segunda-feira, 18 de maio de 2009

Boletim Cinéfilo – As Notícias do Dia (18/05/2009)

Psicopata escondido

 

Hollywood pode ser cruel. Apesar de isso não ser novidade para ninguém, em alguns momentos chega a impressionar a quantidade de rótulos, estigmas e interferências que a capital do cinema impõe aos bravos marinheiros que tentam desbravar seus mares. Veja o caso de Casey Aflleck, por exemplo. O sobrenome não esconde o parentesco estelar. Irmão mais novo do astro Ben Affleck, ele só teve sua chance para brilhar da forma que seu talento merecia quando o irmão encontrou o desastre Contato de Risco pelo caminho e passou alguns anos escondido atrás de pequenas produções e alguns vôos mais ambiciosos que invariavelmente davam errado. Enquanto isso, Casey cresceu como coadjuvante de filmes como Onze Homens e Um Segredo até alcançar o estrelato completo (e uma indicação ao Oscar) com a performance brilhante em O Assassinato de Jesse James e se estabilizar como ator sério ao ser dirigido por, veja só, o próprio irmão, em Medo da Verdade. Agora, três anos depois, enquanto Ben caminha devagar os degraus de volta a seu lugar de destaque no mundo do cinema, Casey prepara sua volta as telas protagonizando o que promete ser um dos faroestes modernos mais badalados dos próximos anos. The Killer Inside Me promete muita pressão psicológica para desenrolar a tensa história de um xerife do oeste do Texas que aos poucos é revelado como um assassino psicótico. O romance de onde a história veio, de autoria de Jim Thompson (Os Imorais), é descrito como o pioneiro no estilo “noir western” na literatura. Se no cinema o gênero teve seu ponto de partida com Onde os Fracos Não Têm Vez, de dois anos atrás, é sinal que o trabalho do diretor Michael Winterbottom (O Preço da Coragem) será dobrado para fazer o público esquecer o trabalho genial dos irmãos Coen (Queime Depois de Ler) e se envolver em uma trama que promete tanto ação de primeira linha do gênero quanto um estudo profundo de um personagem mais ambíguo impossível. O que, por si só, já é um desafio para Casey, acostumado a interpretar personagens de conduta bem definida e movidos por uma força de obsessão muito forte. Não que ele esteja mal-acompanhado, é claro. Para lhe fazer frente, Simon Baker (The Mentalist) será o advogado responsável pela acusação do protagonista, e Jessica Alba (Quarteto Fantástico) toma mais um papel arriscado ao viver a prostituta que é testemunha-chave para o caso. O elenco ainda conta com a presença sempre iluminada de Kate Hudson (Um Amor de Tesouro), fora de seu ambiente cômico para interpretar a namorada do xerife, uma professora insatisfeita com seu trabalho. O filme tem roteiro de John Curran (O Despertar de Uma Paixão) e Robert D. Weinbach, que saiu da aposentadoria trinta anos depois de Estranhas Mutações.

De volta a terra

Fernando Meirelles? Walter Salles? José Padilha? Tudo bem, talvez eles tenham ido bem mais longe que a esmagadora maioria dos cineastas brasileiros jamais sonhou, mas é fato que o posto de diretor tupiniquim mais bem-quisto na capital do cinema não pertence a nenhum deles. Este cargo atualmente é ocupado por um animador de nome pouco conhecido, rosto menos ainda, mas cujas criações com certeza estão entre as mais adoradas do mundo. O nome é Carlos Saldanha, um carioca de quarenta e um anos que começou a carreira ao lado do parceiro nova-iorquino Chris Wedge no curta-metragem Bunny, de 1998, e de lá aproveitou a carona do amigo para se tornar co-diretor de uma das animações mais famosas do novo século. Estamos falando, é claro, de A Era do Gelo, a produção que colocou o Blue Sky Studios no mapa das produtoras de animação americanas. Depois de permanecer como coadjuvante no menos bem-sucedido (e nem por isso ruim) Robôs, Saldanha tomou o holofote principal ao ver o parceiro partir para novos vôos e deixar a direção de A Era do Gelo 2 integralmente em suas mãos. O resultado? A continuação não só igualou o original em termos de bilheteria como também ganhou elogios rasgados da crítica ao redor do mundo, algo que havia acontecido com algumas ressalvas em relação a primeira produção. Três anos depois, prestes a lançar a segunda continuação da série, onde os amados personagens se deparam com um caçador de dinossauros e problemas típicos de uma família, Saldanha já tem um novo projeto pronto para decolar. E dessa vez não vai haver quem reclama da suposta “falta de patriotismo” do diretor. Afinal, como o próprio nome diz, Rio é quase todo passado na cidade onde Saldanha nasceu e cresceu. A trama é um tanto suspeita para uma animação, mas em todo o caso é melhor ler e tirar suas próprias conclusões. Rio acompanha uma arara nerd e impopular que sai do conforto de sua gaiola em uma pequena cidade do Minnesota, em terra americana, e parar no Rio de Janeiro. O filme carrega a importância de ser a primeira produção oficialmente feita na recente parceria integral entre a Blue Sky e a 20th Fox, cujo setor de animação andava mal das pernas desde o fracasso de Titan, quase uma década atrás. A estréia de Rio está inicialmente marcada para 08 de Abril de 2011.

