domingo, 1 de março de 2009

Sociedade dos Poetas Mortos – Emoção, revolução e um filme inesquecível

   Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, EUA, 1989)

De: Peter Weir.

Com: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, Gale Hansen.

128 minutos.

 

 

 

 

  Não é fácil descrever, colocar em palavras as idéias e mensagens de um filme como este “Sociedade dos Poetas Mortos”. Afinal, como expressar a repercussão de um filme que expressa através da forma de arte mais perfeita a ânsia mais primitiva de qualquer ser humano? Talvez as palavras de Henry David Thoreau sejam melhores do que as de qualquer outro para essa missão. “Eu fui à floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido”. Viver cada dia como se fosse o último, nunca hesitar diante a decisões que podem mudar sua vida e o mundo ao seu redor, fazer o possível e o impossível para alcançar o destino que queremos, não aquele que nos é imposto. Tomar o “caminho menos percorrido”, sua própria estrada em direção a algo que você espera, não teme. Mudar o mundo, quem sabe, mas acima de tudo fazer a vida valer a pena a cada amanhecer e viver cada minuto como se fosse o melhor de toda a sua vida. Assim, quem sabe, todos eles realmente possam ser, e não haverá arrependimentos no final porque tudo o que você fez foi para alcançar aquilo que você vive. Carpe Diem, sussurra um professor, um guia e um capitão por mares singrados apenas em sonhos, um homem que vai tornar a vida extraordináeira e inspirar a revolução de cada um e a construção mais profunda das personalidades mais diferentes. Duas palavras, uma idéia, atos que mudariam para sempre o mundo ao redor e a trajetória de cada uma daquelas pessoas. Simples assim, da teoria para a prática. Tudo começou com palavras que eles não escreveram, e evoluiu devagar para aquelas que vinham do fundo mais verdadeiro do coração de cada um. Pode parecer piegas, pode parecer uma idéia que já se desgastou, pode parecer a maior válvula de escape jamais concebida pelo cinema, mas o fato é que “Sociedade dos Poetas Mortos” é um filme inspirador, transformador, emocionante e inesquecível. Um filme que renova aquela vontade expressada por Thoreau em cada espectador e eleva cada um de nós a categoria de únicos, extraordinários, pequenos milagres que merecem aproveitar cada dia e viver de forma plena e notável. Soa como um engodo, algo feito para massagear o ego da platéia e conquistar cínicos milhões para a indústria de Hollywood. Mas como muita coisa nesse mundo, a primeira impressão é enganadora, e “Sociedade dos Poetas Mortos” acaba por se tornar justamente o oposto de tudo isso, um quebrador de corações e um filme para poucos com uma teoria para as massas que triunfou graças a sua maravilhosa forma de nos convencer que palavras e idéias podem mudar o mundo. Acha essa idéia um tanto quanto irreal para a sociedade em que vivemos? Pois imagine tal teoria se colocando em prática cinco décadas atrás, quando o mundo era mais rígido e as regas mais infelxíveis, quando a prisão era mais estreita e os destinos eram traçados sem o consentimento de ninguém. Sorriu com a idéia? Pois grave esse sorriso no rosto, ele virá com as lágrimas durante todas as duas horas de “Sociedade dos Poetas Mortos”.

O que companhamos aqui não é apenas mais uma história colegial de alunos rebeldes inspirados por um professor a darem um jeito em suas vidas. De fato, é quase o contrário. A Academia Welton não admite rebeldes em suas fileiras, mas garotos cujos destinos estão traçados desde cedo pelos pais, ricos o bastante para pagar pelo ensino e rígidos o bastante para não permitirem a seus filhos a liberdade de escolha. Nesse ambiente, John Keating (Robin Williams) chega para ensinar inglês após a aposentadoria do antigo professor e não demora para causar estranheza com seus métodos de ensino pouco convencionais, suas aulas quase ritualísticas e seu carisma tranqüilo de homem que aprendeu a viver plenamente sem ser condenado por isso. Ele é o inspirador para um processo contrário ao convencional, implantando uma revolução pessoal em cada um dos alunos e encorajando-os a desafiar o mundo ao redor e lutar pelo que querem com seu desejo mais profundo, para que suas vidas valham a pena. Cada um deles capta a mensagem de sua forma, e juntos eles fazem renascer uma antiga organização da qual o professor fazia parte em seus tempos de escola, a Sociedade dos Poetas Mortos, dedicada a tornar em verdade as palavras de Thoreau. Neil Perry (Robert Sean Leonard) é um jovem carismático, popular e submisso a vontade do pai, que lhe incutiu a idéia de seguir carreira na medicina. É ele quem recebe os conselhos de Keating com mais furor, enxergando ali a forma de seguir suas verdadeiras vontades, deixar tudo o que o acorrenta para trás e se tornar o ator que povoa seus sonhos. Todd Anderson (Ethan Hawke), é de certa forma o oposto de seu colega de quarto, tímido ao extremo e quase ignorado pelos pais, que o colocam na Welton puramente para não precisarem lidar com ele no dia a dia. É nele que o exemplo de Keating inspira a maior revolução, quase uma mudança total e irrevogável, um descobrimento completo que parecia impossível para alguém como ele, aos seus próprios olhos e de quem está a sua volta. Knox Overstreet (Josh Charles) é um sonhador apaixonado por uma garota que, além de distante de seu mundo limitado, ainda tem um namorado popular. Terreno fértil para os conselhos do professor repercutirem em ações mais enfáticas e determinadas para conseguir o que se deseja. Para fechar o círculo principal de poetas, Charlie “Nuwanda” Dalton (Gale Hansen) é o rebelde incorrigível de bom coração e carisma incontestável, que passa dos limites e representa com perfeição a confusão ente viver plenamente chocar o mundo a sua volta.

