sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Dia em que a Terra Parou – Remake na beira do precipício

 

O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, Austrália/Canadá/EUA, 2008)

De: Scott Derrickson

Com: Keanu Reeves, Jennifer Connelly, Kathy Bates, Jaden Smith

104 minutos

Em 1951, o mundo vivia em medo. A cada dia a tensão entre Estados Unidos e União Soviética aumentava e a iminência do início de uma nova guerra tão pouco tempo depois do final da mais devastadora delas deixava cada cidadão bem informado em um estado de nervos quase insustentável. Mas o mundo seguia em frente. As fábricas continuavam a funcionar, os carros continuavam a rodar e o capitalismo continuava a todo o vapor. Por mais a beira do precipício que fosse a situação, a verdade é que nossa sociedade era forte o bastante para resistir. A tudo, ou pelo menos era isso que passava pela cabeça de quem viveu naquela época. Nesse contexto, faz todo o sentido contar a história de um alienígena que vem a Terra para nos convencer a viver em paz, do contrário seríamos destruídos pelo bem dos outros mundos. “O Dia em que a Terra Parou” foi o filme certo na hora certa, e embora não tenha feito muito além de mexer com o psicológico de seus espectadores e oferecer uma dose saudável de divertimento, pelo menos fez sentido dentro se seu tempo. Agora, o que Klaatu teria para nos dizer em pleno século XXI? A resposta é tão óbvia nas movimentações do cinema nos últimos anos que chega a parecer incrível que ninguém tenha pensado nisso antes. Com filmes ambientais explodindo por todos os cantos e aventuras apocalípticas mostrando conseqüências nem tão absurdas do que estamos infringindo ao planeta, o que melhor do que trazer um alien benevolente para despertar-nos da nossa imobilidade com muita conversa e paciência? Ou talvez não. O Klaatu de “O Dia em que a Terra Parou”, o remake mais comentado dos últimos anos, não é o mesmo que nos apareceu meio século atrás. Não há intenção pacífica em sua visita, e pensando melhor talvez seja realmente mais adequado dessa forma. Em compensação, há muita urgência. Quase como se uma sirene cada vez mais alta o acompanhasse por onde fosse, como se tudo dependesse de suas decisões e não das nossas. Como se Klaatu fosse um fiscal e nós fossemos os fiscalizados. Bem que tentamos passar uma boa impressão. Mas o que fica mesmo é a ignorância, e o fato de que ela e a arrogância prevalecem sobre todos os nossos instintos de sobrevivência só nos mostra se realmente merecemos a chance de salvar a nós mesmos. Só mudamos quando o precipício a frente é alto demais e perto demais. Talvez também seja tarde demais.

O fato de esconder todo esse significado em sua história não significa que “O Dia em que a Terra Parou” é uma obra-prima, e ainda menos o filme revolucionário que vai acordar-nos para a situação do mundo a nossa volta. Mas pelo menos consegue convencer de que há, eventualmente, uma boa razão para se fazer um remake. Quando um filme tem algo a dizer, é sempre bom parar para escutar. E durante boa parte de seus 104 minutos, o filme de Scott Derrickson (“O Exorcismo de Emily Rose”) consegue fazer esquecer de que, em um passado distante, aquela história já foi contada. A sensação só funciona, é claro, graças ao trabalho exemplar de David Scarpa (“A Última Fortaleza”) no script. Baseado no original de Edmund H. North (“Patton”), ele prova que fidelidade só funciona de verdade quando aliada a criatividade e constrói todo um novo envoltório para mostrar que aquilo passando a nossa frente, mais do que “um remake de um clássico”, é um novo “O Dia em que a Terra Parou”. Trata-se de um trabalho mais complicado do que a maioria deve imaginar, mas Scarpa cumpre a missão sem muitos tropeços pelo caminho, colocando Klaatu no centro do furacão e tecendo ao redor dele uma teia de tensão e eminência conduzida por uma linha narrativa sólida o bastante para segurar o pouco mais de uma hora e meia de filme. A bem da verdade, em alguns momentos a trama idealizada por ele se ramifica um pouco além do necessário, jogando com cenas desnecessárias e pouco desenvolvimento de verdade. Especialmente no miolo do filme e nas cenas protagonizadas pela estereotipada Secretária de Defesa interpretada por Kathy Bates (“Titanic”), a fraqueza do conceito básico se torna transparente e durante alguns breves minutos, a sombra da estagnação paira sobre o roteiro. Nada que não posse ser recuperado com um clímax emocionante e envolvente, é claro. A premissa é bem fiel a original: o alienígena humanóide Klaatu (Keanu Reeves) vem ao nosso planeta para salvar o que ele descreve como “um dos poucos lugares no universo com suporte para vida” da ação da espécie dominante que chama, equivocadamente, aquele mundo de seu. Ele encontra uma relação ambígua ao se aproximar quase que por acaso da Dra. Helen Benson (Jennifer Connelly), uma astro-biológa que é obrigada a deixar o enteado rebelde (Jaden Smith) em casa para atender a convocação do governo quando uma esfera gigante, a nave espacial de Klaatu, pousa em pleno Central Park. A partir daí, o filme é um entrelaçamento de acontecimentos que aos poucos formam um plano geral bem interessante.

