quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Novo Boletim Cinéfilo – Edição Nº02 – Parte II

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Novo Boletim Cinéfilo – Edição Nº02 – Filme-pipoca – 20/08/2009

Parte II – Trailers: Testemunhas românticas, assassinatos em família,  o novo dos vampiros e o retorno dos lobisomens.

Did You Hear About the Morgans? (2009)

Direção: Marc Lawrence.

Roteiro: Marc Lawrence.

Elenco: Hugh Grant, Sarah Jessica Parker, Sam Elliott, Elisabeth Moss, Mary Steenburgen, Michael Kelly.

Sinopse: Um casal rico com problemas de relacionanto testemunha um homícidio em Nova York e é relocado para uma cidade pequena pelo progrema de proteção de testemunhas.

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Hugh Grant não faz um filme de verdade desde Nothing Hill. O drama romântico que protagonizou ao lado da mega-estrela Julia Roberts em 1999 pode não ter sido a maior obra-prima de todos os tempos, mas é impossível negar que tinha seus méritos e que o casal soltava faíscas em tela. Desde então, ele tem gastado seu nome de britânico veterano com comédias românticas que podem até divertir durante breves duas horas, mas não ficam na memória por mais de dez minutos depois do fim da sessão. De exceção só as partes satíricas do bonitinho Letra & Música, primeira parceria do astro com o diretor Marc Lawrence, que volta a escalar o inglês e pode dar alguma ponta de esperança para o novo Did You Hear About the Morgans?. O trailer, ao menos, promete algumas situações cômicas eficientes e mostra o humor ácido de Grant funcionando em sua forma mais pura. Não que Sarah Jessica Parker prometa fazer um par mais do que esquecível, diga-se de passagem, mas ela tem o momento mais hilário do vídeo, perto do final, enquanto gente como Sam Elliott e Mary Steenburgen fazem pura figuração.

Data de Estréia: 05/02/2010 (Brasil)

H2: Halloween 2 (2009)

Direção: Rob Zombie.

Roteiro: Rob Zombie.

Elenco: Tyler Mane, Scout Taylor-Compton, Malcolm McDowell, Sheri Moon Zombie, Brad Douriff, Margot Kidder.

Sinopse: Depois de fugir do hospício e atacar a cidade natal para achar sua irmã perdida, Michael Myers planeja outra violenta união de família sem deixar tempo para a irmã se recuperar.

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Rob Zombie não é um cineasta por excelência, mas por instinto. Vindo de uma banda de heavy metal e previsivelmente tornado em rei dos fãs do terror gore no terreno cinematográfico, o americano aos poucos foi se mostrando um cara que sabia lidar com visuais, assustar e ainda assim não perder um certo tom de brincadeira entre amigos que fazia de seus filmes obras não primas, mas únicas. Com o reboot da série slasher mais famosa do planeta, Halloween, foi diferente. Autor de um texto surpreendente de terror psicológico que explorava com impacto a velha fórmula do gênero e ainda tornava Myers em um psicopata do tipo que provoca repulsa, terror e pena ao mesmo tempo. Não a toa, o cineasta foi chamado para tocar o barco adiante com liberdade criativa total, tornando a seqüência do remake (ou remake da seqüência?) em outra obra que desse ao espectador um pouco mais do que a cota de sangue esguichado do mês. Ou pelo menos é isso que mostra o trailer que equilibra contextualização para quem não viu o primeiro, terror puro e simples para o público médio e aprofundamente icônico e genial nas motivações do assassino. Bem verdade, Tyler Mane, o psicopata, é ofuscado por uma visceral Scout Taylor-Compton, que atua no limite da razão como a irmã perseguida do protagonista. Malcolm McDowell em cena ainda é um deleite extra.

Data de Estréia: 15/01/2010 (Brasil)

Lua Nova (2009)

Direção: Chris Weitz.

Roteiro: Melissa Rosenberg.

Elenco: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Nikki Reed, Ashley Greene, Billy Burke, Michael Sheen, Dakota Fanning.

Sinopse: Um incidente em uma festa de aniversário leva a separação do casal Bella e Edward, ao mesmo tempo que faz a protagonista se aproximar de Jacob Black, um lobisomem, tribo inimiga ancestral dos vampiros.

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Pode não parecer para quem conheceu a história romântica da série Crepúsculo por sua recente e eficiente investida cinematográfica, mas os fãs que conhecem a série literária de até agora cinco tomos devem me entender bem quando digo que são uma tribo dividida. Conhecidos nos sites de fãs espalhados por aí como “teams”, são uma espécie de divisão baseada no lado do triângulo amoroso principal que o leitor se compromete a apoiar. Sim, porque Taylor Lautner e seu Jacob Black podem ter sido meros figurantes na versão para o cinema da trama, mas nas linhas de Stephenie Meyer a participação do personagem é bem mais relevante, tanto que ocupa uma boa parte da narrativa de Lua Nova, a primeira seqüência da série e ser lançada nas livrarias. Sem escolhas, portanto, para a roteirista Melissa Rosenberg, que volta da boa experiência em Crepúsculo para o roteiro do segundo filme e deu um espaço maior e merecido para Taylor e seu personagem. Não que o garoto seja um grande ator, mas impossível negar que o clima mais relaxado de seu romance com uma Kristen Stewart que soa bem mais segura de sua interpretação no trailer serão um respiro de toda a pressão imposta pela complicada e surpreendente atuação de Robert Pattinson, que toma seu lugar de pano de fundo dessa vez. Quanto ao resto, a direção mais grandiloqüente de Chris Weitz fez bem a série, e só a rápida transformação de Jacob em lobo tem efeitos melhores que o filme anterior de ponta a ponta.

Data de Estréia: 20/11/2009 (Brasil)

O Lobisomem (2009)

Direção: Joe Johnston.

Roteiro: Andrew Kevin Walker, David Self.

Elenco: Benício Del Toro, Emily Blunt, Anthony Hopkins, Hugo Weaving.

Sinopse: Quando volta para sua terra natal ao saber do assassinato do irmão, um homem é mordido e amaldiçoado pelo mesmo lobisomem que cometeu o crime.

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Críticos entendidos e jornalistas tradicionalistas não consegue tirar a cabeça do século passado. Hollywood mudou bastante da passagem do século para cá, especialmente em relação a forma de pensar mais em lucro imediato do que em projetos a longo prazo. O Lobisomem, novo remake do clássico do terror produzido pela Universal há seis décadas, pode até ter começado seu burburinho como uma espécie de extensão a moda de ressucitar ícones da literatura em filmes dignos das obras originais, espelhados no Drácula de Bram Stoker. Mas isso já faz cinco anos, e alguém seriamente acredita que o sucesso de Crepúsculo e seu universo povoado por vampiros (e lobisomens) não tem nada a ver com o fato da Universal ter acelerado a carruagem do projeto? De uma forma ou de outra, o trailer longo lançado precocemente mostra que o novo filme dá ênfase ao conflito familiar da trama clássica, ainda dá apertitivos do que parecem ser grandes atuações de Anthony Hopkins e Emily Blunt, enquanto o protagonista Del Toro pouco faz de impressionante em meio a efeitos especiais bem montados no clima de suspense nostalgista que faz a moda dos tempos de crise criativa que acaba trazendo de volta idéias do passado. O diretor Joe Johnston faz seu trabalho de sempre com a câmera, sem parecer particularmente inspirado, enquanto o roteiro escrito pelo autor de Seven ao lado do de Estrada Para a Perdição brilha em momentos isolados que prometem um filme igualmente fascinante e banal. É esperar para ver.

Data de Estréia: 12/02/2010 (Brasil)

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… um dia de atraso para esse post, então as imagens devem sair só sábado mesmo. Faço questão de agradecer a todos os comentários que aprovavram ou não o novo formato, mas tomei gosto por essa divisão, vamos ver como ela funciona a longo prazo. Enfim, os melhores filmes para todos vocês e até mais!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Novo Boletim Cinéfilo – Edição Nº02 – Parte I

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Novo Boletim Cinéfilo – Edição Nº02 – Filme-pipoca – 17/08/2009

Parte I – Rumores: O futuro de Singer, remakes update, Anne Rice de volta as telas e as risadas do futuro.

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Bryan Singer é um paradoxo. Surgido para o mundo em meados dos anos 1990 como o novo gênio da narrativa e aternizando Os Suspeitos entre os melhores filmes de todos os tempos, ele partiu para adaptar uma das novelas dramáticas de Stephen King e saiu com o discutível O Aprendiz. Dois anos mais tarde, entrou no jogo de Hollywood e fez dos mutantes de X-Men algo inteligente e instigante mesmo para quem não gosta do esquema de ação desenfreada dos blockbusters. Repetiu a dose em uma continuação ainda melhor e em seguida dividiu opiniões de novo com a ousadia de um Superman – O Retorno anacrônico que não funcionou para o novo século. Por fim, voltou aos nazistas que povoaram O Aprendiz e dessa vez fez sua lição de casa com o tenso Operação Valquíria. Saindo direto do clima da década de 1940, agora ele aceitou o convite para viajar ao futuro e subverter mais um mundo estabelecido na adaptação da série de TV Battlestar Gallactica para as telas. O seriado, que chegou a pouco a seu fim após quatro no ar em solo americano, por sua vez já é remake de um modesto sucesso dos anos 1970, todo remodelado em um contexto de paranóia e política que, de acordo com os fãs da série setentista, passa longe do clima original. O roteiro, ao menos, está garantido para o veterano Glen Larson, criador e supervisor das duas versões da série e de mais outros clássicos da TV americana, como Magnum e Knight Rider. De resto, o rumor mais recente aponta o cantor-ator Justin Timberlake como um integrante do elenco, já que não foi confirmado se os atores da série estão no filme. Enquanto as coisas parecem boas para o novo projeto do diretor, porém, a já lendária continuação do filme do Homem de Aço parece perto de ser colocada na gaveta pela Warner, que está enfrentando um processo de direitos autorais da família do desenhista de quadrinhos Jerry Siegel, criador do personagem.

