Juntos Pela Vida (Life Support, EUA, 2007).
De: Nelson George.
Com: Queen Latifah, Wendell Pierce, Rachel Nicks, Evan Ross.
90 minutos.
Para algo que se renova diariamente, a vida não uma coisa fácil de definir. A verdade é que nos acostumamos tanto a ela que quase nunca nos deparamos com os enigmas indissolvíveis que ela nos apresenta a cada dia. São perguntas iquietantes demais para quem quer seguir com seus dias ordinários, aceitando a sina a que foi condenado. Viver é aceitar nosso destino e o lugar que nos foi dado no mundo? Ou devemos desafiar tudo isso para encontrar nossa própria zona de conforto e sempre buscar algo para melhorar, reparar, aperfeiçoar essa experiência fascinante que é a vida? Não é fácil ver uma delas terminando por conformismo ou pela falta de auto-preservação. O instinto de sobrevivência humano é tão arraigado que é difícil acreditar na facilidade com que ele desaparece quando as complexas maquinações de nossa indecifrável mente nos dizem para fazer exatamente o contrário da sensatez. Talvez a loucura e a auto-destruição nasça da contemplação demorada dos enigmas da vida, ou simplesmente da falta dessa contemplação. A vida a nossa volta é uma eterna confusão sobre a qual pensamos ter controle, ou será que realmente podemos moldar o mundo a nós antes que ele nos molde para ser apenas mais uma engrenagem de uma sociedade que afinal pouco importa? Pensando nisso, egoísmo é mesmo um pecado ou foi transformado em tal para que uma estrutura maior podesse sobreviver, não importa o que se passa com cada um dos pequenos peões? Às vezes transgredimos tanto as chamadas regras do lugar em que vivemos que elas se tornam insignificantes, simplesmente guias de um caminho que, se pudéssemos escolher, não seguiríamos. E quando menos esperamos o mundo está dividido entre aqueles que seguem “as regras” e aqueles que vivem a sua margem, se perguntado para quê afinal seriviria esse pequeno detalhe chamado vida. Juntos Pela Vida é um filme que encontra significância tanto pelos estudos dos sentimentos de uma mulher que já esteve dos dois lados desse jogo quanto pela situação social que retrata com competência notável e total imparcialidade de julgamentos.
Ana (Queen Latifah) já foi uma mulher perdida pelo mundo, uma mulher que perdeu a custódia de sua uma filha por causa do vício em drogas incentivado pelo marido marginal, Slick (Wendell Pierce). Foi preciso que o choque a AIDS a atingisse para que ela finalmente percebesse que caminhava rapidamente para um “destino” que não desejaria para ninguém. E então ela moldou sua vida as regras, colocou-se presa entre elas e aos poucos tentou recuperar tudo o que havia perdido. Não foi fácil, mas ela conseguiu se acertar com a filha mais nova, ainda que a mais velha, Kelly (Rachel Nicks) continuasse a se recusar a sair da proteção da avó. O terceiro elemento principal dessa trama é Amare (Evan Ross), um jovem criado ao lado de Kelly que também se descobre HIV positivo e se entrega às drogas, desaparecendo da vida de todos que haviam sempre lhe dado suporte. É o bastante para que Kelly procure a ajuda da mãe, que empreenderá a busca mais para impedir que a filha se distancie ainda mais dela com a mudança da avó do que pelo bem do garoto. “Juntos Pela Vida” é um conto comovente sobre uma mulher descobrindo como agir sendo parte integrante de um mundo que ela mesma construiu, um mundo que ela entende apenas em parte. Ana é uma mulher que segue a vida a pesar de tudo, uma mulher que se salvou de uma situação fisicamente destruidora para cair em uma jornada desesperadora de emoções fortes sugeridas em nuances inteligentes pelo excepcional roteiro do trio Nelson George (“CB4 – Uma História sem Rap”), Jim McKay (“Gente Comum”) e Hannah Weyer (“Angel”). Os três constroem um texto doce, encantador e emocionante a um tempo, absolutamente magnífico ao retratar as angústias de pessoas que recuperaram a vida após o surgimento do medo de perdê-la. O caso de Amare é uma sábia forma de mexer com a protagonista e com todos ao redor dela, um exemplo perfeito e trágico do que ela poderia ter se tornado caso não tivesse tido força de vontade o suficiente. Os diálogos são críveis, bem construídos, mas o silêncio diz mais que tudo, os atos fazem mais diferença que a palavra.
