quinta-feira, 19 de março de 2009

Corrida Mortal – Surpresas com Paul Anderson e a beleza da destruição

Corrida Mortal (Death Race, EUA/UK, 2008)

De: Paul W.S. Anderson

Com: Jason Statham, Joan Allen, Tyrese Gibson

111 minutos

 

 

 

 

 

 

Talvez seja paixão nerd em excesso ou mesmo falta de juízo, mas o fato incontestável é que Paul W.S. Anderson não consegue passar muito tempo longe de um projeto com tudo para dar errado. Primeiro, foi a adaptação vigiadíssima do jogo eletrônico “Mortal Kombat”, um clássico intocável para muita gente que acabou sendo mal-julgado em sua época e entrou para nosso século na lista de adaptações de games mais razoáveis já feitas. A mesma coisa com “Resident Evil”, sete anos depois, que pode não ser uma adaptação fiel do cultuado material original, mas consegue criar tensão e entreter como poucos filmes de terror de sua época. Com “Alien VS Predador” ele não teve a mesma sorte, descontruindo duas lendas do cinema de ficção científica em uma batalha capenga e cheia de momentos arrastados, memória que não foi nem um pouco melhorada com a horrorosa continuação lançada três anos depois. Enquanto via seus filmes criar franquias nos últimos anos, Anderson ficou quieto em seu canto, eventualmente dando uma força na produção de algum filme de ação B, inveriavelmente lançados direto em vídeo no Brasil. Quatro anos depois do desastre mais grave de sua carreira e bem-casado com a beldade Milla Jovovich, protagonista de seu “Resident Evil”, o homem chega com o bombástico projeto de refilmar “Ano 2000 – A Corrida da Morte”. Ficou um pouco perdido? Provavelmente você não deve se interessar muito pelo cinema de ação subversivo que surgiu nos anos 1970, mas o fato é que o filme em questão, dirigido pelo sempre alternativo Paul Bartel (“Cannonball – A Corrida do Século”), é até hoje um daqueles filmes cult presentes no inconsciente coletivo do mundo todo. Aposto que você já ouviu algo sobre uma corrida onde atropelar pedestres acumulava pontos para o competidor e todo o tipo de trapaça, de armas pesadas a tanques extras de gasolina, eram o tipo de coisa não apenas permitida, mas esperada pelos milhões de pessoas que assistiam ao show ao vivo pela TV. Estrelado pelo icônico David Carradine (“Kill Bill”), “Ano 2000” se tornou um clássico alternativo instantâneo e um fracasso de bilhteria que triunfou como nenhum outro em adentrar a cultura pop global. Pelo básico resumo acima, é possível ter um mero esboço do tamanho da responsabilidade que Anderson estava assumindo ao se arriscar a transportar um filme como esse para a audiência atual. A parte ruim? Para quem viu o original (admito que não sou um deles), seu Corrida Mortal pode ser uma decepção gigantesca, já que boa parte dos lances subversivos mais graves do original foram limados em função de uma classificação etária mais leve. Por outro lado, para quem não tem problemas com refilmagens ou simplesmente não tem idéia do conteúdo do filme de 1975, o que Anderson contruiu foi um triunfo do cinema de ação realista que pouco se nota na artificialidade da Hollywood atual. É brutal, é assustador em alguns momentos e seria se um tremendo mau-gosto... se não fosse a prova final de que a destruição é deslumbrante.

