Espelhos do Medo (Mirrors, EUA/Romênia, 2008).
De: Alexandre Aja.
Com: Kiefer Sutherland, Paula Patton, Amy Smart.
111 minutos
O medo é provavelmente o sentimento humano mais complexo e fundamental. Sentimos medo porque desejamos nos preservar, sobreviver ou até continuar vivendo nossas vidas daquele mesmo jeito rotineiro a que estamos acostumados. Para evitar o medo e nos preservar, somos capazes de manifestar as reações mais extremas. Assim como há quem se debata incontrolávelmente em pânico, existem aqueles que se encolhem em seu canto e mira de soslaio o objeto de seu receio. Muito mais do que uma simples reaçõe lógica, porém, o medo é um instinto incontrolável e sob muitos aspectos indecifrável. Afinal, como entender completamente a diretriz essencial de sobrevivência e auto-proteção do ser humano, que por si só nos impressiona a cada dia pelas contradições? Simulá-lo, então, é uma missão em que muitos se arriscaram e pouquíssimos alcançaram a perfeição. Pode não parecer pelo nível das produções lançadas ultimamente, mas talvez o terror (ou suspense, dependendo da abrodagem) seja o gênero mais complexo do cinema. Sim, pois fazer rir é trabalho que exige apenas bom-senso e criatividade, embora isso não garanta que a tirada fique guardada na memória. Fazer as lágrimas caírem está aos poucos se tornando mais difícil pelo natural crescimento do cinismo e da apuração do público nos cinemas, mas ainda é alvo fácil para alguém com talento razoável. Agora, provocar medo é uma meta que exige orquestração perfeita dos detalhes, um trabalho de climatização não menos que impecável e atores que no mínimo transmitam veracidade ao público. Nos últimos anos a produção do gênero se dividiu mais claramente, levando a direções quase opostas: a dos suspenses psicológicos (“Os Outros”, “A Vila”, “O Orfanato”) e a dos horrores visuais, auto-denominados gore, geralmente feitos para arrecadar alguns trocados a mais para o estúdio e baseados em produções asiáticas (“O Albergue”, “O Chamado”, “Jogos Mortais”). Não se enganem, não há nenhum problema em querer ser mais comercial, mas o fato é que, muito mais que uma sensação visual, medo é um sentimento que se desencadeia de forma misteriosa em nossa mente e torna cada gesto um passo a mais em uma estrada assustadora. “Espelhos do Medo” tenta, como tantos antes dele, cruzar as duas vertentes em um equilíbrio perfeito entre entretenimento de primeira e o melhor do cinema feito de pura tensão. Acontece que, como já dizia a Lei de Murphy, o que havia para dar errado... Tudo o que poderia arruinar uma primordialmente ousada proposta como essa aconteceu, tornou virtudes em defeitos e levou um possível grande filme para a vala já repleta de decepções.
Pelo menos a promessa visual que “Espelhos do Medo” resguardava em sua premissa não foi completamente deixada para trás. Pode parecer estranho, mas a idéia de um terror usando vidros espelhados para aprisionar seus seres sobrenaturais era no mínimo interessante para qualquer espectador mais atento, que provavelmente já se viu pelo menos uma vez maravilhado pela forma como os espelhos foram usados em uma cena. Uma cena bem montada e filmada com os objetos rende impacto visual impressionante aos acontecimentos e ainda encanta pela habilidade que exige do cineasta ao manter a câmera oculta e os personagens perfeitamente visíveis. Frente a essa missão, o jovem francês Alexandre Aja, responsável pela refilmagem de “Viagem Maldita” lançada em 2006, consegue trazer alguns truques para sua forma de filmar, e ainda que nunca alcance o nível de ousadia e criatividade que se esperaria de um filme como esse, é ajudado pelo roteiro até por volta de uma hora de projeção. Antes de detalhar essa pequena peculiaridade de Espelhos do Medo, talvez seja melhor apresentar a premissa do filme, tão cartilhesca que é impossível não guardar uma impressão ruim. Ben Carson (Kiefer Sutherland) acaba de se separar da mulher, Amy (Paula Patton) e perder o emprego na polícia de Nova York. Vivendo com a irmã, Angela (Amy Smart), ele encontra uma oportunidade de voltar a ativa como vigia noturno de uma loja de departamentos em ruínas no centro da cidade. A história do lugar o precede: antes um dos maiores estabelecimentos do gênero, a loja foi destruída por incêndio criminoso, justificado pelo autor como uma forma de “expulsar os espíritos, espelhos viram areia com o fogo”. No entanto, quando Ben chega eles estão intactos, erguidos em meio a grotesca destruição (que arranca algumas boas tomadas, devo admitir) e, é claro, repleto de espíritos do que ele presume como vítimas do incêndio. A partir daí, não é difícil imaginar o rumo da história, que parece aumentar de escopo ao bel-prazer dos roteiristas.
