Célebre engenheiro
É notável o que um arrasa-quarteirões é capaz de fazer pela carreira de um ator em Hollywood. Britânico, na ativa há quase quinze anos e colecionando elogios da crítica e de um seleto público desde que seu Todo Mundo Quase Morto se tornou o besteirol queridinho dos especialistas em 2004, Simon Pegg só conseguiu mesmo escancarar as portas dos grandes estúdios quando foi escalado pelo amigo J.J. Abrams (Missão: Impossível III) para o posto principal da engenharia da renovada Enterprise que chegou aos cinemas americanos no último 08 de Maio. No papel do engenheiro Montgomery Scott, Pegg assumiu com propriedade o manto que fora do estigmatizado James Doohan, cuja carreira fora da série se resume a participações especiais em produções de segunda categoria. É claro que Pegg, sendo um cara esperto como é, não se deixaria cair no mesmo destino, e já emendou uma nova loucura pessoal para seguir a ascensão a fama. O projeto em questão, intitulado Paul, segue a linha das obras anteriores idealizadas por Pegg e seu parceiro Nick Frost (Penélope), se utilizando de uma trama tipicamente clichê para quebrar todo e qualquer paradigma do gênero em que se metem. Se terror e ação já ficaram para trás, a bola da vez para a dupla são os filmes de extra-terrestres. O personagem título é o alien que cruza o caminho de dois amigos fanáticos por quadrinhos que atravessavam o país para chegar a Comic Con, maior convenção do gênero no mundo. É claro que, aproveitando a oportunidade, Paul pede ajuda aos dois para retornar ao seu planeta natal. A sinopse promete, mas talvez sejam as novidades na trupe de Pegg que empolguem mais. Além do habitual parceiro, o inglês se juntou o badalado comediante Seth Rogen (Segurando as Pontas), que trouxe a reboque o diretor Greg Mottola, responsável pelo cultuado Superbad, assumindo seu terceiro projeto em três anos para compensar quase uma década trabalhando em episódios isolados de séries de TV de curta duração. Além de Rogen e seu parceiro cineasta, Pegg ainda reuniu para Paul os talentos de Bill Hader, conhecido por aqui como o parceiro de Will Ferrell em Escorregando Para a Glória, e Jason Bateman, que vem enfileirando uma boa série de sucessos sérios comerciais e críticos no naipe de Hancock e O Reino, mas ainda é um dos mais inteligentes comediantes em atividade. A cereja no bolo para um elenco tão excepcional? Coadjuvante de ouro da última safra de comédias americanas, Sigourney Weaver deve mais uma vez meter-se entre os maiores talentos da nova geração para participar do filme como uma antiga conhecida humana do protagonista alienígena, que será todo construído em CGI e receberá a voz de Rogen. Paul está sendo filmado no Novo México, onde se localizaria a lendária Área 51, antiga conhecida dos cinéfilos de plantão.
