Lost ao quadrado
Imagine um episódio de Lost. Monstros surreais, ameaças desconhecidas, manipulação política das boas em pequena escala e ainda um bônus de personagens humanos e reais para alimentar a parte emocional da trama. Fácil? Então agora imagine um episódio de Lost assinado por Tim Burton. Cenografia sombria, teatralidade exacerbada, elementos surreais em uma narrativa que, ainda assim, não tira um dos pés da cruel realidade nossa de cada dia. Ficou um pouco mais difícil de juntar os dois elementos? Não se preocupe, tudo poderá ser visto em breve, com um elenco estrelado, no conforto de uma poltrona de cinema. The Other Side é o título do roteiro elaborado por David Michaels, criador da pouco conhecida série Macabre Theater, em parceria com o irreverente Phil Reeves (Happy, Texas). O texto circula pelos corredores dos grandes estúdios desde meados de 2006, quando virou alvo de cobiça dos atores mais conceituados da capital do cinema e terminou reunindo um elenco estelar. Na lista original estavam Ryan Gosling (Diário de Uma Paixão), Tim Roth (Água Negra), Giovanni Ribisi (A Estranha Perfeita), Jason Lee (My Name is Earl), Anjelica Huston (Os Imorais) e a animada Brittany Murphy (Sin City), que estava cotada para assumir o papel de protagonista e chegou a dizer que existia “algo de muito especial em The Other Side” e que nunca havia lido algo do tipo antes. O tempo passou e as filmagens que estavam marcadas para novembro de 2007 foram sendo atrasadas mês após mês até que a fonte de notícias em relação ao projeto secou de uma vez por todas. O ressurgimento de The Other Side, ironicamente, acabou acontecendo com o interesse de uma estrela decadente em busca de um projeto para recuperar o status dentro do negócio cinematográfico. O nome é Lindsay Lohan (Eu Sei Quem me Matou), que passou 2008 em branco nos cinemas americanos graças ao envolvimento com drogas e pretende reparar o erro justamente com a comédia de fantasia, uma vez que Labor Pains, seu mais recente filme completado, vai mesmo ser lançado direto para o DVD. Com ela liderando, o projeto ganhou uma nova (e um pouco mais modesta) lista de elenco. Giovanni Ribisi permanece firme em seu posto, mas todos os outros envolvidos se debandaram por outras estradas, abrindo espaço para a entrada de Woody Harrelson (O Homem Duplo), Katie Holmes (Batman Begins), Eddie Izzard (Operação Valquíria) e Kieran Culkin (Meninos de Deus). A sinopse continua a mesma, ao menos: uma estudante de ciência passa o verão em uma ilha atrasada no tempo em relação ao mundo real. Seguindo uma trilha de pistas, ela tenta resolver o mistério que faz os habitantes do lugar ficarem parados no tempo e descobre algo que ela nunca poderia prever. A direção é do próprio David Michaels.
Sete mulheres para um diretor
Em 1963, o mundo parou e se curvou ante ao talento do mestre italiano Federico Fellini. O diretor, então conhecido pelo trabalho no famosíssimo A Doce Vida, surpreendeu até os americanos, que cederam a 8 ½ não apenas o prêmio de melhor filme estrangeiro, mas também indicações a outras três categorias, incluindo melhor diretor e melhor roteiro original. Em charmoso preto-e-branco e estrelado por Marcello Mastroianni, o filme narrava o drama do diretor de cinema Guido Anselmi, que anda sem inspiração para desenvolver seu novo projeto e tenta se livrar da pressão mergulhando em um mundo de lembranças e fantasias que o remetem a todas as mulheres que ele já amou e deixou para trás. Foi quase uma obra biográfica para Fellini, que se via atribulado com as dificuldades da arte de fazer cinema. Menos de duas décadas depois, com o respaldo do diretor, estreou na Broadway o musical Nine, que usava a premissa básica do filme e adicionava elementos mais “atualizados” (incluindo uma crise de meia-idade como o motivo para as reflexões do protagonista). Estrelado pelo saudoso Raul Julia (Street Fighter), a montagem chegou perto de 1000 apresentações e ganhou cinco Tony, o Oscar do teatro. Mas a história ainda