as decisões que, pelo menos em teoria, soam acertadíssimas para a grande festa que o Oscar finalmente há de se tornar nessa edição de 2009.
Os acertos já começaram na inovação quanto ao apresentador dos prêmios, cargo normalmente ocupado por algum comediante ligeiramente decadente. Ao invés do culpadamente engraçado Steve Martin, da acidez inconfundível de Chris Rock ou da inteligência em excesso de Jon Stewart, o escolhido foi um ator sem muita experiência em comédia, mas que já mostrou possuir um carisma imenso em papéis exigentes, e tem tanta presença de palco que já é detentor de um Tony, o Oscar do teatro. Hugh Jackman, que já tem passagem vitoriosa pela Broadway, mas anda decepcionando no cinema com filmes como A Lista e Austrália, a princípio parecia uma escolha um tanto estranha para uma cerimônia tão solene como o Oscar. Seriedade demais em um prêmio como esse pode tornar a noite no mínimo enfadonha, mas conforme as notícias iam sendo liberadas e as primeiras fotos do ator preparado para começar sua apresentação vazavam na Internet, ficava claro que Jackman iria libertar seu lado descontraído que o tornou um dos preferidos dos jornalistas de cinema e que lhe rendeu várias menções como o astro mais carismático de Hollywood. O eterno Wolverine das telas é também o primeiro apresentador não-americano do Oscar desde que Paul “Crocodilo Dundee” Hogan assumiu parte da cerimônia em 1987. Coincidência ou não, ambos são australianos. Polêmico e brincalhão, Jackman deixou os fãs espantados ao declarar, ainda que em zombaria, que o prêmio seria todo cantado e que ele apareceria nu no espetáculo. É claro, ele desmentiu a notícia: “Não queremos ser desagradáveis nem nada. Esse é o Oscar, emoção crua”. Para além dos apresentadores, porém, é bom lembrar que outros anúncios bem interessantes foram feitos quanto a cerimônia do Oscar 2009. O primeiro diz respeito a uma suposta cortina de cristais que enfeitaria o imenso palco do Kodak Theatre durante toda a cerimônia, produzindo uma espécie de “efeito arco-íris” que promete arrebatar o olhar da platéia. Outra suposta notícia dá conta de estátuas gigantes brilhando em cima do palco e a impressionante quantidade de 70 mil flores para a decoração do teatro. A cerimônia parece que vai extrapolar as medidas de grandeza, já que o tráfego de carros em torno do Kodak está interrompido desde 16 de Fevereiro, quando os preparativos começaram.
Os indicados (e as irresistíveis previsões)
Oscar é tempo de vigiar, é tempo de criticar e é tempo de apreciar para os cinéfilos. O momento máximo do cinema, os poucos dias em que nosso assunto preferido toma as primeiras páginas dos jornais, ganha matérias enormes com focos dos mais variados. Quando sentimos o gosto de, afinal, não sermos minoria. Mas, acima de tudo isso, qualquer cinéfilo freqüentador da Internet sabe que o Oscar é tempo para previsões, palpites, análises, riscos. E como é bom se arriscar a prever a Academia! E melhor ainda é ser surpreendido, não acham? Nem por isso deixamos de ter nossos preferidos, nossas apostas. Eu, sinceramente, não sei ser frio ao torcer no Oscar ou qualquer outra premiação. Consigo reconhecer e comparar atuações, direções ou o resultado geral, mas simplesmente não posso deixar de torcer por alguma zebra e vibrar quando ela se confirma. Por mais que seja merecido, quando minha torcida vai para o outro lado a apreciação é menos animada. De qualquer forma, o fato é que o Oscar 2009 promete trazer algumas surpresas em meio a certezas quase completas que ninguém ousará discutir. A categoria principal tem um favorito, é claro, mas tem concorrentes sérios e alguns filmes que tem crescido na opinião crítica nos últimos meses, arrebanhando prêmios e cada vez mais lançando sua sombra sobre os favoritos da premiação. Um bom prêmio é aquele que não se consegue prever antes da última palavra. As apostas continuam altas, mas algo me diz que todas elas podem ser em vão. Um pensamento que, de forma nenhuma, me impede de fazer minhas próprias previsões. Afinal, todos nós merecemos um pouco de diversão, e não ter favoritos seria perder toda a graça de um prêmio como o Oscar. O prestígio aumenta o que está em jogo. Mas os movimentos não são dos mais simples.
