segunda-feira, 27 de abril de 2009

Austrália – A nova viagem encantadora de Baz Luhrmann

 

Austrália (Australia, Austrália/EUA, 2008)

De: Baz Luhrmann.

Com: Nicole Kidman, Hugh  Jackman, David Wenham, Brandon Walters.

165 minutos

Realizar uma obra-prima, por incrível que pareça, pode não ser um bom investimento a longo prazo para o cineasta responsável por sua orquestração. Já que nossa percepção de cinema é toda baseada em expecatativas e como elas se comparam ao resultado real, uma obra-prima enterrada anos no passado pode voltar para assombrar um diretor que, afinal, pode não estar querendo repetir o feito. Mas nossos olhos não vêem intenções, e a interpretação das imagens que vemos na tela pode não ser tudo o que esperávamos. Ousado, ambicioso e genial, o australiano Baz Luhrmann foi elevado a uma categoria acima da enorme maioria dos outros diretores em 2001, quando sua estilizada e emocionante história de amor em forma de musical encantou ao mundo inteiro e levantou polêmica entre críticos e admiradores. “Moulin Rouge”, o filme em questão, poderia ser exagerado, pretensioso e cheio de excessos e heresias na visão de alguns, mas difícil mesmo era negar a genialidade visual de Luhrmann e segurar as lágrimas diante do final trágico de uma obra que essencialmente envolvia por não querer falar sobre nada além do amor. Pode parecer ingênuo, mas fez todo o sentido diante da câmera de Luhrmann e da interpretação icônica de Nicole Kidman. Praticamente deixado de lado no Oscar 2002, a revelia da opinião da maioria dos críticos de cinema, Baz Luhrmann seguiu o trabalho magistral de “Moulin Rouge” com seu habitual intervalo ao estilo Kubrick. Durante sete anos ele amadureceu uma idéia que poderia amplificar a um nível estratosférico a ambição que marcou a sua carreira e ainda lhe dar a oportunidade de homenagear sua terra natal no que ele chamou de “...E o Vento Levou da Austrália”. O resultado da idéia chegou aos cinemas com uma expectativa tão grande e uma mobilização tão intensa que foi impossível evitar aquele tipo de espectador que entrava no cinema esperando ver os mesmos tons fortes e cortes rápidos da última obra do diretor. E se há algum filme de que “Austrália” passa realmente longe, esse filme é “Moulin Rouge”. O que não significa que um dos dois filmes precise ser ruim. Não há aqui a dramatização exagerada e o romantismo inocente que encantava no filme de anos atrás, muito menos a montagem teatral dos cenários ou as luzes que coalhavam a Paris do musical. Cada um ao seu nível e no que pretendem, ambos são filmes vitoriosos que envolvem o espectador em uma jornada encantadora. Ainda assim, poucos arriscariam, sem saber, que se tratam de dois filmes dirigidos pela mesma pessoa. E é quando um diretor se confunde com sua obra que a genialidade se torna incontestável.

Baz Luhrmann é um mago da imagem, um homem capaz de transformar cada tomada, por mais banal que seja, em uma obra de arte. E se há uma lição clara que ele tenta passar com a imagem em “Austrália” é que ousadia nem sempre é a resposta. Luhrmann não tenta inovar nos movimentos pela paisagem de seu país e nem nos ângulos de câmera que usa para contar a história a que se propõe. Mas de alguma forma indecifrável, a imagem que ele cria com seus cortes e movimentos de certa forma convencionais é milhares de vezes mais deslumbrante do que qualquer coisa produzida por Hollywood nos últimos tempos. Suas panorâmicas pelas paisagens são quadros pintados com agilidade de um artista que sabe o que faz, e a climatização que sua câmera impõe nos momentos de adrenalina não poderia ser mais perfeita e emocionante para o espectador. Mesmo quando se concentra no âmago de seus personagens, Luhrmann revela uma grandiosidade surpreendente, filmando interpretações como se cada detalhe se integrasse ao cenário e fazendo de cada movimento um novo elemento de encantamento. Em resumo, se há alguém para ser aplaudido de pé em “Austrália”, esse alguém é sem dúvida nenhuma Baz Luhrmann. Idealizador de sua própria história, o diretor contou com uma dupla de roteiristas ao seu lado para criar os acontecimentos que movimentam o filme. Com Stuart Beattie (“30 Dias de Noite”) e Ronald Harwood (“O Escafandro e a Borboleta”) prestando assistência, Luhrmann construiu uma história vibrante e movimentada a cada segundo que nunca deixa cair a atenção do espectador, mas também se mostra um tanto quanto esquizofrênica em sua concepção. Ao retratar a vida de uma lady inglesa ao país que dá nome a obra a beira da Segunda Grande Guerra, Luhrmann passeia por drama, comédia e aventura sem nunca deixar perder de vista as proporções épicas que transparecem a cada take de “Austrália”. De uma difícil e fatal travessia a uma dolorosa separação e o final triunfante movimentado pela chegada da Segunda Guerra ao continente, passando por relações complexas entre os personagens que tratam de preencher o âmbito emocional da trama, o roteiro é conduzido com habilidade, mas nunca deixa esquecer o quanto pretende. Isso pode ser uma virtude ou um malefício para uma obra cinematográfica. Mas acima de tudo demonstra um dos poucos lampejos de ousadia de um filme tecnicamente perfeito.