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Já que uma semana não é normal em Hollywood sem que o anúncio de algum remake ou reboot seja feito, não custa nada criar um lugar de gala para essa recorrência. O Remakes Update dessa semana tem três notícias bombásticas sobre futuras grandes estréias que devem suas premisssas a idéias de décadas atrás. A começar por Straw Dogs, remake bolado pela Sony Pictures para um lançamento no começo do próximo ano. O original é um dos clássicos do cinema instintivo e cheio de punch que marcou os anos 1970. Intitulado como Sob o Domínio do Medo em solo brasileiro, o filme trazia a marca do mestre da violência Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança) e ainda deu a um jovem Dustin Hoffman o estrelato definitivo na pele de um americano que se muda com a esposa britânica para uma cidadezinha inglesa e conhece a perversidade suburbana nas mãos de arruaceiros e seqüestradores. Polêmico para sua época, o filme deve ganhar uma revisão nas mãos do roteirista e diretor Rod Lurie, que assumiu o texto e a câmera do remake após o fracasso de sua série de TV Commander in Chief e já chegou surpreendendo com a escalação de James Marsden, o Ciclope da série dos X-Men, como um improvável protagonista. Ao lado dele estarão Kate Bosworth (Quebrando a Banca), Dominic Purcell (Prision Break), James Woods (Shark) e Alexander Skarsgard (True Blood). No mesmo passo polêmico está a continuação/refilmagem Predators, que saiu das mãos de Robert Rodriguez no começo do ano e desde então tem mudado de diretor a cada semana. O definitivo parece ser Nimrod Antal, que completou o thriller de assalto Armored recentemente e tem no currículo o terror Temos Vagas. A trama da vez é de um grupo de soldados, que pode ou não ser liderado por Derek Mears (Sexta-Feira 13), passando por apuros nas mãos do monstro em seu ambiente, um planeta distante. Por fim, a ressurreição de Gordon Gekko, o ícone da carreira de Michael Douglas no reboot Money Never Sleeps tomou seu rumo certo ao conquistar a simpatia do astro e do diretor Oliver Stone, responsável pela câmera do original, Wall Street.

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Com toda a agitação adolescente fervorosa em torno da série iniciada pelo subestimado Crepúsculo no ano passado, parece ser definitiva a posição dos vampiros como a mais nova moda avassladora a passar pelos estúdios hollywoodianos. E já que os direitos da série literária da escritora americana Stephenie Meyer estão garantidos para a modesta Summit Entertainment, os grandes estúdios já começaram a corrida para lançar a concorrência no mercado. Nessa disputa quem saiu na frente foi a Warner, que remexeu no fundo do baú e tirou os direitos de outra série de livros, Vampire Chronicles, da polêmica Anne Rice, que reascendeu por um tempo curto a mania dos sugadores de sangue em meados anos 1990. Os frutos cinematográficos mais notáveis da safra foram o arrasa-quarteirão com alma Entrevista com o Vampiro, estrelado por um Tom Cruise inspirado e com elenco coadjuvante bem estrelado, e o caça-níqueis A Rainha dos Condenados, que acabou se saindo bem nas bilheterias graças a publicidade da morte de sua atriz principal, a cantora-atriz Aaliyah. Todos esperamos que o mesmo tipo de coisa não aconteça na nova produção que o estúdio deu sinais de estar planejando para um lançamento em 2011. Embora quase nada de concreto esteja definido, o título generalizado dado ao projeto, The Vampire Chronicles, sugere que o novo filme seria um apanhado geral das idéias da autora espalhadas pelos nove livros da série, e não uma adaptação específica de um dos tomos. Por enquanto, o único rumor que circula sobre a produção é que Robert Downey Jr teria embarcado na missão de dar uma nova cara ao vampiro Lestat, já representado duas vezes na grande tela. O fato de que o ator desistiu a animação Oobermind, projeto pessoal do amigo Ben Stiller, apenas dá suporte a esses rumores.

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Quem conhece o mundo das comédias americanas não deve se deixar levar pela expressão mal-encarada do quarteto aí em cima. Capazes tanto de se perder nos próprios exageros quanto de criar verdadeiras pérolas de humor ácido e inteligente, os irmãos Wayans tiveram seus melhores momentos, mas seguem como uma das marcas mais fortes do universo cômico cinematográfico e televisivo ianque. Dos quatro, os três primeiros estão no momento ocupados com o desenvolvimento de uma das primeiras continuações da carreira dos irmãos. Patrocinada pela Sony, a seqüencia da comédia divisora de opiniões As Branquelas promete uma estréia de porte para tentar repetir o sucesso comercial do primeiro filme, que arrecadou mais do dobro de seu modesto custo de 37 milhões apenas em solo americano. Keenen Ivory, o primeiro da esquerda para a direita na foto, assumiu as câmeras e ficou atrás delas em 2004 para comandar Shawn (o segundo) e Marlon (terceiro) como dois agentes do FBI que precisam se fingir de meninas ricas, louras e mimadas para completar uma importante missão. Típica comédia alto astral que marca os melhores momentos da trupe, que está de volta toda para a continuação. Por falar em comédia, o clássico Brewster’s Millions está prestes a ganhar uma nova leitura no script dos novatos Matthew Sullivan e Michael Dilliberti. A última adaptação do livro sobre um pobretão que ganha duas heranças milionárias ao mesmo tempo mas precisa gastar toda a primeira para ter acesso a segunda contou com Richard Pyor no elenco.  Enquanto isso, temos a volta da dupla Ron Shelton e John Norville, que não trabalhavam juntos em um roteiro desde O Jogo da Paixão, de 1996, na comédia de golfe Q School, estrelada por Dennis Quaid e Tim Allen. E as novidades cômicas da semana terminam com o terceiro Entrando Numa Fria, que abriu testes para elenco coadjuvante e já tem todo o staff dos dois primeiros filmes garantidos, dessa vez com Paul Weitz (Tudo Pela Fama) na direção após a desistência de Jay Roach, que fez boa parte de seu nome no comando da série. Por enquanto, de nova na equipe só mesmo a estrela juvenil Raven-Symoné na pele da babá dos filhos do casal formando por Ben Stiller e Teri Polo.

Bom, pessoal, eu gostei do novo formato do Boletim, mas o pessoal reclamou do tamanho (com razão) então eu resolvi dividir em três partes na semana, uma para rumores, outra para trailers e mais uma para posters e fotos. Bom, além disso, nada mais a dizer. Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

X-Men Origens: Wolverine – Sobre heróis, dólares e faíscas

wolverine  X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, EUA, 2009).

De: Gavin Hood.

Com: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Lynn Collins, Taylor Kitsch, Dominic Monaghan, Ryan Reynolds.

107 minutos.

Filmes de super-heróis percorreram um longo e tortuoso caminho desde que se tornaram a próxima nova grande mania no final dos anos 1980, quando o Batman de Tim Burton tornou todos os envolvidos em milionários e consagrou o Paladino de Gotham como o maior dos representantes cinematográficos dos vigilantes criados para os quadrinhos. Ironicamente, acabou que o filme de Burton e suas continuações foram casos isolados de sucessos em um lote equivocado de adaptações apressadas que se tornaram fracassos retumbantes de bilheteria e crítica. Como todo o baque é sentido em forma de catástrofe para Hollywood, foi preciso mais de uma década para que o gênero fosse ressuscitado em uma operação surpreendente da Marvel, que colocou o arrebatador X-Men nas salas de exibição e saiu-se 200 milhões de dólares mais rica apenas em solo americano. Foi aí que o domínio da editora, até então menos bem-sucedida frente a concorrente DC no campo cinematográfico, redefiniu o rumo das adaptações de quadrinhos empreendidas pela máquina milionária hollywoodiana. Com muitos acertos (Homem-Aranha), poucos erros (Elektra) e respeito ao material original, entregando-o a diretores e roteiristas com competência certificada, a Marvel se tornou não apenas o maior símbolo da invasão dos filmes de quadrinhos, mas uma das grandes forças criativas e financeiras de uma capital do cinema que berra mais alto a cada ano o quanto precisa de novos ares. Nesse sentido, 2008 foi um ano mais do que definitivo para o gênero, entregando aos fãs o primeiro filme da Marvel agora incorporada como estúdio, Homem de Ferro, e ainda dando luz a sua primeira grande obra-prima, o sombrio furacão de O Cavaleiro das Trevas, vindo direto da concorrência da DC, que andava um pouco quieta demais nos anos anteriores. Tendo em mente esse historio em constante evolução e vislumbrando um futuro de seqüências e novos heróis aportando nos cinemas todos os anos, não tem como evitar ver Wolverine como uma regressão. O que não significa, em absoluto, que seja um filme ruim, apenas menos notável em frente a grandes revoluções do gênero, um filme que segue uma linha narrativa convencional e não demonstra tanto cuidado aos pequenos detalhes quanto seus companheiros de gênero mais festejados. De certa forma, é uma decepção ver um novo capítulo de uma série tão realista e política quanto X-Men, especialmente nos dois primeiros dirigidos por Bryan Singer (Operação Valquíria), seguir um caminho tão sem personalidade e brilho próprio quanto nessa nova aventura de origem assinada pelo sul-africano Gavin Hood, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pelo drama Infância Roubada e escolhido do astro e produtor Hugh Jackman (Austrália) para trazer a interação fantástica entre personagens da denúncia social de sua obra anterior para a trama movimentada por conflitos que marca essa narração da origem misteriosa do até então desmemoriado Logan, interpretado pelo mesmo Jackman nos filmes anteriores da série. Indestrutível, dono de instintos de lobo e garras de osso que saem por suas mãos, o Wolverine que conhecemos aqui é outro, mais convencional e talvez justamente por isso menos interessante do que aquele que abrilhantava as cenas da trilogia original, seja sob a direção de Singer ou de Brett Ratner (A Hora do Rush), que assumiu bem a câmera da série no terceiro e derradeiro capítulo. O mais grave, porém, é que, se não se conecta com o clima realista e político da série dos mutantes, como obra original e independente que claramente pretende ser, esse Wolverine não tem tanto para oferecer quanto era de esperar com tantos talentos envolvidos. Literalmente, é um filme divertido como Homem de Ferro, mas sem o tempero da personalidade de um Tony Stark. Para usar a expressão certa: absolutamente sem sal.