- Melhor filme: “Slumdog Millionaire/Quem Quer Ser um Milionário?”, de Danny Boyle
Impossível não apostar nessa fábula triunfante do britânico Danny Boyle depois de inúmeros prêmios. A terra do diretor finalmente se rendeu ao seu talento e “Slumdog”, como foi carinhosamente apelidade pelos admiradores, saiu do BAFTA (o Oscar inglês) com sete prêmios e outras quatro indicações. O Globo de Ouro rendeu mais dois pares de troféus para o filme, que foi eleito o melhor do ano em mais da metade dos principais prêmios críticos espalhados por EUA e Europa. Não seria pouca a revolução se “Slumdog Millionaire” de fato saísse vitorioso do prêmio da Academia. Um filme britânico não é premiado desde 2000, quando o épico “Gladiador” saiu merecidamente laureado, mas não é apenas pela história rivalidade EUA-Inglaterra que “Slumdog” é tão pouco convencional para um favorito ao Oscar. Mais que um filme britânico, o drama de Danny Boyle é um filme indiano, com personagens, atores, ambientação e alma firmemente fincadas no país de Bollywood, a maior indústria de cinema da atualidade. A “prima mais pobre” de Hollywood ultrapassou sua matriz já há muito tempo, mas nunca foi exatamente conhecida por sua qualidade, ainda que Mira Nair (“Feira das Vaidades”) esteja aí para provar o contrário. Foi preciso que a Inglaterra investisse em um filme hindu para que a notoriedade fosse garantida. Deu certo. “Slumdog” saiu com 10 indicações e pelo menos três prêmios para o qual é favorito, incluindo a disputa principal da noite. Irônico para a história de um garoto em busca de seu amor? Aparentemente, as ironias não passam despercebidas a Academia.
- Melhor ator: Sean Penn, por “Milk – A Voz da Igualdade”
Vamos tirar uma coisa do caminho: o legítimo ganhador do Oscar 2009 de melhor ator é Mickey Rourke. Sua performance profundamente emocional, frágil e perseverante a um tempo, detalhista e humana em “O Lutador” é sem dúvida nenhuma a interpretação masculina mais memorável do ano. Ainda assim, é impossível negar que Sean Penn é excepcional, acima da média. Perfeccionista e metódico, não há ator como ele na Hollywood de hoje ou de dez, vinte anos atrás. Suas interpretações são tão marcantes, viscerais e emocionantes que algumas delas acabam por ir além do filme que representam e tornar-se em parte da cultura pop global. Até hoje qualquer ator que ambicione interpretar um soldado desequilibrado se volta para seu explosivo desempenho no devastador “Pecados de Guerra”. Escondido por trás das câmeras nos últimos anos, é natural que seu retorno provoque comoção, mas também é impossível negar que sua escolha de projeto foi não menos que ousada. “Milk – A Voz da Igualdade” conta a história do primeiro político abertamente gay a ser eleito a um cargo público nos EUA. Mas, ao mesmo tempo, não é um filme sobre preconceito, e sim um contro fascinante sobre um político honesto, uma raridade, uma excessão que precis lutar contra tudo e contra todos para conseguir seu espaço. Talvez por isso que fique a impressão que o roteirista começa a escorregar quando parte para a fase hippie do político. Mas, de ponta a ponta, Penn é magnífico, detalhista, honesto e inigualável. Será um prazer vê-lo subir ao palco do Kodak Theatre uma vez mais, mesmo que o homem que deveria estar lá fosse outro.
