terça-feira, 11 de agosto de 2009

X-Men Origens: Wolverine – Sobre heróis, dólares e faíscas

wolverine  X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, EUA, 2009).

De: Gavin Hood.

Com: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Lynn Collins, Taylor Kitsch, Dominic Monaghan, Ryan Reynolds.

107 minutos.

Filmes de super-heróis percorreram um longo e tortuoso caminho desde que se tornaram a próxima nova grande mania no final dos anos 1980, quando o Batman de Tim Burton tornou todos os envolvidos em milionários e consagrou o Paladino de Gotham como o maior dos representantes cinematográficos dos vigilantes criados para os quadrinhos. Ironicamente, acabou que o filme de Burton e suas continuações foram casos isolados de sucessos em um lote equivocado de adaptações apressadas que se tornaram fracassos retumbantes de bilheteria e crítica. Como todo o baque é sentido em forma de catástrofe para Hollywood, foi preciso mais de uma década para que o gênero fosse ressuscitado em uma operação surpreendente da Marvel, que colocou o arrebatador X-Men nas salas de exibição e saiu-se 200 milhões de dólares mais rica apenas em solo americano. Foi aí que o domínio da editora, até então menos bem-sucedida frente a concorrente DC no campo cinematográfico, redefiniu o rumo das adaptações de quadrinhos empreendidas pela máquina milionária hollywoodiana. Com muitos acertos (Homem-Aranha), poucos erros (Elektra) e respeito ao material original, entregando-o a diretores e roteiristas com competência certificada, a Marvel se tornou não apenas o maior símbolo da invasão dos filmes de quadrinhos, mas uma das grandes forças criativas e financeiras de uma capital do cinema que berra mais alto a cada ano o quanto precisa de novos ares. Nesse sentido, 2008 foi um ano mais do que definitivo para o gênero, entregando aos fãs o primeiro filme da Marvel agora incorporada como estúdio, Homem de Ferro, e ainda dando luz a sua primeira grande obra-prima, o sombrio furacão de O Cavaleiro das Trevas, vindo direto da concorrência da DC, que andava um pouco quieta demais nos anos anteriores. Tendo em mente esse historio em constante evolução e vislumbrando um futuro de seqüências e novos heróis aportando nos cinemas todos os anos, não tem como evitar ver Wolverine como uma regressão. O que não significa, em absoluto, que seja um filme ruim, apenas menos notável em frente a grandes revoluções do gênero, um filme que segue uma linha narrativa convencional e não demonstra tanto cuidado aos pequenos detalhes quanto seus companheiros de gênero mais festejados. De certa forma, é uma decepção ver um novo capítulo de uma série tão realista e política quanto X-Men, especialmente nos dois primeiros dirigidos por Bryan Singer (Operação Valquíria), seguir um caminho tão sem personalidade e brilho próprio quanto nessa nova aventura de origem assinada pelo sul-africano Gavin Hood, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pelo drama Infância Roubada e escolhido do astro e produtor Hugh Jackman (Austrália) para trazer a interação fantástica entre personagens da denúncia social de sua obra anterior para a trama movimentada por conflitos que marca essa narração da origem misteriosa do até então desmemoriado Logan, interpretado pelo mesmo Jackman nos filmes anteriores da série. Indestrutível, dono de instintos de lobo e garras de osso que saem por suas mãos, o Wolverine que conhecemos aqui é outro, mais convencional e talvez justamente por isso menos interessante do que aquele que abrilhantava as cenas da trilogia original, seja sob a direção de Singer ou de Brett Ratner (A Hora do Rush), que assumiu bem a câmera da série no terceiro e derradeiro capítulo. O mais grave, porém, é que, se não se conecta com o clima realista e político da série dos mutantes, como obra original e independente que claramente pretende ser, esse Wolverine não tem tanto para oferecer quanto era de esperar com tantos talentos envolvidos. Literalmente, é um filme divertido como Homem de Ferro, mas sem o tempero da personalidade de um Tony Stark. Para usar a expressão certa: absolutamente sem sal.

