

Perigo em Bangkok (Bangkok Dangerous, EUA, 2008).

De: Danny & Oxide Pang.
Com: Nicolas Cage, Shakrit Yamnarm, Charlie Young.
99 minutos.
“Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A frase famosa entre os críticos de qualquer forma de entretenimento (ou arte, se você preferir), nada mais é que a interpretação de uma lei natural ditada pelo químico francês Antoine Lavosier. A máxima normalmente é mais conhecida como “nada se cria, tudo se copia”, o que de fato a torna mais adequada para o contexto de falta de criatividade em Hollywood, principalmente nos últimos anos, quando a quantidade remakes, continuações picaretas e refilmagens aumentou consideravelmente. Mas não dá para negar que de alguma forma esse lapso de inspiração criativa beneficia muita gente. Quem não tem acesso a produções européias, alternativas, asiáticas e afins muitas vezes fica conhecendo grandes histórias contadas no cinema de lá... através das adaptações americanas, que tem chegada garantida no mundo inteiro. Embora milhares de vezes os tais remakes internacionais desfigurem a história e a encham do moralismo americano, quase sempre vale a pena, para quem não conferiu o original, dar uma chance para o derivado. Afinal, nunca se sabe o quanto uma história apaixonante e inesquecível pode render. Infelizmente, "Perigo em Bangkok" não é nada disso. Mas passa longe, e incrivelmente longe, de ser a porcaria enfadonha que andam anunciando por aí.
A verdade é que há algum tempo a crítica persegue Nicolas Cage por tentar ser mais comercial. Talvez eles se esqueçam que, para ter liberdade em Hollywood, é preciso ter o nome ligado a grandes bilheterias, oferecer uma garantia de sucesso que poucos conseguem no mundo acelerado que estamos vivendo. Embora tenha escorregado feio com as últimas escolhas ("Motoqueiro Fantasma", "O Vidente"), nada disso apaga o ótimo ator que ele sempre foi, versátil, sempre estranhamente adequado, perfeitamente desajustado. E quando topa com um personagem em conflito com a própria forma delevar a vida, então, Cage é um dos melhores atores da atualidade para transmitir essa confusão. É essa habilidade que ele exercita ao encarnar Joe, um assassino profissional que tem sistemáticas regras, que o levam para uma última missão na cidade tailandesa de Bangkok. O plano é eliminar quatro alvos, todos de alguma forma inimigos de seus contratantes. Joe não questiona as escolhas. Quando o assistente que ele contrata, Kong (Shahkrit Yamnarm), lhe pergunta se as pessoas que ele mata são más, ele responde sem hesitar: “más para alguém”. Embora passe por todo um processo de transformação durante a trama, Joe passa por tudo isso sem perder a personalidade anti-heróica que essencialmente o faz tão cativante. Se uma enorme parte da culpa por isso é de Cage, a outra parcela fica toda com o roteiro de Jason Richman ("Má Companhia").
Seja por sua habilidade ou pelo material original, redigido pelos irmãos Danny & Oxide Pang ("Os Mensageiros"), Perigo em Bangkok é impecável na parte de caracterização e desenvolvimento de personagens. Cada um deles é trabalho com cuidado, com especial realce em Joe e Kong, que aos poucos criam uma relação de amizade e admiração. Em um filme assim, quanto mais simples a trama, melhor. Pena que o filme tente intrigar demais. Se não ambicionasse tanta complexidade nas conspirações da trama, "Perigo em Bangkok" seria uma obra-prima imperfeita, exatamente daquele tipo que influenciam o futuro. Infelizmente, esse pequeno detalhe influe muito na visão geral do espectador sobre o filme. E é óbvio para quem já deu uma espiada na nota que tal influência é das piores. O inesperado romance de Joe com uma balconista de farmácia muda, por exemplo, é encantador, marcante com sua mistura de humor típico das comédias românticas (no melhor sentido) e toques de amargura que aos poucos crescem para desembocar em um final trágico. Ao mesmo tempo, a caça que os contratantes fazem ao próprio Joe é sem sentido, inexplicável e ainda por cima atrapalha a noção do espectador do que realmente importa em qualquer filme, a jornada emocional intensa do protagonista. Uma das lições mais básicas de escrita de roteiro é que são os personagens que guiam a trama, não o contrário. Afinal, como pretensas pessoas reais, eles tomam decisões que podem influenciar decisivamente para algum acontecimento. É dessa pequena regra que "Perigo em Bangkok" se perde. Se não fosse uma falha tão simples mas tão grave, não haveria muito a reclamar sobre o filme.
A direção dos mesmos Danny & Oxide Pang do original é adequada, viajando com estilo e criatividade nas boas cenas de ação e causando o máximo de impacto nos momentos cruciais dramáticos. Como apenas dois personagens realmente importam, só há o que falar sobre dois componentes do elenco. Nicolas Cage entrega uma intepretação perfeita, meticulosa e ao mesmo tempo despojada, que falha quando o ator pretende ser cool mais acerta em cheio quando ele abraça a estranheza do personagem. E o Kong de Shakrit Yamnarm é carisma e sinceridade a flor da pele, indeitificando-se com o público com facilidade. Para fechar o pacote, é impossível não se fascinar pelo charme quase tóxico de Bangkok, suas ruas brulhentas e clubes de quinta categoria contrastando violentamente com os cenários bucólicos que quebram a paisagem e o medieval comércio local. O cenário perfeito para uma história violenta, trágica e emocionante... mas que nunca alcança o inesquecível.
Nota: 7,5

Um comentário:
Olá amigo eu de novo aqui =D
Bom falta de criatividade é visivil em Hollywood , concordo plenamente com isso , hoje em dia os filmes de Hollywood estão bem fracos , parece que criaram um padrão e todo mundo está seguindo esse padrão.
Falando do Nicolas Cage eu gosto do trabalho dele , é um bom ator , vi diversos filmes que ele representou está de parabens.
Bom é isso , acredito que vou comentar outras vezes aqui eu sempre estou assistindo alguns filmes , mesmo não sabendo o que estava rolando nesse mundo.
Agora é bom que conheço um blog que posso interagir mais com isso.
Abraços até mais
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