A trama encontra seu ponto inicial logo após a entrada dos EUA na Segunda Guerra, com os japoneses avançando pelo Pacífico em todas as direções e se aproximando perigosamente das ilhas da Oceania. Nesse panorama mundial, não há nada que deixe transparecer a tensão por que passa a Austrália habitada por nativos, fazendeiros poderosos e inescrupulosos, damas mimadas e vaqueiros grosseiros. É com esse cenário da grande cidade de Darwin que a lady inglesa Sarah Ashley (Nicole Kidman) ao desembarcar na ilha visando convencer o marido fazendeiro a vender seu pedaço de terra no Sul. O que ela descobre rapidamente é que Faraway Downs, a fazenda em questão, é a única da região que não é dominada por um poderoso fazendeiro, e que seu marido foi morto por um dos homens desse magnata inescrupuloso. A trama se estende por anos a fio mesclando todos os gêneros imagináveis e ainda discutindo origens, preconceito, honra e vingança sob uma ótica bem clara e agressiva, tomando por linha-mestra o amor de Sarah pelo vaqueiro Drover (Hugh Jackman) e seu relacionamento fraternal com o garoto nativo Nullah (Brandon Walters), narrador de toda a história e ponto de referência para o clímax excepcionalmente bem montado. Mas se a trama evolui através das épocas, é responsabilidade dos atores retratarem o amadurecimento de seus personagens. Não por acaso, o seleto elenco de “Austrália” cumpre muito bem a função. Nicole Kidman, repetindo a parceria com Luhrmann, ainda é uma das atrizes mais transparentes e eficientes na hora de transmitir emoções e compor personagens. Com seu retrato sutil da lady inglesa que protagoniza o filme, Nicole mostra que sabe mesclar carisma, detalhismo, tiradas cômicas quase despropositais e uma caracterização não menos do que perfeita. Mas se a desenvoltura de Nicole já era esperada, o talento desavisado de Hugh Jackman (“X-Men”) surpreende. Além de demonstrar o mesmo carisma de astro que o sustentou pela carreira, o ator adiciona um tempero emocional e racional a seu personagem que o torna quase magnético na tela. Drover é simplista, não raro o tipo de personagem que irritaria pela falta de princípios, mas nas mãos de Jackman cresce em personalidade e identificação. Pouco o que fazer tem David Wenham (“Van Helsing”) além de encarnar o típico vilão nada sutil que de uma hora para outra se torna um oponente a ser batido nos debates verbais. Wenham tem o porte e a prepotência que o papel exige, mas não vai além disso e é facilmente ofuscado por seus companheiros de cena. Não que isso realmente influa no resultado final, é claro. “Austrália” é, de uma forma ou de outra, uma viagem de misticismo, paixão, paisagens deslumbrantes e seres humanos inesquecíveis. Ponto para Luhrmann, sorte a nossa. Assista sem medo.

Nota: 8,5

5 comentários:

Leo Pinheiro disse...

Sinceramente não vi o filme. Porém, apesar de sua boa resenha, não sei se quero ver.

O elenco de protagonistas é de enganadores. HJ é só o Wolverine e mais nada. E Nk não consegue ser boa nem sendo dirigida por Kubrik ou Lars Von Trier.

Cesar Higashijima disse...

Parece ser bom! Vou conferir!!

Rubens Rodrigues disse...

Ainda não vi Australia. Ouvi muito mal dele. Sem contar que é enorme... quem sabe um dia! - mas o trailer foi bom.

Ana ® disse...

Olha... não gostei muito do filme... mas pelo Hugh... vale a pena... rs!
Bem legal seu blog!
=)

Anônimo disse...

Gostei de austrália, poderia ser menor a duração, mas o filme é bacaninha.
Tb escrevo sobre filmes no meu blog, dá uma conferida lá. Tem desde comédias românticas aos clássicos Laranja mecânica foi bem debatido
Abraço