Clássico tardio

“O céu sobre o porto era da cor de uma televisão sintonizada em um canal morto”. A frase aí atrás pode não ser exatamente poética, mas não deve ser surpresa para os fãs de ficção científica saber que ela marcou o início de uma era. Quando William Gibson lançou Neuromancer em 1984, o cenário literário passava por revoluções em todos os gêneros, deixando as noções românticas para trás e tentando cada vez mais se aproximar de uma visão realista, e ainda assim escapista, do mundo cheio de falhas que víamos ao nosso redor. Na ficção científica, o movimento que provocou essa mudança ficou, por acaso, conhecido como cyberpunk, e o romance de Gibson foi o marco zero desse movimento. Neuromancer não foi o primeiro a mostrar uma visão distópica e, porque não, pessimista em relação ao futuro da humanidade, mas sem dúvida foi o primeiro a radicalizar esse conceito e usá-lo para uma história de proporções crescentes. Tudo começa quando Henry Case, um trambiqueiro de baixo nível em uma futurística cidade japonesa. Especialista em crimes virtuais e um talentoso hacker para quem pague seu preço, Henry vê sua vida virar de cabeça para baixo quando é pego roubando seu mais recente empregador. Em punição, ele tem seu sistema nervoso central danificado por um poderoso veneno, deixando-o desabilitado para realizar os trabalhos no cyberespaço. Sem emprego, drogado e com pensamentos suicidas, Henry é salvo por Molly Millions, uma autodenominada “samurai das ruas” e uma mercenária a serviço do obscuro ex-oficial do exército Armitage. Ele é quem oferece a Henry a possibilidade da cura em troca de um serviço mais complicado que o regular. É claro, o preço a pagar por tal acordo é bem mais alto do que qualquer um deles poderia prever. Comentada já há algum tempo, a adaptação cinematográfica do romance ganhou mais espaço quando o produtor Peter Hoffman (Sem Risco Aparente) precisou procurar um projeto para ocupar o atraso de The Winter Queen, projeto de Paul Verhoeven (Instinto Selvagem) que foi adiado graças a gravidez da protagonista Milla Jovovich (Resident Evil). Neuromancer foi o escolhido pelo produtor, que colocou o projeto nos trilhos e chamou Joseph Kahn (Fúria em Duas Rodas), mais conhecido pelo trabalho em videoclipes, para dirigir a adaptação. Isso dois anos atrás. Agora, a novidade é a escalação de Hayden Christensen (Jumper) como o protagonista e Liv Tyler (O Senhor dos Anéis) para o papel de Molly. O filme, porém, ainda não tem data de estréia.

