Os Doze Macacos (Twelve Monkeys, EUA, 1995).
De: Terry Gilliam.
Com: Bruce Willis, Madeline Stowe, Brad Pitt, Christopher Plummer.
129 minutos
O que é uma obra-prima? Quem, afinal, julga os critíerios para classificar um filme como lixo cinematográfico ou obra essencial para o entendimento da sétima arte? Às vezes a humanidade é tão complexa, complicada, repleta de trâmites e ramificações que fica difícil responder certas perguntas. Então nosso cérebro aprende a não formulá-las, deixa-las guardadas em alguma região sombria da memória mais arraigada. Contestação, afinal, nunca foi o forte de nossa espécie. Para seres tão evoluídos, não é estranho pensar que os filósofos que realmente tentam entender a vida a sua volta são exceções a uma regra? E pior, uma regra de humanos robóticos que seguem aceitando e destruindo o mundo a sua volta, dia após dia, deixando as preocupações para trás e culpando “o sistema” por tudo isso. Quem desafia o tal sistema, nada contra a maré e quebra as regras inventadas por sabe-se lá quem, é chamado de louco. Em certo ponto de “Os Doze Macacos”, a doutora Kathryn Reilly (Madeline Stowe), deixa escapar a seguinte pérola: “a psiquiatria é a mais nova religião. Nós dizemos o que é certo e o que é errado, o que é normal e o que é loucura... e todos aceitam”. Os críticos renomados são os psiquiatras, os sacerdotes do cinema. São eles que dizem se um filme vale a pena ou não ser visto, que eternizam as obras que sua visão considera como melhores e que condenam outras, as chamadas “bombas” cinematográficas. Mas a verdade é que julgar um filme, assim como julgar a loucura, é uma tarefa subjetiva, que exige respeito e ao mesmo tempo determinação, mas que acima de tudo parte de uma série de experiências de vida que o julgador tem guardadas na memória. Como Alan Moore indagou brilhantemente duas décadas atrás: “quem vigia os vigias?”. Ainda não estamos falando de “Watchmen”, mas não é tão absurdo dizer que “Os Doze Macacos” é tão contestador e revolucionário quanto a obra-prima em quadrinhos de Moore. Aqui, os artistas são outros, mas a forma de manipular uma história fictícia para retumbar na realidade continua a mesma.
O roteiro do casal David & Janet Peoples, responsável pelo faroeste revisionista “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood, criam toda uma trama paranóica futurístico-apocalíptica para dar suporte às mesmas questões levantadas no início desse texto. Para começar, o script não perde tempo com sutilezas e metáforas, deixando clara a crítica que pretende fazer e casando perfeitamente com a forma peculiar de guiar de Terry Gilliam (“Brazil – O Filme”). A trama não é fácil de resumir: James Cole (Bruce Willis) vive em um futuro pós-apocalíptico em que um vírus obrigou os sobreviventes a viverem no subsolo, enquanto a superfície voltou a ser dominada pelos animais. Numa mistura confusa de exploração e coleta de dados, ele é escolhido para voltar ao passado, na tentativa de descobrir a origem do tal vírus e, ao invés de impedi-lo de se espalhar, recolher uma amostra para que ele seja estudado pelos cientistas de sua realidade. Na primeira tentativa, ele acaba indo parar a seis anos antes do planejado, e conhece a Dra. Reilly (Madeline Stowe), uma psiquiatra que acaba simpatizando com o homem, tratado como louco e trancafiado em um manicômio ao lado de figuras grotescas como Jeffrey Goines (Brad Pitt), espécie de psicopata controlado com tendências paranóicas. Os três são conduzidos com habilidade pela trama de forma a se tornarem peças fundamentais na trama maior que se esclarece aos poucos, mas mantém o segredo até o último minuto, onde os equívocos de uma sociedade cheia de pré-julgamentos é exposto sem piedade. Mas além de se tornarem personagens notáveis pela história em que são env olvidos, eles são acima de tudo seres humanos levados pela hipotética loucura, anti-heróis cativantes que tornam o delírio de “Os Doze Macacos” em algo empolgante de se acompanhar. E é claro que os intérpretes acabam recebendo a responsabilidade de manter o interesse nas alturas, e fazem isso com competência, ainda que inconstante.
