sábado, 14 de fevereiro de 2009

Jogos do Poder - Um filme feito de contradições


Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, EUA, 2007).

De: Mike Nichols.

Com: Tom Hanks, Amy Adams, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman.

102 minutos.






Se existe uma palavra que pode definir sem margem para dúvida "Jogos do Poder", essa palavra é contradição. Propaganda enganosa talvez seja uma expressão muito depreciativa, mas não existe outra forma de expressar o equívoco da campanha de marketing feita pela Universal. O novo filme de Mike Nichols ("Closer"), apesar de ter sido lançado em época oportuna para a corrida do Oscar, foi vendido como uma comédia sofisticada, sarcástica, inteligente e peculiar para as fileiras de Hollywood. Não que o filme não mereça todos esses adjetivos (e alguns outros), mas é um grande erro chamar "Jogos de Poder" simplesmente de comédia. E a contradição já começa aí. O título original, algo como “A Guerra de Charlie Wilson”, dá a impressão de um drama de redenção, uma espécie de "Um Sonho de Liberdade" passado no Congresso americano. Já a tradução brasileira, "Jogos do Poder", não deixa margem de dúvida para o espectador mal-informado: ele está a frente de um filme político, cheio de tramóias e reviravoltas, conspirações e maquinações. Nenhuma dessas definições está errada. "Jogos do Poder" é uma mistura surpreendente de tudo isso, com o humor surgindo sutil e inteligência acima da média, sem deixar de ser a história de um ser humano adquirindo consciência do mundo a sua volta e muito menos deixar de lado todas as estratégias que envolvem o trabalho no ramo da política. Em resumo: "Jogos do Poder" só pode ser definido como indefinível. Talvez esse adjetivo levante algumas suspeitas dos espectadores mais populares, já que na maioria das vezes os críticos o usam como sinônimo de filme de raciocínio, de narrativa arrastada e ritmo cadenciado. O que também seria uma impressão equivocada. Ficou confuso com tantas definições para um único filme? Bom, nada mais adequado para a história de três pessoas que vão contra a sua natureza.

Para ir direto ao ponto fundamental de "Jogos do Poder", a melhor forma de desfazer essa confusão é analisar o trabalho do roteirista Aaron Sorkin ("Questão de Honra") adaptando o livro biográfico de George Crile sobre um parlamentar bon-vivant que foi peça fundamental para a queda do Império Soviético. Apenas esse breve resumo dá uma amostra da complexidade de um trabalho roteirístico como esse, mas Sorkin se sai perfeitamente bem, fazendo jus a suas três indicações a melhor roteiro no Globo de Ouro. Ao misturar tiradas geniais e atípicas para um filme político (ou para um drama de redenção) com cenas emocionalmente complexas que não costumam figurar em comédias sofisticadas (ou filmes políticos), ele ainda domina com perfeição as engrenagens políticas que movimentam uma trama como essa. Seus personagens são espirituosos sem ser irreais e seus diálogos conseguem ser engraçados sem nunca perder de vista a gravidade e a amargura inerentes a missão dos protagonistas. O protagonista é Charlie Wilson (Tom Hanks), congressista conhecido pelos escândalos com a imprensa e pela falta de ética assumida, um personagem que não deveria ser carismático ou conquistador, mas de alguma forma concilia a falta de limites com a preocupação genuína com os assuntos graves de sua área de atuação. Como define o agente da CIA Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman), o congressita é “um homem muito fácil de gostar”. E que outro ator teria a credibilidade, o carisma e o talento necessário para esse papel senão Tom Hanks? Se a escolha foi perfeita, o desempenho corresponde às expectativas com sobras, e o ator compõe uma persona fantasticamente apaixonante, fugindo do caráter etéreo dos heróis clássicos mas nunca se desumanizando o bastante para se tornar repulsivo. É esse congressista ambíguo que se envolve meio que por acaso na luta das guerilhas afegãs contra a invasão soviética, e consegue o apoio financeiro de Joanne Hering (Julia Roberts), uma socialite engajada e fervorosamente religiosa, peça fundamental do jogo para fortalecer as ligações políticas de Charlie e conquistar os progressivos aumentos de orçamento para a assitência americana no Afeganistão.

