sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Coragem Sob Fogo - Patriotismo, culpa e a "estrutura Rashomon"

Coragem Sob Fogo (Courage Under Fire, EUA, 1996).

De: Edward Zwick.

Com: Denzel Washington, Meg Ryan, Lou Diamon Phillips, Matt Damon, Scott Glenn.

117 minutos.








Reconhecidamente uma das narrativas mais intrincadas e criativas da história do cinema e também um dos filmes mais influentes do século passado, "Rashomon", filme de 1950 do mestre nipônico Akira Kurosawa, contava a história de um crime sob quatro diferentes pontos de vista, que em suas contradições levavam o espectador sutilmente à verdade (ou parte dela, pelo menos), tendo como cenário o Japão do século XII. O filme e sua forma de conduzir a história foram tão inovadores e abriram tantas possibilidades que desde então se cunhou o termo “estrutura Rashomon”, que diz respeito a qualquer filme que se utilize de várias formas de ver um determinado acontecimento, sempre guiado por uma linha mestra com um personagem na busca pela verdade. Até hoje, roteiristas mundo afora se apropriam da idéia do mestre para tecer tramas de mistério que vão do mais intrigante ao mais dispensável. Como se trata apenas de uma estrutura, um modelo de narrativa e não de tema, a “estrutura Rashomon” normalmente é usada para tornar mais instigante uma história que pode ser embalada das mais diversas maneiras. Para citar um exemplo recente, "Ponto de Vista" optou por usar oito diferentes visões para dar certo frescor a uma história contada milhares de vezes antes (atentado ao presidente americano). Já "Coragem Sob Fogo", dirigido por Edward Zwick no ano de 1996, prefere discutir até onde deve ir o patriotismo, explorar os mecanismos da culpa, e ainda tocar na delicada questão da quebra de preconceitos apressada e muitas vezes pouco fundamentada. Discutir assuntos assim tão sérios em um filme realizado dentro da “estrutura Rashomon” pode ser uma armadilha mortal, afinal tanto pode acontecer de a forma passar por cima do contudo quanto de a criativa narrativa ficar aqpagada por discussões muito maçante.

Kurosawa obviamente era perfeitamente capaz de passar por cima dessas dificuldades, tanto como diretor quanto como roteirista, e o resultado foi o clássico que hoje enfeita o “apelido” da estrutura. Embora não domine tanto a área quanto seu inspirador, Patrick Sheane Duncan ("Tempo Esgotado") não faz um mau trabalho ao guiar a história através dos relatos de quatro soldados presentes em um marcante acontecimento durante a operação Tempestate do Deserto. Para quem não sabe, a operação consistiu em uma violenta e decisiva invasão empreendida pelos EUA ao Kwait, visando livrar o país da ocupação das tropas iraquianas e dando início a primeira Guerra do Golfo. Embora filmes contundentes sobre as polêmicas decisões políticas e diplomáticas tomadas nessa época façam falta, "Coragem Sob Fogo" escolhe (com inteligência) trilhar outro caminho. O acontecimento que levanta toda a investigação e os relatos contraditórios se dá depois da batalha, quando um helicóptero comandado por Karen Walden (Meg Ryan) é abatido ao tentar eliminar alguns poucos soldados iraquianos que estariam atacando um outro helicóptero, acidentado na areia do deserto. Uma noite passa-se no deserto, e o resultado no dia seguinte é o resgate de todos os tripulantes, menos Karen. Um ano depois, Nat Serling (Denzel Washington) é designado para investigar a concessão de uma medalha de honra póstuma para a pilota, que seria a primeira mulher a recebê-la. Mas o que o exército quer não é uma busca meticulosa, mas uma breve revisão para ratificar a verdade (ou não) e oficializar o ato que poderá levantar a moral do povo americano, descrente em seu próprio país. Nat, porém, tem seus motivos para ser obcecado pela verdade.

Durante a mesma operação, ele comandou um tanque de guerra que por engano acabou abatendo um veículo aliado onde estava um de seus melhores amigos. Ele se considera culpado, mas seu superior quer que ele seja absolvido, e encontra uma maneira de manipular os fatos. Para ele, já basta a mentira que ele mesmo terá que suportar. Em conflito consigo mesmo e dono de uma jornada que caminha paralela com as descobertas no caso de Karen, é incrível a habilidade com que o personagem é construído, criando uma ligação forte e emocional com o espectador que se mostra fundamental ao final do filme. Excelente ator como sempre foi, Denzel encarna a culpa de Serling com facilidade, transmitindo numa atuação sutil e contida toda uma série complexa de emoções. Desempenho, como sempre, acima da média. Já surpresa é a interpretação de Meg Ryan, diferenciando com habilidade extrema as duas “Karen’s” que figuram nas contraditórias histórias de seus quatro subordinados. Dos coadjuvantes, destaque para a participação já marcante de Matt Damon como um dos mais fundamentais “contadores de história” e o veterano Scott Glenn ("O Silêncio dos Inocentes"), perfeito na pele de um repórter que se junta a Serling na busca pela verdade. A difícil tarefa de quilibrar drama, batalhas (em pequena ou grande proporção) e o natural suspense da trama é desempenhada com méritos por Edward Zwick, que desde "Tempo de Glória" tem demonstrado a Hollywood como fazer épicos com coração. Embora seja pouco conhecido, talvez por causa de seu estilo discreto de guiar, é quase sempre o nome de Zwick que está por trás dos grandes filmes emocionais da terra do cinema. Vale a pena ser descoberto, seja pela estrutura ou pelo conteúdo, seja você americano ou não. Afinal, o ressentimento e o orgulho por vidas humanas é e sempre foi universal.

Nota: 8,0

7 comentários:

Anônimo disse...

Quero muito ver esse filme!!

Valeu pela dica!

:D

Nicolle Longobardi disse...

VOU VER!VOU VER!VOU VER!AMEI...UHUL!=D

Anônimo disse...

Quero ver esse filme :D

A'ZaF disse...

Esse blog quebra um galho pra quem n sabe o que assistir

abraços

http://paranoiaelucidez.blogspot.com/

Léo disse...

Ja fui atras de dois filmes por causa do seu blog rsrsrsrs

PS: convido à vc novamente a ir no meu blog e deixar sua opnião em um novo debate que criei,pesso que me ajude de novo nessa nova quetão.

http://leozukinho18.blogspot.com

Palhacada Hein disse...

eesse filme parece ser muuito bom cara.

boa a dica.
ja tinha ouvido falar.

gosto pacas do Matt Damon.

abração

SBIE disse...

Gosto demais desses boletins diários!!
Estou muito afim de assistir a uns filmes,
vou dar uma olhada em que filmes bacanas que você tem por aqui!