Drama importado

brothers

Não é de hoje que Hollywood anda em crise de novas idéias. Seja adaptando livros ou games, refazendo clássicos de outros tempos, revivendo séries já postas como mortas e enterradas ou produzindo continuações em ritmo alucinante, o fato é que a grande maioria das produções da capital do cinema é baseada em uma premissa que, de alguma forma, já foi vista antes. É claro, como tudo nesse mundo e especialmente no cinema, há um lado bom e um lado ruim. O último não é preciso nem citar, afinal, se cinema é feito de idéias, é melhor se preparar para uma grave crise nos anos que virão. O primeiro é um pouco mais difícil de compreender, mas é inegável que observar uma visão diferente da mesma idéia pode se tornar uma experiência fascinante. Além do mais, a culpa não é de Hollywood se a esmagadora maioria dos apreciadores ocasionais de cinema dão preferência aos filmes ianques. Veja Brothers, por exemplo. Legítimo representante do festejado novo cinema dinarmaquês, a obra de Susanne Bier (Coisas Que Perdemos Pelo Caminho) passou arrasando por Cannes e Sundance e ainda assim acabou encontrando o destino das prateleiras de locadoras espalhadas pelo Brasil. Isso porque há uma certa noção nos cinemas brasileiros de que um drama pesado não atrai público a não ser que tenha astros estampando o topo dos cartazes ou um par de indicações para o Oscar. Brothers, a refilmagem, tem um dos fatores garantidos e uma boa possibilidade de figurar na lista da Academia no ano vindouro. Alguém é capaz de culpar um produtor de continuar produzindo refilmagens? De qualquer forma, sem entrar no mérito da questão aí atrás, o fato é que Brothers tem tudo para ser um grande filme. Comentada desde 2006, a refilmagem mantém ao menos a premissa do original, que contava a história de, é claro, dois irmãos. Um é o típico homem de classe média cujo estigma é incapaz de mudar no mundo inteiro. Quando este é convocado para Guerra do Afeganistão, é o irmão trambiqueiro que é deixado com a responsabilidade de cuidar de si mesmo e da família. Dado como morto, o primeiro retorna anos depois, traumatizado com a experiência de cativeiro que passou na guerra, e descobre que nada mais é o mesmo em casa. A direção do remake tem a marca de Jim Sheridan (Em Nome do Pai), que andou tentando se tornar mais popular para os cinéfilos do novo século e escalou Tobey Maguire (Homem-Aranha) e Jake Gyllenhaal (O Dia Depois de Amanhã) para atuar no roteiro de David Benioff (O Caçador de Pipas). Ao lado deles, Natalie Portman retorna aos dramas familiares após a pequena aparição em O Expresso de Darjeeling. O filme deve chagar aos cinemas em 4 de Dezembro.

Num piscar de olhos

Para toda regra há uma exceção. Pode parecer sem propósito essa frase aí atrás no começo de uma nota, assim como pode soar como reflexão inútil as passagens que vem a seguir, mas a verdade é que tudo vai fazer sentido no final. Assim como a escrita, a mente humana funciona bem melhor quando é forçada a tomar decisões repentinas e talvez essas terminem sendo até mais acertadas do que aquelas analisadas e pesada excessivamente. Porque, quando piscamos, não precisamos pensar? Malcolm Gladwell queria a resposta e passou anos pesquisando para publicar o arrasador e instigante Blink: The Power of Thinking Without Thinking, um livro que combina psicologia com auto-ajuda e puro jornalismo instintivo para destilar fatos e casos de pessoas que ganham a vida para pensar... sem pensar. O livro, lançado em 2005, recebeu elogios rasgados da crítica especializada, que trataram Gladwell como o escritor mais esperto, ligeiro e talentoso da nova geração. Houve quem descrevesse Blink como uma experiência frustrante mais recompensadora, mas o inegável é que o livro é capaz de provar até para o ponderador mais experiente o quanto pode ser proveitoso deixar as decisões fluírem do mais puro instinto. Um conteúdo cheio da esperteza que os críticos de cinema aprenderam a tento valorizar nos filmes americanos, e um ponto para provar que Hollywood não poderia deixar para trás. É claro, não se trata de uma adaptação fácil. Desde que o livro se tornou best-seller, em 2005, Stephen Gaghan (Syriana) vem trabalhando no roteiro, tentando extrair o melhor das dezenas de pequenos casos que Gladwell conta em sua obra, deixando a briga financeira para ser resolvida entre a produtora Appian Way do amigo Leonardo DiCaprio (O Aviador), a Warner Bros e Universal. Na época protagonista do filme, o astro tentava vender os direitos do livro para um dos estúdios, mas pedia uma quantia absurda de 5 milhões. As negociações se estenderam por meses até a Universal aceitar a proposta e revelar mais detalhes do roteiro escrito por Gaghan. O que se sabe é que o filme será baseado em um capítulo do livro, onde Gladwell narra a história de um sujeito que tem o dom de ler a expressão facial das pessoas e é instigado pelo pai a usar a habilidade na loucura de Wall Street. O que não se sabe até agora é se DiCaprio continua envolvido no projeto, mas Blink ganhou força com o nome de Al Pacino (As Duas Faces da Lei) jogado ao vento para uma participação.