Refilmagem perturbadora
Os primeiros anos da década de 1990 foram um verdadeiro celeiro para filmes subversivos e quebradores de tabu se tornarem sucesso e catapultarem a carreira de seus astros e diretores. Instinto Selvagem escancarou uma sexualidade aberrante e atraente a um tempo e ainda conseguiu tempo para promover um bem-vindo retorno as tradições mais enraizadas do suspense cinematográfico. Transpoitting tratou o mundo das drogas com humor culpado, mas não se esqueceu de mostrar o poço de depressão em que vive quem se arrisca nesse degradante vício. E, só para finalizar a lista, Pulp Fiction tornou tudo isso o mais cool possível, além de um show de roteiro e bom cinema. O que pouca gente esquece é que Vício Frenético também merece seu lugar nessa trilogia de ouro aí em cima. Para quem não conhece, basta dizer que o filme foi assinado por Abel Ferrara entre a ascensão a fama com O Rei de Nova York e a ruína com Invasores de Corpos, e que tinha Harvey Keitel, hoje conhecido por papéis coadjuvantes em filmes como A Lenda do Tesouro Perdido, mas a época com toda a aura de astro, na pele do imoral protagonista, um policial corrupto e viciado que investiga o estupro de uma freira em uma Nova York distópica e futurista enquanto tenta se redimir de seus erros. Brutal e sutil a um tempo, o filme garantiu a época seu lugar ao Sol como uma espécie de cult instantâneo, mas os anos se passaram e, ao contrário de seus colegas citados no começo do texto, Vício Frenético foi esquecido. Ou ao menos pela maioria esmagadora do mundo. William Finkelstein, criador e roteirista regular de séries televisivas do calibre de NYPD Blue e Law & Order, por acaso, não faz parte dessa maioria. Sem nenhuma experiência em longas-metragens para o cinema, o premiado roteirista escreveu Bad Lieutnaut: Port of Call New Orleans, que provocou burburinho quando foi anunciado devido ao título, o mesmo do filme de Ferrara no original em inglês. Os fãs do original e o próprio diretor não demoraram a expressar sua desaprovação poucos dias depois de Werner Herzog (O Sobrevivente) aceitar materializar o roteiro para a Millenium Films e anunciar que Nicolas Cage (Presságio) como seu preferido para assumir o papel do protagonista. A polêmica esquentou depois que Herzog categoricamente afirmou que o projeto em que estava envolvido não era, de forma alguma, uma refilmagem. Segundo ele, “o protagonista e a história são completamente diferentes”. Seguindo em frente, Herzog escalou Eva Mendes (Motoqueiro Fantasma) e Val Kilmer (Déja Vu) para papéis coadjuvantes, e ainda contou com a adesão do rapper Xzibit (Arquivo X). Apesar de toda a polêmica e da sinopse guardada a sete chaves, ao que parece o mundo noir construído por Herzog tem mesmo pouco a ver com o que Ferrara fez em 1992. Bad Lieutnaut tem distribuição garantida no Brasil, mas não houve uma data definida.
Um novo conde
Eu posso não estar isento do sentimento de um fã nesse caso, mas é fato consumado pela imensa maioria dos críticos literários por aí que Desventuras em Série é o trabalho de um gênio. A série de treze livros infanto-juvenis assinados por Daniel Handler sob o misterioso e genial pseudônimo de Lemony Snicket pode ter tido seu último capítulo publicado em 2006, mas continua mais do que viva na imaginação dos fãs e, como não poderia deixar de ser, dos executivos de Hollywood. A bem da verdade, a vida sombria dos órfãos Baudelaire já ganhou uma vez a grande tela, exatamente meia década atrás, em uma superprodução comandada por um diretor testado e aprovado entre o público jovem e um nome mais forte impossível no topo do cartaz. Desventura das desventuras, o filme foi contra o que se esperava e não agradou o público em massa que não estava acostumado com o estilo irônico da série e estranhou tamanha treva e teatralidade em um filme de fantasia que, heresia, não tinha um final feliz. E talvez nunca viesse a ter. A verdade é que Desventuras, o filme, não mereceu o destino que teve. Tratava-se de uma adaptação fiel ao clima dos livros, que limava e mudava muitos detalhes mas nem por isso se acovardava em ser a espécie estranha que tanto vendeu nas prateleiras das livrarias. Tudo isso graças a direção equilibrada de Brad Silberling (Gasparzinho) e a tradução perfeita de Jim Carrey (Sim Senhor) para o repulsivo e irresistível Conde Olaf. A verdade é que Desventuras era diferente demais para a máquina comercial que se tornou o cinema. Ou ao menos naquela época. Sim, pois cinco anos mudam muita coisa no século da velocidade de informação, e não é para se subestimar anos em que tivemos a súbita glorificação do cinema independente, uma obra britânica com alma indiana vencendo o Oscar e até um filme de super-heróis, pura diversão fútil, se tornando o melhor exemplar de cinema do ano. Pois bem, o mundo está pronto para o verdadeiro Desventuras. Ainda mais estranho, ainda mais sombrio, mas cima de tudo... diferente. Foi no início do mês que o diretor Brad Silberling acendeu uma esperança nos fãs da série ao comentar pela primeira vez sobre uma continuação para o filme de 2004. E ele disse mais: “Acredito que exista a chance da continuação receber um formato completamente diferente da primeira versão. Handler e eu conversamos sobre fazer cada filme com um suporte diferente, mas são só projetos. No momento estou tentando negociar com a Paramount a possibilidade de fazer o segundo filme em stop-motion”. Resta saber se o projeto vai para frente dessa vez, e quando poderemos conferir o resultado. Que Desventuras não precise mais ser tão desventurado quanto seus protagonistas.