Os notórios e seguidos escorregões ao conduzir a trama soam ainda mais estranhos nas mãos de alguém com um histórico tão bom quanto o de David Benioff, autor dos textos de filmes díspares, mas sempre contundentes, como O Caçador de Pipas e A Passagem, ambos levados as telas pelo amigo e cineasta Marc Forster. Preso em uma trama já bem delimitada e com pouco espaço para inovar no relacionamento entre personagens que, no final das contas, já estão bem definidos aos olhos do público, ele não consegue pôr muito de seu habitual brilho num texto focado em um par de protagonistas que não se lembra de dar aos coadjuvantes uma motivação de verdade. Encarregado da parte mais fácil da missão, o co-autor do roteiro Skip Woods (Hitman) se sai quase ileso ao criar seqüências de ação interessantes e eficazes, mesmo que quase nunca inovadoras ou de fato empolgantes. Os diálogos conseguem soar verdadeiros, e a personalidade do par de personagens centrais cria uma interação que solta faíscas em duas atuações fascinantes, mas o restante do elenco se vê quase sem opções, perdendo a vantagem da surpresa em pouco tempo e não conseguindo ir além de um par de momentos carismáticos, mais por culpa do roteiro que os deixa jogados ao vento em meio a uma jornada intensa do que por falta de talento dos atores. A cena inicial se passa em pleno século XIX, quando o jovem James Howlett descobre possuir poder de cura, instintos de lobo e garras saindo de suas mãos ao mesmo tempo em que vê seu mundo virar de cabeça para baixo ao saber que o homem que o criou não é seu pai e que o filho do caseiro, o selvagem Victor Creed, é seu meio-irmão. Em seguida a montagem de abertura, muito bem-feita, mostra os dois lado a lado lutando em praticamente todas as guerras da humanidade da Civil Americana a do Vietnã, onde já adultos são recrutados pelo Coronel William Stryker para um grupo de mutantes que viaja ao mundo cumprindo missões para “servir seu país”. Para não estragar nenhuma surpresa, basta dizer que Logan (Hugh Jackman) se cansa de toda a violência praticada pelo grupo e se refugia em uma vida simples no interior canadense por três longos anos antes de se ver acossado por Stryker (Danny Huston) e seu irmão Victor (Liev Schreiber), que parece obcecado em matar todos os antigos integrantes da equipe e acaba encontrando Silverfox (Lynn Collins), a mulher que acompanha o irmão na vida “normal”, pelo caminho. Motivos estabelecidos e sede de vingança despertada no animal reprimido dentro do corpo humano do mutante, nada pode impedi-lo de se unir mais uma vez a Stryker e se tornar a cobaia da experiência da qual os fãs dos filmes ou dos quadrinhos sabem muito bem o desfecho. É claro, o filme vai bem além disso, amarrando com elegância as pontas entre a origem do herói e a trama dos três outros filmes da série mas nunca acrescentando muito ao ícone sólido que o herói se tornou nos últimos oito anos, desde o lançamento do primeiro X-Men, o grande divisor de águas para os super-heróis cinematográficos do novo século. Enfim, não coloque Wolverine para rodar esperando por inovações ou grandes surpresas, ou a natural decepção pode se tornar ainda maior. O que temos aqui é um objeto de estudo interessante para quem gosta de conflitos familiares com um pouco de diversão, não o filme que pretende mudar a visão que temos sobre uma franquia que pode ou não ter um novo capítulo nos cinemas em breve.

Como coração da trama que são, porém, é impossível negar que o grande motivo para assistir Wolverine é mesmo o duelo de atuações entre o já experimentado em assuntos mutantes Hugh Jackman e o novato no universo Liev Schreiber, conhecido por papéis secundários em filmes como o remake de A Profecia e o suspense A Soma de Todos os Medos. O primeiro, voltando ao papel que o tornou um dos mais estimados atores da atualidade tanto entre o público quanto entre a crítica, aparece bem confortável na pele do mutante instintivo e imprevisível que é Wolverine. Adequado bem ao papel, ele leva com a mesma naturalidade as cenas que exigem acessos de fúria e os poucos momentos românticos e dramáticos de uma trama quase desembalada entre cenas de ação cheias de impacto. Seja se utilizando do sarcasmo que marca o personagem ou tentando processar a informação de uma mentira das grandes que ataca direto em seus sentimentos e os vira de cabeça para baixo, Jackman é uma explosão em tela a cada segundo, e segura bem os momentos em que precisa levar o filme nas costas. Indiscutível, porém, que o ladrão de cenas de verdade aqui é Schreiber, atuando com puro instinto em um papel que poderia cair em mais do mesmo nas mãos de um ator mais desleixado. Quando é ele encarnando o irmão que abraça o lado feroz de sua natureza, porém, o que vemos é um vilão mais complexo do que se pode imaginar por baixo da superfície sólida que segue os passos tradicionais de composição de um bom antagonista e ganha pontos por ser conduzido por um ator que sabe controlar os próprios exageros como Schreiber. Ele é selvagem, é um assassino frio, mas no final das contas acaba sendo apenas um homem querendo provar que está certo. Nas mãos do ator, a mistura brilha intensamente. Uma pena que, a mais desses dois incendiários da tela, o restante do elenco tem pouco a fazer com seus personagens mal-desenvolvidos. Danny Huston (30 Dias de Noite) chega a dar sinais da criação de um Stryker interessante, mas se perde no meio do caminho para se encontrar apenas perto do final, quando as coisas já estão bem resolvidas e não há mais muito o que fazer. Sua performance na primeira cena em que aparece chega a superar a dos dois protagonistas, mas daí em diante Stryker é jogado tão para escanteio que fica difícil ver um pouco de brilho novamente em sua atuação. Quem se dá melhor é Taylor Kitsch, um dos jogadores da série Friday Night Lights, que sai daqui direto para o estrelato com o papel principal de John Carter of Mars quase garantido. Nada mais merecido para o ator carismático que ele demonstra ser ao encarnar o estiloso Gambit, que grita por mais tempo em tela a cada frame e dá sinais de render um filme solo com facilidade, mesmo quando é mandado para uma missão que simplesmente não faz sentido perto do final do filme. O elenco extenso ainda conta com uma inexpressiva Lynn Collins (O Número 23) e com o dabochadamente carismático Dominic Monaghan, o Charlie de Lost, que bem poderia estrelar um filme sozinho também. Assumindo a missão de risco de uma super-produção pela primeira vez em sua carreira e apenas em sua segunda investida em terras americanas, o diretor Gavin Hood não faz um mau trabalho, mostrando desenvoltura ao lidar com cenas de ação e não se metendo na frente de seus atores quando eles pedem por um pouco de brilho próprio, o que acaba realçando, para completar a faca de dois gumes, a fragilidade do texto. Se alguém tem mesmo tudo para comemorar na dança de franquias proposta por Wolverine, porém, esse alguém é Ryan Reynolds, que faz um par de cenas introdutórias para o todo seu Deadpool, que deve aportar nos cinemas nos próximos anos. Afinal, dólares são mesmo tudo no mundo cruel de Hollywood.