Estreante de sorte

Talvez o nome Madeleine Stowe não seja familiar aos cinéfilos da nova geração, mas sem dúvida desperta algumas boas lembranças naqueles que acompanhavam a produção cinematográfica mais de perto nos anos 1990. Nova-iorquina, a atriz foi revelada sob o comando de Michael Mann (Colateral) no épico O Último dos Moicanos, em que atuava no papel da grande paixão platônica do protagonista, vivido por Daniel Day-Lewis (Sangue Negro). Daí em diante, o que se viu na época foi uma ascensão quase tão alucinante quanto a queda. Depois de fazer seu nome e construir uma filmografia sólida e respeitada sob o comando de gente do calibre de Tony Scott (em Vingança), Robert Altman (Short Cuts) e Terry Gilliam (Os Doze Macacos), ela viu-se presa a pequenas produções televisivas e eventuais papéis coadjuvantes em filmes de baixo orçamento que precisavam de algum nome vagamente conhecido para estampar o topo do cartaz. Quase uma década depois de protagonizar sua última grande produção, Stowe pode voltar ao centro dos holofotes, ainda que por outro ângulo. Desde 1993, quando ela ainda era uma atriz recém-revelada, corre por Hollywood o roteiro de Unbound Captive, um drama familiar e aventuresco sobre uma mulher que tem o marido assassinado e os filhos seqüestrados por uma tribo indígena norte-americana durante um ataque no fim do século XIX e é resgatada por um guarda noturno. A história, de autoria da própria Madeleine, seria primeiramente produzida pela Fox, que ofereceu a quantia de 3 milhões pelos direitos sobre o texto, oferta que meses de negociação depois subiu para os 5 milhões. Boa parte dos cinéfilos foram deixados com água na boca quando Stowe recusou a proposta do estúdio, que pretendia entregar o filme para Ridley Scott (Falcão Negro em Perigo) dirigir e seu parceiro Russell Crowe (Gladiador) estrelar. O motivo? Segundo ela, a Fox não garantiu sua participação em nenhuma outra área do projeto a não ser o roteiro, e Stowe planejava participar do elenco da produção. Agora, quinze anos e muita água rolada depois, Stowe ressuscitou o projeto com toda a pompa que merece, seguindo o conselho de seu amigo, o produtor Gil Netter (Marley & Eu), e assumindo a direção pela primeira vez. Segundo ela: “Gil me fez perceber que não existirá ninguém que poderá fazer o longa da forma que eu quero”. Ela está bem acompanhada para uma primeira viagem, aliás. A começar pelo fotógrafo John Troll, marinheiro experiente de outros épicos como O Último Samurai e Coração Valente. Mas o que mais impressiona é o trio de protagonistas. Hugh Jackman (Wolverine) entra para o papel que seria de Russell Crowe quinze anos atrás. Ao lado dele, Rachel Weisz (Fonte da Vida) tem a missão de desempenhar o papel que a própria diretora almejava, enquanto Robert Pattinson (Crepúsculo) dá vida a um dos filhos seqüestrados. Unbound Captive ainda não tem data de estréia.

Bom, pessoal, e por hoje é isso… publiquei até mais cedo porque preparei rápido para suprir os outros dias sem Boletim… sei que me desculpar não vai ser o bastante, mas não tenho mais nada a fazer senão isso. Obrigado pela paciência e pela compreensão. Os melhores filmes para todos vocês e até mais!

3 comentários:

Débora Borsatti disse...

Adorei seu blog, com certeza vou acompanhar!
Um abraço

Renan Barreto disse...

Nossa! É muita informação para o meu cérebro, mas o texto mais bacana que achei e que me chamou mais atenção foi sobre o Saldanha. Adoro o cara. Os trabalhos dele são ótimos. A Era do Gelo 3 promete. Agora, será que RIO vai ser legal? Só ver pra saber. E outra, acho que o diretor brasileiro de maior renome internacional (pelo menos foi o primeiro) foi o Glauber Rocha, também daqui do Rio.

Valeu!!!!

Mara disse...

Muito bom o aprofundamento do blog nos filmes, mandou bem no post!