Os notórios e seguidos escorregões ao conduzir a trama soam ainda mais estranhos nas mãos de alguém com um histórico tão bom quanto o de David Benioff, autor dos textos de filmes díspares, mas sempre contundentes, como O Caçador de Pipas e A Passagem, ambos levados as telas pelo amigo e cineasta Marc Forster. Preso em uma trama já bem delimitada e com pouco espaço para inovar no relacionamento entre personagens que, no final das contas, já estão bem definidos aos olhos do público, ele não consegue pôr muito de seu habitual brilho num texto focado em um par de protagonistas que não se lembra de dar aos coadjuvantes uma motivação de verdade. Encarregado da parte mais fácil da missão, o co-autor do roteiro Skip Woods (Hitman) se sai quase ileso ao criar seqüências de ação interessantes e eficazes, mesmo que quase nunca inovadoras ou de fato empolgantes. Os diálogos conseguem soar verdadeiros, e a personalidade do par de personagens centrais cria uma interação que solta faíscas em duas atuações fascinantes, mas o restante do elenco se vê quase sem opções, perdendo a vantagem da surpresa em pouco tempo e não conseguindo ir além de um par de momentos carismáticos, mais por culpa do roteiro que os deixa jogados ao vento em meio a uma jornada intensa do que por falta de talento dos atores. A cena inicial se passa em pleno século XIX, quando o jovem James Howlett descobre possuir poder de cura, instintos de lobo e garras saindo de suas mãos ao mesmo tempo em que vê seu mundo virar de cabeça para baixo ao saber que o homem que o criou não é seu pai e que o filho do caseiro, o selvagem Victor Creed, é seu meio-irmão. Em seguida a montagem de abertura, muito bem-feita, mostra os dois lado a lado lutando em praticamente todas as guerras da humanidade da Civil Americana a do Vietnã, onde já adultos são recrutados pelo Coronel William Stryker para um grupo de mutantes que viaja ao mundo cumprindo missões para “servir seu país”. Para não estragar nenhuma surpresa, basta dizer que Logan (Hugh Jackman) se cansa de toda a violência praticada pelo grupo e se refugia em uma vida simples no interior canadense por três longos anos antes de se ver acossado por Stryker (Danny Huston) e seu irmão Victor (Liev Schreiber), que parece obcecado em matar todos os antigos integrantes da equipe e acaba encontrando Silverfox (Lynn Collins), a mulher que acompanha o irmão na vida “normal”, pelo caminho. Motivos estabelecidos e sede de vingança despertada no animal reprimido dentro do corpo humano do mutante, nada pode impedi-lo de se unir mais uma vez a Stryker e se tornar a cobaia da experiência da qual os fãs dos filmes ou dos quadrinhos sabem muito bem o desfecho. É claro, o filme vai bem além disso, amarrando com elegância as pontas entre a origem do herói e a trama dos três outros filmes da série mas nunca acrescentando muito ao ícone sólido que o herói se tornou nos últimos oito anos, desde o lançamento do primeiro X-Men, o grande divisor de águas para os super-heróis cinematográficos do novo século. Enfim, não coloque Wolverine para rodar esperando por inovações ou grandes surpresas, ou a natural decepção pode se tornar ainda maior. O que temos aqui é um objeto de estudo interessante para quem gosta de conflitos familiares com um pouco de diversão, não o filme que pretende mudar a visão que temos sobre uma franquia que pode ou não ter um novo capítulo nos cinemas em breve.

Como coração da trama que são, porém, é impossível negar que o grande motivo para assistir Wolverine é mesmo o duelo de atuações entre o já experimentado em assuntos mutantes Hugh Jackman e o novato no universo Liev Schreiber, conhecido por papéis secundários em filmes como o remake de A Profecia e o suspense A Soma de Todos os Medos. O primeiro, voltando ao papel que o tornou um dos mais estimados atores da atualidade tanto entre o público quanto entre a crítica, aparece bem confortável na pele do mutante instintivo e imprevisível que é Wolverine. Adequado bem ao papel, ele leva com a mesma naturalidade as cenas que exigem acessos de fúria e os poucos momentos românticos e dramáticos de uma trama quase desembalada entre cenas de ação cheias de impacto. Seja se utilizando do sarcasmo que marca o personagem ou tentando processar a informação de uma mentira das grandes que ataca direto em seus sentimentos e os vira de cabeça para baixo, Jackman é uma explosão em tela a cada segundo, e segura bem os momentos em que precisa levar o filme nas costas. Indiscutível, porém, que o ladrão de cenas de verdade aqui é Schreiber, atuando com puro instinto em um papel que poderia cair em mais do mesmo nas mãos de um ator mais desleixado. Quando é ele encarnando o irmão que abraça o lado feroz de sua natureza, porém, o que vemos é um vilão mais complexo do que se pode imaginar por baixo da superfície sólida que segue os passos tradicionais de composição de um bom antagonista e ganha pontos por ser conduzido por um ator que sabe controlar os próprios exageros como Schreiber. Ele é selvagem, é um assassino frio, mas no final das contas acaba sendo apenas um homem querendo provar que está certo. Nas mãos do ator, a mistura brilha intensamente. Uma pena que, a mais desses dois incendiários da tela, o restante do elenco tem pouco a fazer com seus personagens mal-desenvolvidos. Danny Huston (30 Dias de Noite) chega a dar sinais da criação de um Stryker interessante, mas se perde no meio do caminho para se encontrar apenas perto do final, quando as coisas já estão bem resolvidas e não há mais muito o que fazer. Sua performance na primeira cena em que aparece chega a superar a dos dois protagonistas, mas daí em diante Stryker é jogado tão para escanteio que fica difícil ver um pouco de brilho novamente em sua atuação. Quem se dá melhor é Taylor Kitsch, um dos jogadores da série Friday Night Lights, que sai daqui direto para o estrelato com o papel principal de John Carter of Mars quase garantido. Nada mais merecido para o ator carismático que ele demonstra ser ao encarnar o estiloso Gambit, que grita por mais tempo em tela a cada frame e dá sinais de render um filme solo com facilidade, mesmo quando é mandado para uma missão que simplesmente não faz sentido perto do final do filme. O elenco extenso ainda conta com uma inexpressiva Lynn Collins (O Número 23) e com o dabochadamente carismático Dominic Monaghan, o Charlie de Lost, que bem poderia estrelar um filme sozinho também. Assumindo a missão de risco de uma super-produção pela primeira vez em sua carreira e apenas em sua segunda investida em terras americanas, o diretor Gavin Hood não faz um mau trabalho, mostrando desenvoltura ao lidar com cenas de ação e não se metendo na frente de seus atores quando eles pedem por um pouco de brilho próprio, o que acaba realçando, para completar a faca de dois gumes, a fragilidade do texto. Se alguém tem mesmo tudo para comemorar na dança de franquias proposta por Wolverine, porém, esse alguém é Ryan Reynolds, que faz um par de cenas introdutórias para o todo seu Deadpool, que deve aportar nos cinemas nos próximos anos. Afinal, dólares são mesmo tudo no mundo cruel de Hollywood.

Nota: 6,0

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Bom, pessoal, e por hoje é isso… Vi esse filme no cinema, mas tive que ver de novo em DVD para ter minha impressão completa, vocês sabem como é… Enfim, quanto ao Boletim Cinéfilo, novo modelo, eu estou pensando em dividir ele em três edições espalhadas pela semana, mas como já estamos na terça-feira isso começaria semana que vem. Seriam os rumores na segunda, os trailers na quarta e os posters na sexta, certo? Bom, então os melhores filmes para todos vocês e até mais! Ah, e apróxima Lista da Década vem ainda nesse mês, preparem-se!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Novo Boletim Cinéfilo – Edição Nº01

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Novo Boletim Cinéfilo – Edição Nº01 – Filme-Pipoca - 03/08/2009

Parte I - Rumores: Piratas de volta a voga, novas refilmagens (só pra não perder o costume), a guerra de Bruckheimer e o sim de Sir Scott.

piratas 

Foi há quase quatro meses, no começo de Abril, que o primeiro balde de água fria caiu sobre o projeto de continuar a saga Piratas do Caribe em um quarto episódio. A trilogia original tinha seu segundo episódio entre os filmes mais assistidos de todos os tempos, rendera dezenas de nominações as categorias técnicas do Oscar e ainda ganhou lugar garantido na história do cinema ao revelar ao grande público o talento e a versatilidade de Johnny Depp, que fez do Capitão Sparrow logo aí em cima um dos ícones do novo século, roubando cenas daqueles que teoricamente deveriam ser protagonistas, o casal de bibelôs britânicos feitos por Orlando Bloom e Keira Knightley. Agora, dois anos depois do que parecia ser o fim da franquia, os rumores de sempre sobre uma continuação ganharam força com declarações de interesse por parte de Depp e do produtor, espertíssimo, Bruckheimer. Acontece que todo o resto do time não pareceu tão empolgado, e logo foi anunciado que os personagens de Bloom e Knightley não estariam no novo roteiro, de novo redigido por Terry Rossio, responsável pela trilogia original e por outros blockbusters eficientes como Déja Vu. Depois de rumores que hoje parecem infundados sobre o comediante Russell Brand (Ressaca de Amor) atuando na pele do irmão do capitão, por fim, quem desistiu da franquia foi o diretor Gore Verbinski, dono da câmera dos originais, que partiu para tocar o atribulado Bioshock. A saída do diretor parece ter baqueado a Disney, uma vez que o produtor Oren Aviv só pouco tempo atrás conseguiu falar com firmeza sobre o assunto, dizendo que a procura por um novo diretor está em andamento para o começo das filmagens ainda em 2010. Sete dias depois disso, o candidato que mais provocou sensação na mídia a cadeira de diretor foi Rob Marshall, o homem por trás de Chicago e Memórias de Uma Gueixa, sempre muito esmerado em seus visuais. Claro, não passa de um rumor. Mas será que Bruckheimer pensou que o diretor se sentiria bem em cenários do nível desse aí em cima? Só esperar o contrato ser assinado.