É claro que até aqui estamos falando da Guerra Fria, o ódio aos comunistas e a operação “secreta” para sabotar a expansão do império soviético. Mas a coisa toda toma outra proporção em uma cena crucial, filmada sem concessões, em que Charlie vai visitar um campo de refugiados e se depara com o desespero de uma população que está lutando a guerra americana no lugar dos americanos. É principalmente nessa passagem que brilha a câmera experiente de Micke Nichols, lendário diretor do igualmente inesquecível "A Primeira Noite de Um Homem" e tantos outros clássicos, que guia com a discrição de sempre, deixando-se levar pela história, mas fazendo concessões a certas ousadias que poderiam aumentar o impacto do filme. Mas qualquer crítico é desarmado quando sua câmera parte do rosto do protagonista para a imensidão desértica a sua frente, coalhada de barracas miseráveis ocupadas por vítimas da invasão soviética. Ao passo em que Nichols abre espaço para alguns desagrados, o elenco não o faz em nenhum momento. Além de Hanks, que também é produtor do filme, o trio principal é completado pelos oscarizados Philip Seymour Hoffman e Julia Roberts. Ele, sensacional em sua caricatura humanizada de um agente da CIA politicamente incorreto, mostrando porque é considerado o ator mais talentoso surgido nos últimos anos e justificando suas até agora três indicações ao prêmio maior do cinema. Ela não chega a tal patamar, mas não por isso deixa de ser cativante e eficiente na pele da persuasiva e curiosa militante, passando bem a sensação de indignação e tornando-se na representação máxima da classe que impregna todos os 102 minutos de "Jogos do Poder". Alguém por aí provavelmente vai sair de sua sessão balbuciando coisas como panfletagem, enganação, clichê e algumas outras profanidades impublicáveis... mas é impossível negar a relevância, a competência e o retrato contundente da deplorável condição humana de solidariedade egoísta. Mais uma contradição? Francamente, querida, eu não me importo.

Nota: 7,5

Bom, pessoal, hoje a crítica demorou para sair porque eu não tive tempo de assistir o filme até agora a pouco, mas aí está. Outra coisa que eu preciso dizer é que teremos mais uma edição do Boletim cancelada, simplesmente porque pouquíssima coisa aconteceu no dia de hoje no mundo do cinema, mas amanhã ele está de volta, é garantido! E o nosso especial ainda está de pé, provavelmente em alguns dias ele já estará por aqui, estou preparando ainda. Bom, agora só me resta agradecer a todos os comentários, e ainda dizer o de sempre: bons filmes para todos vocês e até amanhã!

8 comentários:

Wagner Lopes disse...

Oi!
É o Bogart, sim! :)
Acho que vc vai gostar de uma gravura do Tom Jobim que vou publicar em breve no blog.
Abraços

ps: Pra acompanhar meu blog é só clicar em "Acompanhar o Blog (Blogger)" que fica na barra lateral da direita

Anônimo disse...

Muito legal cara,falaram q esse filme é muito legal

http://ownedando.blogspot.com/

Anônimo disse...

Obrigada pelas suas palavras incentivadoras. Durante meu exercício profissional adquiri um conhecimento muito grande sobre cursos, profissões, mercado de trabalho, vestibulares, etc. e faço este blog para passar a frente estes conhecimentos, assim posso ajudar a quem precisa dessas informações.
Se Audiovisual é o que você quer vá em frente, o mercado de trabalho nessa área não é fácil, mas bons profissionais sempre encontram portas abertas.

¢auê. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
¢auê. disse...

ei cara passei aki para falar q postei dido no meu blgo como vc tinha pedido e a outra banda q vc pediu(eskeci qual era) eu vo postar logo.
teh mais

Liipee disse...

Ainda não assisti o filme,por isso não posso falar muito do filme.
mas o Closet ficou muito bom, não sei esse.
quanto as traduções dos filmes aqui no Brasil, são uma merda.
minha opnião.
continua com um ótigo blog.
abração !
:)

Liipee disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ੴ₮ℍαʆι₮α ωαʆʆ€ѕкαੴ disse...

muito legal...
vo procurar p/ mim assistir...