Bruce Willis se utiliza de todo o seu carisma de herói falível para contruir um Cole fascinante, que passa praticamente o filme inteiro como “um cego em tiroteio”, mas nem por isso se torna um personagem irritante. A confusão que o ator expressa é genuína, sincera, hipnotizante e digna de apreciação. Madeline Stowe, que em 1995 estava no auge da fama hoje perdida e trabalhando com diretores como Robert Altman (“Short Cuts'”) e Michael Mann (“O Último dos Moicanos”), é o elo mais fraco da corrente, mas segura alguns dos momentos mais tensos da trama com competência o bastante para não estragar o resultado. Indicado para o Oscar por sua interpretação visceral e um tanto caricata, Brad Pitt traduz bem a loucura que vai de inofensiva a perigosa em poucos segundos. É impossível negar que a inflexibilidade de seus trejeitos grotescos é admirável, assim como o caráter marcante de sua interpretação. Com gente assim envolvida, a câmera de Terry Gilliam, ex-membro do Monty Python e subseqüente diretor de obras como “O Pescador de Ilusões” e “Medo & Delírio”, indefectível em seus movimentos dinâmicos, closes claustrofóbicos e âgulos imprevisíveis só faz aumentar a natural fascinação que a obra exerce. O trabalho do diretor em climatizar seu filme é notável, se valendo de cortes bruscos e diálogos que soam inacabados (e, por isso mesmo, mais reais) para passar a sensação de confusão que seus personagens. E quando chega a hora de esclarecer tudo e filmar o emocionante clímax, ele substitui toda a estranheza por um bem-calculado detalhismo, filmando toques, olhares, e conseguindo trazer a câmera lenta de volta para os recursos eficientes. Depois de seus 129 minutos, a sensação é que assistir “Os Doze Macacos” é ver a combinação do rigor técnico e racional de Kubrick com o sentimentalismo eficiente, complexo e inesquecível de Spielberg. Tudo isso combinado com a genialidade de Terry Gilliam e uma trama que não vai sair de sua memória por um bom tempo. Mas esse é meu julgamento, uma visão que pode não ser a sua. Assista e tire suas próprias conclusões. Para o bem ou para o mal, uma coisa todos os espectadores hão de aprender: não existe verdade absoluta.
Nota: 8,5
7 comentários:
Excelente texto. Começa com uma reflexão e passa para o caráter de resenha sem perder o rebolado (é carnaval). Não vi o filme, mas se ele for metade do que você diz já me interessou e vou logo baixá-lo, digo, comprá-lo. E tenho que concordar que não há verdade absoluta, já que existem milhões de verdades que são apenas interpretações da realidade. O paradoxo está aí, a verdade é uma mentira. rsrs Adorei o blog. Você escreve muito bem.
Valeu!
nossa q analise bem feita!
me deu vontade de ver esse filme - pois é, aindan ão vi hehehehhee
não sei se vc ja falou sobre um filme, q eu quero ver mto, se chama "Na Natureza Selvagem" acho q ia ser legal ler uma analise sua por aqui
abraço e valeu pelo comentário!!
É um ótimo filme. Gosto bastante desta produção, principalmente pela direção de Terry Gilliam e da atuação de Brad Pitt - a melhor do ator, na minha opinião.
Uma dica: corre pros cinemas pra ver O Lutador. Até publiquei o comentário lá no meu blog.
Botei fé nas descrições do filme com comentarios e tudo mais, bom nivel... e principalmente pq o filme foi bom ppreincipalmente pelo elenco
http://mundodrive.blogpot.com
excelente blog.
adoro filem de ficção cientifica de todo genero, vi doze macacos, li o livro, ainda vejo ocasionalmente, enfim.
amei o blog.
Oi, Charles!
Excelente texto pra varia, né. Também acho que fazer crítica de cinema falando apenas do que se gosta fica um pouco subjetivo d+. O crítico tem essa obrigação de passar para o leitor não só o seu ponto de vista, mas para apontar se alguns elementos técnicos foram bem explorado como atuação, fotografia e, principalmente o roteiro.
Não conheço "Os 12 macacos", mas vou procurara na locadora.
Abraço e bom carnaval.
vi uma dez vezes este filme- o brad matou a pau mas em que benjamin button. parabens pelo texto.
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