- Melhor Atriz: Kate Winslet, por “O Leitor”
Kate Winslet é a nova Meryl Streep. Pode parecer precipitação, exagero ou mesmo equívoco, mas é isso que a Academia nos diz, ano após ano, para quem quiser ouvir. Quando uma atriz tem presença constante no Oscar, é quase como se ela corresse o risco de se tornar uma constante desimportante, pouco notada e nunca premiada. Infelizmente, Meryl já entrou nessa época, ainda que sua interpretação em “Dúvida” tenha crescido muito nos últimos meses com o prêmio BAFTA e o SAG. O fato é que Kate, em quase vinte anos de carreira, já angariou impressionantes 6 indicações ao prêmio máximo do cinema, número que Streep havia alcançado em 1986, com cerca de uma década de carreira. Mas, para além das comparações, o fato é que Kate merece sua estatueta dourada há muito, muito tempo. E 2008 foi um ano glorioso em sua carreira, um ano em que protagonizou duas produções com enorme potencial crítico e em que venceu simultaneamente os Globos de Ouro de melhor atriz em drama e melhor atriz coadjuvante. Independente dos defeitos de “O Leitor” ou do fato de que a personagem da atriz é na verdade uma coadjuvante, o desempenho excepcional de Kate fala por si mesmo, traduzindo com perfeições os questionamentos do roteiro do também diretor Stephen Daldry. Com um olhar, ela expressa o desespero do analfabetismo e a vergonha da própria ignorância melhor do que mil palavras. Para além das discussões que dizem que sua dona de cada medíocre de “Foi Apenas um Sonho” era mais merecedora de uma indicação, o fato é que, mesmo com as circunstâncias lutanto contra ela, pela primeira vez Kate surge como favorita absoluta.
- Melhor Ator Coadjuvante: Heath Ledger, por “Batman – O Cavaleiro das Trevas”
Era uma vez um filme de super-herói, um beco sem saída vigiado por fãs e controlado por um estúdio possessivo em demasia. Então, como é de sua natureza, o Coringa chegou para terminar com o conto de fadas. E não o Coringa piadista que o mundo aprendeu a apreciar na pele de Jack Nicholson no “Batman” divertido, mas equivocado de Tim Burton. Quando Heath Ledger tira a máscara sorridente para revelar a maquiagem mal-aplicada e pronuncia a já célebre frase “o que não nos mata apenas nos torna… mais estranhos”, sabemos que estamos diante de algo excpcional. O Coringa de Ledger ainda é o vilão icônico que os leitores de quadrinhos conhecem, mas acima de tudo é um homem perigoso, um agente do caos e um maníaco que se acha no direito de destruir vidas para provar suas anarquistas teorias sociais. O Coringa é um vilão inteligente, uma força da natureza, e a interpretação de Ledger não é menos que so brenatural, envolvente e impressionante. Com o Coringa, ele entra num patamar que poucos atores alcançaram: seu personagem parece sair dos domínios cinematográficos para assombrar o espectador em carne e osso, assustar com seu realismo psicopata. Tudo isso devido ao talento imensurável de um ator que não ficou para ver sua interpretação repercutir. O luto pela sua morte apenas aumentou a visibilidade de uma performance que falará por si própria quando a imagem acima aparecer no palco do Kodak Theatre e os apalusos retumbantes soarem pelo teatro, o reconhecimento merecido e tardio de um ator que pode não estar mais entre nós, mas continua vivo na memória que quem viu seu último suspiro. Ou, como preferiria o Coringa, sua última gargalhada.