Para além do roteiro, porém, Nelson George faz um bom trabalho no controle das câmeras, acertando em cheio ao impor uma cadência diferente a casa seqüência, realçando o impacto emocional das passagens finais e quase trabalhando em função da trilha-sonora com seu estilo documental-poético que cria imagen belíssimas em um ambiente tão explorado como a cidade cinzenta de Nova York. Não espere se deparar com as luzes ofuscantes da Broadway ou a fervilhante Quinta Avenida, a beleza da filmagem em “Juntos Pela Vida” tem muito mais a ver com climatização e proximidade do que com grandes paisagens. O fato é que George dá espírito ao filme com sua câmera intrusiva, compreensiva e concessiva, que não julga os personagens, mas cumpre com louvor a missão de captar cada nuance das interpretações honestas do elenco. Dos atores jovens, o mais notável é Evan Ross (“Pride”), encarando um papel naturalmente complexo e entregando uma atuação não menos que irretocável para o Amare sem rumo criado pelo roteiro, um anti-herói comovente e uma metáfora perfeita para a entrega e a culpa. É impossível não sentir um arrepio nas cenas mais significantes de seu personagem, quase sempre ao lado da eficiente e estreante Rachel Nicks, uma promessa para grandes papéis no futuro. Mas se “Juntos Pela Vida” é o pequeno grande filme que é, a culpa é toda de Queen Latifah. A ex-rapper, indicada ao Oscar pela explosiva performance em “Chicago”, encontra a prova final de seu talento incontestável ao encarnar a sofrida Ana, o olho do furacão de uma história desvastadora. Detalhista e absolutamente perfeita, Latifah acerta em cheio ao utilizar da postura corporal (mutável durante todo o filme) a expressão mais sutil para construir uma personagem que seqüestra nossa atenção a casa segundo em tela. Não há sequer um momento, dos mais furiosos aos mais corriqueiros, em que a atriz se descuide e mostre a personalidade expansiva que sempre foi sua marca. O que vemos aqui é uma Latifah contida, concentrada e incontestavelmente magnífica. A representação maior das muitas memórias que deixa “Juntos Pela Vida”, um filme que versa sobre a vida sem precisar responder a nenhuma das questões colocadas no início dessa humilde crítica. Afinal, não cabe a um roteirista fazê-lo, e sim a cada um, dono da própria vida e do próprio destino, um molde de dois lados que pode se adequar ou mudar o mundo a seu favor. Egoísmo demais? Talvez. Mas se há uma grande verdade depois de tanta contestação é que “Juntos Pela Vida” é um filme que merece ser visto, pensado, refletido, vivido... e nunca mais esquecido.
Nota: 9,0
9 comentários:
não curto muito a queen latifah, mas pelo visto, o filme parece ser interessante
Ah eu gosto dos filmes que ela faz
e esse parece ser bem interessante
verei assim que tiver uma oportunidade :D
Você já postou sobre o filme "Um sonho de liberdade? é antigo, mas é muito bom. Seu blog é ótimo, adorei, parabéns!
Gosto muito desse tipo de filme....
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http://jokers.mimhospeda.com/
o enredo parece ser bem interessante.
vou procuraro filme, apesar de não acreditar muito na queen latifah em filmes profundos.
mas to pagando pra ver.
bom post, parabens
abraçz
E tenho que dizer que acho estranho vê-la em produções desse porte e com esse tipo de enredo específico. Bem, não posso julgar sem ter visto o filme. Vou procurar e depois falo.
Valeu!
Parece ser um bom filme, vou conferir, gosto de um bom drama de vez em quando...
Um abraço!
http://daniel.a.s.zip.net
essa mulher faz uns filmes lokos manoo
vo dar o confere!
=D
esse filme é muito show, pra quem ainda nao viu eu recomendo
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