Fonte seca
Essa é a história de como eu, um mero mortal, me apaixonei pela arte do cinema. Era 2004, mais especificamente Junho, e quase como por acaso a sétima arte entrou na minha vida através de uma revista mutilada, bonita nos traços e em falta nas páginas. Na capa, certo bruxo com cicatriz de raio na testa e óculos redondos que eu já amava há muito tempo. Pensei, porque não tentar? Abri e me deparei com palavras sobre coisas que nem imaginava existirem. No mês seguinte, certo Aracnídeo veio me estampar a capa da revista que, daí para frente, eu aprenderia a adorar a cada palavra de cada edição. Não sei se estou sendo romântico demais, mas parece justo dizer que foi pelas páginas da revista SET que aprendi a amar cinema. Se me tornei o apaixonado irracional que sou hoje, a culpa é das palavras consoladoras e divertidas de mestres como Roberto Sadovski, o melhor crítico do cinema do Brasil, o homem que aos poucos me fez entender a beleza de um corte de câmera e de cada mínimo detalhe de uma atuação. De repente, assistir filmes não era mais escapismo, era um ritual. Algo que não poderia faltar e uma espécie de elemento indispensável e indissociável da minha vida. Acompanhei cada vez mais de perto o mundo do cinema pelas páginas da melhor revista especializada no assunto no Brasil e tenho orgulho de dizer que, mais do que um apaixonado por cinema, sou um apaixonado por SET. Ou era. Em Março de 2009, a revista que eu aprendi a ter como parte da minha vida estampou na capa o filme dos sonhos de qualquer fanático por cultura pop em geral, quadrinhos principalmente. Ninguém poderia imaginar que os anti-heróis de “Watchmen” seriam a última imagem que SET deixaria os olhos cinéfilos verem em duas décadas de vida. Na promessa ficou a constante e crescente crescimento e reinvenção pela qual a publicação passava, seja no visual, cada vez mais chamativo e elegante, ou no conteúdo, completo como poucos independente do assunto que estamos falando. Ficou também na imaginação uma capa estampando o mutante “Wolverine” (que até foi divulgada, mas não deve chegar as bancas) e as dissertações coerentes de sempre sobre todas as polêmicas do filme-solo de Logan. Ficou para trás as palavras mais inspiradoras e informativas, de pura, simples e comovente paixão ao cinema que o Brasil já viu. Recentemente, nossa dose da era de ouro da terra do cinema já ficara para trás com a morte de Dulce Damasceno, e agora o golpe se torna completo. Fica órfã toda uma geração de cinéfilos, e me inclua nessa lista. A esperança é a última que morre, como garantiu o próprio Sadovski, mas por enquanto fica um vazio.
Escalação tupiniquim
Há algum tempo que o cinema brasileiro não tinha um projeto que valesse a pena acompanhar passo a passo. Depois de ir além da maioria dos cineastas de nosso país com os radicalmente diferentes, mas similares na primazia “O Bicho de Sete Cabeças” e “Chega de Saudade”, a paulista Laís Bodanzky se tornou em uma espécie de unanimidade entre crítica e público. Como já provou milhares de vezes ser uma das mulheres mais inteligentes e talentosas do nosso cinema, a cineasta prepara seu próximo projeto caminhando de mãos dadas com a nove geração brasileira de internautas. O que vai sair da equação é uma pergunta que só poderá ser respondida em Abril de 2010, quando “As Melhores Coisas do Mundo” chegar aos cinemas. A obra será adaptação de uma popular série de livros juvenis escritos por Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto intitulada “Mano”, que narra a história de um jovem e seus amigos lidando com as descobertas dessa fase da vida e levantando entre si temas polêmicos como amor, sucesso, medo e preconceito. As filmagens, que devem começar com um elenco pouco conhecido ainda nesse mês, já estão sendo acompanhadas de perto por um bom número de pessoas, que votaram no site da Warner Lab, divisão independente do estúdio responsável pela produção da nova obra de Bodanzky ao lado de Gullane Filmes, e escolheram o nome do projeto entre seis alternativas boladas pela diretora, também roteirista da adaptação. Com título definido e expectativa crescente, o projeto acaba de ganhar um pouco mais de brilho ao escalar duas estrelas da teledramaturgia e do cinema nacionais. Enquanto os protagonistas devem ser interpretados por ilustres desconhecidos, Caio Blat (“Batismo de Sangue”) encarna um professor de física logo depois de sair das filmagens de “O Bem-Amado” e Paulo Vilhena (“O Magnata”) se encarrega do ensino musical dos garotos como um professor de violão. Outro projeto brazuca bem comentado é “Sonhos de um Sonhador”, a cinebiografia do cantor Frank Aguiar, cujo intérprete acaba de ser definido como Gustavo Leão (“Sete Pecados”) em sua estréia no cinema já ao lado de gente como Chico Anysio e Rosi Campos.