jesus christ superstar

Hollywood não tem limites em sua busca por mais lucro e investimento garantido. Se o objetivo for mesmo levar o público ao cinema e encher os cofres de algum grande estúdio, os executivos de preto presos em salas burocráticas são capazes de remexer na memória, nos clássicos e até na religião, assunto evitado como praga pela maioria das formas de arte. Portanto, se um dos três remakes que aparecerão nesse texto mexer em alguma parte delicada demais para você, não esmurre seu computador nem esbraveje contra mim. Não é nada pessoal, e no fim tudo o que eles querem mesmo é seu dinheiro. Dito isso, a rodada de hoje de refilmagens anunciadas pela já nem tão nova crise criativa da capital do cinema começa com, pasmem, Jesus Christ Superstar. Para quem não está familiarizado com o nome basta pensar em uma visão musical, teatral e herege da última semana de vida de Jesus segundo a Bíblia, tudo num palco da Broadway e sob o texto cheio de sarcasmo do consagrado Andrew Lloyd Weber. A peça pode ter gerado protestos em pleno começo da década de 1970, mas foi o filme, de três anos depois, que deu a trama status de cult da dramaturgia moderna. Agora, mais de três décadas depois, o filho do Homem deve voltar ao cinema com sua jornada alternativa, tudo bancado pelo recente investimento da Universal em musiciais e sob a câmera que pode ser do inexperiente Marc Webb, cuja estréia, a comédia (500) Days of Summer, ganhou elogios da crítica americana. É claro que os planos da terra do cinema para reciclar idéias não param por aí e tem como alvo preferencial a nostalgia dos mais velhos, que viram o mito dos Gremlins crescer sob a direção do mestre do cinema trash Joe Dante e agora podem preparar a pipoca para vê-los surgir em um novo século, tudo sob a supervisão do próprio Dante, que parece não ver motivos para deixar a trama de lado e assumiu a direção do remake. Por fim, a lista do dia termina com Captain Blood, projeto já comentado há algum tempo para refazer a aventura lançada em 1935 e estrelada por Errol Flynn. Agora o remake ganhou os irmãos Michael e Peter Spierig, roteiristas responsáveis pelo inédito Daybreakers, na autoria do roteiro e Philip Noyce (Perigo Real e Imediato) disposto a assumir o cargo de diretor.

bruck

Sorriso torto, barba mal-feita, cabelo fora de moda, rugas prematuras indisfarçáveis pela maquiagem. Alguns devem estar acostumados com o rosto aí em cima, mas aqueles que não o estão são bem capazes de julgá-lo abaixo da realidade. Difícil acreditar que o homem franzino e de certa forma pitoresco na foto é, sem nenhum exagero, a figura mais poderosa da Hollywood atual. Se o rosto não é o bastante, então o nome de Jerry Bruckheimer já deve ter cruzado seus olhos antes do início de um arrasa-quarteirão americano ou nos créditos finais de um seriado televisivo badalado. O estranho é que pouca gente dentro da terra do cinema acreditava que ele pudesse sobreviver sozinho após a morte do parceiro Don Simpson em 1996, logo depois da finalização de A Rocha. É claro, o meio bilhão de dólares que fez Armageddon foi o bastante para acabar com essa impressão, e desde então o produtor tem ocupado o posto de nome mais valorizado do cinema ianque com filmes que quase nunca esbarram na ousadia, mas são diversão mais do que garantida. Boa notícia? Ele não pensa em parar tão cedo. Só no próximo ano seu nome está envolvido em duas mega-produções, a adatpação de video-game Prince of Persia e o remake em live-action do clássico da animação tradicional Aprendiz de Feiticeiro, ambos com a vinheta da Disney antes da primeira imagem. Mas a bola da vez no cronograma futuro de Bruckheimer parece mesmo serem os filmes de guerra, que nunca foram o forte na sua filmografia. Falha que pode ser revertida em Killing Rommel, thriller da Segunda Guerra focado nos esforços do exército britânico para derrubar o lendário Erwin Rommel, oficial nazista conhecido como “Raposa do Deserto”. Num campo mais atual de batalha, Horse Soldiers é a adaptação literária sobre o grupo de agentes invadindo o Afeganistão em uma operação ultra-secreta para desbaratar o Talibã. Depois de passado e presente, por fim, ele embarca para uma guerra do futuro similar a da série Exterminador do Futuro na adaptação da graphic novel World War Reboot, que narra a batalha final entre humanos e máquinas na Terra, na Lua e em Marte. Pela marcha das coisas, os três devem chegar aos cinemas em 2012.

ridley

O pior dos psicopatas é aquele podemos entender. Por mais que seja aterrorizante, sufocante e cheio de paranóia e maestria técnica, nunca foi possível determinar porque Alien – O Oitavo Passageiro se tornou um filme tão atemporal e universalmente perturbador. Historicamente, foi um divisor de águas, um suspense de ficção que definiu pra sempre um conceito diferente de volta as raízes do cinema, psicológico e cheio de sombras, paranóico e claustrofóbico sem deixar de ser fortemente visual e violento. Mas para além dessa importância, Alien foi um filme sem mocinhos e vilões, sem estereótipos e sem a inocência de valores que marcaria o cinema da década seguinte a sua. Havia um monstro seguindo seu instinto, que fora tirado de seu habitat natural e havia o grupo de pessoas distintas que lutavam para sobreviver e ainda assim não deixavam de se digladiar entre si. Prova disso era Ash, andróide disfarçado dono de mais cenas aflitivas e mais repulsão pura e simples do que o próprio monstro, desenhado com maestria perturbadora pelo artista H.R. Giger. Ainda assim, não teriam Ash e o Alien motivos até mais comprensíveis que os dos próprios humanos? A perturbação, no final, não vinha do clima, mas da condição. Vilões mais motivados que heróis. Bela revolução e estratégia que só poderia ser traduzida pela câmera do mestre dos mestres Ridley Scott, na época um jovem sem poucos créditos notáveis, hoje o grisalho lorde inglês aí em cima, que, surpresa para os fãs da série, parece ter se cansado de ver sua obra-prima ser dilacerada por filmes como Alien Vs. Predador e aceitou de novo tomar as rédeas da história da Tenente Ripley para uma prequel, que está sendo planejada pela Fox há algum tempo, mas ganhou força com a confirmação que Scott está disposto a voltar. A própria Weaver disse que confia plenamente no diretor, e que gosta da idéia de dar ao monstro uma origem própria. Resta esperar que nenhum Predador se meta na frente da câmera dessa vez.

Parte II – Trailers: irmãos alternativos, guerreiros solitários, raposas em família e uma dona de casa desesperada de verdade.

A Serious Man (2009)

Direção: Joel Coen, Ethan Coen.

Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen.

Elenco: Michael Stuhlbarg, Adam Arkin, Richard Kind, Sari Lennick.

Sinopse: O ano é 1967, e o protagonista é o professor do Meio-Oeste americano Larry Gopnik, um fracassado que vê sua vida desmoronar quando a esposa se prepara para deixá-lo, tudo porque seu estúpido irmão, do qual Larry cuidou a vida toda, não quer sair de casa.

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Mais uma vez os irmãos Coen fogem do esquema hollywoodiano de se levar a carreira e fazem um filme que soa extremamente pessoal ao mesmo tempo que atinje em cheio o modo de vida medíocre de toda uma sociedade que se acostumou ao fracasso pessoal e profissional. A sinfonia montada por sons bizarros vindos de cenas progressivamente mais pitorescas mostra que os dois não perderam a veia cômica, cada vez mais sofisticada e combinada com críticas sociais que devem soar alto na interpretação promissora do desconhecido Michael Stuhlbarg. Ao seu lado, Adam Arkin promete momentos de diversão culpada na pele do irmãos retardado do protagonista, tudo permeado pelo grande domínio narrativo dos Coen, autores do roteiro. Promete o que pode cumprir, e não é pouco.

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 Data de estréia: 02/10/2009 (EUA, circuito limitado)

The Book of Eli (2010)

Direção: Albert Hughes, Allen Hughes.

Roteiro: Gary Whitta.

Elenco: Denzel Washington, Michael Ganbon, Gary Oldman, Mila Kunis.

Sinopse: Num mundo pós-apocalíptico, um homem solitário atravessa a América destruída para proteger um livro que pode conter o segredo para salvar toda a humanidade.

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Trailers de filmes de ação podem ser os mais enganadores e difíceis de interpretar, mas não é preciso uma mensagem tão clara para pegar no ar as dicas do que o filme pode ser. Aqui, o destaque é claramente o visual criado pelos irmãos Hughes, que não pegavam na câmera há impressionantes oito anos desde o fracasso do suspense sangrento Do Inferno, mas parece não ter perdido o faro para cenas de ação que de convencionais não tem nada. Sem a edição frenética e a câmera sem controle que marca os atuais modismos, a beleza da violência é quase palpável, seja em uma explosão ou em uma luta brutal filmada toda na base de sombras. Denzel Washington, por outro lado, não parece tão inspirado quanto seus comandantes, entquanto o trailer desperdiça a chance de dar um aperitivo da volta de Gary Oldman aos vilões.

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Data de estréia: 15/01/2010 (EUA)

The Fantastic Mr. Fox (2009)

Direção: Wes Anderson.

Roteiro: Wes Anderson, Noah Baumbach.

Elenco: Meryl Streep, George Clooney, Owen Wilson, Michael Ganbon, Willem Dafoe, Bill Murray, Adrien Brody, Anjelica Houston.

Sinopse: Baseado na novela do escritor infantil Roald Dahl, Anderson compôs um insólito drama familiar sobre uma família de raposas que precisa se defender das investidas de um fazendeiro cansado de dividir sua produção com os animais.

