segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Pantera Cor-de-Rosa 2 – A magia do carisma com Steve Martin

the pink panther 2 poster

A Pantera Cor-de-Rosa 2 (The Pink Panther 2, EUA, 2009)

De: Harald Zwart.

Com: Steve Martin, Jean Reno, Andy Garcia, Alfred Molina, Emily Mortimer, Aishwarya Rai, John Cleese.

92 minutos.

Carisma não é algo fácil de explicar. De fato, é uma daquelas coisas que simplesmente acontecem, não raro sem que você perceba, em uma sala de cinema, com a luz da tela refletindo em seus olhos. Como num passe de mágica, você começa a se importar pelo que acontece lá, naquele mundo de mentira que quase sempre tem muito mais a mostrar atrás do que na frente das câmeras. Parece e soa como um truque, uma manipulação, e há quem não goste de ser colocado em uma posição tão desconfortável pelas emoções que um filme é capaz de passar quando a dose certa de carisma é colocada na tela. Talvez seja assim que surjam críticas tão amarguradas, tão revoltadas e acima de tudo tão pouco fundamentadas, vindas de gente que não sabe apreciar a verdadeira magia do cinema e se porta de maneira tão egoísta que chega a provocar repulsa. Quem quase sempre sai prejudicado é o espectador que entra com más expectativas em uma sessão e sai sem saber o que pensar. Afinal, o que é mais provável aos olhos de nossa sociedade? O crítico conceituado ser movido por razões puramente egoístas, ou o espectador ver e não saber distinguir um bom filme de um ruim? A verdade é que cinema não precisa ser nada mais do que entretenimento para cumprir sua missão, e é sempre bom lembrar que, se você se levantou de sua confortável poltrona numa sala com um sorriso no rosto, não tenha dúvidas ao pensar na peça valiosa de cinema que o filme que acabou de passar na tela é, mesmo que tudo aquilo seja puro carisma e nada mais. Porque não é fácil fazer filmes, e talvez seja ainda mais difícil passar por cima de preconceitos para se provar algo pelo qual valha a pena usar duas preciosas horas de nossas vidas. O sorriso estava lá em A Pantera Cor-de-Rosa, o remake lançado três anos atrás e estrelado pelo mais do que carismático Steve Martin, que foi massacrado pela crítica ao redor do mundo, quase sempre apoiada por comparações tanto em relação ao passado de seu astro quanto do seu personagem principal. O Inspetor Jacques Clouseau, para quem não sabe, antes de ser defendido por um Martin em momento de baixa na carreira, foi protagonista de nada menos que sete filmes produzidos entre 1963 e 1982, todos comandados pelo mestre da comédia Blake Edwards (Bonequinha de Luxo) e estrelados pelo britânico Peter Sellers, que deve muito de sua fama a inspirada performance como o atrapalhado detetive francês que sempre se via as voltas com o roubo diamante que dá nome a série, um símbolo da riqueza de sua pátria. O remake, realizado mais de uma década depois da primeira tentativa após a morte de Sellers ter falhado miseravelmente, conseguiu uma surpreendente bilheteria de quase 150 milhões de dólares ao redor do mundo, o que obviamente conduziu a série a uma continuação, lançada há pouco tempo nos cinemas sem tamanho sucesso. A queda de bilheteria quase pela metade pode cortar novamente as memórias do Clouseau de Martin na capital do cinema, mas não há dúvidas de que a continuação ainda é uma boa peça de entretenimento. Afinal, não custa nada abrir um sorriso numa sala de cinema de vez em quando.

