domingo, 8 de fevereiro de 2009

Cash: O Grande Golpe - Estilo, criatividade, eficiência... o que vale mais que diamantes?


Cash: O Grande Golpe (Ca$h, França, 2008).

De: Eric Besnard.

Com: Jean Dujardin, Jean Reno, Valeria Golino, Alice Taglioni, Caroline Proust.

100 minutos.





Estilo, criatividade e eficiência são três qualidades completamente diferentes quando o assunto é cinema. Não é preciso se esforçar muito para fazer um filme estiloso. Basta uma produção sofisticada, movimentos de câmera elegantes, atores carismáticos e diálogos espertos (adjetivo muito diferente de “inteligentes”). Já alcançar o criativo é um pouco mais complicado, já que estamos falando aqui de pequenos lances que fazem o espectador se perguntar porque ele mesmo não havia pensado naquilo. Criatividade é, acima de tudo, um roteirista mostrando o quanto ele é mais competente que seu público. E isso não é de forma nenhuma um insulto, já que teoricamente eles são pagos para isso. Mas não adianta ser estiloso e criativo se tudo isso não esteja embalado por eficiência, habilidade e conhecimento. Um diretor eficiente sabe como equilibrar ousadia e tradicionalismo, como usar o convencional na forma de filmar a seu favor, travalhando em função do roteiro, e nunca sobrepondo seu talento a história que o filme se propõe a contar. Um ator eficiente é aquele que captura o espírito do personagem e converte até os diálogos mais absurdamente artificiais em algo crível, genuíno e inteligente. Saber equilibrar carisma e dramaticidade é fundamental. Dito e absorvido tudo isso, pode-se atribuir três sentenças que explicariam "Cash – O Grande Golpe" com perfeição. Primeira, o filme é integralmente estiloso, se utilizando muito bem do charme europeu e da sofisticação que vem inerente a idéia do velho continente. Segunda, a criatividade é apenas eventual, surgindo em algumas cenas e situações que divertem com aquele gosto de novidade que vem acompanhado dos filmes mais marcantes. Terceira e não menos importante, a eficiência é uma coisa rara no cinema hoje em dia.

Talvez o único gigantesco erro do roteirista e diretor Eric Besnard ("Missão Babilônia") seja se esforçar demais em conquistar o público, deixando as sutilezas de lado e partindo para a comoção fácil e para visuais artificiais demais para encantar, tentando manter o interesse através de uma trama acelerada e esperta demais para seu próprio bem. No meio de toda essa histeria, o roteiro se esquece de cumprir a promessa de um bom filme de assalto com personagens que podem causar alguma reação quando algo sai errado. Não há nenhum traço de ligação entre platéia e personagens que possa elevar "Cash" ao nível de encantamento provocado por "Onze Homens e Um Segredo", apenas para citar um exemplo mais recente. Não que isso apague a acidez bem-medida dos diálogos, o surrealismo sutil presente em algumas situações e a comicidade inegável de algumas cenas, filmadas com habilidade peculiar pelo diretor. A maioria delas surge quando o vigarista Cash (Jean Dujardin) se junta ao mestre dos enganadores, Maxime (Jean Reno), para roubar alguns milhões de euros em diamantes de um poderoso magnata hospedado em um hotel de luxo. É nessa longa seqüência que Besnard mostra onde mora sua verdadeira habilidade como roteirista, trabalhando com o dinamismo de forma espetacular e inserindo pequenos lances de humor que funcionam a perfeição. Pena que os momentos mais sérios decepcionem, o que acaba resultando em um filme irregular, morno em alguns momentos e encantador em outros, que poderia ser uma diversão de primeira categoria se mais eficiência estivesse envolvida no processo. Pelo menos na direção Besnard não decepciona. Auxciliado por uma fotografia luminosa que realça bem os encantos de Paris, o diretor filma tudo com elegância e chega a alguns momentos simplesmente geniais em que sua câmera transforma a cena mais banal no impacto visual mais impressionante.

Não seria de se espantar que Besnard rendesse melhor cineasta do que roteirista, mesmo que "Cash" seja apenas seu segundo filme na primeira função. Outro calcanhar de Aquiles de seu filme é o elenco, incapaz de compreender e traduzir seus personagens com perfeição e notadamente mal-escalados. O protagonista Jean Dujardin, espécie de astro em ascenção da França e intérprete do equivalente parisiente de James Bond em "Agente 117", abusa do sorriso torto e do charme gaiato para tornar artificial um personagem que poderia ser no mínimo apaixonante sob outra interpretação. Outro que escorrega feio é Jean Reno ("Rios Vermelhos"), visivelmente fora de seu ambiente e desajeitado como nunca ao encarnar o homem que pode ser o criminoso mais procurado da Europa (ou não). Parace que o veterano encontra problemas ao passar o mistério com o qual seu personagem foi projetado. Talvez o único acerto nessa área pertença a italiana Valeria Golino, intérprete de uma policial que troca de lado após ver sua carreira ameaçada. Ela ultrapassa as barreiras do óbvio para expressar amargura e sinceridade a cada olhar e constrói um desempenho notável aos poucos. O resultado de toda essa equação de poucos altos e um número considerável de baixos é, como nos ensinou a matemática, um redondo e inexpressivo zero. Para desfazer a metáfora e partir para uma visão mais objetiva, "Cash" não é nem essencial nem memorável, mas não chega a ter tantos equívocos para ser considerado o fundo do poço em matéria de filmes de roubo. Mesmo porque uma hora e meia de estilo sem conteúdo europeu é muito melhor do que duas da inflada pretensão hollywoodiana que aos poucos os críticos estão passando a admirar.

Nota: 6,0

2 comentários:

SBIE disse...

O seu blog está indo de vento e polpa!!
Parabens! Viu vc sabe já como ser indicado neh,,, se indique sim, fica em um formulário do lado direito do blog!!

Abraço

Anônimo disse...

Cinema francês?!?!

Eu vi recentemente dois filmes franceses e eu estranhei muito a mania deles de dar tanta importância ao estilo. Parecem que querem fazer um filme que seja muito original e belo, e acabam se perdendo nisso.