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“Esqueça o super. Ignore o incrível. A hora é do fantástico!”. Simples assim, com palavras quase surpreendentes de tão óbvias, o trailer de Fantastic Mr. Fox consegue ir, em meros dois minutos e meio, da pura estranheza direto para a cativação mais inesperada dos últimos anos. Mérito de Wes Anderson, o homem por trás de Viagem a Darjeeling, o autor do roteiro que adapta a obra infantil clássica do mesmo autor de A Fantástica Fábrica de Chocolate ao lado do queridinho da crítica Noah Baumbach (Margot e o Casamento). Com uma trama familiar que tem raposas como protagonistas nas mãos, Anderson chamou uma trupe de peso para dublar personagens pitorescos e criou um produto que é ao mesmo tempo visualmente artístico e inesperadamente cativante. A distribuição brasileira, ainda bem, já está garantida.

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Data de estréia: 04/12/2009 (Brasil)

My One and Only (2009)

Direção: Richard Loncraine.

Roteiro: Charlie Peters.

Elenco: Renée Zellweger, Logan Lerman, Kevin Bacon, Nick Stahl.

Sinopse: Em plenos anos 1950, acompanhamos uma glamourosa dona de casa que atravessa o país a procura de um novo marido pra bancar o elevado nível de vida dela e de seus filhos.

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Os elementos em comum são demais para não ligar My One and Only a pouquíssimo notada comédia romântica nostágica O Amor Não Tem Regras, que George Clooney dirigiu em 2006 para descansar de dois filmes sérios demais e que a mesma Renée Zellweger co-estrelou na pele de uma mulher independente e ousada para sua época que trazia por trás da personalidade explosiva uma paixão a ser descoberta. Em resumo, é o mesmo papel da inglesa nesse novo romance de Richard Loncraine (Wimbledon), que aposta na atriz e na química com o jovem Logan Lerman (Os Indomáveis) para carregar uma trama que parece não ter nenhuma inovação nos caminhos que toma, algo no mínimo irônico para um road movie.

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Data de estréia: 21/08/2009 (EUA, circuito limitado)

Parte III – Posteres e imagens: Sandler nos palcos, Kutcher brincando com fogo, Binoche de vota a terra e a última da Disney.

funny people 1

A mistura pode não ter funcionado como poderia na primeira tentativa, mas alguém duvida que uma hora ou outra a parceria entre um dos maiores astros da comédia americana e o diretor mais badalado no gênero do momento vai produzir uma obra-prima cômica? As chances de Funny People, ao menos, são bem mais substanciais do que as de uma bobagem sem personalidade como Zohan. Veja bem, há Sandler exercitando seu lado agridoce como um comediante de palco que pode estar morrendo, Seth Roger na pele de seu melhor amigo e um roteiro que promete quilos de metalingüagem assinado por Judd Apatow, dono dos créditos por Ligeiramente Grávidos. Alguma chance remota de ser algo tão repugnante quanto um agente secreto israelense que viaja a Nova York e se torna o cabeleireiro com a vida sexual mais ativa de todos os tempos? É esperar a Universal resolver lançar a pérola por aqui.

jogando com prazer 

Nikki, o protagonista da improvável trama de Jogando com Prazer, não é apenas mais um jovem perdido na vida que se joga a um mundo de drogas, prazeres e crimes sem saber onde está se metendo e sem um objetivo qualquer em mente. Não poderia o ser nas mãos do polêmico, mas sempre brutalmente competente David Mackenzie, diretor que fez fama com o voyeurístico Olhar do Desejo e agora traz para as telas a história de um jovem que vive a vida como um jogo. De conquistas e de privilégios que vão se escalando sem realmente se importar quão significante cada degrau realmente é. Justamente quando parece estar no paraíso, com uma namorada linda e rica, aproveitando o melhor da vida, porém, Nikki se apaixona. Romântico, não? Nada que um seguro Ashton Kutcher não consiga levar para um novo nível, tudo enquanto o diretor destila o melhor de sua ambientação visual. O resultado estréia em 25 de Setembro.

paris

O cineasta francês Cédric Klapisch ficou conhecido no mundo todo pelo filme-coral O Albergue Espanhol, um drama de riqueza impressionante que passeava por realidade e ficção com distinção tremenda. A coisa pode ter mudado um pouco de figura e de foco, mas é mais ou menos a mesma sensibilidade visual e de roteiro que se deve esperar de sua mais nova peripécia, intitulada Paris, que deveria ter chegar ao Brasil no começo do mês passado mas, ao que parece, deve aportar mesmo só em DVD. Quando acontecer, não deixe de conferir a trama levada nas costas pelo ator-fetiche do cineasta, Romain Duris, atuando como um dançarino com problemas cardíacos que passa dias melancólicos observando a capital francesa em plena dança frente aos seus olhos, que vigiam da janela de um apartamento. A mudança é introduzida na chegada de Élise, sua irmã mais velha, feita por Juliette Binoche.

prince of persia

Mike Newell já saiu ileso, e ainda vitorioso, das pressões envolvendo o quarto capítulo da série mais vista de todos os tempos, Harry Potter. A marcação dos fãs do video-game que inspirou a produção do vindouro Prince of Persia: Sands of Time, portanto, devem ser a última de suas preocupações no momento, finalizando a pós-produção de sua nova obra com Jerry Bruckheimer ao lado e a Disney pressionando para um adiantamento praticamente impossível de data. Enquanto o filme ainda está marcado para Maio do ano que vem, dá para curtir os primeiros posteres lançados na rede, que mostram Jake Gyllenhaal pronto para a batalha em uma encarnação fiel ao personagem original e os olhos hipnotizantes da ex-bondgirl Gemma Arterton adornando o sugestivo slogan de uma palavra só. “Destino” parece ser a palavra-chave na nova super-produção hollywoodiana, mas ainda faltam dez meses para conferir se o do filme é mesmo uma bilheteria gloriosa.

Bom, primeiro os esclarecimentos: esse formato é um protótipo para o novo Boletim, estou aberto a sugestões, críticas, comentários, tudo. Só quero mesmo mudar, porque senti que não estava mais funcionando do jeito certo. A idéia foi mesmo diminuir o tamanho dos textos e passar mais informação… E é isso, espero que tenham gostado! Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (31/07/2009)

Vampiros em marcha

newmoon

Crepúsculo tinha tudo para ser um fracasso. É claro que aqui estamos falando da adaptação do primeiro livro de uma série com base de fãs vasta e sólida, mas fazer funcionar em película o que está no papel é sempre uma matéria delicada. Ainda mais com uma trama vampírica sem grandes cenas de ação ou apelo para o suspense, cujo centro é o típico romance entre dois adolescentes que anda tão criticado no filão das comédias românticas. Quer mais risco para o investimento? Sem problema, chame uma diretora egressa do cinema independente para guiar as câmeras e escale uma dupla de jovens atores conhecidos só por papeis coadjuvantes. Ao olhar da imensa maioria dos executivos dos grandes estúdios, uma coisa assim simplesmente não tinha chance de dar certo. Na teoria, a decisão perfeita seria engavetar o projeto e seguir em frente, dando alguma satisfação furada ao fãs colerizados que encheriam a Internet por alguns meses com abaixo-assinados que se provariam inúteis. Tudo perfeito, se não fosse esse pequeno doce da vida, a surpresa, que atacou forte em novembro e deu à ousadia da Summit Entertainment uma recompensa de quase 400 milhões nas bilheterias ao redor do mundo. Pois é, o mundo gira, e agora o antes velho e ultrapassado mito dos sugadores de sangue noturnos ganhou o misterioso poder de levar um projeto instantaneamente para o topo da lista de prioridade de um estúdio, enquanto o bastardo Crepúsculo tem a página de rumores mais badalada da rede. Começando na sequencia imediata do romance, intitulada Lua Nova, que começa a mostrar sua própria personalidade na divulgação que se prepara para o que pode ser o lançamento do ano em 20 de Novembro. Dessa vez o filme é comandado pelo mais comercial Chris Weitz, responsável pela fantasia A Bússola de Ouro, que não é nenhum idiota e já escalou um elenco de peso para formar a família antagonista da vez. Os Volturi, vistos aí em cima em pose familiar comovente, são um clã antigo de vampiros poderosos, que não por acaso contam com intérpretes talentosos de verdade para representá-los. Começando da esquerda para a direita, Aro é interpretado por um  irreconhecível Michael Sheen, que parece estar em todas desde Frost/Nixon. Depois, o patriarca Marcus ganhou o rosto do veterano da televisão Christopher Heyerdahl (Stargate), e a ala jovem da família está bem representada pelos talentosos Jamie Campbell Bower (Sweeney Todd), Dakota Fanning (Heróis) e Cameron Bright (Obrigado por Fumar). A continuação ganhou ainda um extra de publicidade quando um tablóide inglês fotografou a grandiosa filmagem do clímax do filme em Roma, e por fim foi anunciado que a banda de rock Radiohead será responsável pelo tema principal. Enquanto isso, o terceiro filme da série, intitulado Eclipse e em plena produção, ganhou a presença de Bryce Dallas Howard (A Dama na Água) assumindo um papel que foi de uma semi-desconhecida no primeiro filme. Eclipse tem David Slade, o homem por trás de 30 Dias de Noite, tentando variar o cardápio sem sair do próprio território. Coisa de vampiro caçador.