A continuação já começa bem na troca de roteiristas, deixando para trás o anacrônico e grosseiro Len Blum (O Rei da Baixaria), claramente o responsável pela amarração de cenas cômicas sem desenvolvimento de personagens que incomodava um pouco na primeira investida da nova franquia, e colocando para assinar o novo script ao lado do astro Martin a bem mais sutil duplas Scott Neustadter e Michael Weber, cuja obra anterior, o romance 500 Days of Summer, ganhou elogios lá fora deve estrear em breve em terras brasileiras. Nas mãos dos novos escritores, Clouseau e seus coadjuvantes deixam de ser caricaturas levadas por atores competentes para se tornar personagens de verdade, o que deixa bem mais fácil para o espectador se envolver em todo o clima cômico-romântico que permeia a nova história. Sim, temos romance de verdade aqui, mas as sacadas cômicas continuam no mesmo nível do filme anterior, levadas com boa fluência e colocadas de forma inteligente na trama. Não dá para dizer que o ritmo é perfeito todo o tempo, mas não há erros grandes o bastante para tirar a graça e a magia do carisma de um elenco crescente que desempenha seus papéis com desenvoltura deliciosa de acompanhar. Martin, co-autor do roteiro, garante as melhores partes para si e brilha genuinamente como um mestre na arte de fazer rir em cada minuto em tela. Isso sem contar que o lado prático da trama investigativa tem adições de personagens que apenas a deixam mais interessante e integrada as trapalhadas do babaca adorável que é o Clouseau do novo século. Um tipo comum, é verdade, e uma forma garantida de conquistar o público, mas o elemento clichê funciona bem em uma trama que não se pretende nada além de pura diversão e alcança seu objetivo com primazia. Dessa vez, o filme começa com Clouseau relegado a fiscal de trânsito até que o Inspetor Dreyfuss, seu superior, recebe a ordem de incluir o detetive, célebre por sua heróica recuperação do diamante símbolo do país, em um “time dos sonhos” da investigação, que juntaria os melhores de todo o mundo para desvendar o mistério do Tornado, um ladrão que voltou a ativa depois de uma década sem dar as caras e já surrupiou artigos lendários como a Espada Imperial japonesa e o Anel Papal, além é claro do Pantera Cor-de-Rosa. O script espertamente integra a trama do “time dos sonhos” com o desenvolvimento progressivo do romance entre Clouseau e a secretária Nicole, que se vê assediada pelo componente italiano do time enquanto o próprio inspetor francês se envolve com a encantadora especialista nos crimes do Tornado. É nessa integração, trabalhada quase sempre com habilidade ao longo dos acertador 96 minutos de A Pantera Cor-de-Rosa 2, que a seqüência garante sua evolução em relação ao primeiro filme na mesma medida que torna os personagens envolvidos mais realistas e interessantes.