Prezando pela sinceridade, o estilo confuso de Scott Derrickson não ajuda muito a melhorar o resultado final de “O Dia em que a Terra Parou”. Muito falado a época de seu assustador suspense de possessão demoníaca “O Exorcismo de Emily Rose”, Derrickson não chega a impressionar no panorama visual e tampouco inova na maioria dos ângulos de câmera. Apenas quando encontra um objeto a revelar e, por conseqüência, as raízes de seus talentos, que sua câmera verdadeiramente se integra ao roteiro para criar uma experiência mais completa. Lidando com grandes efeitos especiais e mesmo na grande e impressionante tomada mostrando todas as esferas ao redor do mundo, a câmera do diretor se furta de inovações e não raro se mostra hesitante, quase indecisa. Algo que decididamente não contribui para um filme que deveria ser acima de tudo envolvente, o que só acaba funcionando no clímax, esse sim filmado, escrito e atuado com habilidade ímpar e fascinação visual e conceitual completa. Talvez o maior trunfo de “O Dia em que a Terra Parou” para aos poucos superar tantos pequenos erros seja a interpretação surpreendente e mais do que adequada de Keanu Reeves, um homem com credencial para falar da nova ficção científica, protagonista do inovador “Matrix”. Por concentração, inspiração ou puro acaso, a verdade é que Keanu e Klaatu se unem em uma única persona construída com a habilidade única do ator em criar personagens icônicos. Trabalho de intérprete de ponta que surpreende por ter vindo exatamente de alguém que passava longe da lista dos melhores atores da atualidade. De esperado em “O Dia em que a Terra Parou” só mesmo a combinação irresistível de beleza, talento e estranheza que é Jennifer Connelly (“Hulk”). Talentosa como sempre, a atriz quase consegue ofuscar o parceiro de cena ao construir uma Dra. Benson milhares de vezes mais crível e interessante do que a anacrônica dona de casa dos anos 1950, que não resisitiu ao passar do tempo. Talvez o modelo moderno e independente construído pela atriz também não faça sentido daqui há meio século, mas o que importa é que se mescla a narrativa atual de forma não menos que perfeita. Coadjuvantes de peso, os veteranos Kathy Bates e John Cleese (“007 – Um Novo Dia para Morrer”) dão um pouco mais de brilho a dois personagens que pouco tem a fazer dentro da narrativa. A presença de cena de ambos mal é sentida de fato, mas é sempre válido citar o trabalho de gente que conquistou crédito, e muito, no passado. Passado este que passa longe de “O Dia em que a Terra Parou”, o remake, um filme que mostra que nem toda refilmagem precisa ser feita em estilo caça-níqueis e, apesar dos pesares, chega ao final como uma obra que vale a pena ser vista e refletida. Afinal, estamos cada dia mais perto do precipício.

Nota: 7,0

4 comentários:

Renan Barreto disse...

Fala Aí, Caio! Eu vi esse filme no cinema com os amigos. Achei bom, mas não me surpreendeu. Pensei que fossem áté remodelar aquele robozão, mas deixaram ele praticamente idêntico ao origina. Esse filme vem com uma temática razoavelmente batida, mas diverte na medida do possível. E não sei se vc percebeu, mas o filme termina no mesmo lugar de Cloverfield. rs

O momento mais engraçado foi o da propaganda do Mc Donalds. Bizarro. rsrs

Valeu!

Anônimo disse...

Vc fez um pedido ao Palavra Ácida Blog, pois bem seu pedido foi atendido, depois passa lá e confira a nova versão de A Bela e a Fera.

Liipee disse...

cara, sua crítica foi boa..
mas eu daria um 8..
só pela mensagem que passa pelo filme e que entendi merece um 8..
recomendo a muita gente, mas não gostei dos efeitos, achei mei xoxo..
agora é esperar transformers !
abrá.
:*

bones disse...

faz já algum tempo que assisti este, ou seja, foram muitos filmes atrás, preciso alugar o dvd pra ver de novo pois do que eu vi, só ficou marcada mesmo uma vontade incontrolável de estrangular aquele menino.
Cenas, me lembro do robo e do "inteligente" com a broca e da esfera no final.
Ainda prefiro o original, este sim, no momento em que atiravam no robot e ele desintegrava um tanque o coração pulsava como uma bomba...
abraços pra vc.
Pergunta: conhece um filme chamado "o mensageiro do Diabo" estrelado por Robert Mitchum?, Dá medo!!! se nunca ouviu falar procure, vale a pena.