Paul is back!

paul milla 

Paul W.S. Anderson tem uma carreira curiosa de se acompanhar, bem atípica para as regras hollywoodianas desde seu início, no começo da década passada com o ultra-violento suspense de ficção Shopping, que contava com um Jude Law pré-fama na pele do líder de um grupo de arruaceiros que, ao lado de sua namorada, enfrentava a lei e gangues rivais em “um futuro muito próximo”. Em suma, era um Blade Runner que deixava de lado a filosofia e partia para as vias de fato, num estilo que se comunicava muito mais com a nova geração de jovens do que o épico de Ridley Scott. Depois do clássico cult instantâneo que fez em sua estréia, porém, Anderson supreendeu por engatar a quinta marcha e abraçar qualquer projeto ligado a cultura pop que visse pela frente. Se saiu com uma das adaptações de video-games mais competentes de todos os tempos com Mortal Kombat, o primeiro de 1995, colocou lado a lado dois monstros do cinema de ação oitentista e reergueu as respectivas carreiras em Soldado Universal, de 1998, e finalmente se meteu a levar para o cinema a franquia virtual mais adorada pelos fãs de survival horror, Resident Evil. Conseguiu em 2002, arrancou alguns elogios inesperados da crítica, não irritou os fãs o bastante para gerar protestos na rede e ainda antrou solteiro e saiu casado com a beldade Milla Jovovich, protagonista do filme e das duas seqüencias, nas quais o marido participou na produção e na elaboração do roteiro, deixando a câmera da série em prol de projetos como o merecidamente infame Alien Vs. Predador e o subestimado Corrida Mortal. Agora, logo depois de provar para quem quisesse ver que podia ir além de algumas cenas de ação quando servido de um bom roteiro, Anderson está envolvido em pelo menos mais três projetos que podem chegar quase ao mesmo tempo nos cinemas. A começar pelo mais atribulado, Spy Hunter, que estava quase pronto sob os ângulos da câmera de John Woo e já tinha até poster lançado na rede quando uma tremenda confusão ainda mal explicada entre o mestre chinês, o astro The Rock, o roteirista Stuart Beattie e o estúdio zerou o projeto. Na época, o próprio ator chegou a dizer que a saída do comandante era o reflexo do excesso de gente na elamboração do projeto, o que gerou um conflito de idéias impossível de se resolver. Anderson chegou para repaginar o filme em ainda por volta de 2007, e embora os rumores atuais apontem seu envolvimento apenas no roteiro da produção, não há nenhuma notícia concreta. No mesmo estado de estagnação desde mais ou menos a mesma épcoa está a refilmagem The Good Long Friday, remake de um clássico cult estrelado por Bob Hoskins na pele de um poderoso gângster que tem seu império ameaçado por uma série de atentados. O original contava ainda com Helen Mirren como a esposa do protagonista, mas o remake não tem ninguéme scalado no elenco e parece estar em processo de roteirização. Por falar em roteiro, Anderson finalizou recentemente o texto de Castlevania, adaptação de um dos clássicos do video-game de ação e horror, e o cargo de diretor anda disputado entre Sylvain White (O Poder do Ritmo) e James Wan (Jogos Mortais). Por último, a boa notícia para quem não gostou da forma como a franquia que saiu de Resident Evil foi conduzida é que Anderson está disposto a voltar a direção da série em seu quarto capítulo, intitulado Afterlife, que pode ou não ser estrelado dessa vez por Ali Larter, da série Heroes, que já teve uma participação no terceiro filme.  As filmagens e os rumores sobre a nova trama dão largada em Setembro.

Novas histórias do morcego

batman 3

Para quem não está acostumado com o esquema de rumores que rola em torno das próximas grandes produções de Hollywood, é curioso ver que a coisa funciona mais ou menos como uma corrente motivada pela imprensa, especializada ou não. Uma notícia puxa a outra, na medida que esses veículos de comunicação fazem entrevistas não raro apenas para confirmar o boato anterior, tudo sob a luz de uma declaração que já naturalmente leva ao pobre entrevistado a tendência de formar um elo a mais na corrente. Em suma, notícia ruim traz mais notícia ruim, e notícia boa traz mais notícia boa, uma dinâmina que se refletiu de jeito bem curioso nos mais recentes rumores sobre o terceiro filme da nova série do Homem-Morcego. Depois da explosão crítica e comerical da obra-prima que foi Cavaleiro das Trevas, o terceiro capítulo da saga de repente virou o alvo preferencial de todos os sites especializados, e não houve uma frase inocente sequer que escapasse de sua acirrada vigia. Nossa história começa a mais de um mês, em 17 de Junho, com o site de fãs Batman-on-Film publicando uma nota que dava conta do possível afastamento do diretor e roteirista Christopher Nolan da série. Considerado o grande responsável pela nova cara do herói e dono da câmera e do texto de Begins e Cavaleiro, a suposta saída do cineasta do comando criativo foi o bastante para deixar os fãs do herói mais pessimistas sobre o terceiro filme, que era comentado desde a saída do segundo. Os rumores antigos (como mostra o poster falso logo ali em cima) davam conta do vilão Charada na produção, com a provável face de Johnny Depp sob o chapéu e a vestimenta verde. Interpretado por um caricato e divertido Jim Carey com tom de sátira em Batman Eternamente, o personagem do novo filme viria ainda ao lado de outra famosa antagonista do herói, a Mulher-Gato, que por sua vez também já tinha uma célebre encarnação com Michele Pfeiffer e seu uniforme de látex em Batman – O Retorno. De qualquer forma, a possível saída de Nolan acabou, no esquema da corrente, levando o astro da franquia Christian Bale, outro grande culpado pela complexidade do novo herói, a verbalizar a possibilidade que o terceiro filme não acontecesse. Sem deixar o defunto esfriar, no entanto, quem reascendeu os rumores do terceiro filme foi a própria Pfeiffer, que disse a época da estréia de seu Chéri que adoraria repetir o papel da vilã que fez em 1992, mas podia entender que a produção exigisse uma nova cara. No embalo, quem falou logo em seguida foi Johnny Depp, que finalmente expressou seu interesse em entrar para a dança no papel do Charada, tudo enquanto a corrente de boas notícias continuava e o ator Gary Oldman, dono do papel do Comissário Gordon, lançava Book of Eli e deixava escapar na entrevista de divulgação que as filmagens do novo filme teriam início no começo do próximo ano, com previsão de lançamento para 2011, e ainda emendava um suspeito “mas você não ouviu isso de mim”. Sem ter como confirmar a declaração de Oldman, a pressão acabou caindo sobre David Goyer, o parceiro de Nolan no texto dos dois primeiros do personagem no novo século. Segundo ele, o diretor estava envolvido nas filmagens de Inception, seu thriller psicológico, mas logo depois os dois se reuniriam para discutir o futuro do personagem. Mas esse, veja só, não foi o último elo da corrente. O rumor mais recente deu bizarra conta da estrela teen Miley Cyrus, da série Hannah Montana, filmando testes para o papel de Batgirl. Depois disso, resta esperar para ver se a corrente encontra seu fim nos cinemas ou na gaveta.

Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo. Como vocês viram nessas últimas edições do nosso Boletim, eu estou tentando citar cada vez mais minhas fontes, dar crédito a elas, e ainda controlar um pouco o tamanho e a quantidade das notícias. De qualquer forma, estou vendo uma grande mudança na estrutura do Boletim em breve… mas por enquanto é só isso mesmo… Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (27/07/2009)

Pesadelo século XXI

freddy

Cada um tem o recolucionário que merece. Em 1984, o cinema vivia a plena era de ouro do terror slasher, com Jason Vorhooes (Sexta-Feira 13) lançando sua quarta investida nos cinemas em quatro anos e Michael Myers (Halloween) tirando umas férias do terceiro capítulo de sua saga, nem tão bem-sucedido quanto os anteriores. Foi então que o mundo observou a mente criativa de Wes Craven, futuro criador da bem-sucedida série Pânico, ganhar o primeiro crédito de sucesso com um certo assassino cínico, de rosto queimado e senso de justiça torto, que buscava vingança por uma morte lenta e dolorosa infringida pelos pais e avôs dos adolescentes de Illinois, estado americano, que vêem seus sonhos invadidos pela cruel, cínica e grotesca criatura. Freddy foi um sucesso porque era engraçado e assustador ao mesmo tempo, e não dá para negar que sua presença de espírito foi o que garantiu a validade dos outros seis episódios de sua saga, todos lançados no curto intervalo de tempo de uma década. Além de um êxito comercial, porém, Freddy foi um revolucionário porque tinha um motivo além da própria psicopatia para marcar. Era cruel e repulsivo, sim, mas acima de tudo era um homem destruído em busca de vingança. Nada que os músculos de um Schwarzenegger ou um Stallone já não oferecesse ao público na época, mas dessa vez éramos obrigados a temê-lo. De uma forma quase indecifrável, Freddy era um anti-herói. Eternizado na pele do ator Robert Englund, que fez questão de representar o personagem em absolutamente todas as suas encarnações, Freddy ressurgiu para toda uma nova geração enfrentando seu célebre colega em Freddy Vs. Jason, o sucesso metteórico que talvez seja o maior responsável pela recente onda de remakes de filmes de terror clássicos. A recepção do público a nova empreitada foi o bastante para a produtora Platinum Dunes, que tem os créditos pelo novo Sexta-Feira 13 e por mais um punhado de remakes recentes, colocar em movimento o antigo projeto de dar um novo começo a mitologia do personagem para uma nova e mais exigente geração de espectadores de terror. A proposta não foi o bastante para interessar Craven, que recusou se envolver no remake, exemplo no qual foi seguido por Robert Englund, que abriu mão das luvas de metal do personagem pela primeira vez desde que se tornou o símbolo de uma geração em 1984. Sem nada para se apoiar, Wesley Strick (Casa de Vidro) foi chamado para arrumar a casa e redigiu um roteiro descrito como um retorno as raízes assustadoras do assasino, deixando as piadas em segundo plano em favor de uma jornada mais visceral pela mente de um psicopata que ataca suas vítimas em meio a vulnerabilidade do sono. O segundo passo foi chamar Samuel Bayer, estreante em terrenos cinemtaográficos com um currículo extenso no mundo dos videoclipes, para assumir as câmeras de um genuinamente novo A Hora do Pesadelo. E ele começou com o pé direito, reunindo uma turma de jovens talentos da televisão para servir de lixa de unha para o assasino, que será interpretado por Jackie Earle Haley, indicado ao Oscar pelo pedófilo de Pecados Íntimos. Entre as novas vítimas do senhor dos sonhos estarão Thomas Dekker (Sarah Connor Chronicles), Kyle Gallner (Smallville) e Katie Cassidy (Supernatural). Agora, é só esperar Abril de 2010 para conferir o resultado final. Até lá, é melhor pensar suas vezes antes de deitar a cabeça no travesseiro.