Vamos aos fatos: é impossível fingir que o roteiro de “Corrida Mortal” é uma obra-prima, e tampouco seria adequado chamá-lo de supra-sumo do entretenimento. O que sob nenhuma circunstância arranca o mérito de uma narrativa razoavelmente crível para encobrir os absurdos realizados pelos carros que, pensando bem, nem são tão absurdos assim. Quando desafia os próprios limites em junção com uma máquina, o homem é capaz de coisas inacreditáveis e feitos impressionantes, explorados ao máximo pelo roteiro do próprio diretor, que se orgulha de dizer em todas as entrevistas que deu para promover “Corrida Mortal” que não usou um pingo de CGI para realizar as eletrizantes cenas de ação. Embora o conflito sofrido pelo protagonista seja simplista e até previsível em alguns momentos, Anderson mostra perícia ao fazer algo que deveria provocar repulsão ressoar com força o bastante nas percepções do espectador para envolvê-lo na história e levá-lo ao inevitável encantamento com os momentos de adrenalina. Como poucos filmes nos últimos anos, “Corrida Mortal” guarda em todos seus 111 minutos de projeção a capacidade de deixar o público com um sorriso empolgado estampado no rosto. Até mesmo a trama, atualizada do filme da década de 70 e modificada para soar um pouco mais profunda em algumas questões, impressiona pela simplicidade e o controverso realismo que permeia toda a história de Jensen Ames (Jason Statham). Ele vê sua vida de minerador virar de cabeça para baixo quando sua mulher é assassinada e ele é acusado do crime. Preso em um dos lugares mais rígidos do país, a Terminal Island, um presídio localizado em uma enorme ilha onde acontece um dos eventos televisivos mais esperados e vistos do mundo, a corrida mortal do título. Os presidiários guiam os carros mais brutais que possam montar e não se furtam de trapaça e assassinato para conseguir ganhar cinco corridas e ser libertado do lugar. Jensen entra na história com a pressão da diretora da prisão, Warden Hennessey (Joan Allen), que promete o devolver as ruas e a sua filha em apenas uma vitória, desde que ele tome o lugar do piloto mais célebre do evento, Frankenstein. Ele está morto, mas ela não pode suportar perder tanta audiência e dinheiro, especialmente na sociedade pós-industrial de uma economia americana em declínio.

A contextualização nova que Anderson deu a mesma trama básica não é menos que inteligente, trazendo paralelos para uma história que mesmo trinta anos atrás parecia vazia e sem propósito. Aqui, ele faz uma ode a adrenalina e a destruição ao mesmo tempo em que critica a frieza das grandes corporações e chega até mesmo a discutir tirania e preconceito. Surporeso com tanta relevância por parte dele? Pois saiba que no comando das câmeras ele não se sai tão bem quanto na elaboração do script. Não que ele inove nas cenas de ação e tire um raio-x de emoções a cada close, mas a forma de misturar linguagem documental com puras viagens de câmera e ainda exaltar as sensações provocadas pelas corridas é uma enorme evolução vindo de alguém que já nos entregou algo como “Alien VS Predador”. Especialmente nos momentos de maior tensão, digamos assim, política, sua forma de filmar se destaca pela habilidade de criar uma atmosfera intensa de perigo eminente. Verdade seja dita, aqui ele tem a ajuda de um elenco afiadíssimo. Jason Statham (“Carga Explosiva”) se confirma como o legítimo astro de ação do século XXI e, mais do que isso, como um dos atores mais carismáticos da atualidade. O inglês encarna com propriedade impressionante a personalidade de seu personagem e domina cada segundo de tela em que aparece trazendo a vida o protagonista perfeito para uma trama como esta, alguém por quem torcer e por quem sorrir no final da projeção. No mesmo nível dele está Joan Allen (“O Ultimato Bourne”), que usa e abusa da elegância natural para construir uma tirana categórica e fascinante, talvez o personagem mais marcante de um filme que não desperdiça coadjuvantes nem se limita a diversão vazia do costume hollywoodiano. Se foi um momento fugaz de inspiração ou uma virada definitiva na carreira de Paul W.S. Anderson, apenas “Spy Hunter”, marcado para estrear ainda esse ano, nos dirá. Por enquanto, fica a boa memória de uma surpresa e de um filme de ação que fez o que poucos haviam conseguidos nos últimos tempos: deixou um sorriso e um arrepio gravados na minha memória.

Nota: 7,5

Um comentário:

Unknown disse...

nossaaaaaaa
eu vi eh muito fodaaaaaaaaa
a sinopsi ta perfeita
eu recomento esse filme

se puder
http://sonabrisa.nomemix.com/