A mudança de câmera também não faz nenhuma mal a série, é claro. Shawn Levy (Doze é Demais) fica só na produção e abre caminho para os ares europeus do holandês Harald Zwart, mais conhecido como o comandante da aventura juvenil Agente Teen. Não que o novo comandante da série seja um gênio com a câmera, mas é impossível negar que suas idéias se integram bem a nova trama e suas escolhas de ângulos e movimentos não fazem nenhum mal a quem gosta de observar esse tipo de coisa mesmo quando a peça de cinema em questão é puro entretenimento. Zwart injeta um novo espírito de frescor a série com seus cortes ao mesmo tempo convencionais e bem escolhidos e sua edição bem calculada, aliada a uma direção de atores competente e a criação de um novo clima de confraternização e rivalidade entre o grupo ali reunido. Nas mãos dele, tudo soa como uma espécie de desafio entre amigos, e não há espírito melhor para conduzir uma boa comédia aventuresca, especialmente em se tratando de um roteiro que dá tanta importância aos personagens e a relação entre eles. Sua direção, em suma, é elemento mais do que fundamental para que o carisma daquilo que vemos em cena funcione como deve. É claro que o restante do show é todo com o elenco, e estamos falando de um bem servido aqui. A começar pelas novas adições ao time, especialmente Andy Garcia, mostrando sua afiada veia cômica, algo que o espectador andava furtado de apreciar desde 2003, com a rápida e irônica aparição do ator em Confidence. Aqui, ele exercita seu bem treinado sotaque italiano para se tornar a peça-pivô de uma espécie de crise escondida entre Nicole e Clouseau, colocando o velho charme conquistador para funcionar e acabando o filme como um dos mais ambíguos e interessantes personagens da trama, brilhando mesmo quando ao lado de Martin, protagonista absoluto. Quem também entra na dança é Alfred Molina, o inesquecível vilão de Homem-Aranha 2, não fazendo muito esforço para criar um especialista em dedução que passa o filme todo sem saber para que lado atirar e ainda assim se acha superior a seus colegas de time. É de certa forma vilanesco, mas não deixa de ser um dos “caras do bem”, e Molina faz isso sem grandes arroubos de ousadia, mas acima de tudo com competência. Outra troca bem pensada entre as muitas da continuação acontece no papel do Inspetor Dreyfuss, um tanto limitado a caretas de dor quando na pele de Kevin Kline no primeiro filme, e agora muito mais sarcástico e interessante ganhando o rosto e o talento de John Cleese, provavelmente um dos mais talentosos comediantes que há por aí. O britânico brilha especialmente no começo, numa das primeiras cenas do filme, quando o personagem recebe a recomendação de Clouseau para o time dos sonhos. De familiar mesmo só a honra e a coadjuvância eficiente de Jean Reno, sempre uma valiosa adição a qualquer elenco, que se mostra um comediante de mão cheia mesmo ao lado de alguém tão bom na arte de fazer rir quanto Martin, com quem divide a maioria de suas cenas. Por fim, no campo feminino do elenco temos Emily Mortimer (Match Point), um tanto afetada na confusão amorosa de Nicole, mas sem dúvida adorável quando o filme chega ao fim, e a indiana Aishwarya Rai (A Última Legião), cuja beleza estonteante fica infelizmente apagada pela personalidade pouco trabalhada de sua personagem. Elenco de apoio bem interessante, é verdade, e isso apenas aumenta o mérito de Steve Martin em construir um personagem tão cativante quanto Clouseau. Seja tentando dirigir e conversar sobre o caso ao mesmo tempo, se fingindo de dançarino de flamenco para mudar uma escuta de lugar em um restaurante recém-inaugurado, tomando aulas de etiqueta ou fazendo confissões amorosas para seu parceiro, Martin é magnético e talentoso acima de todas as dúvidas do começo ao fim. Ponto para ele, que sabe reconhecer um bom projeto, e para o espectador, que é presenteado com mais uma demonstração do quão divertido pode e deve ser o cinema.

Nota: 7,0

The Pink Panther 2

Pink Panther 2

4 comentários:

bones disse...

Steve martin é tambem meu idolo. Mas peter Sellers tbm era, fica dificil assistir o inspetor noutra face, a comnparação vem sem querer.
Assisti o primeiro com o Steve, com a Beyoncé, deu até pra rir.
Vou esperar este ai em dvd pra formar minha opinião.
Será qeu vc já viu "a vida e morte de Peter Selers" , era uma miniserie que saiu em dvd, não é bem uma comedia mas um tributo ao ator que eu acho estar à altura, se puder veja.
abraços :)

Diego Rodrigues disse...

Gosto do primeiro dessa nova série. Só gosto. Também não vejo nada demais. A continuação ainda não me arrisquei a ver, mas devo conferir algum dia, porém não é minha prioridade no momento!

Fabio Christofoli disse...

Steve Martin realmente é carísmatico, tanto que ele salva mtos filmes ruins q participa...

Confesso que este em questão nunca tive curiosidade de ver, mas quem sabe, vendo esta dica eu possa aluga-lo (sim eu sóu pré-histórico, ainda frequento a locadora).
Ultimamente eu estou achando difícil achar boas comédias que não sejam apelativas, não sei, mas antes eu tinha a impressão que ria de tudo.

Das duas uma. Ou estou ficando sério demais ou as comédias estão realmente perdendo a graça...

Abraço

Marcelo A. disse...

Olha, Caio... Gosto muito do Steve Martin. Mas vi praticamente todos os filmes com o Peter Sellers. O cara era o cara! Aliás, acho uma grande injustiça as TVs não exibirem seus filmes. Aliás, as TVs não exibem nada que preste, né?

Outro lance é que o Blake Edwards era (é, o cara tá vivaço, né?) um dos que melhor mandavam quanto o assunto era comédia. Confesso que não vi o 1. De repente, agora, dê uma olhada...

Dá uma passada lá no "Diz". Dei uma de Caio e também falei de um filme... Rsrsrsrs!

Abração!

www.marcelo-antunes.blogspot.com