Em time que está ganhando...
Era mais do que óbvio que os X-Men não sobreviveram ao mar de mortes que o terceiro capítulo da trilogia mutante promoveu dentro do grupo. Ou ao menos que não voltariam as telas de cinema no mesmo formato. X-Men 4 pode ser um sonho impossível, mas como certo mutante com garras bem demonstrou há alguns meses, nada impede que o grupo retorne aos poucos para as salas de projeção. Sucesso de escala mundial, X-Men Origens: Wolverine abriu as portas para que os mutantes invadam a programação dos cinemas nos próximos anos. Afinal, a Fox não é burra o bastante para simplesmente deixar para trás a maior franquia que tem nas suas fileiras. E como a ordem é seguir forrando os cofres do estúdio, ao menos outros dois filmes baseados em alguns aspectos das aventuras do super-grupo mutante devem sair do forno ainda no próximo ano. O primeiro, como muita gente deve ter adivinhado no final da projeção do filme do mutante canadense, é o filme-solo do mercenário Deadpool, interpretado em um par de cenas decisivas por Ryan Reynolds (Três Vezes Amor). O astro anda envolvido no filme do mercenário desde 2004, quando ainda era um coadjuvante de luxo em comédias de terceira categoria prestes a subir na vida hollywoodiana. Hoje um nome consolidado e pronto para estampar o topo de qualquer cartaz, Reynolds parece mais seguro de si mesmo quanto a vontade de encarnar o personagem em uma aventura-solo. Por enquanto, o projeto não tem nem ao menos uma trama, que dirá um roteirista e menos ainda os companheiros de elenco de Reynolds para a empreitada, apesar de algumas presenças garantidas ao menos em pequenas pontas, como assinala a história do personagem que nos foi apresentada superficialmente no filme de Gavin Hood (O Suspeito). Outro projeto com mutantes poderosos que ainda está em estágio de desenvolvimento primário é X-Men: First Class, espécie de “pré-continuação” ao primeiro filme do grupo, assinado por Bryan Singer (Operação Valquíria). A trama sobre o primeiro super-grupo treinado pelo professor Xavier, ao menos, já tem um roteirista garantido na ficha técnica e alguns intérpretes da série anterior demonstrando seu interesse. O roteiro está sendo redigido por Josh Schwartz, conhecido no mundo da televisão como o criador das séries The O.C., Chuck e Gossip Girl. Já quem se mostrou interessada em reprisar o papel foi Anna Paquin, a Vampira da trilogia e atual atriz principal da série True Blood. Ambos os filmes devem chegar aos cinemas entre 2010 e 2011.