Quebrando o gelo

Hollywood pode ser uma terra cruel com quem se aventura dentro de seus limites, mas a essa altura do campeonato eu, você e mais meio mundo já deve estar cansado de ouvir essa mesma ladainha. O que de fato intriga e permanece e segredo são as razões de tal crueldade de investimentos garantidos e lucro acima de ambição artística. Afinal, para quem está de fora do esquema, o que corre pelos corredores e salas impecáveis dos grandes estúdios continua um absoluto mistério. Não raro, somos deixados esperando por uma produção que ascende nosso instinto de cinéfilo e logo depois ficamos sabendo que o estúdio resolveu adiar a estréia sem nenhum motivo aparente. Alguns, no fim, nem conseguem chegar aos cinemas e acabam aportando sem escala nas prateleiras das locadoras. Destino tão “desonroso” não deve ter o suspense de ação Whiteout, que parece finalmente ter conseguido uma data definitiva de estréia, marcada para Outubro desse ano, quase um ano mais tarde do que foi a princípio prometido pela Warner, major americana que bancou a distribuição do filme do estúdio Dark Castle, dono dos créditos por recentes sucessos como o terror adolescente Casa de Cera e ação debochada RocknRolla, do diretor Guy Ritchie. Se na própria produção o filme já ganha pontos para um investimento de bilhereria, a garantia só sobre para outro nível quando a trama é toda baseada em uma história em quadrinhos, no caso uma minissérie em quatro partes lançada em meados de 2005 com roteiro de Greg Rucka e arte de Steve Lieber. Por fim, o filme ainda contou desde o começo com a presença da atriz Kate Beckinsale, conhecida como a estrela da série Anjos da Noite, que pode não estar no melhor momento de sua carreira, mas continua sendo um nome de peso para estampar o topo de um cartaz. Isso sem contar a coadjuvância de um até então ilustre desconhecido Gabriel Macht, que em março último se tornou o novo astro da terra do cinema ao protagonizar o suceso The Spirit na pele do herói-título. Assim a produção seguiu, com elenco completo pelos esquecidos Tom Skerritt (Brothers & Sisters) e Columbus Short (Poder do Ritmo). O roteiro inicial da dupla Jon e Erich Hoeber, que só tem a ação criminal Montana no currículo, passou por uma revisão pesada de outros dois irmãos, Chad e Carey Hayes, esses mais experientes no suspense da trama, tendo assinado o script do terror Colheita do Mal. A missão de filmar na imensidão branca da Antártida, onde ocorre a trama de assassinato e investigação, foi assumida por Dominic Sena, que não pegava em uma câmera desde 2001, quando lançou a ação cool Swordfish. As coisas pareciam bem, o primeiro pôster anunciava o filme para 2008, mas algo deve ter feito as coisas mudarem de figura na Warner, que resolveu adiar o filme para Abril de 2009 e, depois, para Outubro. Com trailers e fotos lançadas, resta esperar que a nova decisão seja mesmo definitiva. 

Girls. Bond Girls.

bond. james bond 

Quando o britânico Daniel Craig assumiu, no urbano e violento Cassino Royale, o papel do espião da rainha mais famoso do mundo e ainda assumiu que estava lá para atualizar o personagem e trazê-lo de vez para um século dominado pelo brutal, instintivo e acima de tudo muito lucrativo Jason Bourne, ninguém, e me inclua nesse balaio, conseguia apostar no sucesso da empreitada. Mais ainda, os fãs todos pegaram seus piquetes e protestaram contra a escalação de um Bond loiro, de charme tosco e tendências violentas, argumentando que a produção havia passado dos limites ao descaracterizar o personagem pensando apenas no lucro. Na internet chegou a surgir um site que atraiu toda a atenção da mídia, dividiu opiniões e acabou fechado. O Daniel Craig is Not Bond foi reaberto recentemente como uma fonte de notícias que serve bem aos fãs revoltados e aos que queiram ver um outro lado a chuva de elogios que desceu sobre o reboot da série e sua recente e acelerada continuação, Quantum of Solace. O fato é que a crítica em massa aprovou o novo James Bond, assim como o público, que fez dos dois últimos filmes da série os maiores sucessos do personagem em solo americano. Enquanto isso, o vindouro 23º filme do personagem começa a ganhar seus rumores e suas confirmações, preparando-se para um lançamento em 2010, sinal de que a série voltou a produção constante. Depois de Marc Forster, diretor de Quantum of Solace, pular fora do comando do novo filme e o rumor sobre a contratação de Danny Boyle, recém-oscarizado por Quem Quer Ser um Milionário, ter sido desmentido, a bola da vez é a contratação de um novo roteirista para a série, para se juntar ao veterano Paul Haggis, que não larga o osso desde que assumiu o texto do espião em Cassino Royale. Quem deve co-escrever a nova trama é o premiado Peter Morgan, o homem por trás de A Rainha e Frost/Nixon, nome que atiçou os nomes mais badalados da terra do cinema a cavar seu lugar na nova aventura. Os sempre presentes rumores sobre as garotas de Bond no novo filme tiveram início no nome de Freida Pinto, a musa de Quem Quer Ser um Milionário, e seguiram com a declaração clara de interesse por parte de Angelina Jolie e Jennifer Aniston, que teriam que disputar lugar com o suposto retorno da personagem Camille, representada pela atriz Olga Kurylenko em Quantum of Solace. Por fim, a última a entrar na acirrada disputa foi Megan Fox, que pelo jeito pretende sair direto das filmagens de Jennifer’s Body para a participação na aventura, ao lado de Michael Sheen (Frost/Nixon), única presença quase confirmada na pele do vilão da vez, que pode ou não ser o velho conhecido Blofeld, um dos maiores inimigos do espião, que tem sete participações ao longo dos vinte filmes da série e ainda foi a inspiração para Mike Myers criar o vilão Dr. Evil dos filmes de Austin Powers. Sheen é um velho parceiro do roteirista Morgan, que tem presença garantida pelo menos em outros dois vindouros filmes de sua autoria, A Special Relationship e The Damned United.

Especial: O primeiro teaser do Alice de Tim Burton

Pouco a pouco, quase como quem não quer nada, Alice no País das Maravilhas vai se tranformando no que pode ser o filme de fantasia mais carregado de expectativa desde que o mundo interiro viu o final da jornada de Frodo e seus amigos em O Retorno do Rei. Se não bastasse a visão única de um artista como o cineasta Tim Burton sobre uma das maiores histórias infanto-juvenis de todos os tempos, o filme ainda me reúne um elenco fora de série que combina velhos parceiros do diretor e novos integrantes da gangue de forma espetacular e por fim ainda divulga artes conceituais e caracterizações que prometem se tornar mais do que clássicas. Aliás, marque bem cada palavra quando eu digo que Alice estará na maioria das categorias técnicas, se não em mais algumas das principais, do Oscar 2011. Por fim, toda a espera que acaba de começar é coroada por um teaser como esse logo aí em cima, que não precisa mostrar muito para se tornar o um minuto e meio mais sensacional da história recente do cinema. É bem verdade que vemos só o bastante para nos deixar com água na boca, mas é impossível não se pegar vendo e revendo o bendito videozinho, tudo na vã esperança de pegar algum detalhe a mais ou uma nuance das breves atuações que veremos na íntegra em Abril do próximo ano, quando o filme estreará no que vem se tornando cada vez mais um grande evento. O clima de conto-de-fadas sombrio e pitoresco a um só tempo é evidente desde o primeiro take, mostrando a atuação de uma promissora Mia Masikowska, mera desconhecida com papéis pequenos em filmes como Um Ato de Liberdade antes de assumir os holofotes do novo filme do diretor. Logo em seguida, direto ao assunto, o trailer nos mostra o que todos nós já sabemos, com a queda de Alice pelo buraco do coelho, impressionante nos efeitos especiais, ela tomando o que quer que seja e diminuindo de tamanho, tudo de prelúdio para enfim entrarmos no País das Maravilhas. A narração é clara, ainda que quase idílica: “Há um lugar como nenhum outro na Terra, uma terra cheia de encantamento, mistério e perigo. Alguns dizem que para sobreviver é preciso ser tão maluco quando um chapeleiro… o que, felizmente, eu sou”. Introdução esperta para um Johnny Depp que leva mais uma vez ao limite sua própria caracterização, surgindo na tela como um grande e brilhante holofote, interpretando um Chapeleiro Maluco que pode e vai se tornar um ladrão de cenas melhor que qualquer outro. Enquanto isso, ainda vemos os primeiros flashes do comediante Matt Lucas sob maquiagem e efeitos especiais como os gêmeos bizarros Tweedle-Dee e Tweedle-Dum, e de Michael Sheen igualmente coberto por píxels na pele do simbólico Coelho Branco que conduz Alice pelo começo de sua viagem. Também aparecem frações de segundo das performances de Anne Hathaway como a Rainha Branca, de sua irmã Rainha de Copas, representada por Helena Bonham-Carter, e até do ator Stephen Fry, promissor mesmo sem mostrar o rosto como o Gato. É com toda essa expectativa que a gente espera por mais dolorosos nove meses para entrar na toca do coelho.

Bom, pessoal, e por hoje é só. Depois dessas quatro notícias, mais dois trailers para gente ficar esperando pelo resultado final, só me resta agradecer como sempre a todos os comentários e desejar os melhores filmes para todos vocês! Até mais!

domingo, 26 de julho de 2009

Coração de Tinta – Magia dos dois lados da tela

ink

Coração de Tinta (Inkheart, Alemanha/Inglaterra/EUA, 2008).

De: Iain Softley.

Com: Brendan Fraser, Eliza Bennett, Paul Bettany, Andy Serkis, Helen Mirren, Jim Broadbent, Sienna Guillory, Jennifer Connelly.

106 minutos.