Nota: 6,0

wolverine 2 wolverine 3

Bom, pessoal, e por hoje é isso… Vi esse filme no cinema, mas tive que ver de novo em DVD para ter minha impressão completa, vocês sabem como é… Enfim, quanto ao Boletim Cinéfilo, novo modelo, eu estou pensando em dividir ele em três edições espalhadas pela semana, mas como já estamos na terça-feira isso começaria semana que vem. Seriam os rumores na segunda, os trailers na quarta e os posters na sexta, certo? Bom, então os melhores filmes para todos vocês e até mais! Ah, e apróxima Lista da Década vem ainda nesse mês, preparem-se!

6 comentários:

Renan Barreto disse...

Nossa, Caio. Eu achei que o filme seria mais do que simplesmente mediano. Eu não vi o filme, pra ser sincero, mas quero ver. Eu concordo que esse filme deve ser mais focado na ação e contar no cinema como foi a vida do herói antes dos Xmen, afinal de contas essa história já foi contada em todas as outras mídias. rs E a DC se deu muito bem com o Batman, mas tbm só com ele. O super homem foi ruim (pelo menos pra mim. Esse sim, foi sem sal) agora a MArvel, só com Homem aranha ela tirou as teias do cofre rsrs Ruim essa, eu sei rs

Enfim, acho que levando o Batman a sério, e talvez o lanterna verde mais a frente, a DC pode superar a Marvel. Eu vejo os personagens da DC como mais adultos do que os da marvel que são mais pra adolescentes.

Valeu!!!!!!!!!!

http://renanbarretoonline.blogspot.com/

Renan Barreto disse...

1994 vc nasceu hauhauhuh Boa correção rsr

Valeu, Caio! Caraca, eu nasci em 88 rsrs

Marcelo A. disse...

Engraçado... você posta isso justamente no dia em que leio o Hugh Jackman contando sobre o destino da franquia, com o Japão como cenário. O Renan aí em riba que vai gostar... Uahahhahahaaaa!!!!

Não curti muito o filme não. A crítica, pelo que andei lendo, também não foi muito boa, né, apesar da arrecadação, que não fez feio. Sei lá exatamente porquê. Mas curti muito mais os anteriores.
Talvez o que sobra em ação, falta em emoção. É só uma opinião...

Ei, dei uma de Caio e falei de um filme lá no blog. Depois, dá uma conferida!

Abração, velhinho!

Diego Rodrigues disse...

É, um filme bem mediano mesmo. Não achei grande coisa, em primeiro que a melhor coisa dos quadrinhos eles colocaram nos créditos iniciais - que são muito bons. O resto é só um amontoado de elementos mal-utilizados do material original.

Ainda assim, Liev Schreiber é o destaque de todo o filme, dando uma complexidade interessante ao Dentes de Sabre.

Fabrício Bezerra disse...

Seu blog é ótimo,vc é um crtitico profissional?Essa analise dos filmes de super-herois foi ótima.

Tem filmes que são ótimos e são pra refletir,como Homem aranha,Aquele último do batman.Outros são só para mostrar ação,como hulk e homem de ferro,.Tem aqueles que divertem crianças como Quarteto fantastico,e uns que sãopra mostrar violencia,como o justiceiro

Guttwein disse...

Não curti muito o filme não. A crítica, pelo que andei lendo, também não foi muito boa, né, apesar da arrecadação, que não fez feio. Sei lá exatamente porquê. Mas curti muito mais os anteriores.
Talvez o que sobra em ação, falta em emoção. É só uma opinião...