Outlander – Guerreiro VS Predador (Outlander, EUA/Alemanha, 2008).
De: Howard McCain.
Com: James Caviezel, Sophia Myles, Jack Huston, John Hurt, Ron Perlman.
115 minutos.
Uma das características mais encantadoras e únicas dessa representação de nossos tormentos que chamamos de arte é sua capacidade de surpreender, não importa o quanto as circunstâncias soprem contra essa surpresa. E acho que falo por todos os críticos amadores ou não mundo afora quando digo que é sempre maravilhoso ser pego de surpresa pela qualidade incontestável de um filme que tinha tudo para dar errado. Nadar contra a maré sempre foi a especialidade do cinema, lutar contra as desvantagens para construir uma obra que valha a pena ser vista. A premissa de “Outlander” não soava nada bem para os cinéfilos, especialmente com a memória recente do equivocadíssimo “Desbravadores”. A única promessa que uma trama sobre uma nave alienígena desgovernada que encontrava seu destino na Dinamarca dominada pelo povo viking era uma violação terrível da fascinante cultura nórdica, personagens rasos e a dieta de efeitos especiais hollywoodianos de sempre. A mistura idealizada pelos roteiristas estreantes Howard McCain & Dirk Blackman (que posteriormente seriam responsáveis por “Anjos da Noite: A Rebelião”) soava como mais uma daquelas idéias estúpidas que inevitavelmente encontravam o caminho merecido para o Framboesa de Ouro. O trailer só piorou as expectativas, deixando a impressão de um filme de ação descerebrado, com batalhas filmadas de maneira manjada e fogo explodindo para todo o lado em um visual supostamente inovador. Enfim, todos os ventos sopravam para que “Outlander” se tornasse mais um engodo insuportável da terra do cinema, que só não seria uma decepção porque as expectativas já eram baixas demais. Quando foi lançado no cinema, pouca gente foi ver o resultado de tudo isso, fazendo o filme fechar a conta com míseros 128 mil dólares em terras americanas e adicionando mais um fracasso a já extensa lista da Weinstein Company, que teve seu pior ano em 2008. Quem foi não só constatou que o bicho não era tão feio afinal, como também saiu de sua sessão maravilhado com mais uma peça surpreendente de cinema.
São raros os filmes de ação na Hollywood de hoje, dominada pelo cinismo e pelos já banalizados efeitos especiais, que desenham um sorriso no rosto do espectador. Provocar tensão, talvez, mas há muito tempo que a adrenalina deixou de marcar tanto quanto na época de gente hoje renegada como John McTiernan (“Duro de Matar”) e John Frankenheimer (“Ronin”), mestres irretocáveis do cinema feito de impressões para os quais as portas se fecharam na terra do cinema. Pois bem, “Outlander” não só alcança esse feito, como o faz duas vezes. E são cenas tão diferentes que é impossível não se perguntar porque tanta gente sem criatividade continua empregada no espetáculo do cinema. A primeira, uma batalha selvagem travada com fogo e caos, filmada de forma grandiosa, dona de um impacto visual impressionante e senso de perigo que chega a alarmar o sentido mais primitivo do espectador. A segunda, uma sinfonia de suspense e um jogo de gato e rato empolgante que garante o visual graças ao elemento oposto que dá o ritmo ao filme, a água, e termina de forma trágica e triunfante a um tempo, nota dada com habilidade por uma câmera quase documental. Depois dessa descrição, é fácil perceber que, no mínimo, “Outlander” é um filme que supera de longe todas as expectativas. Talvez não seja uma obra-prima, mas cumpre bem o que se propõe e ainda não se perde na confusão de uma mistura que todas as chances diziam ser equivocadas. Por incrível que possa parecer, o roteiro de Howard McCain e Dirk Blackman é a maior virtude e ponto diferencial de “Outlander – Guerreiro VS Predador” (péssimo subtítulo, diga-se de passagem), que se desenvolve perfeitamente bem nas duas vertentes que se juntam na trama. O trabalho da dupla consegue ser um filme de monstro exemplar sem deixar de lado o encantamento da cultura nórdica, mostrada mais em detalhes fundamentais do que nos pontos já tão explorados por outras obras de competência variável. E o script ainda consegue ir além de tudo isso para versar, de maneira grosseira mas eficiente, sobre adaptação, adequação e a capacidade impressionante de se reconstruir do ser humano, independente da época em que vive.