Mesmo operando tantas tranformações em uma galeria tão variada de personagens, o roteiro do então estreante Tom Schulman (“Nosso Querido Bob”), dono do único Oscar concedido pelo filme, nunca se perde em ambições demais por descompromisso de menos, regendo com habilidade uma sinfonia de emoção e raciocínio mais fortes do que nunca, unidos para transformar “Sociedade dos Poetas Mortos” em um filme que marca, inspira e transforma, independente de cinismos ou de críticas, uma obra tocante de magistral, uma aula de bom roteiro e de controle de trama que funciona as mil maravilhas comandada pela câmera de Peter Weir (“O Show de Truman”). Ele, um dos grandes mestres da direção americanos, é quem tranforma a obra redigida por Schulman em uma poesia em forma de cinema, arrancando suspiros com sua forma de filmar simplista e tirando proveito das lindas locações para construir tomadas no mínimo deslumbrantes. Os truques e as manhas de Weir transformam cada cena em algo inesquecível, respeitam as descrições do roteiro ao mesmo tempo que adicionam algo a mais com ela. Seja utilizando sombras (em uma das cenas mais tensas da história do cinema), filmando de maneira quase teatral ou girando ao lado de seus personagens para mostrar o momento de descoberta de um jovem, Weir mais uma vez mostra o quanto é um absurdo um diretor como ele ter angariado seis indicações ao Oscar sem nunca vencer uma. Se Weir dá forma ao filme com maestria, o elenco faz o mesmo ao conferir alma a cada um daqueles personagens. Robin Williams mostra o quando pode ser doce a mistura de drama e comédia para entregar uma interpretação carismática mas sempre contida, entoando versos imortais com a mesma habilidade que pronuncia os diálogos mais simples e fazendo do professor Keating mais que apenas um capitão, uma lenda e um dos personagens mais marcantes do mundo do cinema. O elenco jovem não deixa a desejar, atuando ao lado do mestre com habilidade invejável: Robert Sean Leonard (o Dr. Wilson de “House”) exala carisma radiante e conquista o público com facilidade em uma atuação irretocável, adjetivo que pode muito bem ser aplicado a Ethan Hawke (“Antes do Amanhecer”) e Josh Charles (“SWAT”), eficientes em seus papéis. Já Gale Hansen, que pouco se destacou depois do filme, é carisma e honestidade a flor da pele para constuir o poeta mais inesquecível de todo o filme. Há muito mais do que primor técnico em “Sociedade dos Poetas Mortos”, há algo especial que existe dentro de cada um de nós e há um antídoto irrevogável contra o conformismo. Ingredientes perfeitos para um filme que renova a esperança que nós precisamos ter... em nós mesmos.

Nota: 10

4 comentários:

Fabrício Amorim disse...

Sempre tive muita resistência em ver esse filme. Não sou de julgar o filme antes de assisti-lo, mas algo não me atraía na Sociedade dos Poetas Mortos.

Quando finalmente resolvi assistir no final dos anos 90, fiquei surpreso pela qualidade do filme e pela grande história.

Quem não assistiu, realmente vale a pena procurar e prestar a atenção em cada cena.
Não acho nota 10, mas fica bem próximo disso.

abraço

grupo gauche disse...

Demorei muito a ver esse filme, quando finalmente vi, disse que deveria ter visto antes, filme lindooooooo, com o ator que faz o Wilson no House novinho ainda hahaha
adorei! adorei a mensagem que o filme passa, adorei tudo... realmente uma dica boa

Renan Barreto disse...

É maravilhoso esse filme. Demorei pra ver, mas quando vi valeu a pena. Sempre conciso nas suas resenhas. Valeu! E tem um selo para você no meu blog é só pegar!

Valeu de novo!

SBIE disse...

Como poderia eu esquecer de um filme tão bom quanto "A Sociedade dos poetas mortos".
Clássico!