- Melhor Atriz Coadjuvante: Penélope Cruz, por “Vicky Christina Barcelona”
Polêmicas a parte, Penélope Cruz tem uma carreira indiscutivelmente brilhante. É quase ridículo pensar que apenas a beleza a levou a conquistar diretores tão singulares como Bigas Luna, que a revelou no inesquecível “Jamón, Jamón” e Pedro Almodóvar, responsável por sua escalada a fama em filmes como “Tudo Sobre Minha Mãe” e mais recentemente por seu retorno aos holofotes com o singular “Volver”, que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar. A mais nova vítima da espanhola é no mínimo improvável: Woody Allen andava para lá de confortável com sua musa Scarlett Johansson e o aplaudido “Match Point” quando a descontrolada Maria Elena, saída de sua mente genial para o mais novo tomo de sua autoria, “Vicky Christina Barcelona”, encontrou a representação perfeita nas mãos de Penélope. Visceral, carismática, maravilhosa em seu desleixo e encantadora, a espanhola rouba o filme de gente como Johansson e Javier Bardem, surgindo como um furacão para atrapalhar o romance polêmico entre duas turistas e um espanhol. Em “Vicky Christina Barcelona”, Maria Elena é a definição perfeita do caos, desajeitada e despreocupada, complexa e fascinante. A habilidade da atriz em traduzir tudo isso é capaz de queimar a língua do crítico mais ferrenho. Concorrendo com a promissora jovem Amy Adams e com as já veteranas Taraji P. Henson e Viola Davis, Penélope pode ser o equilíbrio perfeito entre inovação e merecimento e o prêmio mais delicioso da noite. Nada melhor que um pequeno colírio em uma festa tão importante quanto o Oscar.
- Melhor Diretor: Danny Boyle, por “Slumdog Millionaire/Quem Quer Ser um Milionário?”
Não são muitos os diretores que marcam uma geração, e ainda mais raros são aqueles que revitalizam gêneros perdidos. O britânico Danny Boyle fez as duas coisas a um tempo, e duas vezes. A primeira em meados dos anos 90, em que pegou o desgastado e abandonado subgênero dos “filmes sobre drogas” e o utilizou para fazer o filme que definiria de uma vez por todas a falta de objetivos da juventude da época. “Transpoitting” era brutal, culpadamente divertido e acima de tudo assustador. Reconhecidamente um dos melhores filmes da década e presente em uma parte respeitável de listas de 100 melhores da história, o filme foi praticamente ignorado pela Academia, que concedeu uma indicação de consolação como melhor roteiro adaptado, mérito mais da novela de Irvine Welsh do que do roteiro de John Hodge. O mesmo descaso acometeu o imperfeito, mas sem dúvida fundamental “Extermínio”, lançado em meados de 2002 e recebido com bilheteria muito acima do esperado tanto em terras inglesas quanto em solo americano. A crítica de dividiu, mas ninguém discutia o quanto era perfeitamente adequada a direção de Boyle, e mais tarde foi constatado que o filme revitalizou um gênero que só sobrevivia pela insistência do veterano George Romero. Dessa vez, nem consolação foi concedida. Mas o tempo é o melhor juiz de todos, e seis anos e outras duas pequenas obras-primas depois, Danny Boyle não deixou espaço para descaso ao dirigir uma fábula vibrante, emocionante e inesquecível no filme mais premiado do ano, “Slumdog Millionaire”. Talvez fosse mais inovador premiar finalmente a genialidade técnica de David Fincher, mas a Academia, apesar de tudo, sabe reconhecer o momento de pagar uma dívida de muitos anos.
Outras apostas (categorias técnicas, secundárias, mas não menos importantes):
- Melhor Roteiro Original: “Simplesmente Feliz”, por Mike Leigh
- Melhor Roteiro Adaptado: “Frost/Nixon”, por Peter Morgan.
- Melhor Fotografia: “A Troca”, por Tom Stern.
- Melhor Direção de Arte: “Foi Apenas um Sonho”, por Kristi Zea & Debra Schutt.
- Melhor Figurino: “A Duquesa”, por Michael O’Connor.
- Melhores Efeitos Especiais: “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, por John Caglione Jr & Connor O’Sullivan
- Melhor Música: “Dow to Earth”, de Peter Gabriel e Thomas Newman (“Wall-e”)
- Melhor Trilha-sonora: “Slumdog Millionaire”, por A.R. Rahman
Bom, pessoal, é isso aí… agora é esperar a noite para finalmente conferir nossas apostas e ver o restultado da inovação ou não da Academia, certo? Pelo menos tivemos um especial a altura, eu acho? Quero saber a opinião de vocês nos comentários!! Hoje nem teremos notícias porque o assunto do dia é Osar e ponto! Eu estarei ligado, independente da Globo. E vocês? Aguardo os comentários ansiosamente!