não tinha morrido definitivamente, e em 2003 uma nova montagem do musical, estrelado dessa vez por Antonio Banderas (A Lenda do Zorro), conquistou o público por 300 apresentações e a crítica, abocanhando dois Tony. Nem é preciso tanta rapidez de raciocínio para deduzir que o próximo caminho lógico da história é retornar a grande tela. O responsável por Nine, o filme, é Rob Marshall (Chicago), que trabalha no projeto com o roteirista Michael Tolkin (Impacto Profundo) desde 2007. Prejudicado pela greve dos roteiristas, porém, o musical teve de recomeçar os trabalhos no início do ano passado e acabou reunindo um elenco feminino de respeito para dar vida as mulheres da vida do protagonista. A começar por Nicole Kidman (Austrália), que retorna aos musicais interpretando a musa e ex-amante de Guido. A lista segue com Judi Dench (Cassino Royale) na pele da produtora linha dura que pressiona o protagonista por uma nova idéia, Kate Hudson (Um Amor de Tesouro) encarnando uma jornalista de moda, Sophia Loren (Um Dia Muito Especial) como a mãe de Guido, Marion Cotillard (Piaf) como sua esposa e por fim Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), intérprete da prostituta Carla, que entra em contato com ele em sua viagem a Veneza. O sortudo em meio as beldades? Daniel Day-Lewis (Sangue Negro), o último a ser escalado para o filme, que deve estrear em 08 de Janeiro de 2010 em terras brasileiras. A primeiro foto das moças no set acabou de sair (aí em cima).
Estrada longa
Na ativa há mais de quatro décadas e com uma dezena de livros publicados, Cormac McCarthy parecer ter sido descoberto apenas recentemente pela capital do cinema. Ou talvez tenha sido apenas o sucesso dos Irmãos Coen (Fargo) ao se arriscarem pela primeira vez na escrita cheia de metáforas do escritor e saírem com a obra-prima que é Onde os Fracos Não Têm Vez. O ouro dos Oscar conquistados pelo filme logo fez Hollywood abrir os olhos para as outras obras de autoria desse americano versátil que já passou pelo estilo gótico e pelo faroeste até aterrissar no pós-apocalíptico em sua obra mais recente, o desolador The Road. Não por acaso, a história da jornada de um pai e seu filho pequeno pela última estrada de um mundo destruído por um cataclismo desconhecido foi a primeira a entrar na mira dos estúdios e logo de cara chamou a atenção de gente que vale a pena acompanhar. O primeiro a colocar seu nome no páreo para estrelar o projeto foi Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis), que na época se preparava para uma virada em sua carreira e viu seu nome se tornar um dos mais cotados de Hollywood depois da indicação ao prêmio da Academia de melhor ator pelo desempenho em Senhores do Crime. Entre o final de 2007 e começo de 2008, o projeto ganhou vida nas mãos do roteirista Joe Penhal (Amor Obsessivo) e ainda encontrou seu comandante na pessoa do australiano John Hillcoat (A Proposta). O elenco de The Road também foi crescendo em número e brilho, ainda que a maioria dos papéis para além dos dois protagonistas sejam meras aparições especiais. O garoto, aliás, achou seu intérprete na pele do jovem Kodi Smit-McPhee, que recentemente apareceu em Wolverine como o personagem-título durante a infância. Além dele, o filme conta com Charlize Theron (Hancock) interpretando a esposa do protagonista, Guy Pearce (Atos que Desafiam a Morte) na pele de um veterano de guerra e Robert Duvall (Os Donos da Noite), cuja participação ainda é um mistério. As filmagens começaram em meados do ano passado nas geladas locações no estado americano da Pensilvânia, e até imagens promissoras para promover a obra foram liberadas na Internet. Isso até Outubro, um mês antes da estréia marcada em solo americano, quando a Weinstein Company decidiu atrasar em quase um ano a estréia da obra, decisão justificada por problemas nos efeitos especiais. O filme, cujo primeiro trailer acaba de ser lançado, deve chegar aos cinemas em 04 de Outubro, no início da temporada de filmes com potencial para premiações.