Rápido como um flash
Flash Gordon é um jogador de futebol americano que vai parar com uma turma de amigos em um planeta desconhecido chamado Mongo e se vê as voltas com um imperador impiedoso e seus planos de dominar a Terra. A sinopse, provavelmente a mais conhecida de um personagem que tem raízes bem mais antigas, vem do popular filme de 1980 dirigido por Mike Hodges (“Cálculo Mortal”) em um momento mais ambicioso. Fracasso para a época e sucesso cult anos depois, o filme tinha gente como Max Von Sidow (“Amor Além da Vida”) e Timothy Dalton (“007 – Licença Para Matar”) como coadjuvantes e acabou acrescentando mais do que se esperava ao mito do personagem. Se o mesmo pode acontecer no século XXI, a missão está nas mãos de Breck Eisner (“Sahara”), que deve tentar ressuscitar o personagem no cinema batendo de frente com uma “reimaginação” televisiva bancada pelo Sci-Fi Channel. Para quem não sabe, o herói interplanetário surgiu na década de 1930 em uma seqüência de três serials, nome dado as aventuras descompromissadas que enchiam os cinemas da época e eram exibidas em capítulos de curta duração, produzidos entre 1936 e 1940 e estrelados pelo lendário Buster Crabbe (“Buck Rogers”). Depois, em 1955, um revival televisivo fracassado deixou o nome do personagem manchado até o filme de Hodges vir-lhe restaurar a glória décadas depois. Se agora a missão é do pau-mandado de estúdio Eisner, é mau sinal. Afinal, em 2004 o comando da produção estava nas mãos do nem tão competente, mas sempre apaixonado Stephen Sommers (“Van Helsing”), que afinal já tinha experiência em aventuras descompromissadas tiradas da década de 1930 com sua série “A Múmia”. Tirado do projeto depois das famosas “diferenças criativas” e por cogitar o nome de Ashton Kutcher (“Efeito Borboleta”) para o papel a revelia da opinião dos fãs, Sommers continua como produtor do filme roteirizado pela dupla estreante Matt Sazama e Burk Sharpless. Na trama reestruturada, Flash ainda é um popular jogador de futebol americano, mas leva apenas sua namorada para a aventura e vai parar no planeta controlado pelo tirano através da nave espacial de um cientista russo. Nenhum nome do elenco ainda foi confirmado, Eisner se mostrou empolgado em filmar em breve, dizendo que pretende fazer um filme “intenso, agressivo, corajoso e real”.