Um tema universal e atemporal que cai perfeitamente bem para a jornada do Kainan (James Caviezel), o tal alienígena que cai na Terra dominada pelos guerreiros vikings trazendo com ele a desgraça de seu povo, uma criatura monstruosa e insaciável. Durante sua estadia em nosso mundo, ele aos poucos se integra a um vilarejo viking comandado por Rothgar (John Hurt), o primeiro reis do ano que ficaria conhecido posteriormente como “o ano dos três reis”. O próximo na linha de sucessão é Wulfric (Jack Huston), um jovem arrogante que nutre um ódio mortal por Gunnar (Ron Perlman), que ele acredita ter sido responsável pela morte de seu pai. Para completar o círculo principal, Freya (Sophia Myles) é a típica princesa que odeia o título e tenta provar seu valor como guerreira perante a aldeia. Esses personagens e todos os outros moradores do lugar se envolvem na inevitável caçada do monstro, cujos hábitos e peculiaridades apenas Kainan conhece, fato que o faz ganhar a confiança de todos. O dilema final pode ser previsível, mas há algum tempo que um filme não trata do sentimento de lar com tanta eficiência quanto “Outlander”. Além de construir o grande motivo de triunfo de seu filme, Howard McCain estréia também como diretor e faz um trabalho louvável, mostrando-se grande comandante nos momentos de adrenalina e utilizando os efeitos especiais mais como um acessório do que como algo fundamental. Não é difícil embarcar na jornada comandada por McCain, mesmo que o elenco seja no mínimo irregular. Jack Huston, mais conhecido pelo trabalho na recente versão televisiva de “Spartacus”, e Sophia Myles (“Tristão & Isolda”) sofrem um pouco com o estereótipo de seus personagens, os menos desenvolvidos da trama, mas ainda assim conseguem entregar um trabalho correto. O mesmo pode se dizer de John Hurt e Ron Perlman, se reencontrando depois da relação pai-e-filho em “Hellboy”, ambos com menos tempo de tela do que suas interpretações mereceriam, mas indiscutivelmente marcantes, ainda que o personagem de Perlman seja quase supérfulo para o andamento da trama. O protagonista James Caviezel faz o trabalho mais notável, despindo-se do sofrimento do furacão “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson para entregar a interpretação recheada de estranheza que o personagem merece. Para um filme que prometia muito instinto, pouco cérebro e duas horas perdidas da sua vida, “Outlander” acabou sendo uma das maiores surpresas despercebidas de um ano cheio das que acabaram vingando. Injusto? Essa é Hollywood, queridos. Nua, crua e cruel.
Nota: 7,5
6 comentários:
Nao entendi sua pergunta! se eu tenho críticas?
Ao seu blog ainda não, rss... poderia ser do meu jeito, mas é do seu jeito entao nao tenho q por o bedelho, huahua...
As minhas criticas e outros coisas estão em meu outro blog:
http://indicoesse.blogspot.com
Abraço,
ainda bem que gostou!
Pode colocar alguma coisa mais lá se quiser! Agora vou sair
Tudo de bom
Adorei o post! Hollywood não faz mais filmes como antes, temos que nos contentar com os clássicos; que são perfeitos.
Hollywood nliteralmente não faz filmes como antes
http://ownedando.blogspot.com/
Boa noite!
Eu fujo deste tipo de filme.
Roteiros assim nunca me atraíram e de uns tempos para cá tenho me tornado um pouco mais ranzinza.
hihihi...
De tudo, achei legal você fazer uma postagem sobre este filme, pois para quem gosta, é bom saber a opinião de quem entende do assunto, né?
Kiso
http://garotapendurada.blogspot.com/
Concordo fielmente com tudo o que você comentou!Um bom filme,e grande surpresa...
Porém o titulo Guerreiro vc predador,concerteza(sem certeza!)deve ter sido colocado so quando foi "trazido para o português"...
No mais nota 8 para o filme(se tivesse mais recursos e um elenco melhor,essi filme chegava longe...)
QUE FILMAÇO! TÔ CHUTANDO O PÉ DO SOFÁ POIS PERDI DE COMPRAR O ORIGINAL USADO POR R$ 5,00, E PARA PIORAR MINHA PEQUENA TRAGÉDIA TEM FICÇÃO-CIENTÍFICA, NO QUAL SOU "TARADO DE PLANTÃO" PELO GÊNERO. ATUAÇÕES E EFEITOS IMPECÁVEIS. UMA DAS MELHORES ATUAÇÕES DE JOHN HURT NOS ÚLTIMOS TEMPOS. NÃO É UMA OBRA-PRIMA, MAS SUPERIOR À MUITOS FILMES CONSIDERADOS OBRAS-PRIMAS. POR ISSO PAREI DE DAR CRÉDITO AO IMDB. COM LICENÇA POIS VOU CHUTAR MAIS UM POUCO O PÉ DO SOFÁ!
DANIEL
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