Nota de luto: David Carradine
Família pode ser algo importante dentro do jogo cruel de Hollywood, mas não é um nome famoso que vai garantir o lugar de alguém no rol de grandes atores da história do cinema. David Carradine nasceu dentro dos muros da capital do cinema, ao oitavo dia do último mês do ano de 1936, e seu pai era nada mais nada menos que um dos atores mais prestigiados e adorados de sua época. John Carradine foi muito provavelmente o homem mais versátil da história da atuação cinematográfica, coadjuvante eficiente de filmes como Ingratidão e As Aventuras de Huckleberry Finn, protagonista clássico e brilhante em encarnações lendárias de personagens shakespearianos. Foi tentando lidar com essa pesada herança que David, o filho, começou a ensaiar os primeiros passos na própria carreira cinematográfica. Chegando a trabalhar com Martin Scorsese pouco antes do ítalo-americano ascender a fama, Carradine achou mesmo seu lugar na TV, onde se tornou um ícone na pele do pacífico mestre das artes marciais Kwai Chang Caine, protagonista da série Kung Fu, um clássico de três temporadas entre 1972 e 1975. Foi apenas um ano depois de deixar para trás o personagem que o fizera uma lenda que Carradine demonstrou seu verdadeiro talento, cantando na biografia-faroeste Esta Terra é Minha Terra. Comandado por Hal Ashby (Shampoo), David acumulou prêmios da crítica e ainda saiu-se com a primeira indicação ao Globo de Ouro fora de trabalhos televisivos. A carreira prosseguiu com certo vigor até 1980, quando mais uma vez foi aclamado pela crítica por sua atuação no drama western de Walter Hill (The Warriors), A Cavalgada dos Proscritos. Três anos depois David seguiu a tendência de sua época e estreou na direção, vencendo o prêmio do público em Cannes pelo trabalho em frente e atrás das câmeras do road-movie Americana. Para a surpresa de todos os fãs, porém, Carradine acabou por cair no mesmo filão de filmes de ação de terceira categoria que outros tantos astros dos anos 1980, mas foi esperto o bastante para se garantir num terreno já conhecido e ressuscitar seu ícone em Kung Fu: A Lenda Continua, que teve quatro temporadas entre 1993 e 1997. Apesar da momentânea recuperação, o verdadeiro talento de Carradine foi visto em seu auge quando o diretor Quentin Tarantino (Pulp Fiction) o chamou para encarnar o personagem título de sua saga em duas partes Kill Bill. Em uma atuação hipnotizante, Carradine criou uma outra lenda e, mesmo que o título anunciasse o final de seu personagem, nunca houve tanta emoção no ato de ver um vilão dar seus últimos passos. Ou seria ele um herói? David, sabiamente, não nos deixou descobrir e levou a última indicação ao Globo de Ouro. O ato foi encontrado enforcado dentro de um armário de hotel em Bangkok, na Tailândia, em 03 de Junho. Deixou um trabalho não-finalizado, dois filhos com ex-mulheres e a esposa atual, que o acompanhava desde 2004. Bill tinha 72 anos.
Em memória de David Carradine *08/12/1936 +03/06/2009
Bom, pessoal, e por hoje é só isso mesmo… De fato foi um choque receber a notícia do falecimento desse grande ator que foi David Carradine… mas a vida, e o cinema, continuam e o Boletim Cinéfilo está de volta, finalmente, depois de uma boa ausência… vou tentar sempre manter a constância com as notícias, mas vocês sabem como é cansativo o dia-a-dia… enfim, os melhores filmes para todos vocês e até mais!
3 comentários:
Parabéns pelo blog,
Gosto de filmes, não tanto quanto você, mas agora vou dar umas passadas por aqui para me informar mais.
Abraço.
Mas as pessoas falam tão mal do Jim Carrey nesse filme, eu adorei! Lembro que na época falavam que ele tava chamando mais atenção do que as crianças, aparecendo (de)mais. Ué, mas não tá bom assim? Não li nenhum dos livros, nem acho que um dia vá ler, mas pra mim, funciona enquanto filme.
E eu ainda não vi Transpoting! E eu to louca pra ver o filme do Haneke que ganhou Cannes!
tá, chega.
=)
sempre eh bom saber das novidades de filmes...
Postar um comentário