

Até o Limite da Honra (G.I. Jane, EUA, 1997).
De: Ridley Scott.
Com: Demi Moore, Viggo Mortensen, Anne Bancroft, Jason Beghe, James Caviezel.
124 minutos.
Ridley Scott é, para dizer em apenas algumas palavras, acima da média. Desde que "Alien – O Oitavo Passageiro" surgiu para aterrorizar o mundo com seu suspense psicológico em 1979, o que o britânico vem produzindo são filmes que (re)definem gêneros. A cada movimento de sua câmera e a cada corte certeiro, é impossível não perceber o quanto Scott está dois passos a frente de tudo o que se faz hoje. Seja coordenando o caos de um futuro distópico no lendário "Blade Runner" ou mostrando o valor da amizade com estilo em "Thelma & Louise", a grande verdade é que o nome de Sir Scott já garante duas horas de cinema de melhor qualidade. Às vezes ele derrapa na pretensão ("1492 – A Conquista do Paraíso") ou no exagero fantasioso ("A Lenda"), mas mesmo por trás de todos os erros, sua direção elegante e brutalmente competente é sempre algo que vale a pena ver. "Até o Limite da Honra" é muito mais um filme de Demi Moore do que um filme de Ridley Scott. Para começar, a estrela estava em sua melhor época em 1997, depois de três polêmicos sucessos ("Proposta Indecente", "Assédio Sexual" e "Striptease") em que fingia discutir os direitos feministas como desculpa para mostrar sua excelente forma de sex symbol. "Até o Limite da Honra" foi planejado para ser um passo a frente nessa seqüência controversa: um filme mais profundo, que se propunha a colocar o preconceito no exército como questão central, discussão apoiada por diálogos espertos de um roteiro assinado por uma improvável dupla.
David Twohy ainda era um ilustre desconhecido naquela época, três anos antes de "Eclipse Mortal", tendo no currículo fracassos como "Waterworld". Danielle Alexandra tinha créditos de roteiro apenas em séries de TV conhecidaas pelo bom humor, como "Quantum Leap". Ambos fugiram de seu ambiente para escancarar o treinamento desumano aplicado pelo exército aos SEALS, a tropa de elite da Marinha americana, e estudar como a entrada de uma mulher clamando por igualdade nesse treinamente abalaria as estruturas. O resultado não foi exatamente uma obra-prima, mas alterna alguns momentos bem inspirados com um par de julgamentos precipitados e talvez algumas vezes até maniqueístas. Nada que comprometa o geral do filme, mas esses pequenos lapsos de inspiração acabam tornando "Até o Limite da Honra" de um filme potencialmente revolucionário a uma jornada anabolizada, divertida e comovente em alguns pontos, mas acima de tudo comum demais para o assunto que se propõe a tratar. Moore é Jordan O’Neill, militar que foi impedida de participar da Guerra do Golfo quando quis se alistar e se vê presa em um trabalho maçante na Inteligência da Marinha. Mas as coisas mudam para ela quando a senadora Lillian DeHaven (Anne Bancroft), defensora dos direitos feministas, a escolhe para ser a primeira mulher a enfrentar o treinamento mais pesado da Marinha. Jordan agarra a oportunidade com todas as forças, mesmo contra a vontade de seu namorado Royce (Jason Beghe), e a partir desse ponto "Até o Limite da Honra" engata a quinta marcha nos treinamentos e na luta de Jordan pela total igualdade com seus colegas. Ela dispensa tratamentos exclusivos e favorecimentos, e contraria todas as expectativas ao sobreviver ao desumano tratamento do Comandante Urgayle (Viggo Mortensen) semana após semana, o que pode mexer com as vontades de certos políticos. Embora não alcance o nível de polêmica e envolvimento que poderia, é impossível negar que o roteiro retrata com fidelidade e bastante impacto, mas a trama que toca mais aos personagens e sua forma de agir acaba ofuscada, às vezes até mesmo um obstáculo para o andamento da trama.
Apesar dos problemas do roteiro, o elenco se sai bem na missão de tornar mais humanos e críveis os personagens um tanto anacrônicos contidos nele. É claro que a rande protagonista e grande destaque é Demi Moore, mostrando uma vez mais que para além da beleza física e da preparação intensa que sempre fez para seus papéis, há ali um talento dramático inexplorado. É nos momentos mais viscerais, intensos e icônicos e Moore demonstra toda a sua habilidade de usar de sua ligação com o público para chocar. Seja no momento em que finalmente desafia seu comandante ou na triste cena que retrata seu retorno para casa, ela entrega um desempenho imperfeito, carismático e triunfante. Embora não tenha sido notado na época, é fantástico observar Viggo Mortensen construir um personagem tão cruel e marcante antes da bondade dubitável de Aragorn na trilogia "O Senhor dos Anéis". Ele consegue incutir em Urgayle trejeitos que nunca passam perto do exagerado, mas que são tradicionais o bastante para prender o público médio. De fato, uma interpretação certeira. Assim como é a da veterana Anne Bancroft, mostrando que o evelhecimento trouxe ainda mais talento para Mrs. Robinson de "A Primeira Noite de um Homem", caracterizando um personagem carismático e misterioso na pele da Senadora. Mas, se fosse só por esses elementos, Até o Limite da Honra nunca passaria do morno. O que eleva o filme a um nível um pouco superior é mesmo a câmera de Scott, que desde a primeiríssima cena nos presenteia com uma direção centrada e que deixa a história correr sem se esquecer de provocar impacto visual em seqüências que poderiam ser apenas treinamentos, mas se transformam no retrato definitivo da desumanidade quando vigiados pela sua câmera. Se não fosse pelo inglês mais talentoso em atividade, "Até o Limite da Honra" seria apenas um filme-polêmica de Demi Moore. Com ele no comando, "Até o Limite da Honra" se torna um ensaio fascinante, imperfeito e acima da média. Assim como seu diretor.
Nota: 7,5

3 comentários:
Gosto da atriz Demi Moore, apesar desse não ser o melhor filme que ela fez, eu gosto do filme.
Na minha opinião é nota 8!
Não sou muito chegada em filmes, portanto não sei nem que filme é esse.
Então não posso nem dar nota.
;x
http://opniaoinutil.blogspot.com/
po..curti muito o seu blog..vou voltar aki sempre pra ver dicas de filmes!
abraçoo!
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