O retorno da maldição
Os cinéfilos mais radicais devem estar familiarizados com a história contada nas linhas abaixo, mas não custa nada relembrar (ou descobrir) porque The Man Who Killed Don Quixote é considerado o projeto mais maldito que Hollywood jamais tentou viabilizar. De fato, foi quase como se o próprio Miguel de Cervantes, autor do clássico sobre um nobre que enlouquece e sonha ser um cavaleiro andante em grandes batalhas contra moinhos de vento, viesse do além para assombrar o diretor Terry Gilliam (Os Doze Macacos), responsável pela direção do projeto na primeira e última tentativa de levá-lo as telas, em 2000. Na época, o projeto era dado como o próximo grande filme do diretor, que havia acabado de sair elogiado do negócio arriscado que era a adaptação do livro Medo e Delírio no filme estrelado por Johnny Depp (Piratas do Caribe) em 1998. O próprio astro estava escalado para participar do filme na pele de um publicitário que viaja no tempo e encontra com Dom Quixote em pessoa, que o confunde com ninguém menos que seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Para o papel do lunático cavaleiro criado pelo escritor espanhol, Gilliam havia escalado o francês Jean Rochefort (Eu Sou o Senhor do Castelo), que nunca havia escondido a paixão pelo personagem e pela obra, mas acabou sendo o olho do furacão de todos os eventos que rodearam a produção do filme. Cinco dias depois do início das filmagens, Rochefort descobriu que as dores que sentia eram na verdade uma grave infecção de próstata que o afastou das filmagens e gerou os primeiros rumores de que o projeto não iria se realizar da forma que fora concebido. E para chegar até a filmagem não havia sido nenhum caminho de rosas, entre brigas com o estúdio pelo tamanho do orçamento e da ambição na agenda de filmagens, Gilliam passou quase dois anos batalhando para transformar o projeto em realidade. No dia seguinte, quando Depp se preparava para começar a filmar sua parte antes do planejado, os céus espanhóis derramaram uma tempestade que inundou o local onde a equipe se abrigava e, acreditem levou embora todo o equipamento de filmagens. Nas palavras do próprio diretor: “Foi como uma punição por tudo de ruim que fiz na minha vida”. Como se não bastasse, no dia seguinte a equipe percebeu que, devido a chuva, a paisagem que serviria de fundo para as cenas havia mudado radicalmente, e no dia seguinte, quando Rochefort resolveu voltar a ativa, foram necessários três homens, um vôo de emergência e uma cirurgia feita as pressas para recuperá-lo de uma hérnia de disco dupla. É claro, o projeto foi desligado pelos investidores e não seguiu em frente, deixando lesões, prejuízos e uma mancha na carreira de Gilliam que inclusive resultou no documentário Lost in La Mancha. Porque dizer tudo isso agora, nove anos depois? O roteiro foi reescrito por Gilliam e Tony Grisoni (Atos que Desafiam a Morte) e as novas filmagens devem começar ano que vem. Que nenhuma maldição venha assombrar o diretor dessa vez.
Bom, pessoal, e por hoje é isso… consegui reunir apenas quatro notícias mesmo estando um pouco atrasado porque meu tempo tem sido consumido pela responsabilidade de preparar uma surpresa em breve para vocês… quem está ligado no que está acontecendo no mundo do cinema já deve ter matado a charada. Trata-se de um especial, mas o assunto eu deixo para vocês advinharem. Por enquanto, os melhores filmes para todos vocês e até mais!
4 comentários:
Cara, eu li, li e quando vi acabei. que droga. Seus textos são imensos e ótimos. Dá uma vontade de ficar lendo direto. Adorei a comparação que vc fez de Lost com Tim Burton. Estou doido pra ver esse filme. Embora tenha lido tudo, acho que essa foi a notícia que mais me chamou a atenção. Valeu Caio, continue fazendo esse excelente trabalho.
Valeu!!!
Aguardarei com ansiedade esse filme, principalmente para ver a atuação de caras como Jason Lee. Porém não sei porque eles contu=inuam investindo na Lindsay Lohan, ela é horrível, talvez suas visitas ao "rehab" mantenham ela na midia... Triste!
Abraços!
http://tempo-horario.blogspot.com/
BRUNO
ponho fé em tudo que o depp faz. mas já a lindsay, só é polêmica, talento mesmo, não tem nenhum...
ah, eu tenho que dar um palpite ... Seria um especial sobre Harry Potter? Ou sobre o exterminador´... espero que seja sobre o Harry.hehe.
Seu blog já é parada obrigatória.
abraços;
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