Os leitores vorazes que por ventura estiverem passando os olhos por essas linhas devem concordar comigo que não raro há um gosto especial nos mundos que surgem em nossa mente durante a leitura. Tão especial que, muitas vezes, mesmo que por breves instantes, desejamos com todas as nossas forças viver aquela história por nós mesmos. O mundo de papel pode ser muito mais atraente que o de carne e osso que vemos e vivemos todos os dias, e cada criação humana e tão única em suas palavras que é impossível evitar um desejo, por mais secreto que seja, de que tudo aquilo se torne em verdade. Mesmo preso no mesmo mundo da ficção do qual tira personagens bem familiares ao espectador e ao leitor, Coração de Tinta deve a maior parte do envolvimento e fascinação que causa a esse antigo e arraigado sonho humano, romantizado pela escritora alemã Cornelia Funke na novela infanto-juvenil de fantasia e aventura homônima lançada em meados de 2003, tudo por meio do esperto e de certa forma antigo conceito de “Língua de Prata”, espécie de rara habilidade nata que leva as pessoas a materializar aquilo que lêem em voz alta. Sempre cuidadosa com a própria escrita, Funke construiu em papel uma ode a literatura e uma deliciosa aventura cheia de encantamento e povoada por personagens construídos com esmero digno da apreciação de qualquer crítico exigente ao mesmo tempo em que a fez movimentada por um ritmo dinâmico e peculiar capaz de prender o leitor mais casual. Em meio a tudo isso, ainda ganhávamos de graça uma leitura lúdica, quase escapista, que usava uma premissa por si só interessante para explorar criações próprias de uma forma no mínimo incomum. Mesmo quando eram tirados de um “livro dentro do livro”, os personagens de Funke tinham alma, vida própria e, portanto, não deixavam dúvida ao leitor de sua capacidade de sair do mundo da ficção. Feito meia década depois de o livro explodir mundo afora e até ganhar uma continuação, Coração de Tinta, o filme, prefere um caminho mais arriscado e mais visual ao transformar esses mesmos personagens em caricaturas que povoam um mundo mais do que real e podem se provar tão perigosas quanto as ameaças das quais fugimos ruas afora. A força da palavra escrita ainda é o cerne da trama, mas de alguma forma a tradução visual das peculiaridades do material original pediu adaptações que podem ou não agradar aqueles que viveram a experiência literária de forma mais marcante. No final das contas, porém, o filme deixa intacto o caráter escapista e a fascinação natural que a trama tem, criando um universo que tem brilho próprio e apoiando-se em um elenco sólido para representar bem aqueles personagens que estavam nas palavras de Funke, enquanto o roteiro se preocupa mais em dar ao espectador a sensação de estar embarcando em uma aventura tão verdadeira quanto fantástica. O equilíbrio é complicado, de fato, mas Coração de Tinta consegue se aventurar entre o humano e o ficcional com competência notável e acaba sendo acima da média para as recentes investidas cinematográficas no terreno da fantasia. Real ou não, aqui estamos nós diante de mais um mundo que merece nossa atenção, seja em papel ou em imagens.

Obviamente, quando falamos na criação de um mundo atraente e o assunto é cinema, a imensa maioria dos créditos deve ir ao roteiro, que precisa buscar o equilíbrio entre a caracterização do cenário e a relação entre os personagens, sempre quesito fundamental em qualquer trama que ambicione envolver seu espectador. No comando desse barco, é admirável a audácia do americano David Lindsay-Abaire, mais conhecido pelo texto da animação Robôs e futuro autor do roteiro de Homem-Aranha 4, que escolhe a rota mais turbulenta para administrar tão complexa gerência e se aproveita do tempo limitado de que dispõe para focar em um grupo concentrado de protagonistas e torná-los no símbolo quase vivo daquele conceito arraigado que se torna em magia na trama. Os coadjuvantes são meras caricaturas, cuja ficção está naturalmente estampada em seus rostos, mas de alguma forma se tornam ingredientes indispensáveis para uma receita ousada que prova dar certo em meio a soluções bem-armadas de roteiro. São eles, as caricaturas, que formam a sólida base e muitas vezes fazem o papel de alavanca para que um trio inusitado de protagonistas venha a se tornar justamente o tipo de personagem que desejamos mais profundamente que se tornem em realidade. Ironicamente, o texto de Abaire faz de tudo para que por breves instantes eles sejam, criando diálogos que soam reais sem precisar recorrer ao caminho fácil do exagero melodramático e montando situações que colocam sob uma perspectiva diferente o caráter e os objetivos que movem cada um desses personagens. A mistura resulta em um texto de profundidade rara no gênero a que pertence. É a pura magia que está incutida na trama sendo transferida para o espectador, e de alguma forma é nessa inesperada transferência que o texto de Abaire prova que, ao menos dessa vez, a rota mais arriscada pode ser a correta, triunfando em um clímax que consegue emocionar, liberar adrenalina e gerenciar com cuidado o destino de cada um dos personagens, substituindo a surpresa baseada em um único conceito que movimentava a novela pela de um final que pouca gente espera nos dias cínicos por que Hollywood está passando. Sim, aqui estamos nós diante de um fim de conto de fadas, mas de certa forma esse conceito tão ultrapassado serve como uma luva para o mundo de tinta que se tornou em imagem pelo texto de Abaire, uma espécie completamente diferente do de Funke, e não por isso menos encantador. Coração de Tinta, o filme, é centrado em Mortimer “Mo” Folchart, um encadernador com a rara habilidade de trazer ao mundo real os personagens dos livros que lê em voz alta. Como tudo nessa vida tem um preço, em uma noite sua esposa é levada para o mundo da obra de fantasia que dá nome ao filme, enquanto os vilões da história saem das páginas para o mundo real. Quando finalmente encontra um cópia do raro livro e se prepara para trazê-la de volta, porém, ele é encontrado por Dedo Empoeirado, um maleável cuspidor de fogo que também foi arrancado do mundo de ficção e é capaz de tudo para retornar para sua família e sua mulher, inclusive se reunir ao vilão Capricórnio, líder de uma enorme rede de capangas, que por sua vez não tem interesse nenhum em voltar a sua vida medíocre do livro e vai atrás de Mo e de sua filha, Meggie, para obrigá-lo a trazer tesouros para ele das obras de ficção.

Para uma trama que a bem da verdade vai muito além disso em ramificações e pequenas surpresas, Coração de Tinta conta bastante com o elenco para segurar as pontas e dar mais força aos momentos-chave, levando muitas vezes a decisão ousada do roteiro nas costas e fazendo-o funcionar infinitamente melhor. Começando, é claro, por Brendan Fraser, um pouco fora de seu estereótipo aventureiro de A Múmia para incorporar o personagem que, segundo a própria autora do livro, foi escrito com sua atuação em mente. Ele não tem tanto espaço para exercitar seu poder dramático, mas não chega a decepcionar quem conhece seu talento na construção lenta e elaborada de personagens levados por carisma, transformando Mo em um protagonista complexo, humano, falho e encantador a um único tempo, trabalhando bem sua voz, elemento fundamental na trama, e usando-a aliada com a força de uma interpretação segura para corresponder a todas as expectativas nas cenas em que o dom do personagem é exigido. Por sua vez, a jovem Eliza Bennett, que já havia mostrado talento interpretativo na ação O Agente, segue acima da média e atua na pele de uma Meggie consideravelmente mais dotada de personalidade do que aquela do livro, concedendo a segunda protagonista da trama um pouco mais do que o puro simbolismo dos “olhos do espectador” e estrelando alguns dos momentos mais encantadores e mais aflitivos do roteiro com competência invejável. Por fim, o trio de protagonistas é fechado por um excepcional Paul Bettany, conhecido como o albino Silas da adaptação de O Código da Vinci, que encarna com fidelidade todo o mistério que envolve Dedo Empoeirado no livro e ainda concede a ele o rosto ambíguo e fascinante de um homem com um objetivo que não deixa nada nem ninguém, sejam vilões ou heróis, entrarem em seu caminho. Em última instância, Bettany o torna em um relutante anti-herói numa transição suave da dúvida para uma quase certeza, já que de claro mesmo só há paixão daquele homem, daquela aberração, pelo seu mundo. Isso Bettany sabe traduzir perfeitamente, seja por puro talento ou pela sábia escolha de Jennifer Connelly (O Dia em que a Terra Parou), esposa do ator na vida real, para interpretar sua Roxanne, a mulher do personagem, em um par de cenas idílicas. É claro que a escolha de elenco não para por aí, e ainda temos uma Helen Mirren estranhamente adorável na pele de Elinor, a tia-avó de Meggie que relutantemente se envolve na trama após sua amada biblioteca ser destruída pelos capangas de Capricórnio. Pode parecer estranho para uma atriz de tamanho potencial dramático se tornar um alívio cômico, mas versátil como é, ela faz o trabalho com gosto e justamente por isso surpreende o próprio espectador. Quem faz papel semelhante é Jim Broadbent, que se encontra mais no papel pitoresco do escritor do Coração de Tinta ficcional do que na recente parte que tomou na série Harry Potter, tornando Fenoglio a espécie de mais do mesmo que, nas mãos de um bom ator, se torna o mesmo com um pouco a mais. Por fim, os destaques se fecham com Andy Serkis, o homem por trás do Gollum de Senhor dos Anéis, que faz de Capricórnio uma caricatura ao mesmo tempo repulsiva e compreensível, exagerando quando o exagero lhe é exigido pelo roteiro e fazendo-se mais realista nos momentos finais, quando o verdadeiro e mais arraigado medo de seu personagem é exposto de forma espetacular. Sua atuação é essencial, para a trama e para o clímax, mas é mesmo o trabalho do diretor Iain Softley, mais conhecido por trabalhos conceituais, como o drama de ficção K-PAX, que faz do universo de Coração de Tinta algo tão atraente e realista quanto o descrito por Funke. Sua câmera é equilibrada, sabe quando se servir de alguma histeria e quando acalmar as coisas com cortes elegantes, seu trabalho com os atores é exemplar e a forma como conduz as cenas repletas de efeitos especiais é notável pela fluidez, sem precisar de cortes e ângulos múltiplos para usar a pirotecnia a seu favor e criando um ritmo crescente que agrada aos olhos e a interpretação a cada minuto mais instintiva do espectador. Curto em seus 106 minutos mas bem-amarrado o bastante para não parecer apressado, Coração de Tinta chega a seu final como um dos mais notáveis exemplares de fantasia dos últimos tempos, fora do esquema das grandes séries, e ainda consegue trazer-nos integralmente a sensação de realidade fantástica que, mais do que nunca, cai como uma luva para personagens de mentira que parecem tão reais. Uma pena que os créditos tenham que vir para acabar com a festa, mas a memória vai ficar por muito mais do que meras duas horas de diversão.

Nota: 7,5

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