

Encurralados (Butterfly on a Wheel/Shattered, Canadá/Inglaterra, 2007)
De: Mike Barker.
Com: Pierce Brosnan, Maria Bello, Gerard Butler, Nicholas Lea.
95 minutos.
Existe uma convenção na cartilha dos roteiristas de thrillers de seqüestros, uma regra sagrada e inquebrável: a ameaça sempre deve ser real, mostrada em seqüências aflitivas e de preferência reforçadas por alguma espécie de metáfora em relação ao tempo que se passa com a vítima presa em cativeiro. Foi assim com "Encurralada", de Luis Mandoki, e também foi assim com a prisão domiciliar imposta por David Fincher em "Quarto do Pânico". A diferença entre um e outro é óbvia: enquanto Fincher sabe criar tensão e apreensão como ninguém mais em Hollywood hoje, Mandoki é um diretor essencialmente dramático, de câmera estática e pouquíssima vocação para o suspense. Mike Barker não está nem para um extremo nem para outro. Representante menos conhecido da geração versátil de novos cineastas liderada por Marc Forster ("Mais Estranho Que a Ficção"), o diretor de Reese Witherspoon em "Planos Quase Perfeitos" e Scarlett Johansson no drama de época "Uma Mulher Fiel" demonstra nesse novo "Encurralados" (será que todos os títulos brasileiros precisam ser tão derivativos?) que tem competência o bastante para não deixar a tensão cair em nenhum momento. Mas não é isso que mais intriga e agrada no filme estrelado por um surpreendente Pierce Brosnan. Talvez o grande nome de todo o filme seja do estreante William Morrissey, mostrando-se roteirista de mão cheia ao criar um exercício de quebra de padrões.
Embora não acrescente muita ousadia a mistura, o diretor Barker faz um bom trabalho ao manter a tensão e mostrar-se mais uma vez apto para guiar qualquer gênero. Mas o grande segredo de Morrissey é não recorrer as formulas que tornam esse tipo de roteiro mais fácil de ser redigido. Não há o espaço confinado de "Quarto do Pânico", as crueldades forçadas e os recursos cinematográficos baixos de "Violência Gratuita", nem mesmo o heroísmo barato de "Refém". Embora não fuja da estrutura linear, Morrissey demonstra habilidade o bastante para jogar com as percepções do espectador em cenas rápidas e diálogos enganadores. Tudo isso sem esquecer-se de brincar com o psicológico dos personagens, tornando cada palavra de seus diálogos uma parte fundamental para o desenvolvimento da trama. Não há uma cena descartável em "Encurralados", mas não haveria pior injustiça do que chamá-lo de raso ou superficial. Pelo contrário, aliás. A família Randall é muito mais complexa e significativa que boa parte das vítimas que Hollywood costuma colocar em suas tramas caça-níqueis, e provavelmente nunca houve um seqüestrador tão fascinante que o Tom Ryan de Pierce Brosnan. O resultado é que "Encurralados" encanta tanto pelos movimentos do jogo quanto pelos jogadores em si.
Abby Randall é uma personagem ambígua, uma esposa satisfeita e consciente da própria mediocridade. Não é fácil decifrá-la, mas antes de qualquer coisa é preciso pensar que as pessoas reais geralmente não são. Maria Bello traduz com perfeição essa dissimulação de detalhes, numa interpretação irretocável que se converte em uma das grandes forças do filme. O diálogo final de sua personagem é de provocar arrepios. Neil, o marido, interpretado por Gerard Butler, é o tipo de homem que é o melhor no que faz em seu trabalho, mas também é uma pessoa que dá muito valor aos próprios escrúpulos. Não há nada mais afltivo que assiti-lo ultrapassando um por um, ainda que Butler recorra como sempre a um retrato caricato, talvez o menos convincente do trio principal. Para fechá-lo, há o seqüestrador do ex-007 Pierce Brosnan. Há muito tempo que um personagem tão fascinante não aparecia na tela. Sua motivação é tão misteriosa e seus atos parecem guiados por uma lógica tão falha que é impossível não se surpreender no final. Por falar em surpresas, a própria interpretação de Brosnan se converte em uma. Sobrenaturalmente adequado, ele consegue converter as linhas do roteiro de Morrissey em alvo de fascinação. Em outras palavras, é impossível não se pendurar em cada frase de seu personagem. No fim de seus bem-medidos 95 minutos, "Encurralados" só não se converte no melhor filme de seqüestro de nosso século porque carece de uma Jodie Foster para iluminar-lhe as cenas. Ainda assim, é um trabalho que merece uma boa olhada. “Quem esmaga uma borboleta na roda de tortura?”. Há muito tempo que eu não me via tão surpreendido com a resposta de uma pergunta Descubra-a você também.
Nota: 8,0

2 comentários:
Parabéns pelo blog ;)
sempre as melhores dicas!
=D
vlws aii men!
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