As maravilhas de Gondry
Um homem e uma mulher decidem esquecerem um do outro e se apaixonam novamente em um estudo fascinante de destino e amor inevitável. “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” chegou, em 2004, para trazer a tona o talento técnico e emocional de um diretor que andava escondido entre comédias independentes e grandes produções exageradas em todos os sentidos. Ao colocar sua sensibilidade ao meio externo e não ter medo de expor suas idéias sobre amor, vida e destino, Michel Gondry construiu uma improvável e surpreendente obra-prima de romance e comédia entrelaçados sempre naquele gosto agridoce impossível de descrever e empacotado em um lindo embrulho de perícia técnica e inovação por natureza. Assim foi também, de uma forma mais simplista mas não menos competente, em “Rebobine Por Favor”, uma comédia humana e emocionante sobre pessoas de corações e memórias despedaçadas. Agora, assumindo a responsabilidade de um personagem lendário e lidando com pressão de grandes estúdios e as idéias explosivas de um comediante incontrolável e bem-sucedido, é de temer que Gondry caia no corriqueiro de outros tempos e se deixe levar por concepções erradas. Desde que o francês assumiu o comando da adaptação da série de TV sessentista “Besouro Verde” essa dúvida expressa aí em cima invadiu a imaginação de cada um de seus muitos fãs. Ou pelo menos até ontem, quando o diretor publicou em seu badalado diário virtual as primeiras palavras sobre a nova missão de desenvolver o roteiro ao lado da dupla Evan Goldberg e Seth Rogen, responsáveis por comédias como “Superbad – É Hoje!”. Ao que parece, o problema está sendo menor do que se imagina, já que os dois pretendem dar ao novo projeto um tom diferente de seus anteriores, nas palavras do diretor, um pouco mais próximo do espírito da série estrelada por um Bruce Lee no auge da carreira. Um pequeno trecho do post do diretor para atiçar o apetite dos cinéfilos. “Eles escutam minhas idéias para o filme. Acredito que a história está cada vez melhor e eu me sinto como uma parte importante do processo”. Sobre a comentada técnica usada por Gondry em uma cena de luta filmada com dinheiro do próprio bolso, ele escreveu: “Alterei a velocidade da câmera em diferentes ângulos de imagem e em vários tempos. Então, parece que os personagens estão no mesmo mundo, mas em épocas diferentes e depois, estão todos juntos novamente”. Boa sorte para tentar imaginar o resultado.
Bom, pessoal, e por hoje é isso… Reconheço que fiquei bem triste com a notícia do cancelamento da SET, era colecionador assíduo e tudo o que aprendi sobre cinema devo a essa revista e aos que escreviam para ela, sem preconceitos contra nenhum gênero de filme ou nacionalidade. Era a revista de cinema mais completa do Brasil. Esperamos todos que encontre uma nova casa para voltar a encantar os olhos cinéfilos. Bom, pessoal, queria agradecer a todas as visitas e comentários, e dizer até mais! Os melhores filmes para todos vocês sempre!
4 comentários:
Boa, Caio. A Set é ótima. Mas acho que prefiro ler seu blog. É que você me mantém informado sobre o que preciso saber. Vc sabia que cai perguntas sobre cinema em seleção de estagiários de jornalismo? Do tipo: qual é o seu diretor preferido e conte um pouco sobre sua obra mais marcante (pra vc lógico). Fale do último filme que viu no cinema, quantas vezes vc vai ao cinema. É legal. Essas perguntas eu fiz na Globo (fiquei entre o 1000 dos 14000 inscritos rsrs).
Em falar do Flash Gordon, o Queen já fez uma música horrorosa sobre ele. Era medonha. E olha que eu adoro o Queen. Está ótimo, Caio!
Houve uma época em que eu era totalmente apaixonada por cinema, adorava ver as montagens efeitos especiais e claro a estória contada.
Hoje já não sou mais tão apaixonada pela arte, mas ainda gosto de bons filme.
Parabens, rapaz.
Excelente texto e excelente blog. Gostei do seu modo de escrever, gostei do que você escreveu, e estou vendo que isto é uma constante em seus textos.
Mais uma vez parabens, e espero que tenha algum tipo de feed para que eu possa segui-lo e espero ainda mais que tenha twitter.
Obrigado e parabens mais um vez.
Flash Gordon não deu certo quando fizeram o último remake, mas uma coisa eu digo, sou fã, rsrsrsrs. Tenho a primeira temporda completa em dvd da série dos tempos de Buster Crabbe.
=)
E eu concordo com o Renan, a Set é ótima, mas eu prefiro ler o seu blog.
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