É nesse ponto que o próprio Aja erra, redigindo ao lado do habitual parceiro Gregory Lavasseur (“P2 – O Pagamento”) um script que ambiciona demais para uma história essencialmente simples e acada caindo nos clichês do gênero ao criar uma salvação repentina ao final e se ver sem saída a não ser tentar (com sucesso razoável) surpreender o espectador nas últimas cenas. Afinal, quando se espera ser surpreendido, nem sempre a surpresa funciona. Enquanto falha como roteirista, Aja mostra talento moderado para guiar a câmera, alternando momentos mais inspirados e algumas cenas apressadas que acabam por acelerar demais o ritmo do filme e transformar medo em adrenalina. Pelo menos pelo elenco ele é ajudado. Kiefer Sutherland (“24 Horas”) encarna com propriedade o devastado protagonista, mostrando o já reconhecido talento para os momentos mais viscerais e se movimentando com eficiência quando o roteiro exige um pouco mais de tranqüilidade. Não que ele entregue uma atuação fora do habitual para o tipo de personagem, mas sua habilidade para encarná-lo em todos os detalhes é notável. Se há uma verdadeiramente boa razão para ver “Espelhos do Medo”, é ele, presente em cada minuto de filme e dono de uma presença de cena impressionantem, bem-vinda e insuspeita. O restante do elenco, incluindo Paula Patton (“Déja Vu”) e Amy Smart (“Adrenalina”), fazem o que podem com o roteiro que se deteriora a cada minuto, incorporando seus respectivos personagens e abrilhantando a projeção o mais possível. Afinal, nem mesmo o melhor dos atores é capaz de transformar um filme previsível em um entretenimento de verdade. E de medo de verdade, “Espelhos do Medo” tem pouco demais para se dizer um filme de terror, que dirá uma revolução no gênero. É melhor assistir “Seven” de novo.
Nota: 5,5
6 comentários:
Adoro filmes de terror, mas não gosto de assitir sozinha ... tenho medo de ficar com medo .. rsrsrs
O espelho estou com vontade de assitir já tem um tempo .. o problema é que ninguem quer assistir comigo... rsrs
ótimo o seu blog ..
Abç.
sei lá, gosto do Kiefer, mas não me animei a assistir... filmes de terror pra mim acabam batend na mesma tecla. e de clichês já chega.
mas o post está ótimo!
Não gosto muito de filmes de terror, confesso.. não por não achá-los bons, mas por medo, rs.
mas vou verificar esse!
beijos ;*
Filmes de terro por mais que tenten inovar sempre estao seguindo a mesma linha de raciocinio e acaba ficando xato com personagens diferentes e estorias parecidas... mas vamos ver o espelho heheheh
www.eporaivai.blogger.com.br/
Relutei, relutei e relutei, quando resolvi ver, me decepcionei. Não consegui ver uma boa adaptação de um filme Asiático até agora, prefiro ficar com os originais. Agora, que o Aja mostra nesse filme o que ele pode fazer com um bom orçamento...
Se segura!!!
http://subversoz.blogspot.com/2009/03/ainda-sobre-elas.html
Terror é um grande gênero, mas nem todos os filmes ditos terror, são realmente isso. Ainda não vi Espelhos do Medo, e nem pretendo ver por agora. Acontece que ainda tenho que alugar uns filmes que eu preciso ver - isso pq eu li as resenhas aqui e me interessei pelos filmes, uhsuahsuhaush.
Mas admiro muito o trabalho do Kiefer, o cara se garante, mas tenho que dizer também que a única coisa que vi com ele foi 24 Horas que é uma das minhas séries preferidas.
=)
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