De: David Frankel.
Com: Owen Wilson, Jennifer Aniston, Eric Dane, Kathleen Turner, Alan Arkin.
120 minutos.
Além do fato de serem best-sellers modernos e terem ganhado filmes a altura, "Marley & Eu" e "O Diabo Veste Prada" tem muita coisa em comum. Para começar, ambos são em certa medida biográficos, o que só os torna mais completo de se adaptar já que o desfaortunado roteirista estará lidando com fatos reais. Depois desse pequeno detalhe, há ainda o tema maior de cada uma das histórias. Tanto a Andrea Sachs maltratada pela chefe exigente (embora essa palavra não seja exatamente adequada) de "O Diabo Veste Prada" quanto o John Grogan apaixonado e insatisfeito de "Merley & Eu" se perguntam, em certo ponto de sua jornadas, como a vida pode sair tão diferente de seus planos. É uma coisa comum na vida de qualquer ser humano as surpresas que encontramos pelo caminho e que acabam nos desviando de tudo o que sempre quisemos. Para Andrea, foi o cruel mundo da moda que a transformou aos poucos justamente naquilo que ela mais odiava. Para John, a mudança veio na forma de um labrador super-ativo e causador de inúmeros problemas (embora essa palavra também não seja exatamente adequada). E é claro que o outro denominador comum entre as duas obras é o nome de David Frankel, esse nova-iorquino de 49 anos que já tem um Oscar na prateleira (de Melhor Curta-Metragem, por "Dear Diary", de 1996) e mostrou em ambos os filmes um domínio impressionante da linguagem cinematográfica. De "Prada" ele fez um cult-instantâneo que tem todo o potencial para influenciar a próxima geração. Com "Marley & Eu", o diretor capta o espírito dinâmico e divertido do livro e transforma o filme em um tomo encantador sobre o momento em que aprendemos a sorrir com o que nos aborrecia e sobre quando percebemos o quanto o destino pode ser bondoso e astuto.
É claro que o diretor só conseguiu operar essa transformação graças ao texto conciso e certeiro de Scott Frank ("A Intérprete") e Don Roos ("Finais Felizes"). A dupla capta o essencial do livro e adiciona habilidosamente elementos que funcionam a perfeição na mídia cinematográfica, mas que notadamente não se encaixariam no relato pessoal que o autor redigiu. Enquanto Grogan deixou sua mensagem implícita na simplicidade emocionante da história, os roteiristas tiveram a sensibilidade de perceber que tal estratégia não funcionaria em um filme e trataram de deixá-lo mais claro. Tudo isso sem deixar de tornar as desventuras e peripécias de Marley tão divertidas quanto no material original. Criar em cima de algo que já foi criado não é missão fácil, e fazer o resultado final não soar artificial é um empreendimento ainda mais complicado. Mas "Marley & Eu" alcança essa meta com méritos. Para começar, o roteiro não subverteu uma das qualidades mais notáveis da obra literária: John e Jennifer Grogan são falhos, imperfeitos, adoráveis sem soarem fabricados e submissos as reviravoltas da vida. Para dizer o mais resumidamente possível, os protagonistas são acima de tudo humanos. E é por isso, por essa simplicidade e complexidade que todos nós carregamos, que a história dos dois é tão comovente, tão marcante e tão devastadora em seu final agri-doce. Em uma abordagem assim, os atores podem ser tanto o triunfo quando o calcanhar-de-aquiles do filme. E é maravilhoso ver como Owen Wilson e Jennifer Aniston se saem bem ao encarar personagens tão complexos. Ele, o epicentro do filme, cria uma empatia inigualável com o público, despindo-se dos exageros cômicos que marcaram sua carreira para entregar uma performance sincera, marcante e comovente.
Mas, acima de tudo, é ela quem brilha. Aniston demonstra uma habilidade impressionante em transmitir emoções, encarnando o centro emocional da trama e a representação maior de como a vida pode nos surpreender. No começo, Jenny é uma adorável e empolgada jornalista que pensa em construir uma família e planeja a vida em metódicos passos. Aos poucos, com a chegada de Marley e dos filhos, ela passa por uma transformação que não deixa de causar frustração, mas ainda é possível ver, seja pelo brilho sobrenatural dos olhos da atriz ou por seu olhar perdido, que acima de tudo isso existe amor, satisfação e surpresa. Os coadjuvantes também não deixam a desejar, seja no humor cínico de Eric Dane ("Grey’s Anatomy") como um dos amigos do protagonista ou na participação marcante e eficiente de Alan Arkin ("Pequena Miss Sunshine"), mas a verdade é que eles pouco tem a fazer. Para finalizar o pacote, a câmera de Frankel trabalha em função da história, mantendo-se estática quando o clima dramático aparece mais pesadamente, movimentando-se genialmente ao encarar os momentos mais engraçados. Mas é na seqüência em que ouvimos um resumo de boa parte da vida dos Grogan através de anotações do colunista que o diretor passa um recado para aqueles que guardam os detalhes do livro na memória. A câmera documental nessas breves cenas e a saturação trabalhada como uma filmagem amadora deixam transparecer todo o espírito realista e simples do texto de Grogan, trabalhado em tiradas rápidas pelo roteiro. É quase como se Frankel tivesse feito essa seqüência como uma mensagem. “Tudo bem, fizemos o que vocês queriam, do jeito que deveria ser”. Antes e depois dela, o nova-iorquino pede licença para fazer o que ele faz melhor: cinema. Sorte a nossa.
Nota: 8,0

5 comentários:
Tem muito sentimentalismo nesse filme, que não é necessário...muito meloso ;)
JA OUVI FALAR NESSE FILME
VO VER SE O VEJO
NOTA 8?
VO VER SE CONCORDO
ME SEGUE
QUE EU VOU TE SEGUIR
eu li o livro e confesso que não gostei nada ainda vo ver o filme de repente eu até goste vamos ver
Ah visita meu blog aew
http://chadebeterraba.blogspot.com/
AbçOs
pode ser que seja bom o filme.
depois vou ver.
Eu tenho o livro aqui, li, gostei. O autor (John Grogan) tem um senso de humor legal.
Ainda não vi o filme, normalmente gosto mais do livro do que do filme. Foi a mesma coisa com o Código da Vinci e o Caçador de Pipas.
Postar um comentário